Discurso durante a 170ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários ao artigo intitulado "Momento especial", de autoria do jornalista Jânio de Freitas, publicado no jornal Folha de S.Paulo, de 25 do corrente.

Autor
Sergio Guerra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Severino Sérgio Estelita Guerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários ao artigo intitulado "Momento especial", de autoria do jornalista Jânio de Freitas, publicado no jornal Folha de S.Paulo, de 25 do corrente.
Publicação
Publicação no DSF de 27/11/2004 - Página 39217
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, GOVERNO FEDERAL, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - RJ. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a Tribuna nesse momento para comentar o artigo intitulado “Momento especial”, de autoria do jornalista Jânio de Freitas, publicado no jornal Folha de S.Paulo de 25 de novembro do corrente.

            O artigo mostra que a desconexão entre as palavras e a realidade do atual governo vem de muito longe, desde a última campanha presidencial; “os compromissos com o eleitorado não passaram de falsas seduções”.

            Sr. Presidente, para que conste dos Anais do Senado Federal, solicito que o artigo acima citado seja dado como lido e considerado como parte integrante deste pronunciamento.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR SÉRGIO GUERRA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

FOLHA DE S.PAULO, 25 de novembro de 2004

Momento especial

            Jânio de Freitas

Sua atenção, por favor, que o fato é muito relevante: Lula produziu uma novidade. Quem poderia esperar por isso, já com 23 desalentados meses do mandato de 48, ou seja, decorrida quase metade do mandato? A rigor, a abrangência da novidade recua até muito aquém, incalculavelmente aquém, do início do governo.

É preciso recapitular um pouco. Desde o início, mas sobretudo neste ano, Lula cada vez mais parece discursar para si mesmo. Como se tomado da necessidade de dizer que o governo está no rumo certo para acreditar, ele próprio, que isso contenha alguma verdade. Ou, o que dá quase no mesmo, que preside de fato. A desconexão entre palavras e realidade vem de muito longe, segundo o próprio Lula. Sua definição de tudo o que disse antes da última campanha coube em duas palavras bem escolhidas: "eram bravatas", quer dizer, fanfarronice, tapeação. Ainda mal iniciado o governo, viu-se que todos os compromissos com o eleitorado não passaram de falsas seduções. Era a mesma fanfarronice enganadora, porém sem bravatas, que o Lulinha paz e amor não as comportaria.

Nas horas infindáveis de segunda para terça-feira, em que Lula e os 17 ministros do PT, além de uns quantos coadjuvantes, discutiram sem saber o que discutir e chegaram à orientadora conclusão de que nada concluíram, deu-se a novidade. Com o mínimo de clareza e o máximo de tibieza possíveis, alguns ministros insinuaram que a política econômica talvez, quem sabe, pudesse ser reconsiderada em alguns pontos, ou do contrário - como disse o ministro Luiz Dulci na culminância da ousadia - poderá levar à derrota. Não explicitou se derrota de Lula na reeleição, derrota do governo ou derrota do PT, mas, se necessário, depois Marta Suplicy, o gaúcho Raul Pont e outros explicam por que e como são as "derrotas vitoriosas" que a integridade intelectual do José Genoino identificou.

E chegou, então, o extraordinário. Talvez porque mal contivesse a irritação, Lula deu esta resposta, no seu discurso final, aos que falaram da política econômica:

"Na política econômica eu não mudo nada. A política econômica é essa e não tem volta. E quem quiser contestar a política econômica, comigo não terá vez pra discutir".

Que coisa extraordinária: tudo indica que foi um momento de plena sinceridade. Meio esquisita na forma, sim. "Não tem volta" - que volta, se a política econômica é o continuísmo da "herança maldita"? Não faz mal, a sinceridade tudo compensa. E tem ainda valor histórico. Desde os generais-ditadores não se ouviam frases assim, "eu não mudo nada", "não tem volta", "comigo não terá vez", frases tão democráticas.

Mas Lula bem que poderia levar sua sinceridade um pouquinho além, apenas um complemento: "Eu não mudo porque não posso mudar".


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/11/2004 - Página 39217