Discurso durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Presidente Nacional da Autoridade Palestina, Yasser Arafat.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Homenagem ao Presidente Nacional da Autoridade Palestina, Yasser Arafat.
Aparteantes
Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 25/11/2004 - Página 37578
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, YASSER ARAFAT, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA, REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, BUSCA, PAZ, ORIENTE MEDIO, DECLARAÇÃO, APOIO, POLITICA EXTERNA, BRASIL.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, ACORDO INTERNACIONAL, LIDERANÇA, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, PALESTINA, BUSCA, PAZ, LEITURA, TRECHO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente, Senador Paulo Paim; Srªs e Srs. Senadores; queridos representantes do corpo diplomático: Embaixador da Palestina, Sr. Musa Amer Odeh e Senhora; Sr. Embaixador do Sudão, Rahamtalla Mamede Osman; Sr. Embaixador da Argélia, Lahcene Mouassaouí; Sr. Embaixador da Polônia, Jacek Hinz; Sr. Embaixador do Cameron, Martin Mbarga Nguele; Sr. Embaixador da Venezuela, Julio José García Montoya; Sr. Embaixador da Síria, Ali Diab; Sr. Embaixador da Jordânia, Ferahs Mofthi; Sr. Presidente da Confederação Árabe-Palestina do Brasil, Dr. Farid Suwwan (Outros embaixadores chegarão e peço que me informem os nomes).

Sr. Presidente, avaliamos extremamente importante dedicar hoje o nosso Pequeno Expediente para homenagear o Presidente Nacional da Autoridade Palestina, recentemente falecido.

O Presidente Yasser Arafat, sem dúvida, apesar de possíveis enganos que, como todos nós, seres humanos, cometemos ao longo de nossas vidas, foi o responsável por colocar a causa palestina no mapa do mundo.

No início dos anos 90 sobretudo, ele renunciou a qualquer uso de violência. Na prática, reconheceu o Estado de Israel, abandonando o objetivo de simplesmente eliminá-lo. Apoiou grandes movimentos populares, manifestações de massa. As intifadas nos anos 80 e início dos anos 90 se tornaram um marco na luta palestina. Eram os jovens sobretudo que iam às ruas para manifestar o seu apoio à causa da nação palestina, à causa do direito dos palestinos a estarem na sua própria terra. Não usavam qualquer arma de fogo. Apenas quando se viam diante de tanques que vinham atacá-los, resolviam utilizar de pedras para se defender.

Yasser Arafat contribuiu enormemente para o entendimento. Ao concluir o seu primeiro pronunciamento na ONU, em 13 de novembro de 1974, disse: “Hoje, eu venho aqui com uma planta de oliva e, assim, como com um revólver de guerreiro, de lutador. Não deixai cair de minhas mãos este galho de oliva! Eu repito - disse ele -“não deixai cair de minhas mãos este galho de oliva. Muitas vezes a guerra aconteceu e tem acontecido na Palestina, mas é exatamente aqui na Palestina onde a paz irá surgir, irá nascer”.

Nesses últimos tempos, Sr. Presidente, tem havido momentos de tensão. Após a morte de Yitzhak Rabin, depois que Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat haviam recebido o Prêmio Nobel da Paz, houve enormes dificuldades, crescentes mesmo, para que estabelecesse aquilo que havia se firmado no acordo de Oslo. Aqueles que estiveram à frente do Governo de Israel nem sempre continuaram aqueles mesmos esforços então iniciados. Manter o Presidente da Autoridade Palestina isolado ali em Ramallah, nos últimos dois anos, não contribuiu para o processo de paz, mas é importante que apoiemos todas aquelas iniciativas para que possa ocorrer efetivamente a paz.

Tive oportunidade recentemente de fazer uma visita a Israel e a Ramallah, onde encontrei o Presidente Yasser Arafat, e, naquela ocasião, entreguei uma carta de igual teor tanto ao Primeiro Ministro de Israel - que estava fora do país, então não a entreguei pessoalmente a ele - quanto ao Presidente Yasser Arafat. Essa carta do Presidente Lula dizia que nós, brasileiros, temos convivência com árabes, palestinos e israelenses, quer dizer, com representantes dos povos árabes e judeus, que há tantos anos convivem e trabalham conjuntamente, por exemplo, nas ruas de São Paulo, como na 25 de Março, e nas ruas de tantas outras cidades, como Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, e em outros municípios brasileiros mesmo pelo interior afora. Percebemos, então, em muitas oportunidades que podem perfeitamente árabes e palestinos cooperar uns com os outros.

Então, nessa carta Presidente Lula dizia aos representantes da Palestina e de Israel que nós aqui víamos a possibilidade de eles realizarem a paz.

Queremos aqui registrar, como algo que representa grande esperança, a iniciativa de paz havida em Genebra em dezembro passado.

Antes de seguir viagem para cinco países árabes o Presidente Lula, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o Brasil apóia a iniciativa organizada por setores expressivos da sociedade civil de Israel e da Palestina para a paz no Oriente Médio. A proposta representa um passo positivo e inspirador para a região. Nutrimos a esperança de que Israel e a Palestina trabalhem conjuntamente, por meio de concessões recíprocas, em favor de uma solução pacífica para o conflito. Somente por via da negociação e do diálogo se poderá alcançar uma paz duradoura.

Sr. Presidente, considero, então, relevante a iniciativa formulada tanto por representantes israelenses, como Yossi Beilin, Avraham Burg, Amram Miztna, como por representantes palestinos, como Yassir Adeeb Abed Rabbo, Nabeel Issa Kassis, Hisham Ali Hasan Abelrazeq, Khadura Fares, Mohamad Abdelfatah Al-Horani, entre outros.

Considero importante concluir minha manifestação em homenagem a Yasser Arafat, lendo alguns dos principais destaques desta Carta da iniciativa de Genebra:

Nós, abaixo assinados, somos um grupo de palestinos e israelenses que endossamos neste dia, 12 de outubro de 2003, um modelo para um acordo definitivo entre os dois povos.

Neste momento, após os governos israelense e palestino terem aceitado o Road Map, que inclui o estabelecimento de um status final dos territórios até 2005, baseado na solução de dois Estados, consideramos ser de extrema importância apresentar aos dois povos, e ao mundo todo, um exemplo do que um acordo definitivo poderia incluir.

É evidente que, apesar de toda a dificuldade das concessões, é possível atingir um compromisso histórico que reúna os interesses nacionais vitais de cada lado. Apresentamos este Acordo como um pacote integral - que tem consistência como um todo(...)

(...)Encaramos isto como um esforço educacional, como pessoas que cremos na paz, na conciliação de interesses nacionais e que acreditamos ser alcançável um acordo de paz.

É contrário aos nossos interesses adiar indefinidamente este acordo. Nós o consideramos um serviço às autoridades tomadoras de decisão. Experiências passadas provaram o quão difícil é para as entidades oficiais se prepararem para as negociações de um status definitivo, dado que cada detalhe é relevante e é necessário um trabalho técnico aprofundando cada concessão.

Para que isso se conclua, também se faz imperativo que suplementos e apêndices especifiquem as soluções, com alto nível de detalhes e fiquem disponíveis para os tomadores de decisões no momento de suas discussões sobre o acordo final.

E prossegue, Sr. Presidente, esse esboço de acordo ao Ministro de Relações Interiores da Suíça que foi encaminhado tanto à autoridade nacional palestina como à autoridade israelense.

Eu gostaria, Sr. Presidente, que a Carta, na sua íntegra, fosse registrada nos Anais da Casa, bem como o acordo, a iniciativa de Genebra.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Será assegurado a V. Exª, de forma regimental, a publicação na íntegra. 

O SR. EDUARDOSUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, ao concluir, encaminharei à Mesa, até o final desse pequeno expediente, um requerimento, semelhante àquele que o Deputado Fernando Gabeira apresentou na Câmara dos Deputados, em que o Senado Federal apóia os termos da iniciativa de Genebra.

Esperamos que essa homenagem que fazemos ao Presidente Yasser Arafat seja, sobretudo, um sopro de inspiração para que, o quanto antes, possa se realizar a paz no Oriente Médio. Sabemos que, na medida em que for efetivamente reconhecido por Israel o Estado da Palestina, na medida em que ambos países possam estar vivendo em paz, isso terá extraordinária repercussão para todo o Oriente Médio, inclusive para o Iraque e para todas as nações que, nessas últimas décadas, acabaram sofrendo guerras. Então, o acordo de paz entre árabes e israelenses, que era um objetivo importante, conclamado por Arafat, simbolizado quando ele segurou o galho de Oliva, constitui algo fundamental, que precisa ser realizado o quanto antes.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Eduardo Suplicy, V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Ramez Tebet, com toda honra.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - É que - e V. Exª compreende - seu pronunciamento é tão brilhante, expressa tanto o seu sentimento, o sentimento da Casa, o sentimento dos brasileiros, que peço a V. Exª que me conceda um aparte, porque vejo que muitos oradores desta Casa, vozes mais expressivas do que a minha, esperam para homenagear aquele líder do mundo árabe, recentemente falecido, que expressava, como continua expressando, apesar de morto, o ideal de um povo que quer ter a sua pátria, que quer ter o seu território, que quer viver em paz, que quer viver em harmonia, que quer fraternidade, um povo que precisa de soberania, que precisa de determinação, que tem o direito de habitar um território e ter uma pátria livre. Esse sonho de Arafat não morre e haverá de ser realizado, tenho plena convicção disso. V. Exª há de entender o meu aparte.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sem dúvida.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Como descendente de árabe, como uma pessoa desta Casa, que não sei se terei tempo de falar, porque são tantos os oradores inscritos, que eu possa expressar isso. Afinal de contas, sou um homem público e tive a satisfação, o orgulho - e quero dizer isso por meio do aparte que V. Exª me concede - , quando o Presidente Arafat visitou o Brasil, de estender a minha mão, e ele a recebeu. Naquele aperto de mão, senti uma emoção muito grande na minha vida. Sabia que estava apertando as mãos de um idealista, de um homem lutando pelos ideais do seu povo, da sua gente. Fiquei quase que envolto diante de uma figura que me pareceu mística, Senador Eduardo Suplicy. Por isso pedi essa gentileza. Quero deixar patente nos Anais desta Casa que utilizei o discurso de V. Exª para homenagear talvez o maior líder mundial da causa pela liberdade, pela independência de um povo. Agradeço a V. Exª ter me permitido expressar o meu sentimento de descendente de libanês, de árabe, e poder me manifestar no instante em que V. Exª está quase concluindo o seu pronunciamento. Mas V. Exª está me permitindo abrir o coração e dizer o que penso, na mesma torcida que V. Exª e o Brasil inteiro têm para um mundo que possa viver em tranqüilidade, em paz. Isso, sem dúvida nenhuma, passa pela solução da causa palestina. Agradeço a V. Exª.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Ramez Tebet, V. Exª honra o meu pronunciamento ao expressar tão bem o seu anseio por justiça, por paz, por reconhecimento da nação palestina e para que haja paz com o povo de Israel.

Sr. Presidente, uma das melhores formas que o Presidente Lula terá para homenagear o Presidente Yasser Arafat seria o Presidente cumprir um desejo que foi expresso pelo Presidente Yasser Arafat, quando do meu diálogo com ele. O Presidente Yasser Arafat pediu que eu convidasse o Presidente Lula para passar o Natal em Belém. Então, deixo essa sugestão ao Presidente Lula, para que Sua Excelência possa aceitar esse convite antes de concluir este seu mandato - não neste ano, mas talvez no próximo ano, porque essas coisas precisam ser planejadas com antecedência. Sua Excelência estará fazendo algo de muito significado para o povo palestino se puder passar um Natal em Belém, atendendo a um convite do Presidente Yasser Arafat, ainda que este tenha falecido. Estou certo de que isso trará grande alegria ao povo palestino. Esse gesto, tal como a manifestação do Presidente Lula em diversas ocasiões, contribuirá para a paz entre árabes, palestinos e israelenses.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

Iniciativa para a paz no Oriente Médio;

Acordo de Genebra


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/11/2004 - Página 37578