Discurso durante a 177ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamentos sobre o crescimento da economia brasileira.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. ELEIÇÕES.:
  • Questionamentos sobre o crescimento da economia brasileira.
Aparteantes
Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2004 - Página 41482
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, RETOMADA, CRESCIMENTO ECONOMICO, NECESSIDADE, AUMENTO, CAPACIDADE, OFERTA, PRODUTO, FAVORECIMENTO, INVESTIMENTO, APOIO, PROJETO DE LEI, PARCERIA, SETOR PUBLICO, SETOR PRIVADO, APRESENTAÇÃO, DADOS.
  • ANALISE, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, ESPECIFICAÇÃO, SETOR, PRODUÇÃO, ENERGIA, JUROS, EMPREGO, INFLAÇÃO, APRESENTAÇÃO, DADOS.
  • ANALISE, ESTATISTICA, ELEIÇÃO FEDERAL, POSSIBILIDADE, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, ANTONIO PALOCCI, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é inegável a retomada do crescimento econômico no País, ainda que sem a garantia de efetiva sustentabilidade, mas é inegável. A base de comparação é flébil e, portanto, quanto pior a base de comparação, maior parece o avanço da economia. Se a economia tivesse, ao invés de crescer apenas os 0,5% registrados pelo IBGE, recuado 4%, apresentaríamos hoje um resultado estatístico mais brilhante ainda. Por isso algumas verdades devem ser colocadas. A primeira delas é que a verdadeira mensuração se dá de trimestre para trimestre, e, do primeiro trimestre deste ano para o segundo trimestre, a economia brasileira cresceu 1,4%, conforme o próprio IBGE. Do terceiro trimestre para o quarto cresceu apenas 1,1%. Ou seja, é de se notar um decréscimo na intensidade do crescimento da economia.

No mais, percebemos que não há garantia de sustentabilidade, até porque a chamada Formação Bruta de Capital Fixo, a taxa de investimentos, ela, com proporção do PIB, não ultrapassa os 18%, que condenam o Brasil a um crescimento anual pífio. O Brasil não pode ter um crescimento brilhante durante muitos anos sob pena de se despertar a força da inflação. O Brasil precisa aumentar a capacidade de oferta do seu parque industrial para crescer com inflação o mais perto possível de zero.

Hoje se convenciona que o PIB potencial seria de 3,5%, ou seja, o Brasil poderia crescer a uma média de 3,5% durante cinco, seis, oito anos sem ter maiores percalços com a inflação. Se o Brasil crescesse 6%, 6%, 6%, teria imediatamente problemas gravíssimos com a chamada espiral inflacionária.

Então, é preciso aumentar a capacidade de oferta no mercado de produtos. Portanto, é fundamental que se crie um clima favorável ao investimento. E o investimento não vem se algumas coisas objetivas não acontecerem. Por exemplo, o Governo coloca todas as suas fichas, Senador Teotônio Vilela, na chamadas Parcerias Público-Privadas - coloca todos os seus ovos e deposita-os numa só cesta.

Algumas pessoas mais ingênuas do Governo podem imaginar que, com as PPPs, vai começar a chover dinheiro em cima do Presidente Lula, o que não é verdade. As Parcerias Público-Privadas - por mais que estejam sendo consertadas pela ação de pessoas lúcidas da Oposição, como, por exemplo, o Senador Rodolpho Tourinho, além do companheiro Senador Tasso Jereissati, que tem sido um gigante na colaboração dentro do Congresso para que o Governo possa dispor de um instrumento efetivamente mais capaz de atrair o investimento - têm, como é a cara desse Governo, um viés estadista, de muita presença de Estado. Quase que o Governo queria isso, propondo no começo uma parceria público/público. Era um capitalismo sem risco. O empresário poderia investir à vontade, que qualquer coisa a viúva pagaria. Leia-se nós, contribuintes, pagaríamos pelo insucesso dos empreendimentos. Isso já tomou uma outra feição. Mas ainda assim não tenho grande expectativa em relação às Parcerias Público-Privadas.

Era preciso, por exemplo, que mexêssemos fundamentalmente na lei das agências reguladoras, porque elas hoje espantam o investimento ao invés de atraí-lo, elas não dão a garantia de que amanhã uma portaria ministerial não mexeria com os planos de empresas que vêm para investir durante 20 ou 30 anos mas querem regras fixas. Fora disso, colocam seus capitais em outro lugar e estão elas conversadas conosco.

Uma matéria, Senador Teotônio Vilela, que V. Exª domina como poucos nesta Casa: energia. Tivemos uma proposta, tivemos um marco regulador que, com toda a certeza, afugenta o investimento, não atrai investimento, e nenhuma obra significativa está acontecendo, seja porque os problemas com o Ibama tenham atrasado o início dessas obras, seja porque há escassez de capitais mesmo dispostos a investir nisso tudo. Do mesmo modo, temos o problema do crédito. Os compulsórios retêm demasiado dinheiro, e por quê? Porque, como não há investimento forte, como não há capacidade mais absoluta de oferta de produtos no mercado, a grande verdade é que se passa a ter mais dinheiro circulando e, portanto, mais crédito na mão dos empresários, vamos ter de novo aquele drama, o Brasil cresce mais do que podia e cresce com inflação, e crescendo com inflação significa que depois vai ter que aumentar juros, vai ter que voltar ao círculo vicioso. E, aliás, o governo está, todo esse oba-oba que o Governo procura estardalhaçar na imprensa, todo esse oba-oba jamais consegue esconder o fato de que os juros estão aumentando todos os meses. Os mercados estão tão nervosos, embora tentem não aparentar, que hoje li a previsão de alguém, com ares de grande analista, dizendo assim: os juros vão aumentar de 0,25 a 0,75%. É como se eu dissesse assim: vou calcular a idade daquele cidadão: ele tem entre 30 e 55 anos. Pelo amor de Deus, é demais! Entre 30 e 33, entre 50 e 53, mais ou menos a gente aceita. Mas dizer que os juros vão aumentar no próximo Copom de 0,25 a 0,75% é reconhecer que os juros vão aumentar e dizer que não tem a menor idéia de qual seria a lógica orientadora do Governo, senão não colocariam uma margem tão extensa, uma distância tão grande entre a margem esquerda e a margem direita do rio.

O fato é que o governo está a braços de novo com esse problema. Ou seja, se o governo cresce neste ano 5 ou 5.2, como creio, já tem garantido, na inércia, um crescimento de 3% no ano que vem. Na inércia, sem fazer grandes coisas. Vamos reconhecer que o grosso desse crescimento ainda vem do mercado externo, ainda não se reflete isso como exemplo de bem-estar para o povo brasileiro.

Ano que vem, necessariamente, ele teria que crescer menos um pouco - vai crescer três, três e pouquinho, algo assim. No outro ano, teria que crescer dois e pouco, três e pouco, algo assim, para o governo poder cumprir as metas de inflação, para o governo poder cumprir os seus compromissos, para o governo, enfim, manter a economia estável.

A meu ver, tem havido uma discussão estapafúrdia no governo, aliás, de certa forma, presenciei isso no governo passado: desenvolvimentistas e monetaristas, como se uns fossem muito bons e muito afins do emprego e da sensibilidade social. Outros muito ruins e, portanto, muito dispostos a esmagar quem quer gerar emprego e não é nada disso.A meu ver, ninguém neste Governo conspira mais a favor do emprego do que o Ministro Palocci. Ninguém mais do que ele. É precisamente a pessoa que mais cria as condições para que o Brasil possa ter empregos com fartura, a dar certo o que ele projeta.

Às vezes, reclamo do Ministro Palocci por errar na intensidade, por errar no timing - intensidade porque poderia ter baixado mais juros do que o fez, timing porque poderia ter começado a baixar juros antes e timing de novo porque continua aumentando no Copom a taxa básica de juros, quando, a meu ver, o movimento de paralisação - pare onde está, dê um tempo para ver qual é a reação efetiva no mercado, qual é a efetiva reação sobre a economia no País - não precisaria ser exagerado, mas concordo com o receituário, porque, aliás é um receituário que herdou e trabalha com muita competência.

Sou a favor das metas de inflação. Quando vejo alguém dizer: tem que ter meta de inflação, tem que meta para isso, meta para aquilo... Não. Quem aceita o regime do inflation target , de meta de inflação, aceita esse regime e ponto. O resto é condicionado por isso.

Concordo com meta de inflação. Concordo com o câmbio flutuante. Ele é o maior antídoto para as crises cambiais. Concordo com a idéia do ajuste fiscal, embora grande parte do superávit extra que o Governo oferece - e todos aqui sabem da minha admiração e do meu respeito pelo Ministro Palocci -, o Ministro Palocci não vai dizer o contrário.

O superávit primário pôde pular de 4.25% para 4.5% graças ao aumento da carga tributária e não graças ao corte de despesas de custeio, quando o Governo teria que fazer mais corte de despesas em custeio para poder oferecer um superávit primário de melhor qualidade. Essa para mim é a chave para se pensar em ter juros mais baixos, tanto no absoluto quanto os juros reais, quanto os juros básicos.

Mas o fato é que quando o Governo coloca toda sua euforia em cima de uma vitória econômica, que é meramente a reposição dos padrões ruins de 2002, o Governo está trabalhando para a mídia novamente, sem sinceridade. Senão, vejamos alguns dados, Senador Antero Paes de Barros.

A taxa atual é de desemprego é 10,5%, que as pessoas dizem ser a melhor dos últimos três anos. Contudo, se esquecem de que 2004 é o ano em que estamos vivendo, que 2002 foi o ano que poderia ter significado crescimento de 2,5% se o Governo brasileiro tivesse sido mais competente em operar sua máquina e que 2003 foi o ano em que a desconfiança dos mercados em relação a Lula levou à complicação da economia. Entretanto, no ano de 2002, um ano considerado ruim, a taxa de desemprego foi de 10,6%, e hoje, com todo esse barabadá que o Governo faz, a taxa é de 10,5%. Ou seja, o Governo meramente retorna ao mesmo ponto em que estávamos quando o próprio Presidente Lula criou com as desconfianças na economia brasileira. Esse é um fato.

O outro fato é que vejo muita gente querendo prestar serviço, mas a pessoa que mais abjetamente prestou serviço ao Governo ultimamente - e não me canso de lembrar dele. Sou meio repetitivo - foi o Dr. Marcos Coimbra, do Vox Populi. Para ele, não haverá mais eleição em 2006 porque Lula já ganhou. Aliás, ele fez essa afirmação na coluna de um jornal carioca antes da posse de Lula, e fiquei impressionado com isso. Eu falei que, de repente, se o Presidente Lula assumisse o cargo e, ao invés de nomear pessoas decentes, como o Ministro Palocci e o Ministro Márcio Thomaz Bastos, nomeasse o Comando Vermelho, ainda assim o Marcos Coimbra disse que ele venceria a eleição. Não importa nada que o Presidente faça ou mesmo que o Presidente desfile nu na avenida Paulista ganhará a eleição porque o Marcos Coimbra quer, de qualquer maneira, agradar ao rei. É complicado.

Outro dia, alguém disse algo interessante: Fernando Henrique cresceu em torno de um ponto em 2002 e um ponto e não sei quanto em 2001. Logo, ele perde de longe, em seus dois últimos anos, para os dois primeiros anos de Lula. Meu Deus! Precisamos ter um pouco de respeito pela inteligência das pessoas e um pouco de apego à verdade.

Há alguns dias, citei meu inesquecível amigo Ministro Roberto Campos como se fosse Bulhões. Dizia Roberto Campos que estatística é como biquíni, que mostra tudo, mas esconde o essencial. E disse Marc Twain que há três tipos de mentiras: as mentiras, as mentiras escandalosas e as estatísticas.

Falemos agora dos dois primeiros anos de Fernando Henrique, quando o Brasil cresceu muito mais do que no primeiro biênio de Lula. De 1996 até o momento, o melhor ano em crescimento para o País foi o segundo ano do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Se analisarmos quaisquer indicadores, constataremos que o biênio de Fernando Henrique Cardoso foi visto pelo povo como o melhor, em taxa de popularidade, taxa de aceitação e o que quer que seja. Eles gostam de comparar o Fernando Henrique das crises - e isso é desonesto - com o Lula da bonança; Fernando Henrique vivendo uma conjuntura internacional apertada e o Lula mal sabendo aproveitar uma conjuntura internacional de absoluta fartura de capitais na direção dos países emergentes.

Sou a favor de que as pessoas defendam o Governo e compreendo muito bem quem faz esse papel, pois já fui líder de governo e sei muito bem que papel é esse. Porém, vejo as pessoas de fora, as que querem meramente bajular o poder a desinformarem e até, Senador João Capiberibe, a mentirem, a não serem sinceras e justas em relação a essas verdades.

Os jornais de hoje publicam fartamente uma pesquisa para Presidente da República. Os analistas do Governo dizem que “Lula venceria a eleição.” Pergunto: qual eleição, cara pálida? Que eleição ele venceria?

Não tenho nada contra Lula vencer quando não há eleição. Sou a favor de que Lula vença todas as eleições quando não houver. Aliás, queria que o meu time, o Flamengo, vencesse campeonatos quando ele está perdendo, quando há campeonato. Nada de vencer quando não há campeonato. Para mim, treina bem e joga mal time que não é de decisão, de chegada.

Façamos algumas comparações. Entre Lula e Serra - Serra não é candidato -, Lula tem 42 pontos e Serra, 33. Há quase um empate técnico. De acordo com a margem de erro da pesquisa, três pontos para cima ou para baixo, se Lula descer três pontos, terá 39; e se Serra subir três pontos, terá 36. O resultado é um empate técnico. Lembro que José Serra é Prefeito de São Paulo e o será por quatro anos, conforme seu compromisso sagrado com o povo.

Senador Tasso Jereissati, o quadro é de eleição em segundo turno. Todo o quadro aponta na direção de um segundo turno. O Governador Aécio Neves, que não se habilita a uma reeleição alvissareira, poderá ser nosso candidato à Presidência da República; tem todas as condições para sê-lo, pois já tem 9% na pesquisa. O Governador César Maia, do PFL do Rio de Janeiro, tem 8% nas pesquisas; Geraldo Alckmin tem 15%. Serra custou muito, na eleição de 2002, a atingir os 15%. Alckmin já sai com 15%. Ou seja, desde logo sabemos que, na eleição futura, haverá segundo turno, sim, e o nome das oposições será colocado com clareza no segundo turno, até porque temos também o ex-Governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, bem posicionado, entre 8% e 15%, dependendo do cenário que se coloque diante dele.

Então, temos hoje o seguinte quadro: 1995-1996 apresentando resultados muito melhores para Fernando Henrique do que 2003-2004 para Lula; segundo, um quadro nítido de segundo turno. Se fizermos uma comparação com qualquer candidato em 96, ninguém diria que Fernando Henrique não venceria uma reeleição, venceria e fácil, no primeiro turno, como, aliás, venceu de Lula, no primeiro turno, e venceria de Lula, no primeiro turno, nas duas vezes que com ele competiu.

Agora, Lula já tem diante de si, como diz o seu conterrâneo, Senador Teotônio Villela, o brilhante Líder da Minoria, na Câmara dos Deputados, Deputado José Thomas Nonô, Lula, ao meio-dia, no seu meio-dia, ele já tem uma perspectiva de segundo turno. E daqui para a frente, depois do meio-dia, a gente já sabe vem uma da tarde, vem três da tarde, vem o crepúsculo, depois, do crepúsculo, que é muito bonito, vem o anoitecer; e o anoitecer, às vezes, traz alguns pesadelos.

Então, se o único projeto do Governo é a reeleição do Presidente Lula deve colocar as barbas de molho, porque é uma reeleição difícil que eles têm pela frente.

Mas, de qualquer maneira, eu, hoje, dizia para a minha mulher, bem cedo, em casa. Eu falei para ela: “Olha, minha mulher, não vamos nos preocupar com isso, porque isso aqui é uma onda. O Governador Brizola dizia bem: “É uma onda que quando vem de lá é melhor para a gente; e quando vem de cá,é ruim para a gente”. O importante é nós termos aqui a convicção de que não está em jogo a reeleição. O que está em jogo é nós termos um trabalho correto que credencie o PSDB como partido que mereça o respeito da população brasileira. Quem vai ganhar a eleição, quem vai decidir é o povo. Quem está preocupado com a eleição, agora, é o Presidente, que ao invés de governar - e, se governasse, poderia até se reeleger - com efetividade fica preocupado com a eleição e fica aí com as projeções.

Então, ele fez três simulações com três candidatos que nós não temos. Porque não temos candidato à Presidência da República. Vamos ter. Neste momento, o nosso candidato está forte porque amparado em todo o sentimento do País, em toda uma proposta efetiva de retomada da competência administrativa, em toda uma proposta efetiva de retomada do controle da máquina.

Por exemplo, anteontem, o Senador José Agripino Maia, Líder do PFL, fez aqui um belíssimo discurso. O Governo do PT perde o controle da máquina e, aí, quer capitalizar essas movimentações da Polícia Federal como se fosse uma orientação dele Governo. Eu não posso acreditar que tenha sido do Governo a orientação, “dele, Governo,”,não posso acreditar, que tenha sido orientação do Governo, para invadirem a empresa do Ministro das Comunicações. Não posso acreditar nisso. Não posso acreditar, que seja orientação do Governo, irem prender, algemando, o prefeito do PT, lá, de Macapá, ou o que aconteceu com o Governador do PT Roraima, ou o que aconteceu com fulano de tal, aqui, acolá, ou a tal invasão tão deplorada e tão criticada,em plenário, pelas pessoas do próprio Partido dos Trabalhadores, a invasão da Caixa Econômica Federal,para buscar documentos que incriminando o Sr. Waldomiro,traziam, à baila, inevitavelmente, o nome do nosso fantástico Ministro José Dirceu.Portanto, é hora de analisarmos o seguinte. A Polícia Federal desenvolve um trabalho com mérito, com muito prazer, - já, concederei o aparte ao Senador Tião Viana - e, aí, ela executa um trabalho com muito mérito, e não sei se este Governo não perdeu um certo controle dela. Não sei; não sei, se o Governo está sabendo comandá-la, efetivamente. Acho até esse jogo perigoso, o de fingir o que está por trás de tudo isso, até porque se está por trás de tudo isso, está indo em cima de aliados preferenciais, seus, e de gente do seu próprio Governo.

Se não está por trás de tudo isso, não sei se não perdeu um certo controle. Com muita honra, ouço meu querido amigo e conterrâneo do Amazonas, Senador Tião Viana.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Agradeço ao nobre Senador Arthur Virgílio. O pronunciamento de V. Exª tem duas faces muito importantes: uma, da análise política direta sobre Governo, sobre diretrizes de Governo; outra, da análise da economia brasileira. A primeira parte do pronunciamento é digna de um homem com visão de Estado, como V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço a V. Exª

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Seguramente, o Ministro Palocci terá acesso a essas notas taquigráficas e refletirá, porque se trata de uma análise com absoluta honestidade intelectual, profunda, de um homem que viveu a experiência de ser governo e de ter as responsabilidades que tem hoje o Governo do Presidente Lula. É uma manifestação que merece toda a reflexão e um debate num plano elevado. Na segunda parte em que V. Exª analisa o processo político-eleitoral, tenho as minhas divergências e faço questão de dizê-las. V. Exª, ao mesmo tempo em que condena a expectativa estatística apresentada nas projeções das pesquisas feitas ontem, já consigna, já garante, já assegura que Lula estará no segundo turno. Isso é muito importante para nós.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sem dúvida, estará, sim.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Há um reconhecimento da sociedade brasileira de que o Presidente Lula tem feito um esforço sobre-humano pela governabilidade, pela gestão, para corresponder à confiança de cada eleitor que o defendeu e que acreditou nele. Sem dúvida, terá adversários à altura, como disse V. Exª. Pessoalmente, tenho muito otimismo no andar da política brasileira, já que o segundo ano sempre foi o ano mais difícil da governabilidade para os governos. Tenho uma expectativa muito melhor do ponto de vista político para o ano que vem. Já que a economia segue essa trilha que V. Exª identifica, teremos facilidade. Se soubermos buscar o investimento externo à altura, que é o grande desafio - essa foi a primeira parte do pronunciamento de V. Exª -, estaremos num outro patamar de relação com a macroeconomia, com os indicadores econômicos internos. O País poderá afirmar-se de maneira definitiva com as metas inflacionárias, com o câmbio, com todos os outros aspectos fundamentais. Quando V. Exª aborda o problema da Polícia Federal, é importante que nós do Governo nos manifestemos, porque é uma opinião política crítica ao Governo. O Presidente Lula estabeleceu claramente as diretrizes para o Governo como um todo e para suas instituições. Quando ele deixa claro que a Polícia Federal tem absoluta independência, que deve cumprir todas as suas responsabilidades de acordo com o ordenamento constitucional, está implícito que ele é absolutamente estadista. Ele entende que a Polícia Federal brasileira, como diz o Ministro Márcio Thomaz, tem que ser republicana, sim, tem que agir na impessoalidade e tem que cumprir com todas as suas atribuições. Nesse aspecto, há uma divergência clara do que pensa V. Exª, porque ir ou não ir à empresa de um Ministro e ir ou não ir à Prefeitura de um Prefeito aliado são problemas de motivação do inquérito que foi aberto. O Governo tem total controle das suas responsabilidades no relacionamento institucional com a Polícia Federal e caminha muito bem. Senador Arthur Virgílio, historicamente, nos últimos anos, a Polícia Federal tem sido um problema de Estado, sim. Ela tem trazido algumas preocupações aos homens de Estado. Estamos agindo com muito respeito à instituição, com muito equilíbrio, dando a margem de movimentação que precisa para se reencontrar e traçar a sua diretriz de instituição insuspeita, apartidária e cumpridora de procedimentos constitucionais. No mais, foi brilhante o pronunciamento V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado. Sr. Presidente, respondo ao meu querido amigo, Senador Tião Viana, e com quatro tópicos encerro o pronunciamento dessa forma: Em primeiro lugar, quanto ao Ministro Antonio Palocci, tenho a impressão de que, com relação às notas taquigráficas, ele vai se espantar é no dia em que eu o criticar aqui, porque acho que ele já sabe, mais ou menos, que a opinião que o meu Partido tem da sua gestão é positiva e não raro, em alguns momentos, nós o defendemos até de correligionários dele, que mostravam pressa que se casava com o desastre mais adiante, quando o caminho, facilitado pela conjuntura e dificultado por ela, é se persistir na caminhada pela trilha da responsabilidade fiscal, pela trilha das metas de inflação sim, pela trilha do câmbio flutuante e pela trilha de honrar os compromissos assumidos, enfim.

Então, eu considero que o Ministro - e ontem um jornalista me pediu nota e eu dei zero para um determinado ministro - eu não vou citar o nome; V. Exª que me conhece tão bem já sabe para quem foi que eu dei zero - e para o Ministro Palocci eu dei nove. Acho que é um bom ministro, mesmo.

Sobre o segundo turno, não tenho nenhuma dúvida de que Lula vai para o segundo turno. A novidade é que Fernando Henrique não foi para o segundo turno e no segundo ano de governo se alguém colocasse algum nome, mesmo o de Lula que sempre foi forte, em cotejo com o de Fernando Henrique seria uma lavada. Dessa vez já há um reconhecimento meu e seu de que haverá um segundo turno e que nesse segundo turno terá um nome forte da oposição.

É muito bom discutir com V. Exª pela racionalidade, pelo respeito com que V. Exª trata essa questão da verdade.

Sobre economia o Ministro Palocci faz o que pode. A agenda microeconômica está atrasada, está emperrada pelo excesso de medidas provisórias numa Casa e noutra. E a macroeconomia tem um limite para dar resposta, mas eu não tenho dúvida alguma de que se os influxos de fora para dentro forem razoavelmente bons o Presidente poderá ter um bom desempenho. Se houver alguma coisa que abale... Temos um grande perigo à vista que é esse buraco negro que é a China e temos um outro problema grave que é essa movimentação paquidérmica, lenta do Japão e temos outra coisa gravíssima que é mais cedo ou mais tarde os Estados Unidos enfrentarem o seu déficit em contas correntes e o seu déficit público. Isso aí vai significar um grande abalo para a economia americana... o maior abalo se não fizer isso e um grande abalo para o mundo na medida em que isso aconteça, mais hora menos hora haverá alguma turbulência. Isso vai determinar um pouco de fora para dentro o que vai acontecer aqui.

Quanto à Polícia Federal, insisto, Senador Tião Viana, na tese de que às vezes o Governo me parece ter perdido o controle e nem sempre parece concordar com o que faz a Polícia, porque no episódio Duda Mendonça rendeu já a expulsão de um vereador do PT. Logo a seguir, houve um castigo para os dois policiais que prenderam a dupla, estão de castigo numa cidade pequena, sem grande importância. Ou seja, eu me preocupo muito com o fato de ser saudável uma polícia federal atuando, agindo contra a corrupção. E ela fazia isso desde o governo passado. É pouco saudável se ela estiver fazendo isso só porque quer, ao sabor da sua intuição, e sem que haja uma efetiva autoridade do Ministro da Justiça ou do Presidente da República sobre ela. Eu não digo para deter apurações, mas para estar informado, para saber e, enfim, exercer um comando.

No mais, vim fazer um discurso, Sr. Presidente, mesmo sereno, procurando trazer para a terra essa coisa delirante das pesquisas que tentam mostrar maravilhas para o poder. Convivi no palácio, sei que o áulico é uma figura perigosa. O áulico, se colocasse o retrato do Presidente Fernando Henrique, que sempre foi um homem muito bem apessoado, junto do retrato do Brad Pitt, ele não hesitaria em falar que o mais bonito era o Fernando Henrique. Hoje, quando o Lula experimenta um daqueles nós de gravata dele e alguém disser assim: mas e o Gianecchini? Aí alguém diz: Presidente, o Gianecchini perto do senhor é horroroso. A Marília Gabriela se olhar para o senhor vai cair apaixonada na hora, porque o senhor é lindo. O áulico é assim.

Então, quero só puxar para a realidade e dizer que temos dados positivos na economia que ainda não estão definitivamente nos autorizando a dizer que estamos num círculo virtuoso. Temos dependências enormes e vulnerabilidades enormes em relação ao quadro internacional. E temos, por outro lado, aqui no país em gestação uma movimentação política que com certeza apresentará em segundo turno um candidato de Oposição que poderá ser do PFL, poderá ser um dos nossos. Um candidato que se cotejará com Lula num resultado que, para mim, é imprevisível hoje, dada a força do Presidente e da a força que o eleitorado tem conferido a nós outros da Oposição.

Portanto, ao final de tudo, quem ganha não é o bajulador, quem ganha não é a pitonisa do Dr. Marcos Coimbra, que é a nossa Cassandra pós-moderna, quem ganha é a democracia brasileira, que vai ver, que vai assistir eleições renhidas, disputadas com clareza por pessoas que, cada vez mais, vão ter que explicitar os seus projetos, os seus compromissos com o País. Isso é que vai definir ao fim, ao cabo, quem teria, daqui para a frente, a ter direito a usufruir dessa oportunidade de exercer esse sacrifício, que é o Poder.

Parece uma contradição, Sr. Presidente, usufruir e exercer, mas eu diria que é sim de se dizer que é uma honra, é uma alegria, é um prazer alguém poder ter chance de colocar seus projetos, ainda que com sacrifício pessoal, em prática para a análise da Nação.

Sinceramente, eu desejo ao Governo felicidades na economia, desejo lucidez ao Governo e aqui que reconheçam que, se o Ministro Palocci é o setor que dá certo neste Governo, não faltou ao Ministro Palocci o apoio do nosso Partido, inclusive custando para o Senador Tasso Jereissati até desafetos palacianos, quando ele aqui ousou defender, em hora crítica, o Ministro da Fazenda. Mas falta muito, falta o Governo governar, falta o Governo ser acionado para valer, falta a máquina funcionar e falta uma certa coordenação que nos demonstre que há comando no Brasil. Às vezes me dá a impressão de que falece uma certa ação de comando neste País, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

Agradeço a V. Exª pela tolerância.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2004 - Página 41482