Discurso durante a 164ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do quinquagésimo oitavo aniversário do jornal "O Liberal". Julgamento amanhã no Tribunal de Justiça do Pará, de recursos impetrados pelo Ministério Público Estadual pedindo a anulação do julgamento dos 147 policiais militares envolvidos no massacre de Eldorado do Carajás.

Autor
Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Registro do quinquagésimo oitavo aniversário do jornal "O Liberal". Julgamento amanhã no Tribunal de Justiça do Pará, de recursos impetrados pelo Ministério Público Estadual pedindo a anulação do julgamento dos 147 policiais militares envolvidos no massacre de Eldorado do Carajás.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/2004 - Página 36967
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, O LIBERAL, ESTADO DO PARA (PA), ELOGIO, ATUAÇÃO, IMPRENSA, DIVULGAÇÃO, INTEGRAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, REFORÇO, DEMOCRACIA.
  • ANUNCIO, JULGAMENTO, TRIBUNAL DE JUSTIÇA, ESTADO DO PARA (PA), RECURSO JUDICIAL, MINISTERIO PUBLICO ESTADUAL, ANULAÇÃO, POLICIAL MILITAR, PARTICIPAÇÃO, HOMICIDIO, TRABALHADOR RURAL, SEM-TERRA, EXPECTATIVA, ORADOR, COMBATE, IMPUNIDADE, REVISÃO, ABSOLVIÇÃO, RESPONSAVEL.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de fazer esse importante registro, especialmente para a população da Região Norte, e do meu Estado, o Pará - no último domingo, a edição do Jornal O Liberal foi alusiva ao aniversário do Jornal, comemorado no dia 15 de novembro. Ao longo desses 58 anos, o Jornal O Liberal garantiu ao nosso estado e à região Norte um lugar de destaque entre os meios de comunicação no país. Como expoente da indústria jornalística regional, O Liberal tem também o importante papel de divulgar o Estado do Pará para o resto País, cabendo ressaltar a contínua preocupação com a qualidade e constante inovação tecnológica, do que é exemplo o Portal ORM, lançado este ano pelas Organizações Rômulo Maiorana, Grupo do qual o jornal faz parte, e que permite o acesso pela internet a notícias regionais, divulgando a cultura e história paraenses. Com uma tiragem média de 45 mil exemplares durante a semana, e mais de 100 mil aos domingos, O Liberal é lido por mais de 640 mil leitores segundo o IBOPE.

            Ao lado do Amazônia Jornal, Rádio AM e FM, ORM TV por assinatura, e a TV Liberal - que comanda 9 emissoras, líder de audiência há mais de 20 anos, e consegue cobrir todo o Estado do Pará, oferecendo uma programação jornalística, cultural e de entretenimento - o jornal O Liberal faz com que o Grupo Rômulo Maiorana assuma um papel de destaque no desenvolvimento das comunicações em toda a Amazônia. Hoje, O Liberal conta com o reconhecimento internacional, ao ser apontado como um dos 50 maiores jornais da América Latina.

A imprensa, Srªs e Srs. Senadores, legítima e democrática, deve buscar o jornalismo comprometido com a sociedade, informando com seriedade, responsabilidade e isenção. É ouvindo todos os lados, e publicando fatos, que se faz uma imprensa forte e democrática”.

Faz parte da democracia, na sua dimensão mais substantiva, o debate público que transcende o âmbito das instituições formais e toma lugar no dia a dia dos cidadãos, seja nos lares, nos bares, nas ruas, nas escolas, nos escritórios ou nas barbearias. A contribuição de uma imprensa independente e de qualidade para esse debate público e, conseqüentemente, para o fortalecimento da democracia é de importância inequívoca, tanto mais se considerarmos que os meios de comunicação acabam desempenhando o importante papel de interlocutor dos anseios populares e das decisões políticas, aproximando tanto quanto possível uns e outras.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, outro assunto que eu gostaria de abordar é que amanhã será um dia emblemático para o país, e um dia emblemático para o meu Estado. Amanhã, dia 19 de novembro de 2004, praticamente OITO anos depois da chacina de Eldorado do Carajás, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará julgará os SEIS recursos impetrados pelo Ministério Público Estadual. Nesses recursos, pede-se a anulação do julgamento dos 147 policiais militares envolvidos no massacre, no qual foram julgados inocentes. Nos recursos, a esperança de que impunidade, violência, morosidade, parcialidade dos julgamentos e lentidão dos processos sejam palavras e fatos do passado. Amanhã, para os desembargadores do Estado, estarão voltados os olhos dos que crêem que é passada a hora de se dar um basta à violência contra os trabalhadores rurais nesse País.

Eldorado dos Carajás é um dos símbolos máximos do desprezo máximo pela vida humana. A ninguém é necessário lembrar o confronto desigual, arbitrário e cruento que aconteceu em 17 de abril de 1996: mais de 150 homens armados, representando o Estado, mataram 19 camponeses e deixaram pelo menos mais 63 mutilados. Eldorado dos Carajás é o ícone de um sistema judiciário, policial, econômico e até mesmo político que pune a pobreza e o trabalho, em nome da defesa da propriedade - muitas vezes propriedade ilegítima. E pune sem dó. Eldorado é a lembrança sempre presente de que a justiça e a proteção policial não são para todos.

Por isso amanhã é um dia tão fundamental. No primeiro julgamento, em 1999, todos os acusados foram absolvidos, o que fez levantar a sociedade brasileira e internacional para o protesto. O segundo julgamento, em 2002, promoveu igual indignação, porque somente dois comandantes foram condenados. Nunca ninguém cumpriu uma hora sequer de pena. Amanhã, sete anos e 11 meses após a chacina, os recursos serão julgados, e a justiça brasileira poderá se recompor, ainda que tarde, perante aos olhos da sociedade brasileira e da comunidade internacional.

É uma vergonha que responsáveis e mandantes não estejam nem mesmo arrolados no caso. Vergonha maior é saber que os devidamente arrolados continuam impunes, e que o caso de Eldorado, embora paradigmático da violência, não anda só: os assassinatos de trabalhadores rurais na região continuam acontecendo, e executores e mandantes continuem soltos, ainda que com prisão decretada. Se queremos - e trabalhamos duro - para construir uma sociedade melhor, um país mais igualitário, não será com a impunidade, o desrespeito às leis e à vida humana. Será com instituições fortes e cumpridoras do seu papel.

Por isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho comunicar esse importante julgamento ao Senado Federal. E, ao lado dos diversos movimentos sociais que têm combatido a violência e que lutam pela valorização da vida; ao lado das autoridades que têm se posicionado pelo fim da impunidade; ao lado de cada cidadão brasileiro que quer ver nosso país melhor e mais justo, faço votos - torço, rezo mesmo - para que a decisão de amanhã do Tribunal nos permita ver um novo julgamento. E esse julgamento nos traga, enfim, a punição dos culpados por esse grande atentado à vida que foi o massacre de Eldorado dos Carajás.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/2004 - Página 36967