Discurso durante a 165ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Cinqüentenário da Feira do Livro de Porto Alegre e a participação do Senado Federal por intermédio do seu Conselho Editorial.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Cinqüentenário da Feira do Livro de Porto Alegre e a participação do Senado Federal por intermédio do seu Conselho Editorial.
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/2004 - Página 37385
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, ORADOR, FEIRA DO LIVRO, MUNICIPIO, PORTO ALEGRE (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, CINQUENTENARIO, ELOGIO, PARTICIPAÇÃO, SENADO, LANÇAMENTO, LIVRO, IMPORTANCIA, HISTORIA, BRASIL, CONGRATULAÇÕES, CONSELHO, EDITORA.

            O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho aqui a esta tribuna hoje para registrar as minhas impressões ao visitar a Feira do Livro de Porto Alegre, que comemorou seu cinqüentenário. Estive lá na semana passada e pude constatar alguns fatos que ora transmito à Casa e, adianto, diz respeito à projeção do Senado Federal. É motivo de orgulho para todos os senadores que tenhamos entre nós uma produção editorial que faz jus à altura desta Casa e que nos represente tão bem em qualquer lugar em que esteja presente, seja nas livrarias, seja nas bibliotecas públicas ou privadas espalhadas por este país e no exterior, seja nas Feiras de Livro nas quais participa o Conselho Editorial.

Antes, porém, gostaria de fazer breves comentários sobre o livro. Falar um pouco do que todos já conhecem: a importância de leitura e do livro para um país. Não apenas repetirei Monteiro Lobato, com o famoso dito que “um país se faz com homens e livros”. Direi mais, ousando acrescentar algo ao mestre de Urupês e das deliciosas histórias infantis e que resume de maneira exemplar a visão sobre a construção de uma nação sob a égide da civilização e da cultura promovidas pelo livro.

Direi, senhores senadores, que um país se faz com homens e livros e, principalmente, com homens que têm apreço ao livro. Hoje, que fazem o elogio do cibernético, do mundo virtual, ouso dizer que não há nada mais moderno que o livro e nada que estimule mais a inteligência, o tirocínio e a capacidade de análise de que o livro. Transcrevo aqui as palavras do Senador José Sarney, em artigo de 12 deste mês. Escreve ele: “Quando se fala nos avanços tecnológicos que vislumbram a morte do livro pelo livro eletrônico e outras mágicas, eu respondo: o livro nunca acabará, porque ele é a maior das descobertas tecnológicas - cai e não quebra, não precisa de energia e, portanto de ligar e desligar. Pode ser levado a qualquer lugar.” E eu acrescento: não dá pane, dura séculos e utiliza-se da palavra que é o instrumento do pensar.

Ora, promover uma Feira de livros, digamos, é um feito extraordinário. Mantê-la por alguns anos, é outro notável. Agora, assegurar sua continuidade durante cinqüenta anos, criando tradição num país que, segundo dados oficiais, pouco lê, chegando à minguada média de 1,8 livro por ano, e assegurar o êxito da Feira sempre crescente, é feito mais que louvável. Deixa-nos estupefatos. Principalmente sabendo das centenas de milhares de leitores de todas as idades que a ela confluem e o número formidável de mais de 60 lançamentos de livros.

Neste última edição de uma feira de livro à qual tive a honra de comparecer, pude acompanhar o lançamento de dois livros do nosso Conselho Editorial: Os Muckers, do padre alemão Ambrósio Schupp, e Diário da minha viagem para Filadélfia, de Hipólito José da Costa Pereira, escritor gaúcho. Estes dois volumes dizem respeito à cultura nacional e mesmo rio-grandense, por isso o senso de oportunidade do Conselho Editorial do Senado ao lançá-los na Feira do Livro de Porto Alegre, numa homenagem ao grande estado do sul do Brasil. Entre outros senadores presentes e que autografaram livros nossos, registro também o lançamento do belo volume Cumplicidade, do senador Paulo Paim.

Nesta, como em outras feiras de livro, o stand do também exibe documentos de cunho histórico que despertam interesse entre os que o visitam, como, por exemplo, agora na Feira de Porto Alegre, o diploma de Getúlio Vargas quando assumiu uma cadeira de deputado federal pelo rio Grande do Sul e a Lei Áurea.

Os Muckers, escrito por um padre alemão, faz parte da História do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma obra sobre um grupo de fanáticos religiosos que na região de São Leopoldo convulsionou a colônia alemã, liderado por Jacobina Mentz Maurer. O fato se deu no século XIX. O padre Ambrósio escreveu a obra inicialmente em alemão e lançou-a na Alemanha com enorme repercussão na época. Mais tarde, o volume foi traduzido para o português por Alfredo Cl. Pinto, e publicado em 1902. Ao reeditar obra tão fascinante, porque o padre tinha o dom da escrita, mas sem fugir dos fatos e dos documentos consultados, o Senado Federal coloca na mão de pesquisadores, estudante e interessados na cultura rio-grandense um grande livro.

Já o Diário da minha viagem para Filadélfia (1798-1799), de Hipólito José da Costa, é um diário de viagem do fundador da imprensa brasileira, que todos nós conhecemos, através de sua maior criação, o Correio Braziliense, editado em Londres. O Diário da minha viagem para Filadélfia é, como o próprio título revela, uma visão de um brasileiro do século XIX sobre os Estados Unidos. Naquela época, os Estados Unidos ainda não eram a grande potência hegemônica do mundo contemporâneo. Mas é curioso observar como um brasileiro, mais especificamente, um gaúcho, defronta-se com uma nova realidade, um novo mundo. Hipólito viajara aos Estados Unidos, a serviço do governo português, e registrou alguns comportamentos do país que visitava.

É também digno de realce o lançamento das edições em braille pelo Senado. Já foram editadas em braile, entre outras, a Constituição Brasileira, as Constituições Estaduais e o Código Civil. É um trabalho levado a cabo pela Gráfica do Senado, que com empenho e desvelo, trata com qualidade técnica exemplar as nossas publicações. Estas obras especificamente alargam os horizontes de leitura dos deficientes visuais assim como também é obra meritória no sentido humanístico ao dar aos cegos acesso à cidadania. Agora, em Porto Alegre, foi lançado um dicionário básico em braille, atendendo a solicitações reiteradas de entidades de deficientes visuais.

E foi com orgulho que presenciei o Senado Federal ganhar pela segunda vez o prêmio Sul-Nacional, na categoria Destaque Nacional, recebido pelo senador Sérgio Zambiasi, dado ao conjunto de obras impressas por nossa Casa.

Não é a primeira vez que o Conselho Editorial do Senado Federal homenageia autores locais nas feiras das quais participa, publicando obras referentes ao estado onde o evento se realiza. O acontecimento mais recente, antes da Feira de Porto Alegre, foi a Bienal do Livro de São Paulo, quando foram lançadas as obras História da Capitania de São Vicente, de Pedro Taques, Na Capitania de São Vicente, de Washington Luís e História da cidade de São Paulo, de Affonso de Taunay, prefaciados, respectivamente, pelos senadores Eduardo Suplicy, Aloísio Mercadante e por mim. Tratava-se também das comemorações dos 450 anos da fundação da cidade de São Paulo.

Gostaria, finalmente, de deixar registro da atuação do Conselho Editorial do Senado Federal, presidido de forma proficiente pelo Senador José Sarney. O Senador José Sarney, ilustre homem de letras, que tem legislado também no interesse da cultura, do estímulo à pesquisa científica, proteção ao patrimônio histórico e da expansão do hábito de leitura e apoio ao livro.

É, assim, orgulho para o Senado Federal ter um instrumento tão eficaz na promoção desta Casa, editando livros com o perfil não comercial, embora de forte impacto junto aos pesquisadores, estudantes e professores interessados no nosso processo civilizatório.

Era o que tinha a dizer


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/2004 - Página 37385