A SRª FÁTIMA CLEIDE (Bloco/PT - RO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, muito foi dito neste Plenário sobre o resultado das eleições municipais, concluídas há 18 dias. Análises, balanços e projeções pautaram a semana seguinte ao pleito - jornalistas, dirigentes partidários e parlamentares se dedicaram ao assunto, que ainda palpita nos ambientes em que eleições e seus resultados são temas recorrentes.

É o caso desta Casa, Srªs e Srs. Senadores. Por isso, julgo oportuno ainda apresentar aos colegas e à sociedade brasileira os resultados alcançados pelo Partido dos Trabalhadores em Rondônia, partido que tenho a honra de dirigir em meu Estado pela segunda vez consecutiva.

Em primeiro lugar, desejo ressaltar que, concluído o processo eleitoral no País, claramente se identificou uma importante vitória organizacional do Partido dos Trabalhadores, fato consumado com a conquista pela legenda do primeiro lugar em número de votos recebidos, tanto no primeiro quanto no segundo turno - 16,3 milhões de votos e 6,9 milhões de votos respectivamente.

Outro indício da vitória organizacional é a expansão do PT para as regiões amazônica e Nordeste. Os grotões, conforme gosta de denominar a imprensa nacional. Rondônia, onde não sem dificuldades o PT se firma numa trajetória consistente, é um revitalizante exemplo de como a organização e a firmeza ideológica trouxeram uma lufada de mudança no cenário político do Estado.

Porto Velho é uma das nove capitais que serão governadas pelo PT a partir de 2005. O prefeito eleito Roberto Sobrinho alcançou no segundo turno 54,3% dos votos válidos, o que significa 90.985 votos.

E, da mesma forma que eu, seu lugar no pódio das mais diversas pesquisas foi, durante bom trajeto da disputa, a do azarão, sem chance entre nomes de carreira política consolidada e vitaminados com apoio das máquinas municipal e estadual.

A vitória em Porto Velho representa sem dúvida alguma um marco historio para o Partido dos Trabalhadores na Capital e em Rondônia. É uma vitória inédita, alcançada pela força da organização e disciplina de seus dirigentes, pelo discurso propositivo de nosso candidato e sobretudo pela garra e fé da militância.

É significativa, Srªs e Srs. Senadores, a votação expressiva recebida na zona leste de Porto Velho, área onde o debito social se acumula vergonhosamente em decorrência de administrações insensíveis às demandas populares.

Dessa forma, corresponder ao eleitorado humilde é nosso desafio maior a partir de 2005, desafio que nos preocupa, mas também nos encoraja para inscrever a capital de Rondônia na lista de prefeituras petistas atuantes e eficientes.

Logramos êxito em outros seis municípios, de pequeno porte, confirmando o crescimento nacional do PT na categoria de municípios com menos de 20 mil eleitores, dando ao partido nesta eleição de 2004 a sétima posição nesta categoria de municípios. 

Não conseguimos reeleger cinco prefeituras que atualmente administramos, a maioria delas com boa aprovação popular. Em outros municípios tivemos forte desenvoltura eleitoral, bom envolvimento da militância, bons nomes na disputa, sem entretanto conseguir sucesso.

Quais as explicações para isso, quais os erros que cometemos fazem agora parte do processo de discussão e análise sobre a qual já se debruça o PT de Rondônia, com clareza, humildade e o reconhecimento de que é preciso enfrentar os desacertos e corrigi-los.

Com o reconhecimento também de que é preciso avançar para assinalar com vigor no quadro político de Rondônia os temas que fazem parte da identidade da esquerda.

Esta reflexão, Srªs e Srs. Senadores, é desafiadora e necessária. As desigualdades sociais, a guerra, a destruição do meio ambiente, a exclusão social que se verifica mediante a ausência de transparência dos gestores públicos, causada em grande medida pela corrupção, tudo engendrado pelo atual modelo político-econômico global, continuam aí, exigindo de nós organização, luta e inteligência.

Avalio que de Norte a Sul do País o PT precisa reafirmar sua identidade programática, não somente pelas derrotas que experimentou, mas especialmente pelas significativas vitórias que alcançou.

Creio que para nós, do Partido dos Trabalhadores, a agenda política do futuro alcançará ainda mais êxito se levarmos fortemente em conta o diferencial que norteia a trajetória da legenda em seus 24 anos de luta, diferencial que sedimenta na luta social sua capacidade de disputar espaços políticos. 

Sou otimista. Acredito que a esquerda está na luta para disputar uma visão de mundo, e está sendo bem-sucedida. Devemos ter em mente, sempre, que o embate tem lados, sempre teve. Ele é marcado pela disputa entre interesses poderosos, sempre foi assim. 

E os interesses poderosos estiveram aí a desrespeitar o eleitor, mais uma vez. Nesta eleição, em todos os lugares. Antes do primeiro e segundo turnos o ministro Sepúlveda Pertence, presidente do TSE, lembrava em rede nacional de televisão que o voto deve expressar a vontade e a livre decisão do eleitor, não sendo passível de negociação ou venda.

Mas o que assistimos foi a mercantilização do voto. Em Rondônia não foi diferente do que aconteceu no Rio de Janeiro, onde pipocaram na imprensa graves denúncias de compra de votos, de utilização da máquina pública para favorecer candidatos da situação.

Nossa crença no exercício ético, legítimo e digno de representação política mediante a soberania do voto foi diariamente afrontada durante a campanha. Na maioria dos municípios onde lançamos candidaturas majoritárias - 27 ao todo -, enfrentamos candidaturas comprometidas com a compra de votos, com a violência, com o crime organizado. O mesmo acontecendo com as candidaturas a quem selamos nosso apoio. 

Faço estas referências, Srªs e Srs. Senadores, porque a mercantilização do voto do eleitor não é tão-somente reflexo da pobreza, mas também decorrência do péssimo estado em que se encontra a representação político-partidária, em que o sintoma mais visível é a troca-troca de partidos e falta de convicção de legendas e candidatos, que desrespeitam a delegação lhes conferida pelo eleitor.

Daí que faço um apelo para que o Congresso Nacional também faça a sua reflexão pós-eleitoral, e considere evidentemente com a melhor oportunidade em sua agenda, de forma altiva, a discussão e aprovação da reforma política.

Prosseguindo ainda com a intenção que me traz este discurso, lançamos nos 52 municípios o maior número de candidatos a vereador - 469 - dentre todos os partidos de porte.

E, mesmo com a redução do número de vereadores em Rondônia, passando de 527 para 472, alcançamos resultado positivo. Em 2000 elegemos 53 vereadores e vereadoras, e agora elegemos 57. Dentre estes, 14 vereadoras, número que nos coloca em 1º lugar no ranking nacional de mulheres eleitas pelo Partido dos Trabalhadores, percentualmente.

O PT Rondônia, Srªs e Srs. Senadores, já se destaca politicamente na região amazônica. A cada eleição colhemos os resultados de um trabalho árduo comandado pelos dirigentes e partidários, trabalho este que passa pela definição de estratégias, discussões internas, seminários. Atividades realizadas antes e depois de cada processo, consolidando a legenda em Rondônia.

Nosso objetivo maior, alterar os rumos da política em nosso Estado, está em curso, Srªs e Srs. Senadores. E nesta eleição avançamos mais um passo com a articulação de alianças que permitissem modificar o eixo de poder em algumas regiões, eixo que durante longos anos vinha contaminando instituições, promovendo saques nos cofres públicos.

Para finalizar, quero agradecer a todos os companheiros de partido, parlamentares, ministros, militantes e dirigentes que em Rondônia estiveram para nos dar apoio, para somar no esforço de elegermos a prefeitura da Capital.

Srªs e Srs. Senadores. Muito alegra ao PT de Rondônia a vitória em Porto Velho. Foi a vitória da organização, da vontade de mudar, e sobretudo a vitória da possibilidade de construir em nossa cidade uma administração transparente, participativa e realizadora.