Discurso durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a declarações do Presidente do INCRA a respeito do agronegócio.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a declarações do Presidente do INCRA a respeito do agronegócio.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 25/11/2004 - Página 37896
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, AGRICULTURA, PECUARIA, EXPORTAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), ACUSAÇÃO, AGRICULTOR, EMPRESARIO, RESPONSABILIDADE, HOMICIDIO, SEM-TERRA, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).
  • PROTESTO, INCOMPETENCIA, PRESIDENTE, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), SOLUÇÃO, CONFLITO, CAMPO, MOTIVO, TENTATIVA, OPOSIÇÃO, TRABALHADOR RURAL, INJUSTIÇA, ATUAÇÃO, AGRICULTOR, PARTICIPAÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), CRIAÇÃO, EMPREGO, SUPERAVIT, BALANÇA COMERCIAL, APREENSÃO, AUMENTO, TENSÃO SOCIAL.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, farei um esforço para ser fiel ao tempo, não sem antes agradecer a V. Exª a prorrogação desta sessão.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por que eu quis ocupar a tribuna ainda hoje, mesmo que por cinco minutos? Porque eu venho de Mato Grosso do Sul, um Estado da agricultura, da pecuária, do agronegócio, um Estado que quer paz no campo. E leio hoje na Folha de S.Paulo que o Presidente do Incra, o Sr. Rolf Hackbart, perante nove mil pessoas - vejam bem -, perante nove mil militantes rurais, acusa o agronegócio de abrigar suspeitos da chacina dos cinco sem-terra em Minas Gerais e por agressões a acampados em Mato Grosso do Sul. Isso me causou preocupação.

Penso que uma declaração dessas não pode partir de quem tem a responsabilidade de administrar os conflitos no campo, solucionando-os da melhor maneira possível. Declarações como essa são de uma generalização que, sem dúvida nenhuma, acirra os ânimos, desestimula aqueles que querem produzir. Portanto, elas são incompatíveis com quem tem a responsabilidade de um agente público, como é o Presidente do Incra. Ele classifica o agronegócio de adversário! Mas como o agronegócio é adversário? Adversário de quem, se a sua evolução está servindo à economia do País, se o agronegócio é responsável por 34% do Produto Interno Bruto, se ele gera 37% dos empregos do País, se é responsável por 43% das exportações brasileiras? Se, enfim, é quem está garantindo o superávit da balança de pagamentos?

Declarações como essa do Presidente do Incra não podem ocorrer. Sr. Presidente, estamos vendo nesse Governo, infelizmente, uma semântica que não corresponde à realidade. Ora são Ministros que se contradizem, ora são Ministros que agridem setores produtivos da sociedade, como é o caso.

Positivamente, Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, em defesa do agronegócio, tenho que solicitar ao Presidente do Incra que meça bem as suas palavras. Não é assim que vamos resolver os problemas que afligem o campo no Brasil.

Foi por isso que vim a esta tribuna. Felizmente, o Ministro da Agricultura, com o seu bom senso, reconhece o valor do agronegócio. O que é o agronegócio no Brasil? O que está contemplado no agronegócio? Está contemplada a agricultura familiar. Ela merece as palavras que o Presidente do Incra proferiu? O pequeno produtor merece as palavras que o Presidente do Incra proferiu, agredindo o agronegócio?

Dir-se-á: “Mas foi um erro de semântica! Ele exagerou nas palavras!” Estão exagerando a toda hora e a todo momento! Isso significa, a meu ver, uma insuflação desnecessária. Por isso, venho a esta tribuna defender o agronegócio.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Senador Eduardo Suplicy, concederei o aparte, se o tempo permitir, com muita honra.

Venho de um Estado onde existem acampados, onde existe muita gente acampada, gerando intranqüilidade. Por isso tenho que vir aqui dizer que precisamos resolver os problemas, mas de forma pacífica, dentro da lei. E cabe a quem tem a responsabilidade de governar tomar muito cuidado com as palavras que profere.

Tem V. Exª a palavra, Senador Eduardo Suplicy.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - O final da palavra de V. Exª fica com o Senador Eduardo Suplicy, pois somente resta um minuto.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Ele falará por trinta segundos, para que eu possa encerrar. Se bem que é uma honra, para mim, ter um discurso encerrado por um homem da categoria do Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Ramez Tebet, o Presidente do Incra, Sr. Rolf Hackbart, disse aos trabalhadores do MST que seria importante fazermos todos os esforços para que a meta de assentar 115 mil famílias neste ano fosse atingida. Ele diagnosticou que ainda falta a liberação da verba necessária para completar cinqüenta mil e, assim, atingir 115 mil. Assim, ele entendeu como importante que houvesse aquela reunião de trabalhadores em Brasília, para poder falar, ao Governo do Presidente Lula, ao Ministro do Desenvolvimento Agrário, a todos os responsáveis, da importância de serem liberados os recursos. Como ocorreu esse incidente tão grave, a tragédia da morte de um grupo de trabalhadores em Minas Gerais, e como, infelizmente, um fazendeiro, segundo todos os indícios, teria sido o responsável pelo massacre, avalio que, de fato, ele exagerou ao tratar aquele proprietário, ou fazendeiro, como o representante de tantos que, neste País - conforme V. Exª e o Ministro Roberto Rodrigues salientam -, também têm contribuído para o desenvolvimento da agricultura e das exportações. A ponderação que V. Exª faz é para que o Presidente do Incra, Rolf Hackbart, reflita melhor, é para que ele não generalize para todos aqueles que são do agronegócio, identificando-os com um crime seriamente condenável e que precisa ser objeto da devida apuração pelas autoridades da justiça e da segurança. Obrigado.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - O aparte de V. Exª reforça o meu pronunciamento. V. Exª conclui dizendo que o Presidente do Incra deve ponderar. É isto que quero que ele faça: que proceda com ponderação, com prudência, que reivindique aquilo que consta do Orçamento. Contudo, não é incitando trabalhadores que ele vai liberar recursos do Orçamento, porque isso provoca discórdia e violência no campo.

As minhas palavras são justamente uma advertência sincera, de quem quer o bem deste País, de quem, sendo representante de Mato Grosso do Sul, avalia que o nosso campo, que as vastas extensões de terra do nosso País existem para se plantar alimento para o Brasil e para o mundo, não são seara para semear o ódio e disputa de classes. É o apelo que faço ao Presidente do Incra. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/11/2004 - Página 37896