Discurso durante a 166ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Falecimento do economista Celso Furtado.

Autor
Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Falecimento do economista Celso Furtado.
Aparteantes
Edison Lobão, Eduardo Azeredo, Efraim Morais, Heráclito Fortes, José Agripino, Romero Jucá.
Publicação
Publicação no DSF de 23/11/2004 - Página 37408
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CELSO FURTADO, EX MINISTRO DE ESTADO, ECONOMISTA, ADVOGADO, PROFESSOR, ESCRITOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), RECONHECIMENTO, SIMBOLO, TRANSFORMAÇÃO, PAIS, LUTA, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna nesta tarde com o sentimento de que o debate intelectual, no Brasil, sofreu um grande impacto, uma grande perda. Celso Furtado era mais do que um mestre. Era uma referência intelectual de quase meio século não somente da parcela mais expressiva dos economistas brasileiros, mas também dos sociólogos, dos historiadores e de todos aqueles que, em algum momento da vida, tentaram entender este País com profundidade e contribuir para que o Brasil pudesse se construir como Nação.

Celso Furtado sempre foi um símbolo da esperança de transformação do nosso País e da luta para a superação do nosso passado de dependência e desigualdade social. Ele marcou toda a sua vida pelo sonho de ver o Brasil desenvolvido. O desenvolvimento, para Celso Furtado, não era apenas um processo econômico, mas envolvia, também, dimensões sociais, éticas e políticas, dentro dos valores da democracia, da soberania e da cidadania.

Celso Furtado deixou uma obra extremamente vasta. Seu primeiro livro é de 1946, Contos da vida expedicionária: De Nápoles a Paris. Em 1948, escreveu Economia colonial no Brasil nos séculos XVI e XVII. Em 1954, há meio século, A economia brasileira, um livro extremamente importante. Logo em seguida, Perspectivas da economia brasileira. Em 1956, escreveu Uma economia dependente. Em 1959, Uma política de desenvolvimento econômico para o Nordeste, A formação econômica do Brasil e A operação Nordeste. Em 1961, um livro clássico, Desenvolvimento e subdesenvolvimento, em que o capítulo a respeito do desenvolvimento é, talvez, uma das explicações mais bem acabadas, articuladas e indispensáveis para quem quiser se aventurar nesse tema. Em 1962, Subdesenvolvimento e Estado democrático e A pré-revolução brasileira. Em 1964, Dialética do desenvolvimento. Seguem-se obras e obras, mais de 35 livros, que ele publicou ao longo de sua vida.

Mas quero falar a respeito da primeira fase de Celso Furtado, que começou a produzir intelectualmente em um cenário de pós-guerra, em que a experiência da 1ª Guerra Mundial, do Tratado de Versailles e das imposições que os países vitoriosos fizeram à Alemanha derrotada acabaram gerando um sentimento de revanchismo, de nacionalismo e de belicismo que conduziu à 2ª Guerra Mundial.

A 2ª Guerra Mundial, durante a qual Celso Furtado serviu à FEB, Força Expedicionária Brasileira, deixou, exatamente pela experiência da 1ª Guerra, uma nova atitude: a formação da ONU e o acordo de Bretton Woods. Começou-se a debater, naquele contexto histórico, a necessidade, para a paz duradoura, não só de uma instituição multilateral como a ONU, mas, mais do que isso, de se constituírem instituições que ajudassem no desenvolvimento de países subdesenvolvidos, que fossem capazes de prever crises e de ajudar no socorro às crises econômicas.

Foi, assim, constituído o Fundo Monetário Internacional, que, ao longo da História, ficou muito distante do projeto original de um fundo de solidariedade e de socorro econômico mais ou menos inspirado no Plano Marshall, de recuperação da Europa - um fundo permanente -, como parte de um esforço dos vitoriosos de não repetir os erros cometidos depois da 1ª Guerra Mundial.

É nesse cenário que é criada a Cepal - Comissão Econômica para a América Latina, em 1949, que vai pensar a especificidade do desenvolvimento e do subdesenvolvimento; a especificidade do desenvolvimento da América Latina. E, nesse cenário, onde o Manifesto de Raúl Prebisch é a grande peça que vai orientar a reflexão econômica e o debate teórico, ali, no final dos anos 40, início dos anos 50, que a figura brilhante de Celso Furtado começa a despertar. Um homem que vai dedicar toda a sua vida a esta questão histórica: como desenvolver o subdesenvolvimento, como constituir um projeto de nação, como impulsionar o processo produtivo.

E, na sua primeira fase teórica, mostrando exatamente aquela análise do dualismo entre centro e periferia, ele procura demonstrar que a periferia somente teria chance se ousasse, para construir uma estratégia própria de desenvolvimento. Considerava que nessa estratégia o Estado deveria ter um papel determinante de regulador, de promotor do desenvolvimento, e a industrialização deveria ser uma referência fundamental para que se pudessem construir bases produtivas que superassem a dependência tecnológica, a dependência financeira e, portanto, a desigualdade que carregávamos, pelo passado escravista e colonial.

Com muito apreço, passo a palavra ao Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - É bom que sobre Celso Furtado, na tarde de hoje, fale V. Exª. Senador Aloizio Mercadante. V. Exª é um dos melhores valores da vida pública desta geração. É um político de grande talento pessoal e imenso prestígio popular, estudioso, dedicado e um dos melhores valores desta geração de economistas. Portanto, V. Exª fala a linguagem do político e a linguagem do economista. Este País não tem a tradição de cultuar os seus grandes valores. Celso Furtado merece esta homenagem que V. Exª hoje presta a ele. Celso Furtado é de uma geração oriunda da época de Eugênio Godin e Roberto Campos, e tem essa dimensão, esse valor. Foi um cientista da economia no Brasil. V. Exª disserta sobre o que ele fez no Brasil e no exterior. Eu citaria apenas um episódio: estive na França algumas vezes, onde Celso Furtado residia e era professor da universidade. Sempre que ia a Paris, visitava Celso Furtado. Não o encontrava nos restaurantes do Champs-Elysées, e sim em sua residência, cercado de livros por todos os lados, estudando e se dedicando à sua ciência: à Ciência Econômica. Era em um homem em que se podia, de fato, acreditar. A sua bússola era a do conhecimento, a da inteligência e a do saber. Portanto, ao tempo em que homenageio a memória de Celso Furtado, cumprimento a V. Exª por trazer o nome, a história e o exemplo do economista ao Plenário do Senado da República.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço a V. Exª pela generosidade das palavras, reforçando essa grande figura histórica que foi Celso Furtado. E V. Exª, que acompanhou toda a vida pública ao longo desse período, sabe da importância intelectual que ele teve na questão de impulsionar o desenvolvimento do subdesenvolvimento, de provocar uma reflexão, de romper com a visão colonizadora, de buscar um pensamento novo, ousado, específico, do que somos como sociedade, como Nação, como povo e como região no Planeta. E foi dentro dessa perspectiva que ele não apenas vai ser um grande teórico, com 35 obras publicadas, algumas como Formação Econômica do Brasil, uma obra obrigatória em todos os cursos de economia - não há como se formar um economista sem passar por uma obra que é o marco do pensamento econômico brasileiro -, mas também atuar na vida pública. Por exemplo, na Operação Nordeste, ele vai ser o grande mentor de um movimento político do qual o Presidente José Sarney e outros participaram, naquela ocasião, de tratar a questão do desenvolvimento regional com a importância histórica que já tinha, embora não entrasse na agenda nacional e tantas vezes tenha desaparecido da vida pública deste País. E surge a Sudene. Ele foi o grande elaborador da Sudene, da Operação Nordeste, influenciando o Plano de Metas, grande plano de industrialização, que permitiu o Brasil trazer a indústria automotiva, a de base, a metal-mecânica, a de material elétrico, ter um crescimento acelerado com os grupos executivos de Juscelino Kubitschek, a construção de Brasília, a indústria pesada. Com isso, toda a indústria da construção civil puxou o emprego. É verdade que foi um financiamento inflacionário, que vai gerar instabilidade posterior, mas Celso Furtado deixou a sua marca naquele momento ao propor a constituição da Sudene que, durante 30 anos, mesmo com dificuldades, com problemas, foi um instrumento de desenvolvimento regional extremamente importante.

Passo a palavra ao grande Senador Efraim Morais, por sinal paraibano como Celso Furtado.

O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - Senador Aloizio Mercadante, V. Exª presta uma homenagem, hoje, no Senado Federal, ao grande brasileiro que foi Celso Furtado, respeitado e admirado por todos os brasileiros. Ele era paraibano, da cidade de Pombal, no sertão da Paraíba, e, com certeza, honrou as tradições da nossa querida Paraíba, tornando-se rapidamente um dos grandes brasileiros que todos nós aprendemos a respeitar, independente de posições políticas e de qualquer tendência político-partidária. Celso Furtado estava acima de todos. Por isso, todos nós o respeitamos. V. Exª sabe, como bom economista que é, que Celso Furtado, homem público, Ministro, político, intelectual, que fez de tudo na vida, foi o economista mais importante do Brasil, permita-me, como economista dizer. Quando da criação da Sudene e na época em que se destacou, fora do País, com a sua Tese, diária que, lamentavelmente, o nosso paraibano, o nosso brasileiro, o grande Celso Furtado morreu sem ver realizado o seu maior sonho: exatamente o do equilíbrio nacional, que ele tanto defendeu quando desenvolveu a Sudene como superintendente. Não tenho a menor dúvida de que, com a morte de Celso Furtado, o País perdeu um dos seus mais importantes e notáveis filhos. Aqui fica a nossa homenagem também a esse paraibano, em nome de todos os paraibanos, que sempre souberam respeitar a figura extraordinária de Celso Furtado. Parabéns a V. Exª pela homenagem que presta a Celso Furtado, nesta tarde, no Senado da República.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço ao Senador Efraim Morais.

Seguramente, a Paraíba tem em Celso Furtado uma referência histórica, assim como todo o Nordeste e toda a Nação brasileira.

De fato, ele não somente é o maior economista, com a maior produção intelectual, como a produção intelectual de maior reconhecimento internacional. Celso Furtado estudou e deu aulas nas mais importantes universidades, como Sorbonne, London School e em muitas outras universidades. Onde havia algum espaço para pensar o desenvolvimento do subdesenvolvimento, Celso Furtado esteve presente, seus artigos são publicados, seus livros são traduzidos e sua contribuição intelectual é valorizada.

Chegamos, inclusive, aqui no Plenário do Senado Federal, por minha iniciativa, que foi aprovada por unanimidade, a sugerir sua indicação para o Prêmio Nobel de Economia, exatamente por toda essa obra e por esse reconhecimento. Talvez se ele não fosse paraibano e brasileiro, essa obra intelectual tivesse um reconhecimento ainda maior. O fato de ele pertencer à América Latina, de ser um economista de um país subdesenvolvido, não propiciou o reconhecimento internacional, apesar da globalização do seu pensamento, do reconhecimento em várias universidades, de todos os teóricos, da importância histórica que tem essa contribuição, do significado que tem. Se algum Prêmio Nobel deveria ser dado a um país em desenvolvimento, seguramente deveria ter sido a um pensador com a grandeza de Celso Furtado, que inovou, que quebrou paradigmas, que avançou por caminhos que nunca foram pensados, que tratou de temas que nunca foram tratados, exatamente porque a essência do seu pensamento é a de que não há possibilidade de um país da periferia do sistema, de um país com as relações de dependência econômica, tecnológica e financeira - porque carrega o passado escravista colonial - desenvolver-se sem buscar uma nova estratégia, o seu próprio modelo de desenvolvimento, romper com os paradigmas e ideologias que nos são impostas, ao longo da História, pelos países colonizadores. Esta é a essência de seu pensamento: sonhar o desenvolvimento do Brasil, propor um desenvolvimento novo, próprio, rompendo com esses valores que, sobretudo, no pensamento acadêmico, tantas vezes foi dominante.

Passo a palavra ao nobre Líder José Agripino, que muito nos honra com seu aparte.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Aloizio Mercadante, temos militado em campos opostos, mas tenho por V. Exª um apreço especial, porque é um homem de gestos nobres, como o que está praticando agora. Eu gostaria muito de também pronunciar-me, fazendo um elogio público a um brasileiro chamado Celso Furtado. Eu não conheci Celso Furtado, mas ele foi muito amigo do meu modelo de homem público, que se chamou João Agripino, meu tio, paraibano, Governador, Deputado Federal, Senador, Ministro, Presidente do Tribunal de Contas da União - largo currículo - e foi amigo íntimo de Celso Furtado. Por meio de meu tipo, eu conheci as virtudes de Celso Furtado, que, para nós nordestinos, tem um marca fundamental: foi o idealizador, o criador da Sudene. Meu tio João sempre me falava da capacidade de servir e do espírito público de Celso Furtado, um paraibano muito além do seu tempo. Ele saiu das fronteiras do Brasil; estudou no exterior - fez a Sorbonne, a London School of Economics. Quando completou o seu preparo, ele voltou para o Brasil; não ficou por lá. Ele poderia até ter feito a opção de ganhar dinheiro, de ser rico, mas nunca o fez. Foi Ministro de João Goulart e de Sarney de Pastas bastante diferentes - do Planejamento e da Cultura. Celso Furtado, para os nordestinos que admiram os homens sérios, foi um ícone, e eu me incluo entre os nordestinos que apreciam os homens sérios. Senador Aloizio Mercadante, cumprimento V. Exª pela oportunidade, pela substância e pela dignidade do seu discurso e, com essas minhas modestas palavras em meu aparte, associo-me às manifestações de pesar, como nordestino e brasileiro, ao nordestino que nos honrou muito e a um brasileiro que ajudou muito o Brasil se projetar para o futuro.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço, Senador José Agripino, e, reforçando essa homenagem que V. Exª faz e que só engrandece a figura de Celso Furtado - que tenho certeza que a história preservará e reconhecerá - lembro que ele foi Ministro de Planejamento de João Goulart; e ele e San Thiago Dantas elaboraram o Plano Trienal. Naquele período turbulento, em que a herança do Plano de Metas deixava um déficit público muito alto, porque o seu financiamento, ao final, foi baseado no gasto público e no endividamento de curto prazo, para concluir toda a obra daquele pacote de investimentos, estruturante do desenvolvimento, e veio um período de inflação e de instabilidade. A última tentativa articulada, ainda no regime democrático, de buscar a estabilização com as reformas de base, foi o Plano Trienal San Thiago Dantas e Celso Furtado.

Eles não conseguiram o apoio social e político, necessários para conviver com um quadro de austeridade, de buscar a estabilidade com racionalidade econômica e implantar as reformas de base, o que gerou uma crise política, um processo de desestabilização política que acabou no Golpe de 1964 e interrompe, durante um longo período, a presença de Celso Furtado na vida pública nacional. Ele só volta com a redemocratização, ao lado de José Sarney, como Ministro da Cultura. Contudo, isso não prejudica a contribuição intelectual, a contribuição teórica que ele fará no exílio, aperfeiçoando-se e escrevendo algumas obras muito importantes nessa fase, como Um projeto para o Brasil, que escreveu em 68; O mito do desenvolvimento econômico, que escreveu em 74; A economia latino-americana, Prefácio à nova economia política, em 76; Criatividade e dependência na civilização industrial, em 78; Pequena introdução ao desenvolvimento: Um enfoque interdisciplinar, em que retoma o livro Desenvolvimento e Subdesenvolvimento e faz uma nova abordagem em 1980, O Brasil pós-‘milagre’, em 81.

Antes de lhe passar a palavra, nobre Líder Heráclito Fortes, Celso Furtado depois vai se dedicar, nos anos 80, à crise da dívida. Com dois livros pequenos, mas que são muito importantes: Não à recessão e ao desemprego e Brasil, a Construção interrompida alerta para a questão do projeto nacional que não podia ser abdicado diante do novo cenário de globalização e de novos ventos que sopravam da economia mundial.

Ouço o Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Aloizio Mercadante, ninguém melhor do que V. Exª para representar o pensamento do Senado nesta homenagem que presta a Celso Furtado. Pela origem de V. Exª e, acima de tudo, por ser uma homenagem suprapartidária. Quero lhe confessar que fui surpreendido com a notícia do falecimento do economista Celso Furtado exatamente por uma entrevista que V. Exª acabava de conceder à Globo News minutos após o falecimento desse grande brasileiro. Tive a felicidade de conviver um certo período com Celso Furtado nas rodas promovidas pelo Dr. Ulysses Guimarães, em que a presença do Dr. Celso era sempre marcante por suas opiniões serenas, mas acima de tudo seguras e abalizadas sobre a situação brasileira. Nós, como nordestinos, sentíamos sempre uma alegria ao vê-lo incluir o Nordeste nas prioridades de todos os projetos nacionais. Ele teve, portanto, uma passagem pela história econômica do Brasil que, tenho certeza, será permanente. Associo-me às palavras de V. Exª e de todos os brasileiros que, neste momento, com pesar pranteiam a morte desse ilustre nordestino que foi Celso Furtado. Parabéns a V. Exª pelo pronunciamento.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço, Senador Heráclito Fortes.

Como meu tempo já está esgotado e tenho muito ainda a dizer a respeito de Celso Furtado, ressalto que o tenho como a referência mais importante do pensamento econômico, como exemplo de homem público, de dignidade e de dedicação a esta Nação e a este povo; um brasileiro que sempre sonhou com o País, com a capacidade transformadora do nosso povo, que sempre sonhou que seríamos capazes de nos tornar uma nação desenvolvida, e que buscou, em sua reflexão teórica, sugerir caminhos nessa perspectiva.

Permito-me ainda ler, só para concluir, dois trechos recentes em que o mestre Celso Furtado fala sobre o trabalho do economista. Diz o seguinte:

O valor do trabalho de um economista, como de resto de qualquer pesquisador, resulta da combinação de dois ingredientes: imaginação e coragem para arriscar na busca do incerto... Mas não basta armar-se de instrumentos eficazes para alcançar esse objetivo. Atuar de forma consistente no plano político, portanto, assumir a responsabilidade de interferir no processo histórico, impõe ter compromissos éticos.

E diz ainda:

Quando o consenso se impõe a uma sociedade, é porque ela atravessa uma era pouco criativa. Ao se afastar do consenso, o jovem economista perceberá que os caminhos já trilhados por outros são de pouca valia. Logo notará que a imaginação é um instrumento de trabalho poderoso, e que deve ser cultivada. Perderá em pouco tempo a reverência diante do que está estabelecido e compendiado. E, à medida que pensar por conta própria, com independência, conquistará a autoconfiança e perderá a perplexidade.

Quer dizer, aquilo que ele via como caminho desta Nação era exatamente o que ele recomendava aos jovens pesquisadores, economistas, estudiosos, de buscarem a independência, de buscarem seu caminho, de não aceitarem pretensos consensos teóricos, ideológicos e que a criatividade, a ousadia e a coragem eram essenciais à vida do intelectual, como também ao homem público.

Por favor, Senador Eduardo Azeredo, quero concluir com seu aparte, para poder encerrar e respeitar as inscrições.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Aloizio Mercadante, como representante de Minas Gerais, associo-me às palavras de V. Exª no discurso que faz, muito correto e extremamente oportuno, de homenagem a Celso Furtado. Celso teve uma ligação grande com Minas Gerais, por intermédio do Presidente Juscelino Kubitschek, na questão da criação da Sudene, e depois, com Tancredo Neves, quando este fazia a sua peregrinação pelo Brasil para a volta da democracia, quando ele ajudou Tancredo no seu primeiro projeto. De maneira que eu queria também trazer a nossa homenagem, de Minas Gerais, a esse grande homem público que foi Celso Furtado, cumprimentando V. Exª pela oportunidade do pronunciamento.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço ao Senador Eduardo Azeredo por esse aparte, lembrando a conexão que esse grande brasileiro tem com o tema desenvolvimento regional e com a nossa identidade nacional.

Termino, Sr. Presidente, rememorando uma passagem que me lembra Celso Furtado numa palestra, numa conversa que tivemos com Ariano Suassuna, esse grande brasileiro, também paraibano, homem afeito à cultura e amigo pessoal de Celso Furtado. Ariano Suassuna dizia que o primeiro intelectual a vir para o Brasil foi Pero Vaz de Caminha, o primeiro que escrevia e lia. E as primeiras linhas sobre o Brasil trazem a perplexidade, o assombro do contato que ele teve, juntamente com a tripulação de Pedro Álvares Cabral, com esta terra que estava sendo descoberta. E Ariano Suassuna faz uma provocação aos intelectuais, dizendo que Pero Vaz de Caminha teve de escolher o seu caminho: ou estava com os índios, o povo desta terra, ou estava com os colonizadores, com Portugal, com o reinado. E Pero Vaz de Caminha fez a escolha pelo colonizador. Estava o intelectual presente porque vinha na nau da colonização; faz a sua referência ao rei, e termina sua carta fazendo um pequeno pedido ao poder, que era a libertação de um sobrinho que estava preso. E isso é muito próprio da tradição intelectual: submeter-se ao poder econômico, político; deixar de pensar esta Nação, este povo, a nossa história a partir das nossas raízes, dos nossos valores, do Brasil profundo. O Brasil profundo que teve em Celso Furtado um dos seus grandes arquitetos; o Brasil profundo que reivindica as raízes populares, as raízes da nossa diversidade, da nossa vasta cultura, dessa pluralidade, da nossa unidade, do que é ser brasileiro; o Brasil profundo que soube romper com o modelo econômico primário exportador e industrializar-se; o Brasil profundo que soube fazer este País produzir, gerar riqueza...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - (...) e passar a ser uma grande economia, uma inserção soberana sob o ponto de vista internacional; o Brasil profundo que elegeu um homem como Luís Inácio Lula da Silva; o Brasil profundo que seguramente saberá preservar, honrar e homenagear Celso Furtado.

Não posso concluir, Sr. Presidente, sem passar a última intervenção ao nobre Senador Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PMDB - RR) - Sr. Presidente, quero somar minhas palavras a tudo o que foi dito sobre Celso Furtado. Como nordestino e economista, sinto-me na obrigação de fazer esse reconhecimento, que é de todo o Brasil e mesmo de todo o mundo. Sem dúvida alguma, deixa um balizamento para que se tenha ousadia na economia e responsabilidade de buscar resgatar a dignidade de todos os brasileiros, como o fazia Celso Furtado. Parabenizo o Senador Aloizio Mercadante por suas palavras na homenagem que o Senado presta hoje a esse grande brasileiro.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço, Senador Romero Jucá.

Termino dizendo que a obra de Celso Furtado - constituída por 35 livros, artigos, palestras e aulas - é muito vasta, rica e abrangente, com uma visão muito coerente e profunda da realidade, sobretudo desse sonho de construir um Brasil desenvolvido. Mas, nele, o homem era maior que a obra. Quem teve o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, dialogar com ele e beber da sua sabedoria conhece o quanto, durante todo o tempo, Celso Furtado estava refletindo na sua humildade, na sua profundidade, na sua generosidade intelectual, ajudando a pensar este País e deixando uma referência que - espero sinceramente - inspire os homens públicos a buscar caminhos criativos, para que possamos, de fato, realizar esse grande sonho de construir um Brasil desenvolvido, solidário e soberano.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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SEGUE NA ÍNTEGRA DO DISCURSO DO SR. SENADOR ALOIZIO MERCADANTE.

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O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - UM GRANDE BRASILEIRO

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mestre e referência intelectual, há quase meio século, de uma parcela expressiva dos economistas brasileiros, Celso Furtado sempre foi também um símbolo da esperança de transformação do nosso País, de ruptura com seu passado de dependência e desigualdade social. Ele nunca abandonou o sonho de ver o Brasil desenvolvido - e desenvolvimento, na sua concepção, não é um processo meramente econômico, envolve também conotações sociais, éticas e políticas, dentro das quais valores como democracia, soberania e cidadania ocupam um lugar central.

Esse sonho alimentou sua criatividade e sustentou sua coerência e integridade ao longo de sua trajetória como intelectual e homem público. Foi, na realidade, o substrato de toda sua imensa contribuição ao entendimento da realidade social brasileira e à formulação de políticas de desenvolvimento nacional e regional.

Não por acaso sua obra tem como fio condutor, que articula suas análises em diversos momentos da nossa evolução econômica, o resgate da dimensão histórica e estrutural na abordagem dos problemas do desenvolvimento brasileiro. Isso se evidencia em sua visão do subdesenvolvimento como condição específica dos países periféricos e em sua insistência em colocar a análise da realidade social como matriz constitutiva para a formulação das políticas de desenvolvimento.

Daí derivam suas teses sobre o papel do Estado e do planejamento no desenvolvimento, sobre a subordinação das políticas monetária e cambial à política de desenvolvimento e sobre a necessidade de articular a transformação econômica com a homogeneização social por meio de reformas estruturais e políticas redistributivas. Esses elementos convergem para a formulação de um projeto de Nação - expressão de uma vontade nacional articulada em torno a objetivos fundamentais - mediante o qual se avançaria na implementação do processo de transformação da economia e da sociedade.

Esses temas continuam sendo peças relevantes no debate econômico atual. A discussão entre monetaristas e estruturalistas, por exemplo, que opunha nos anos 50 as correntes liberais às reformistas, é a mesma que hoje opõe os monetaristas, travestidos de neoliberais, aos chamados desenvolvimentistas. Também são os mesmos, embora com invólucros aparentemente diferentes, os debates envolvendo a relação Estado/mercado e o caráter da inserção do país na economia internacional.

Hoje, lamentavelmente, não podemos mais nos beneficiar do convívio e da criatividade de Mestre Furtado. Mas seu exemplo e sua obra permanecem, são parte do patrimônio ético e cultural de nosso país. Por isso, creio que a melhor homenagem que lhe podemos prestar é aplicar, na prática, as reflexões contidas em um dos seus últimos escritos, sobre a responsabilidade do economista:

“O valor do trabalho de um economista, como de resto de qualquer pesquisador, resulta da combinação de dois ingredientes: imaginação e coragem para arriscar na busca do incerto.... Mas não basta armar-se de instrumentos eficazes para alcançar esse objetivo. Atuar de forma consistente no plano político, portanto, assumir a responsabilidade de interferir no processo histórico, impõe ter compromissos éticos”.

E mais adiante, conclui:

“Quando o consenso se impõe a uma sociedade, é porque ela atravessa uma era pouco criativa. Ao se afastar do consenso, o jovem economista perceberá que os caminhos já trilhados por outros são de pouca valia. Logo notará que a imaginação é um instrumento de trabalho poderoso, e que deve ser cultivada. Perderá em pouco tempo a reverência diante do que está estabelecido e compendiado. E, à medida que pensar por conta própria, com independência, conquistará a autoconfiança e perderá a perplexidade.”

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ALOIZIO MERCADANTE EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 21, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Obra completa do economista.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna nesta tarde com o sentimento de que o debate intelectual, no Brasil, sofreu um grande impacto, uma grande perda. Celso Furtado era mais do que um mestre. Era uma referência intelectual de quase meio século não somente da parcela mais expressiva dos economistas brasileiros, mas também dos sociólogos, dos historiadores e de todos aqueles que, em algum momento da vida, tentaram entender este País com profundidade e contribuir para que o Brasil pudesse se construir como Nação.

Celso Furtado sempre foi um símbolo da esperança de transformação do nosso País e da luta para a superação do nosso passado de dependência e desigualdade social. Ele marcou toda a sua vida pelo sonho de ver o Brasil desenvolvido. O desenvolvimento, para Celso Furtado, não era apenas um processo econômico, mas envolvia, também, dimensões sociais, éticas e políticas, dentro dos valores da democracia, da soberania e da cidadania.

Celso Furtado deixou uma obra extremamente vasta. Seu primeiro livro é de 1946, Contos da vida expedicionária: De Nápoles a Paris. Em 1948, escreveu Economia colonial no Brasil nos séculos XVI e XVII. Em 1954, há meio século, A economia brasileira, um livro extremamente importante. Logo em seguida, Perspectivas da economia brasileira. Em 1956, escreveu Uma economia dependente. Em 1959, Uma política de desenvolvimento econômico para o Nordeste, A formação econômica do Brasil e A operação Nordeste. Em 1961, um livro clássico, Desenvolvimento e subdesenvolvimento, em que o capítulo a respeito do desenvolvimento é, talvez, uma das explicações mais bem acabadas, articuladas e indispensáveis para quem quiser se aventurar nesse tema. Em 1962, Subdesenvolvimento e Estado democrático e A pré-revolução brasileira. Em 1964, Dialética do desenvolvimento. Seguem-se obras e obras, mais de 35 livros, que ele publicou ao longo de sua vida.

Mas quero falar a respeito da primeira fase de Celso Furtado, que começou a produzir intelectualmente em um cenário de pós-guerra, em que a experiência da 1ª Guerra Mundial, do Tratado de Versailles e das imposições que os países vitoriosos fizeram à Alemanha derrotada acabaram gerando um sentimento de revanchismo, de nacionalismo e de belicismo que conduziu à 2ª Guerra Mundial.

A 2ª Guerra Mundial, durante a qual Celso Furtado serviu à FEB, Força Expedicionária Brasileira, deixou, exatamente pela experiência da 1ª Guerra, uma nova atitude: a formação da ONU e o acordo de Bretton Woods. Começou-se a debater, naquele contexto histórico, a necessidade, para a paz duradoura, não só de uma instituição multilateral como a ONU, mas, mais do que isso, de se constituírem instituições que ajudassem no desenvolvimento de países subdesenvolvidos, que fossem capazes de prever crises e de ajudar no socorro às crises econômicas.

Foi, assim, constituído o Fundo Monetário Internacional, que, ao longo da História, ficou muito distante do projeto original de um fundo de solidariedade e de socorro econômico mais ou menos inspirado no Plano Marshall, de recuperação da Europa - um fundo permanente -, como parte de um esforço dos vitoriosos de não repetir os erros cometidos depois da 1ª Guerra Mundial.

É nesse cenário que é criada a Cepal - Comissão Econômica para a América Latina, em 1949, que vai pensar a especificidade do desenvolvimento e do subdesenvolvimento; a especificidade do desenvolvimento da América Latina. E, nesse cenário, onde o Manifesto de Raúl Prebisch é a grande peça que vai orientar a reflexão econômica e o debate teórico, ali, no final dos anos 40, início dos anos 50, que a figura brilhante de Celso Furtado começa a despertar. Um homem que vai dedicar toda a sua vida a esta questão histórica: como desenvolver o subdesenvolvimento, como constituir um projeto de nação, como impulsionar o processo produtivo.

E, na sua primeira fase teórica, mostrando exatamente aquela análise do dualismo entre centro e periferia, ele procura demonstrar que a periferia somente teria chance se ousasse, para construir uma estratégia própria de desenvolvimento. Considerava que nessa estratégia o Estado deveria ter um papel determinante de regulador, de promotor do desenvolvimento, e a industrialização deveria ser uma referência fundamental para que se pudessem construir bases produtivas que superassem a dependência tecnológica, a dependência financeira e, portanto, a desigualdade que carregávamos, pelo passado escravista e colonial.

Com muito apreço, passo a palavra ao Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - É bom que sobre Celso Furtado, na tarde de hoje, fale V. Exª. Senador Aloizio Mercadante. V. Exª é um dos melhores valores da vida pública desta geração. É um político de grande talento pessoal e imenso prestígio popular, estudioso, dedicado e um dos melhores valores desta geração de economistas. Portanto, V. Exª fala a linguagem do político e a linguagem do economista. Este País não tem a tradição de cultuar os seus grandes valores. Celso Furtado merece esta homenagem que V. Exª hoje presta a ele. Celso Furtado é de uma geração oriunda da época de Eugênio Godin e Roberto Campos, e tem essa dimensão, esse valor. Foi um cientista da economia no Brasil. V. Exª disserta sobre o que ele fez no Brasil e no exterior. Eu citaria apenas um episódio: estive na França algumas vezes, onde Celso Furtado residia e era professor da universidade. Sempre que ia a Paris, visitava Celso Furtado. Não o encontrava nos restaurantes do Champs-Elysées, e sim em sua residência, cercado de livros por todos os lados, estudando e se dedicando à sua ciência: à Ciência Econômica. Era em um homem em que se podia, de fato, acreditar. A sua bússola era a do conhecimento, a da inteligência e a do saber. Portanto, ao tempo em que homenageio a memória de Celso Furtado, cumprimento a V. Exª por trazer o nome, a história e o exemplo do economista ao Plenário do Senado da República.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço a V. Exª pela generosidade das palavras, reforçando essa grande figura histórica que foi Celso Furtado. E V. Exª, que acompanhou toda a vida pública ao longo desse período, sabe da importância intelectual que ele teve na questão de impulsionar o desenvolvimento do subdesenvolvimento, de provocar uma reflexão, de romper com a visão colonizadora, de buscar um pensamento novo, ousado, específico, do que somos como sociedade, como Nação, como povo e como região no Planeta. E foi dentro dessa perspectiva que ele não apenas vai ser um grande teórico, com 35 obras publicadas, algumas como Formação Econômica do Brasil, uma obra obrigatória em todos os cursos de economia - não há como se formar um economista sem passar por uma obra que é o marco do pensamento econômico brasileiro -, mas também atuar na vida pública. Por exemplo, na Operação Nordeste, ele vai ser o grande mentor de um movimento político do qual o Presidente José Sarney e outros participaram, naquela ocasião, de tratar a questão do desenvolvimento regional com a importância histórica que já tinha, embora não entrasse na agenda nacional e tantas vezes tenha desaparecido da vida pública deste País. E surge a Sudene. Ele foi o grande elaborador da Sudene, da Operação Nordeste, influenciando o Plano de Metas, grande plano de industrialização, que permitiu o Brasil trazer a indústria automotiva, a de base, a metal-mecânica, a de material elétrico, ter um crescimento acelerado com os grupos executivos de Juscelino Kubitschek, a construção de Brasília, a indústria pesada. Com isso, toda a indústria da construção civil puxou o emprego. É verdade que foi um financiamento inflacionário, que vai gerar instabilidade posterior, mas Celso Furtado deixou a sua marca naquele momento ao propor a constituição da Sudene que, durante 30 anos, mesmo com dificuldades, com problemas, foi um instrumento de desenvolvimento regional extremamente importante.

Passo a palavra ao grande Senador Efraim Morais, por sinal paraibano como Celso Furtado.

O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - Senador Aloizio Mercadante, V. Exª presta uma homenagem, hoje, no Senado Federal, ao grande brasileiro que foi Celso Furtado, respeitado e admirado por todos os brasileiros. Ele era paraibano, da cidade de Pombal, no sertão da Paraíba, e, com certeza, honrou as tradições da nossa querida Paraíba, tornando-se rapidamente um dos grandes brasileiros que todos nós aprendemos a respeitar, independente de posições políticas e de qualquer tendência político-partidária. Celso Furtado estava acima de todos. Por isso, todos nós o respeitamos. V. Exª sabe, como bom economista que é, que Celso Furtado, homem público, Ministro, político, intelectual, que fez de tudo na vida, foi o economista mais importante do Brasil, permita-me, como economista dizer. Quando da criação da Sudene e na época em que se destacou, fora do País, com a sua Tese, diária que, lamentavelmente, o nosso paraibano, o nosso brasileiro, o grande Celso Furtado morreu sem ver realizado o seu maior sonho: exatamente o do equilíbrio nacional, que ele tanto defendeu quando desenvolveu a Sudene como superintendente. Não tenho a menor dúvida de que, com a morte de Celso Furtado, o País perdeu um dos seus mais importantes e notáveis filhos. Aqui fica a nossa homenagem também a esse paraibano, em nome de todos os paraibanos, que sempre souberam respeitar a figura extraordinária de Celso Furtado. Parabéns a V. Exª pela homenagem que presta a Celso Furtado, nesta tarde, no Senado da República.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço ao Senador Efraim Morais.

Seguramente, a Paraíba tem em Celso Furtado uma referência histórica, assim como todo o Nordeste e toda a Nação brasileira.

De fato, ele não somente é o maior economista, com a maior produção intelectual, como a produção intelectual de maior reconhecimento internacional. Celso Furtado estudou e deu aulas nas mais importantes universidades, como Sorbonne, London School e em muitas outras universidades. Onde havia algum espaço para pensar o desenvolvimento do subdesenvolvimento, Celso Furtado esteve presente, seus artigos são publicados, seus livros são traduzidos e sua contribuição intelectual é valorizada.

Chegamos, inclusive, aqui no Plenário do Senado Federal, por minha iniciativa, que foi aprovada por unanimidade, a sugerir sua indicação para o Prêmio Nobel de Economia, exatamente por toda essa obra e por esse reconhecimento. Talvez se ele não fosse paraibano e brasileiro, essa obra intelectual tivesse um reconhecimento ainda maior. O fato de ele pertencer à América Latina, de ser um economista de um país subdesenvolvido, não propiciou o reconhecimento internacional, apesar da globalização do seu pensamento, do reconhecimento em várias universidades, de todos os teóricos, da importância histórica que tem essa contribuição, do significado que tem. Se algum Prêmio Nobel deveria ser dado a um país em desenvolvimento, seguramente deveria ter sido a um pensador com a grandeza de Celso Furtado, que inovou, que quebrou paradigmas, que avançou por caminhos que nunca foram pensados, que tratou de temas que nunca foram tratados, exatamente porque a essência do seu pensamento é a de que não há possibilidade de um país da periferia do sistema, de um país com as relações de dependência econômica, tecnológica e financeira - porque carrega o passado escravista colonial - desenvolver-se sem buscar uma nova estratégia, o seu próprio modelo de desenvolvimento, romper com os paradigmas e ideologias que nos são impostas, ao longo da História, pelos países colonizadores. Esta é a essência de seu pensamento: sonhar o desenvolvimento do Brasil, propor um desenvolvimento novo, próprio, rompendo com esses valores que, sobretudo, no pensamento acadêmico, tantas vezes foi dominante.

Passo a palavra ao nobre Líder José Agripino, que muito nos honra com seu aparte.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Aloizio Mercadante, temos militado em campos opostos, mas tenho por V. Exª um apreço especial, porque é um homem de gestos nobres, como o que está praticando agora. Eu gostaria muito de também pronunciar-me, fazendo um elogio público a um brasileiro chamado Celso Furtado. Eu não conheci Celso Furtado, mas ele foi muito amigo do meu modelo de homem público, que se chamou João Agripino, meu tio, paraibano, Governador, Deputado Federal, Senador, Ministro, Presidente do Tribunal de Contas da União - largo currículo - e foi amigo íntimo de Celso Furtado. Por meio de meu tipo, eu conheci as virtudes de Celso Furtado, que, para nós nordestinos, tem um marca fundamental: foi o idealizador, o criador da Sudene. Meu tio João sempre me falava da capacidade de servir e do espírito público de Celso Furtado, um paraibano muito além do seu tempo. Ele saiu das fronteiras do Brasil; estudou no exterior - fez a Sorbonne, a London School of Economics. Quando completou o seu preparo, ele voltou para o Brasil; não ficou por lá. Ele poderia até ter feito a opção de ganhar dinheiro, de ser rico, mas nunca o fez. Foi Ministro de João Goulart e de Sarney de Pastas bastante diferentes - do Planejamento e da Cultura. Celso Furtado, para os nordestinos que admiram os homens sérios, foi um ícone, e eu me incluo entre os nordestinos que apreciam os homens sérios. Senador Aloizio Mercadante, cumprimento V. Exª pela oportunidade, pela substância e pela dignidade do seu discurso e, com essas minhas modestas palavras em meu aparte, associo-me às manifestações de pesar, como nordestino e brasileiro, ao nordestino que nos honrou muito e a um brasileiro que ajudou muito o Brasil se projetar para o futuro.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço, Senador José Agripino, e, reforçando essa homenagem que V. Exª faz e que só engrandece a figura de Celso Furtado - que tenho certeza que a história preservará e reconhecerá - lembro que ele foi Ministro de Planejamento de João Goulart; e ele e San Thiago Dantas elaboraram o Plano Trienal. Naquele período turbulento, em que a herança do Plano de Metas deixava um déficit público muito alto, porque o seu financiamento, ao final, foi baseado no gasto público e no endividamento de curto prazo, para concluir toda a obra daquele pacote de investimentos, estruturante do desenvolvimento, e veio um período de inflação e de instabilidade. A última tentativa articulada, ainda no regime democrático, de buscar a estabilização com as reformas de base, foi o Plano Trienal San Thiago Dantas e Celso Furtado.

Eles não conseguiram o apoio social e político, necessários para conviver com um quadro de austeridade, de buscar a estabilidade com racionalidade econômica e implantar as reformas de base, o que gerou uma crise política, um processo de desestabilização política que acabou no Golpe de 1964 e interrompe, durante um longo período, a presença de Celso Furtado na vida pública nacional. Ele só volta com a redemocratização, ao lado de José Sarney, como Ministro da Cultura. Contudo, isso não prejudica a contribuição intelectual, a contribuição teórica que ele fará no exílio, aperfeiçoando-se e escrevendo algumas obras muito importantes nessa fase, como Um projeto para o Brasil, que escreveu em 68; O mito do desenvolvimento econômico, que escreveu em 74; A economia latino-americana, Prefácio à nova economia política, em 76; Criatividade e dependência na civilização industrial, em 78; Pequena introdução ao desenvolvimento: Um enfoque interdisciplinar, em que retoma o livro Desenvolvimento e Subdesenvolvimento e faz uma nova abordagem em 1980, O Brasil pós-‘milagre’, em 81.

Antes de lhe passar a palavra, nobre Líder Heráclito Fortes, Celso Furtado depois vai se dedicar, nos anos 80, à crise da dívida. Com dois livros pequenos, mas que são muito importantes: Não à recessão e ao desemprego e Brasil, a Construção interrompida alerta para a questão do projeto nacional que não podia ser abdicado diante do novo cenário de globalização e de novos ventos que sopravam da economia mundial.

Ouço o Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Aloizio Mercadante, ninguém melhor do que V. Exª para representar o pensamento do Senado nesta homenagem que presta a Celso Furtado. Pela origem de V. Exª e, acima de tudo, por ser uma homenagem suprapartidária. Quero lhe confessar que fui surpreendido com a notícia do falecimento do economista Celso Furtado exatamente por uma entrevista que V. Exª acabava de conceder à Globo News minutos após o falecimento desse grande brasileiro. Tive a felicidade de conviver um certo período com Celso Furtado nas rodas promovidas pelo Dr. Ulysses Guimarães, em que a presença do Dr. Celso era sempre marcante por suas opiniões serenas, mas acima de tudo seguras e abalizadas sobre a situação brasileira. Nós, como nordestinos, sentíamos sempre uma alegria ao vê-lo incluir o Nordeste nas prioridades de todos os projetos nacionais. Ele teve, portanto, uma passagem pela história econômica do Brasil que, tenho certeza, será permanente. Associo-me às palavras de V. Exª e de todos os brasileiros que, neste momento, com pesar pranteiam a morte desse ilustre nordestino que foi Celso Furtado. Parabéns a V. Exª pelo pronunciamento.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço, Senador Heráclito Fortes.

Como meu tempo já está esgotado e tenho muito ainda a dizer a respeito de Celso Furtado, ressalto que o tenho como a referência mais importante do pensamento econômico, como exemplo de homem público, de dignidade e de dedicação a esta Nação e a este povo; um brasileiro que sempre sonhou com o País, com a capacidade transformadora do nosso povo, que sempre sonhou que seríamos capazes de nos tornar uma nação desenvolvida, e que buscou, em sua reflexão teórica, sugerir caminhos nessa perspectiva.

Permito-me ainda ler, só para concluir, dois trechos recentes em que o mestre Celso Furtado fala sobre o trabalho do economista. Diz o seguinte:

O valor do trabalho de um economista, como de resto de qualquer pesquisador, resulta da combinação de dois ingredientes: imaginação e coragem para arriscar na busca do incerto... Mas não basta armar-se de instrumentos eficazes para alcançar esse objetivo. Atuar de forma consistente no plano político, portanto, assumir a responsabilidade de interferir no processo histórico, impõe ter compromissos éticos.

E diz ainda:

Quando o consenso se impõe a uma sociedade, é porque ela atravessa uma era pouco criativa. Ao se afastar do consenso, o jovem economista perceberá que os caminhos já trilhados por outros são de pouca valia. Logo notará que a imaginação é um instrumento de trabalho poderoso, e que deve ser cultivada. Perderá em pouco tempo a reverência diante do que está estabelecido e compendiado. E, à medida que pensar por conta própria, com independência, conquistará a autoconfiança e perderá a perplexidade.

Quer dizer, aquilo que ele via como caminho desta Nação era exatamente o que ele recomendava aos jovens pesquisadores, economistas, estudiosos, de buscarem a independência, de buscarem seu caminho, de não aceitarem pretensos consensos teóricos, ideológicos e que a criatividade, a ousadia e a coragem eram essenciais à vida do intelectual, como também ao homem público.

Por favor, Senador Eduardo Azeredo, quero concluir com seu aparte, para poder encerrar e respeitar as inscrições.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Aloizio Mercadante, como representante de Minas Gerais, associo-me às palavras de V. Exª no discurso que faz, muito correto e extremamente oportuno, de homenagem a Celso Furtado. Celso teve uma ligação grande com Minas Gerais, por intermédio do Presidente Juscelino Kubitschek, na questão da criação da Sudene, e depois, com Tancredo Neves, quando este fazia a sua peregrinação pelo Brasil para a volta da democracia, quando ele ajudou Tancredo no seu primeiro projeto. De maneira que eu queria também trazer a nossa homenagem, de Minas Gerais, a esse grande homem público que foi Celso Furtado, cumprimentando V. Exª pela oportunidade do pronunciamento.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço ao Senador Eduardo Azeredo por esse aparte, lembrando a conexão que esse grande brasileiro tem com o tema desenvolvimento regional e com a nossa identidade nacional.

Termino, Sr. Presidente, rememorando uma passagem que me lembra Celso Furtado numa palestra, numa conversa que tivemos com Ariano Suassuna, esse grande brasileiro, também paraibano, homem afeito à cultura e amigo pessoal de Celso Furtado. Ariano Suassuna dizia que o primeiro intelectual a vir para o Brasil foi Pero Vaz de Caminha, o primeiro que escrevia e lia. E as primeiras linhas sobre o Brasil trazem a perplexidade, o assombro do contato que ele teve, juntamente com a tripulação de Pedro Álvares Cabral, com esta terra que estava sendo descoberta. E Ariano Suassuna faz uma provocação aos intelectuais, dizendo que Pero Vaz de Caminha teve de escolher o seu caminho: ou estava com os índios, o povo desta terra, ou estava com os colonizadores, com Portugal, com o reinado. E Pero Vaz de Caminha fez a escolha pelo colonizador. Estava o intelectual presente porque vinha na nau da colonização; faz a sua referência ao rei, e termina sua carta fazendo um pequeno pedido ao poder, que era a libertação de um sobrinho que estava preso. E isso é muito próprio da tradição intelectual: submeter-se ao poder econômico, político; deixar de pensar esta Nação, este povo, a nossa história a partir das nossas raízes, dos nossos valores, do Brasil profundo. O Brasil profundo que teve em Celso Furtado um dos seus grandes arquitetos; o Brasil profundo que reivindica as raízes populares, as raízes da nossa diversidade, da nossa vasta cultura, dessa pluralidade, da nossa unidade, do que é ser brasileiro; o Brasil profundo que soube romper com o modelo econômico primário exportador e industrializar-se; o Brasil profundo que soube fazer este País produzir, gerar riqueza...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - (...) e passar a ser uma grande economia, uma inserção soberana sob o ponto de vista internacional; o Brasil profundo que elegeu um homem como Luís Inácio Lula da Silva; o Brasil profundo que seguramente saberá preservar, honrar e homenagear Celso Furtado.

Não posso concluir, Sr. Presidente, sem passar a última intervenção ao nobre Senador Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PMDB - RR) - Sr. Presidente, quero somar minhas palavras a tudo o que foi dito sobre Celso Furtado. Como nordestino e economista, sinto-me na obrigação de fazer esse reconhecimento, que é de todo o Brasil e mesmo de todo o mundo. Sem dúvida alguma, deixa um balizamento para que se tenha ousadia na economia e responsabilidade de buscar resgatar a dignidade de todos os brasileiros, como o fazia Celso Furtado. Parabenizo o Senador Aloizio Mercadante por suas palavras na homenagem que o Senado presta hoje a esse grande brasileiro.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Agradeço, Senador Romero Jucá.

Termino dizendo que a obra de Celso Furtado - constituída por 35 livros, artigos, palestras e aulas - é muito vasta, rica e abrangente, com uma visão muito coerente e profunda da realidade, sobretudo desse sonho de construir um Brasil desenvolvido. Mas, nele, o homem era maior que a obra. Quem teve o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, dialogar com ele e beber da sua sabedoria conhece o quanto, durante todo o tempo, Celso Furtado estava refletindo na sua humildade, na sua profundidade, na sua generosidade intelectual, ajudando a pensar este País e deixando uma referência que - espero sinceramente - inspire os homens públicos a buscar caminhos criativos, para que possamos, de fato, realizar esse grande sonho de construir um Brasil desenvolvido, solidário e soberano.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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SEGUE NA ÍNTEGRA DO DISCURSO DO SR. SENADOR ALOIZIO MERCADANTE.

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O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - UM GRANDE BRASILEIRO

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mestre e referência intelectual, há quase meio século, de uma parcela expressiva dos economistas brasileiros, Celso Furtado sempre foi também um símbolo da esperança de transformação do nosso País, de ruptura com seu passado de dependência e desigualdade social. Ele nunca abandonou o sonho de ver o Brasil desenvolvido - e desenvolvimento, na sua concepção, não é um processo meramente econômico, envolve também conotações sociais, éticas e políticas, dentro das quais valores como democracia, soberania e cidadania ocupam um lugar central.

Esse sonho alimentou sua criatividade e sustentou sua coerência e integridade ao longo de sua trajetória como intelectual e homem público. Foi, na realidade, o substrato de toda sua imensa contribuição ao entendimento da realidade social brasileira e à formulação de políticas de desenvolvimento nacional e regional.

Não por acaso sua obra tem como fio condutor, que articula suas análises em diversos momentos da nossa evolução econômica, o resgate da dimensão histórica e estrutural na abordagem dos problemas do desenvolvimento brasileiro. Isso se evidencia em sua visão do subdesenvolvimento como condição específica dos países periféricos e em sua insistência em colocar a análise da realidade social como matriz constitutiva para a formulação das políticas de desenvolvimento.

Daí derivam suas teses sobre o papel do Estado e do planejamento no desenvolvimento, sobre a subordinação das políticas monetária e cambial à política de desenvolvimento e sobre a necessidade de articular a transformação econômica com a homogeneização social por meio de reformas estruturais e políticas redistributivas. Esses elementos convergem para a formulação de um projeto de Nação - expressão de uma vontade nacional articulada em torno a objetivos fundamentais - mediante o qual se avançaria na implementação do processo de transformação da economia e da sociedade.

Esses temas continuam sendo peças relevantes no debate econômico atual. A discussão entre monetaristas e estruturalistas, por exemplo, que opunha nos anos 50 as correntes liberais às reformistas, é a mesma que hoje opõe os monetaristas, travestidos de neoliberais, aos chamados desenvolvimentistas. Também são os mesmos, embora com invólucros aparentemente diferentes, os debates envolvendo a relação Estado/mercado e o caráter da inserção do país na economia internacional.

Hoje, lamentavelmente, não podemos mais nos beneficiar do convívio e da criatividade de Mestre Furtado. Mas seu exemplo e sua obra permanecem, são parte do patrimônio ético e cultural de nosso país. Por isso, creio que a melhor homenagem que lhe podemos prestar é aplicar, na prática, as reflexões contidas em um dos seus últimos escritos, sobre a responsabilidade do economista:

“O valor do trabalho de um economista, como de resto de qualquer pesquisador, resulta da combinação de dois ingredientes: imaginação e coragem para arriscar na busca do incerto.... Mas não basta armar-se de instrumentos eficazes para alcançar esse objetivo. Atuar de forma consistente no plano político, portanto, assumir a responsabilidade de interferir no processo histórico, impõe ter compromissos éticos”.

E mais adiante, conclui:

“Quando o consenso se impõe a uma sociedade, é porque ela atravessa uma era pouco criativa. Ao se afastar do consenso, o jovem economista perceberá que os caminhos já trilhados por outros são de pouca valia. Logo notará que a imaginação é um instrumento de trabalho poderoso, e que deve ser cultivada. Perderá em pouco tempo a reverência diante do que está estabelecido e compendiado. E, à medida que pensar por conta própria, com independência, conquistará a autoconfiança e perderá a perplexidade.”

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ALOIZIO MERCADANTE EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 21, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Obra completa do economista.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/11/2004 - Página 37408