Discurso durante a 178ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários à próxima convenção do PMDB.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Comentários à próxima convenção do PMDB.
Aparteantes
Alberto Silva, Antonio Carlos Valadares, Eduardo Suplicy, Garibaldi Alves Filho, Hélio Costa, Mão Santa, Ney Suassuna, Ramez Tebet, Tasso Jereissati, Valdir Raupp.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/2004 - Página 41878
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (MDB), LUTA, COMBATE, DITADURA, DEFESA, ELEIÇÃO DIRETA, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, ANISTIA, EXTINÇÃO, TORTURA.
  • ANUNCIO, REUNIÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), VOTAÇÃO, POSIÇÃO, POLITICA PARTIDARIA, DEFESA, ORADOR, INDEPENDENCIA, IDEOLOGIA, PARTIDO POLITICO.

O SR PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradeço a gentileza dos companheiros, da nobre Líder do PT, do nobre Líder do PMDB, do nobre Vice-Presidente Marco Maciel e, principalmente, de V. Exª, Sr. Presidente.

Na verdade, pretendo falar de um assunto que entendo, não tanto quanto imaginava, mas entendo. Trata-se do Movimento Democrático Brasileiro, o PMDB, o nosso velho MDB de guerra.

Não é novidade, ao longo de nossa história, desde 1964, que o MDB tem vivido um longo percurso. Uma história composta de horas de alegria e de horas de tristeza; momentos de grande vitória e de grande ufanismo; momentos de grande mágoa, como as mortes de Teotônio, Tancredo e Ulysses; momentos de fracasso, quando não tivemos competência para conduzir os acontecimentos.

Por várias vezes, manchetes de jornais noticiaram que uma ou outra reunião seria a última, a que acabaria com o PMDB, mas na verdade o Partido não acabou.

Agradeço ao Senador Raupp a gentileza de ter-me cedido o seu tempo.

Na verdade, estamos indo para uma convenção e todos se perguntam como estaremos na segunda-feira.

O PMDB, hoje, tem um grupo ponderado e respeitável que defende a permanência do Partido no Governo do Presidente Lula. Acreditam que a posição do PMDB é a de dar continuidade ao trabalho conjunto com o do Governo Lula. Não considero essa posição nem vexatória e nem vergonhosa, mas responsável e respeitável. Fui daqueles que recebeu com emoção a vitória do Lula e acreditei que ele seria o Presidente que resolveria as utopias de todos nós, porque ele parecia que iria satisfazer a expectativa de todos nós. Reconheço que, hoje, penso diferente.

Existe um outro grupo que deseja o afastamento do Governo, que deseja sair do Governo e que deseja uma posição de independência. É respeitável a posição desses companheiros. É respeitável que eles pensem que o PMDB deva ter o seu condutor próprio, o seu caminho próprio, buscando um programa, uma ação, uma meta de luta, quiçá um candidato à Presidência da República. Não há como deixar de reconhecer e de respeitar essa posição.

Marca-se uma convenção. Não sei se era hora de marcar convenção. Dá-se um prazo de 48 horas para os membros do PMDB que estão no Governo renunciarem. Se renunciarem, não sai a convenção; se não renunciarem, sai a convenção. Não sei se um prazo de 48 horas é uma fórmula, que a imprensa, de certa maneira, colocou na forma de “ou dá ou desce”, “ou sai ou fica”. Acho que a imprensa nos colocou mal, mas vamos para a convenção. Alguns já pensam em não dar quórum para a convenção. Então, é uma luta de ter quórum ou não ter quórum. Eu concordo que se tiver quórum pequeno, perdem todos; se não tiver quórum, perdem todos mais ainda.

Pois eu estou aqui fazendo uma proposta, modéstia à parte, com a autoridade de Presidente do velho MDB do Rio Grande do Sul, de onde, ao longo de toda história do Partido, muitas vezes saíram as propostas, as soluções e as idéias que equacionaram o nosso velho MDB.

Não posso deixar de recordar que vivemos em um período tremendo. Primeiro, o MDB era fisiológico. A Revolução criou Arena e MDB e o MDB não possuía sequer sete Senadores para fazer o Partido. O Presidente Castelo Branco pegou um da Arena e disse: “Vá lá para o MDB para ter sete e poder haver partido”. Era um Partido de mentirinha, de faz-de-conta. O MDB nasceu assim, porque as Lideranças foram cassadas, expurgadas e esse era o seu destino.

Com o tempo, o MDB adquiriu maturidade, autoridade, credibilidade, prestígio, respeito da sociedade; identificou-se com a vontade popular. E a Arena, ao contrário, afastou-se dos princípios, que pareciam heróicos, do Movimento de 1964 e tornou-se um Partido que fracassou e gerou tortura, violência, fracassos na Economia.

O MDB foi crescendo, foi crescendo, mas anarquicamente, com várias divisões, cada um pensando à sua maneira. Tinham umas figuras do MDB que queriam uma revolução; tinham outras do MDB que queriam a guerra armada; havia uns caras do MDB que queriam a guerrilha; havia outros caras do MDB que queriam o voto em branco; outros caras do MDB queriam a extinção do Partido; outros queriam a renúncia coletiva; e havia uns caras do MDB que queriam o Partido organizado. E tudo era MDB. O povo não podia dar confiança: confiava nas teses, mas não confiava no MDB.

Foi uma célebre reunião. Foi numa célebre reunião que surgiu a “Carta de Porto Alegre”. Todo o MDB se reuniu em Porto Alegre e debatemos, durante quatro dias, todas as Lideranças nacionais. Depois de quatro dias, surgiu a “Carta de Porto Alegre” e o MDB, nesse momento, apresentou as bandeiras da sua luta:

1 - Assembléia Nacional Constituinte;

2 - Anistia;

3 - Diretas Já;

4 - Fim da tortura.

            Essas eram as quatro bandeiras de luta do MDB. O MDB que fosse à rua, que fosse às lutas, que falasse na Câmara, no Senado, nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras de Vereadores, nas lideranças sindicais a respeito dessas quatro teses. Fora disso, luta armada e renúncia não eram em nome do MDB.

Quando o MDB passou a ter uma unidade, quando passou a ter um pensamento, quando passou a ter uma tese, foi crescendo, foi crescendo e o povo se identificou com ele. E o povo veio ao MDB: no auge da Assembléia Nacional Constituinte e das Diretas Já, o MDB e o povo eram a mesma coisa. Foram milhões de pessoas. E quando o Governo, usando de mais uma violência, cercou o Congresso Nacional, violentando, impedindo as pessoas de entrarem para votar - e foi rejeitada a Emenda Dante de Oliveira -, quando parecia que seria a derrocada da democracia, o MDB fez com que o Dr. Ulysses aceitasse a tese de Tancredo Neves para o colégio eleitoral. À primeira vista, isso parecia um escândalo, porque o MDB dizia que o colégio eleitoral era uma imoralidade, era um desmerecimento da democracia, dizia que não era eleição. Mas fomos ao colégio eleitoral. O Dr. Tancredo dizia: “Vamos ao colégio para destruí-lo”, e o destruímos. Assim terminou a ditadura e veio a democracia.

E justiça seja feita, o Dr. Sarney convocou a Assembléia Nacional Constituinte, deu a anistia, convocou as Diretas Já e terminou a tortura. Mas lamentavelmente o Dr. Sarney, com todo o respeito que tenho por ele - e é muito - não era o Dr. Tancredo. A morte do Dr. Tancredo determinou um outro período do MDB, um período de equívocos, de erros, um mais grave do que o outro. E agora estamos nessa situação.

Domingo vamos nos reunir. O que é que esperam? Esperam que não haja quórum, e isso seria a desmoralização total do PMDB, provavelmente a atual direção do PMDB caia fora, vá embora. Ou esperam que, havendo quórum, seja determinada a expulsão daqueles que estão no Governo, e isso seria o esfacelamento do PMDB, porque a metade do PMDB cairia fora.

Venho, com muita sensibilidade, fazer uma proposta a ambas as partes do PMDB, ao velho MDB. A convenção está marcada. Ela tem de sair. Da forma como foi colocada, 48 horas, acho difícil que os Ministros do PMDB saiam do Governo. É uma forma muito atabalhoada, é pouco provável que isso aconteça.

Lembro-me aqui de um fato antecedente. Itamar Franco assume a Presidência da República com a cassação do mandato do ex-Presidente Collor. O Congresso decreta a cassação do ex-Presidente Collor e, no lugar do Collor, assume o Itamar. Eu dizia, como Líder do Governo, que o Governo Itamar tinha a responsabilidade do Congresso Nacional. O Collor foi eleito pelo povo e o Congresso afastou um Presidente legitimamente eleito pelo povo. Conseqüentemente, o Congresso tinha a grande responsabilidade no Governo do Sr. Itamar.

E o PT, que participou da CPI e concordou com tudo, na hora de participar do Governo - o PT, naquela época, era um outro PT -, disse: “Não vou participar.” E eu fiquei encarregado de fazer essa ligação. E era um daqueles que dizia ao Itamar: “Nós temos de ter alguém do PT, se quisermos fazer um governo de união e de entendimento”. E convidamos a Deputada Erundina, do PT, o que provocou uma revolução. A Erundina, que era Deputada, aceitou o Ministério no Governo do Itamar. A Erundina afastou-se, foi considerada licenciada do PT enquanto estivesse no Governo Itamar. Ficou um ano, não sei quanto tempo. Depois, saiu do Governo Itamar e seguiu o seu curso no PT.

Acho que na convenção de domingo, poderíamos decidir: ou nos afastamos do Governo Lula ou nos mantemos em uma posição que considero importante, uma oposição com independência crítica. Tem gente que olha e ri, dizendo que isso não existe, que ou se é Governo, ou se é Oposição, ou ainda se está em cima do muro esperando quem pague mais para ir para um ou para outro lado.

Nós, do PMDB no Rio Grande do Sul, fomos maioria por muito tempo. Éramos maioria na Assembléia Legislativa quando a eleição era direta. Então, o MDB ia eleger o governador, que tinha maioria ampla na Assembléia. Cassaram tantos Deputados quantos foram necessários para eleger o Coronel Peracchi Governador. Quatro anos depois, cassaram tantos Deputados quanto foram necessários para nomear o Coronel Triches Governador. Nós, do MDB, fizemos uma oposição radical. Não há outro Estado em que se tenha cassado, prendido e torturado tanto como no Rio Grande do Sul. Ali, do outro lado, no Uruguai, estavam Jango, Brizola, os Líderes cassados em todo o Brasil.

Entretanto, resistimos e debatemos. Criamos uma CPI - a primeira no Brasil - para provar a tortura dentro do DOPS no Rio Grande do Sul, com o assassinato do Sargento Manuel, do Caso das Mãos Amarradas. A nossa Oposição era dura, radical. Mas eu dizia, como chefe da Oposição: “Somos oposição ao Governador; somos oposição a esse Governo, mas não somos oposição ao Rio Grande do Sul. O que é bom para o Rio Grande do Sul é bom para o MDB”.

Nos jornais de hoje, chama-me a atenção uma manchete enorme: “Depois de trinta anos, o Rio de Janeiro vai ganhar um pólo petroquímico”. Pois o pólo petroquímico, que era para ser do Rio, foi para nós, Rio Grande do Sul. Foi pela nossa luta que o pólo petroquímico está no Rio Grande do Sul há trinta anos. Fui presidente da Comissão que lutou para levar o pólo petroquímico, assim como lutou para levar Aços Finos Piratini. O que era para o Rio Grande do Sul, estávamos unidos; o que era Governo, éramos contra.

O que estou querendo dizer é que vamos fazer um governo que não vai se somar à oposição do PSDB, do PFL, do PDT. Se somarmos e fizermos uma maioria radical de oposição no Congresso Nacional, este Governo não dura muito, porque ele tem vários motivos para estar num momento de instabilidade - e não é bom a instabilidade. Não é bom termos um período em que voltem os tempos da interrogação.

Entretanto, no PMDB, podemos exercer uma posição da maior importância e do maior significado, uma posição em que poderemos dar a palavra, com independência votar a favor daquilo que é importante ou negar aquilo que não importa. E os cargos que estão no Governo estarão lá no Governo. Não falarão em nome do MDB; mas estarão no Governo. E teremos um espaço para caminhar. Ao invés de o Partido explodir na segunda-feira, teremos um espaço para caminhar, um espaço para os que querem organizar um programa, uma idéia, uma ideologia, um pensamento, para os que pensam que, de um lado, o PSDB teve oito anos e não fez o que se imaginava e, de outro, o PT que já completou dois anos e não fez nada do que se imaginava. Logo, há um espaço vazio, aberto, para se fazer uma proposta, para se propor um plano que seja efetivo, que seja concreto, que seja viável, para que não aceite a idéia de que as utopias morreram e os sonhos desapareceram e que, com Fernando Henrique ou com Lula, a solução é essa que o Banco Central apresenta da mesma forma, com os mesmos pensamentos. Podemos apresentar essa tese. Podemos levá-la adiante, e teremos um Partido com credibilidade.

Dirijo-me ao Presidente do Partido, Michel Temer; dirijo-me ao Líder do PMDB, o bravo companheiro do Senado; ao Líder na Câmara; ao Presidente José Sarney; aos nossos Vice-Líderes; dirijo-me à Executiva do PMDB; às direções estaduais, e faço um apelo: o velho MDB tem condições de sair de mais essa. Tem condições de dar a volta. Tem condições de dar uma resposta.

Sentimos, hoje, uma angústia muito grande. Não há ninguém em Partido nenhum que possa dizer: “Estou feliz onde estou”. O PT, quando estava na Oposição, era quase uma unanimidade; no Governo, enfrenta divergências que se chocam entre os sonhos de tantos e a triste realidade de outros.

No PFL, no PSDB, no PDT e no PTB, como no PMDB, a angústia é real, a interrogação é real. Nesse quadro, é normal que se dê ao PMDB o direito de fazer mais uma caminhada, a possibilidade de apresentar uma proposta. O PMDB precisa apresentar-se à Nação e percorrer o País, debatendo e contracenando. Respeito e considero importante o debate entre PFL/PSDB versus PT. Entretanto, é um debate de quem estava no Governo, há oito anos, mas agora critica o PT, que está no Governo agindo da mesma maneira. Nós do PMDB temos autoridade para dizer que discordamos dessa atitude há oito anos, assim como o fazemos agora; que apoiamos o Governo há oito anos e o continuamos apoiando agora. Temos a independência para falar nesse sentido.

Por isso, é fundamental que haja a mínima chance de os companheiros, em vez de esvaziarem a convenção, permitirem sua realização com quorum. Na convenção, em vez de bancarmos os leões - quem está aqui está; quem não está será expulso -, devemos continuar abrindo as portas: o nosso caminho é esse, a nossa tese é essa, a nossa bandeira é essa. Os companheiros que estão no Governo e quiserem ficar que permaneçam. Estarão afastados enquanto lá estiverem. Mas as portas estão abertas para continuarmos.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador Pedro Simon, estou há 36 anos no PMDB, do qual tenho o maior orgulho. Nunca fui filiado a outro partido. Muitos criticam o PMDB, mas é um partido extremamente democrático. É o único que permite dissidência sem coação, nem expulsão. Na última eleição para Presidente, apoiávamos em convenção o Senador José Serra, e inúmeras pessoas que hoje solicitam a convenção e até falam em expulsão votavam em Lula já no primeiro turno, e ninguém foi expulso. A dissidência de Orestes Quércia, Roberto Requião e José Maranhão foram entendidas pelo fato de o PMDB ser democrático. Hoje, o Partido está formado de muitos segmentos: o dos magoados, que enfrentaram o PT e desejam, pelo calor da eleição, escolher uma posição; o dos que estão ouvindo a mosca azul e pretendem o espaço e a legenda para tornarem-se candidatos - são vários, inclusive os que estão ouvindo o zumbido grande do besouro mangagá, mais alto do que o da mosca azul -; o dos saudosistas, que não esperam nada e apenas buscam entender, sem sequer se preocuparem com a governabilidade; o dos que intentam mudar a interlocução do Partido, fazendo pura e simplesmente tudo nesse sentido; e o dos que querem continuar no Governo a qualquer preço. Há outras facções menores, mas essas são as principais. No entanto, a reunião da Executiva, lamentavelmente, constrangeu-nos muito pelo fato de a nossa proposta não ter sido apresentada em votação. Houve uma proposta verbal alternativa, que foi alterada três vezes, durante a discussão. No fim, ninguém sabia o que tinha votado, tanto que o resultado da votação, primeiramente, foi 10 a 6 e, depois, passou para 8 a 7, porque houve mudança de votos. O Presidente votou para empatar e depois deu o voto de minerva. Foi algo que nos causou constrangimento. Mas o que mais nos constrangeu foi o fato de darem 48 horas para os Ministros de Estado saírem. E o Presidente Lula estava no Peru, não sei se chegou hoje. Não há aviso prévio de 48 horas. Isso parece justa causa! Foi algo constrangedor. O que queríamos e queremos é a data da convenção. Esperemos os Prefeitos tomarem posse e marquemos para depois que tivermos uma das duas casas congressuais. Isso seria mais plausível. Lamentavelmente, o PMDB não é formado de pessoas de boa-fé como V. Exª. Há alguns que querem resolver no aqui e agora. Poderíamos sentar e discutir a proposta de V. Exª, que é plausível. Tentarei defendê-la, mas não dizendo “aceito”; devemos sentar para discutir. O que temos de fazer é manter a união do PMDB, que é sua única força. O Partido é grande, porque é unido. A onda de desunião pode fragmentá-lo. Louvo a atitude de V. Exª de buscar uma saída. Infelizmente, se continuarem esses critérios que estão vigendo, a Paraíba não virá à convenção, nem Alagoas, Ceara, Rio Grande do Norte, Amazonas, Amapá, Tocantins; não virão, enfim, quinze Estados, o que será uma lástima. V. Exª tem razão: será uma lástima. É melhor não vir, para enfrentar o MR-8 e o MST - cada Governador está trazendo uma torcida -, sem palavras sérias como as de V. Exª. Vou conversar com o Líder sobre se há possibilidade. Temos até domingo para discutir, mas não nos termos em que foi imposto. Quarenta e oito horas para os Ministros de Estado saírem é dureza! Uma senhora, a única mulher presente, disse: “O senhor está sendo muito mal-educado com os Ministros; está tratando-os pior do que os serviçais de sua casa. Na minha casa, quando vou dispensar alguém, dou 30 dias de aviso prévio; o senhor está dando 48 horas. O senhor sabe o que está dizendo?” Então, fico muito preocupado com aquelas posições e grato de ver que V. Exª está lucubrando, pensando soluções. Quem sabe, encontrará caminhos. Parabéns, Senador Pedro Simon!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço o aparte de V. Exª. Sei do prestígio que V. Exª tem junto ao nosso Líder e creio que o Senador Renan haverá de entender. S. Exª é uma pessoa ponderada, responsável, preocupada com o futuro. Somos uma Bancada de 23, 24 Senadores, temos a obrigação de manter a maioria e o compromisso sagrado de eleger o Presidente do Senado, alguém do PMDB. Se não é o Dr. Sarney, porque não passa a emenda da reeleição, será alguém da Bancada do PMDB. Nesse compromisso, há os 18, a que V. Exª se refere, e eu, que não estou entre eles, mas que também tenho o mesmo compromisso, porque sou da Bancada do PMDB e defendo isso. Agora, precisamos compenetrar-nos, Senador Ney Suassuna. A primeira idéia é exatamente a de que todos venham. Virão todos. A segunda parte do nosso trabalho, da qual me encarrego, é a de que a convenção aconteça sem o MR-8, sem grupo organizado de quem quer que seja. A última foi feita assim. Podemos fazer uma convenção serena, tranqüila.

Aliás, podemos sentar-nos à mesa antes, Senador, talvez amanhã, na sexta-feira ou no sábado, para encontrar uma fórmula e levá-la à convenção. Isso é viável. Na verdade, é o que estou fazendo aqui.

O Sr. Hélio Costa (PMDB - MG) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Pedro Simon?

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Pedro Simon?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não, Senador Hélio Costa. Em seguida, ouvirei o Senador Mão Santa.

O Sr. Hélio Costa (PMDB - MG) - Muito obrigado pelo aparte, Senador Pedro Simon. Fiquei até emocionado com o discurso que V. Exª pronuncia. Vejo, na figura de V. Exª, o PMDB que aprendi a amar e do qual me orgulho. V. Exª representa o PMDB de Ulysses Guimarães. O PMDB de que fala é o de Severo Gomes, de Teotônio Vilela. Mas fiquei surpreso, ao participar da reunião do PMDB ontem. De repente, um cacique do Partido disse que sairíamos daqui de qualquer jeito e iríamos à convenção no domingo. Para que houve a reunião? Por que razão convocaram os Líderes do PMDB, para decidir se haveria, ou não, reunião, se já estava decidido previamente que, qualquer que fosse o resultado, haveria convenção? Lamentavelmente, isso não é democrático. Não ouviram sequer a voz de Minas Gerais, que atualmente possui o maior número de Deputados Federais, um Senador com 3,5 milhões de votos, que tem mais de mil vereadores. Não ouviram!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Respeito a posição de V. Exª, mas se fizermos uma análise, cada lado tem uma série de argumentações a fazer. A essa altura, temos que tentar encontrar um entendimento, se ele é possível de ser feito até domingo.

V. Exª está desabafando - é correto que o faça -, mas não é procurando os equívocos, os erros, que são muitos, de todos nós - a começar por mim - que vamos chegar a uma solução. Mas, se buscarmos uma tentativa de entendimento, de repente poderemos transformar o limão numa limonada. Não é a primeira vez, repito, que se esperava a implosão do MDB e ele terminou encontrando uma saída salomônica. É o que deveríamos tentar fazer agora. Temos que tentar. Se, afinal, conseguimos uma saída quando o inimigo estava com armas e canhões, cercando-nos, e saímos, não será agora, democraticamente tranqüilos, que não encontraremos uma solução.

Agradeço muito o aparte de V. Exª.

Senador Mão Santa, concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, V. Exª deu ao País seu testemunho da história do MDB. E ninguém melhor do que V. Exª, que viveu e construiu, para contar a história do PMDB. Mas, quero falar do PMDB muito recente, de agora. V. Exª, com essa história, desde Bento Gonçalves, Alberto Pasqualini, Getúlio Vargas, João Goulart, Brizola, sintetiza toda essa grandeza política do Rio Grande do Sul. Mas o PMDB bem recente, do Senado, era para estar destruído no começo da nossa Legislatura, não fosse V. Exª, com o espírito de São Francisco, pregando a união onde havia a discórdia. O PMDB estaria acabado logo no começo. Fui convocado pelo Líder Renan; ali seria uma bomba. Foi anunciada a votação; e só éramos vinte de acordo com a determinação. Ele só tinha dez ou onze, alguns com representante; e nós lá. Havia um outro grupo. V. Exª e eu, mais velhos e sofridos que o Senador Renan, dissemos: “Não faça essa eleição agora”. Ele ia ser eleito pela Bancada, mas talvez perdesse aqui para o Presidente José Sarney. Mas estava marcado! Eu disse que tivesse calma; não ia aconselhá-lo. Lembro Petrônio Portella - pois vi o drama que enfrentou - quando disse: “Se há prazo, não há pressa”. Temos prazo. Hoje é dia 20 de janeiro e será no dia 02 de fevereiro”. Aí V. Exª se prontificou a ir ao que apelidei de “Iraque” - foi lá na Paraíba de Ney Suassuna, onde estavam Quércia, Presidente José Sarney, e eu fui o seu cireneu, acompanhando V. Exª. Só nós dois tivemos a coragem de contar a verdade no “Iraque”, e V. Exª renunciou. V. Exª, dos vivos, é o maior Líder do PMDB - Ulysses Guimarães está encantado no fundo do mar, e V. Exª está encantando e enchendo de esperança o nosso Partido. V. Exª renunciou. V. Exª é o maior Líder natural que todos nós queríamos. Então, quando o espírito de São Francisco pousou, V. Exª abdicou. E saiu a forma, Presidente Sarney, com a renúncia de V. Exª, porque você é o maior de todos nós. E quero dar a minha posição: sou do Piauí, por cujo hino, que Alberto Silva representa, se fez o Brasil respeitar o monumento da vitória do Jenipapo, que tornou este País grandioso. Numa luta, o piauiense é o primeiro que chega. Quero me apresentar e ter o direito, que ninguém me tira, de escolher o meu líder no PMDB. O meu líder é V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado, Senador.

Concedo o aparte ao Senador Alberto Silva.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Meu caro Senador Pedro Simon, V. Exª lutou no Rio Grande do Sul, Estado das grandes batalhas, em favor da democracia. Acabou de resumir, com o talento que tem, as lutas até chegarmos às Diretas Já! Relembro a V. Exª um pequeno, mas grande detalhe. V. Exª esqueceu o “P”. Do MDB - eu estava aqui, e V. Exª também - hoje somos apenas cinco daquela Legislatura: V. Exª, eu, Alvaro Dias, Roberto Saturnino e José Sarney. E aqui também tínhamos Tancredo Neves, que não era do MDB. Fizemos um partido chamado PP - Partido Popular. O MDB de V. Exª só tinha cinco aqui dentro: Marcos Freire, V. Exª, Teotônio Vilela, Orestes Quércia e Saturnino Braga. No PP, éramos 17. Fizemos aquele acordo e, depois, partimos para a fusão. Os 17 do PP e os cinco do MDB formaram o PMDB. Há um fato importante. O menor Estado talvez tenha sido esquecido. O Senador Mão Santa, às vezes, coloca-me nas alturas e agradeço-lhe sensibilizado. No entanto, o Piauí, geralmente, não está à frente dessas lutas, como o Rio Grande do Sul. Fizemos a fusão do MDB com o PP de Tancredo Neves. O Presidente Figueiredo não queria a fusão, porque não desejava que houvesse um Partido forte aqui dentro. Éramos 17 do PP, mais cinco do MDB, totalizando 22. Naquele tempo, eram somente 48 nesta Casa. Os lugares ficavam vazios, sentávamos onde queríamos. Foram os votos do Piauí, Senador Pedro Simon, trazidos por mim, que determinaram a situação. Quiseram impedir-me. Em determinado momento fiz uma pergunta: se eu deixar de trazer os votos do Piauí não vou faltar com minha palavra a Tancredo Neves, que era o grande líder de todos nós nesta Casa? Empenhei minha palavra; trago os votos do Piauí: são cinco. Ele disse: só precisamos disso, senão perdemos, porque o Presidente Figueiredo não quer a junção de PP com MDB. Então, como foram os votos do Piauí, sinto-me como o fundador do PMDB e peço a V. Exª que coloque o “P” no lugar, porque senão ficamos falando em MDB, que era pequeno, mas o PP era grande, como agora o PMDB é grande.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não. Muito obrigado.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - V. Exª propõe - e tem o meu apoio - esta junção. Já brigamos tantas vezes! Outra coisa: no Piauí criei a Arena 2. Eu enfrentei a situação, porque lá só havia uma Arena, que era a 1. Quando fui governador, criei a 2, e dela caminhamos até chegar ao PP - o PP era a Arena 2 -, que depois se tornou PDS e, em seguida, PMDB. Quero cumprimentar V. Exª e faço votos de que daqui para domingo, sentados a uma mesa, reunindo o PMDB, o partido que pode, o partido que tem o maior número de prefeitos, de vereadores, cheguemos à união nacional. Como governador propus a união de todas as forças pelo Piauí; V. Evª propõe um PMDB independente. Digamos que não fosse assim, mas é na discussão que encontraremos a fórmula. Vamos nos sentar à mesa. Parabéns a V. Exª que traz à nossa consideração uma proposta de paz e de união. Parabéns!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

V. Exª, Senador Tebet, talvez ...

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Pedro Simon, vou ser rápido...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Primeiro estou falando eu. Ainda não lhe dei o aparte.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Pois não; desculpe-me.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª, Senador Ramez Tebet, é uma figura muito importante no Partido no momento que estamos vivendo. Pelo seu passado, por sua história, pela credibilidade e respeito que tem, de todas as áreas do Partido, V. Exª é uma figura muito importante e pode nos ajudar, falando com A, B e C, que sempre o estão procurando.

Se V. Exª nos ajudar a procurar essas pessoas para fazermos a reunião, talvez V. Exª seja um dos personagens mais importantes de hoje a domingo.

Ouço V. Exª com o maior prazer.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Pedro Simon, agradeço as referências de V. Exª e quero ser muito breve. Primeiro, se há alguém com autoridade para ocupar a tribuna do Senado em defesa da paz dentro do PMDB, esse alguém é V. Exª. Considero V. Exª o ícone de todos nós, aquele que tem história primeiro. Em história dos vivos do MDB, hoje PMDB, V. Exª é o que detém a maior autoridade. V. Exª fala, com toda certeza, representando a voz daqueles que já se foram. Tenho certeza de que Ulysses, Teotônio e Tancredo falariam o que V. Exª está falando. Em segundo lugar, V. Exª sabe que comungo do seu ponto de vista. Conversei com V. Exª e, da mesma forma, dirigi-me a todos, porque antevi esse quadro, que só existe porque faltou diálogo dentro do PMDB. O entendimento que V. Exª busca é o mesmo a que me proponho. V. Exª é o general. Serei o soldado raso, para buscar o entendimento junto com V. Exª. E acredito nele. Por quê? Quando as coisas estão no fundo do poço, ou parecem estar no fundo do poço, aí surge a grande esperança. A confiança ressurge, como Fênix ressurgiu das cinzas. Aí podemos encontrar o verdadeiro caminho e efetivamente contribuir para o País que todos queremos. Cumprimento V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É com muita emoção que ouço o seu aparte. Com muita emoção. V. Exª sabe - mas sei mais ainda - o que representa V. Exª dizer que vai trabalhar de hoje até domingo para esse entendimento. V. Exª haverá de falar, e pode falar com todos, e todos falam com muita alegria com V. Exª, que tem credibilidade, autoridade e respeitabilidade para dizer que é hora de buscarmos esse entendimento.

Companheiro Valdir Raupp, que teve a gentileza de me ceder o seu tempo, ouço o seu aparte com o maior prazer.

O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Senador Pedro Simon, foi com muito prazer que cedi o meu tempo a V. Exª, por entender que esse assunto não podia esperar. O que eu iria falar certamente pode esperar um pouco mais. V. Exª tem autoridade para falar sobre o PMDB - sobre o MDB e o PMDB. Estou no PMDB há 25 anos, já estou no quinto mandato, e ele é o Partido do coração. O PMDB pode até voltar a MDB, mas foi ao PMDB que me filiei em 1979. Trata-se de um Partido grande e de respeito. Não será em uma convenção que uma ala ou outra venha a ganhar que o Partido vai diminuir, pois ele já resistiu muito. Quantos outros partidos foram criados, quantos outros partidos saíram do MDB e do PMDB? O PMDB foi o grande guarda-chuva que deu guarida, na época da ditadura, às pessoas que queriam fazer oposição ao governo militar. Então, cumprimento V. Exª por esse brilhante pronunciamento que, com certeza, é conciliador. Tenho certeza absoluta de que, se V. Exª fosse o Presidente do PMDB, essa convenção seria diferente - equilibrada, conciliadora, como V. Exª sempre tem tratado os assuntos do PMDB. Parabéns!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - De coração, muito obrigado a V. Exª.

Um companheiro de lutas também não vive uma hora muito fácil no seu PT, o nosso bravo Senador Eduardo Suplicy. Lembro, quando ele estava sozinho aqui, como foi difícil sua posição singular diante de oitenta Senadores. No entanto, ele manteve com dignidade, correção e bravura as velhas e históricas bandeiras do PT.

E, naquela época, quantas vezes estivemos juntos, Senador? Quantas vezes estivemos do mesmo lado, com a mesma bandeira, a mesma idéia, às vezes até lutando por coisas muito diferentes, como aparece aí hoje.

Concedo o aparte com o maior prazer a V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Pedro Simon, hoje V. Exª fala do seu Partido. Em algumas ocasiões, quando me pronunciava a respeito de situações do meu Partido, o PT, sempre V. Exª teve a gentileza de dizer uma palavra de sabedoria e bom senso. V. Exª é um dos mais ilustres e brilhantes Parlamentares da história do Congresso Nacional e representante desse Partido do qual, pelo menos antes de existir o PT, fui também membro, o MDB - de 1977 até 10 de fevereiro de 1980. Quero dizer que, como sempre, sinto V. Exª como um irmão, uma pessoa que tem objetivos para o Brasil muito próximos dos que tenho na minha vida e que me levaram a ser fundador e membro, até hoje, do Partido dos Trabalhadores. Quando V. Exª aqui realiza seus pronunciamentos, tenho muita vontade de dizer ao Presidente Lula que é bom ouvir as ponderações de V. Exª, por sua independência, sua forma de agir, sua consciência, e pela história que carrega dentro de si, pela democratização, por justiça neste País. O Presidente Lula deveria ter, no Palácio do Planalto, alguém atento às palavras de V. Exª. Desejo a V. Exª e ao PMDB que, nesse encontro importante, na convenção de domingo, sobretudo diante das ponderações e do apelo ao bom senso de todos, se possa chegar a uma eventual unidade de ação. Que sua palavra seja ouvida, facilitando que se encontre um caminho, o mais construtivo possível, para o Brasil, para os ideais que foram aqueles de Ulysses Guimarães e de V. Exª, do melhor que o PMDB até hoje produziu para o Brasil. Meus cumprimentos a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª e posso dizer, Senador, que, em minhas orações noturnas, nunca esqueço o Presidente Lula. Peço a Deus que o proteja e oriente. Estou convencido de que o Presidente Lula é um homem de bem. Estou convicto, a minha consciência me diz que ele é um homem sério. As suas origens, o que sentiu e passou não é algo que tenha esquecido; é algo que tem dentro de si. Estar num palácio, cercado de poder e de flores e, muitas vezes, de pessoas que o louvam, sem ter profundidade, pode afastá-lo. Não sei se o Presidente Lula me escuta ou não, mas eu sempre falo: posso criticá-lo, mas torcendo para que seu Governo dê certo.

Meu bravo amigo, Senador Tasso Jereissati, Governador do Ceará quando eu governava o Rio Grande do Sul, V. Exª é testemunha das dramáticas lutas que vivemos, das dificuldades que tivemos de viver quando éramos praticamente o maior Partido da história do Brasil. Naquela altura, se naquela célebre reunião dos governadores, quando estávamos lá reunidos, antes de ir à casa do Dr. Ulysses Guimarães, tivéssemos encontrado um entendimento, talvez a história fosse diferente neste País. Desde aquela época, tenho uma admiração extraordinária por V. Exª. V. Exª é uma pessoa que ponderou o seu posicionamento na dignidade, na seriedade, na firmeza. Tenho mágoa de não tê-lo no meu Partido, mas tenho orgulho de tê-lo como amigo, ainda que noutro Partido.

Com o maior prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Muito obrigado. V. Exª sabe muito bem que essas palavras proferidas por V. Exª têm para mim um significado especial. Aprendi a admirar os políticos brasileiros justamente naquela época em que tive oportunidade de conhecer a grande geração do MDB e de com ela conviver. Iniciando a vida política, eu tinha em V. Exª e em Miguel Arraes referências da vida pública. Aquela convivência foi para mim um aprendizado muito importante sobre aquela época, sobre o nosso Partido, sobre o espírito público, sobre o patriotismo de verdade, sobre a coerência com a história de vida de cada um e sobre a atuação política no dia-a-dia, principalmente de V. Exª. Talvez V. Exª se lembre de que, naquele momento - eu ficava, muito mais do que qualquer outra coisa, admirando a posição de cada um -, o nome de V. Exª foi lembrado por mim como solução, como o candidato à Presidência da República que poderia nos fazer conseguir resolver o impasse que vivíamos, o qual, infelizmente, não conseguimos superar. De lá para cá, apesar de não termos tido mais a mesma convivência - recuperamos a convivência de novo recentemente -, a minha admiração por V. Exª só cresceu. Isso se deu por várias razões, mas queria aqui, neste momento em que V. Exª fala do PMDB, citar uma em particular, que é a sua devoção ao Partido que V. Exª ajudou a fundar. Tenho certeza absoluta de que só vamos ter democracia forte neste País, democracia robusta e consolidada, quando houver partidos fortes, identificados, transparentes, com um programa claro, e quando a população reconhecer nesses partidos um determinado ideário. Talvez, dentre os políticos brasileiros, V. Exª seja o maior exemplo de homem de partido. Conheço as posições de V. Exª muito bem e sei que inúmeras vezes tem discordado da direção, da orientação, das próprias posturas do PMDB. No entanto, como ninguém, tem se dedicado a esse Partido, continua devotado a esse Partido, com a convicção democrática de que a vida partidária é fundamental para a democracia pela qual V. Exª tanto lutou neste País. V. Exª assim age mesmo quando discorda de posições do PMDB, mesmo quando é injustiçado ou até marginalizado dentro do Partido de que V. Exª é fundador. Portanto, essa discussão que V. Exª abre sobre o Partido merece de todos nós, mesmo não sendo do PMDB, uma grande reflexão, principalmente nos dias atuais, em que vemos políticos novos trocarem de partido como quem troca de camisa, com a mesma facilidade. Lemos, nos jornais, que fulano foi eleito por um partido, passou para outro partido e está pensando em ir para um outro; que o governo cooptou fulano para aqui e para ali. Brinca-se sem cerimônia com a democracia e com as instituições democráticas deste País. Por ser V. Exª uma referência, estou aqui para dizer publicamente do meu respeito e da minha admiração por sua figura política, talvez das mais importantes da história desta Casa.

O SR. PEDRO SIMON (PDMB - RS) - Senador Tasso Jereissati, a minha admiração por V. Exª é grande e a minha alegria é intensa ao ouvir esse aparte. O prestígio de V. Exª é muito grande em Porto Alegre, principalmente nas classes empresariais e intelectuais. Lá, quando me perguntam se conheço o Senador Tasso Jereissati, do Ceará, que foi Governador, digo que não somente o conheço, como o Senador é meu vizinho de porta. Com isso, ganho uma credibilidade enorme, pois eles consideram ser isso algo fantástico.

Quando quase todos os Governadores do Brasil eram do MDB, havia apenas um Estado em que o Governador não era do MDB, que era Sergipe. Esse Governador agora é o nosso ilustre Senador Antonio Carlos Valadares, a quem tenho a honra de conceder um aparte.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senador Pedro Simon, como disse V. Exª, fui eleito Governador de Sergipe, em 1967, pelo PFL. Meu adversário, que consegui vencer, era do PMDB. Entretanto, anos depois, ainda no Governo, tive o privilégio de andar junto com o PMDB em várias campanhas eleitorais. Quero destacar neste instante - por isso o aparte que faço ao discurso de V. Exª - o papel preponderante desempenhado por esse Partido em favor da redemocratização do nosso País, a sua luta desenvolvida não apenas no âmbito do Congresso Nacional, durante o regime discricionário, como também nas ruas deste País, sob o comando daquele grande brasileiro desaparecido num momento trágico para a nacionalidade, o Deputado Ulysses Guimarães.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - V. Exª, Senador Pedro Simon, como disse o Senador Tasso Jereissati, é um Senador do PMDB que mantém a sua coerência e de quem, em nenhum momento nesta Casa, alguém jamais desconfiou, seja do seu Partido ou de outro qualquer. Jamais se colocou em dúvida a sua fidelidade à pregação que o PMDB trouxe ao Brasil para transformar o nosso País num país desenvolvido, num país democrático. Por isso, V. Exª é um exemplo que deveria ser seguido por quantos participam da vida política e partidária do nosso País. Aliás, o Rio Grande do Sul é a prova mais evidente da bravura do homem brasileiro, fez uma revolução para redemocratizar o Brasil e derrubar a República Velha, levando o nosso País - depois, com Getúlio Vargas - a uma nova era. Quero parabenizar V. Exª e dizer que o PMDB é necessário ao Governo, porque precisamos da governabilidade. Participando ou não do Governo, o PMDB é imprescindível. E mais imprescindível ainda é a participação de V. Exª na tribuna, nas Comissões e no Congresso Nacional, para dar, com sua experiência, o aconselhamento de que o Governo Lula precisa, a fim de acertar mais ainda em favor do Brasil. Meus parabéns a V. Exª!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado, Senador Antonio Carlos Valadares.

Concedo um aparte ao Senador Garibaldi Alves Filho.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP. Fazendo soar a campainha.) - Senador Pedro Simon, interrompo-o, com todo respeito e admiração, para alertá-lo sobre seu tempo.

V. Exª concedeu um aparte ao Senador Garibaldi Alves Filho, a quem peço ser breve, em virtude de haver uma lista bastante extensa de oradores inscritos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Presidente, agradeço a V. Exª a gentileza. O Senador Garibaldi Alves Filho é o último aparteante.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Sr. Presidente, peço permissão a V. Exª para manifestar ao Senador Pedro Simon a minha solidariedade ao discurso de S. Exª. Sei que, a esta altura, é muito difícil se falar em união do PMDB. Somente um homem público como V. Exª teria condições de promover essa união, caso o PMDB estivesse reunido aqui para ouvi-lo. Quero dizer que, na modéstia da minha participação, se V. Exª precisar da minha palavra, estarei ao seu lado nessa proposta, nessa missão quase impossível que é unir o PMDB a esta altura. Quando V. Exª estava falando, lembrei-me de uma história e peço licença aos paraibanos para relembrá-la rapidamente. O Ministro José Américo de Almeida falava na Paraíba como candidato a Senador, na fronteira com o Rio Grande do Norte, e dizia: “Estou falando baixo para que os rio-grandenses-do-norte não ouçam que um homem como eu, que dediquei a vida inteira à Paraíba, ainda está precisando pedir votos de casa em casa, de rua em rua”. Assim, digo ao Senador Pedro Simon: “V. Exª tem autoridade para falar muito alto, mas fale baixo, porque, senão, todos ficarão envergonhados de perceber que V. Exª está falando e poucos são os do PMDB que estão ouvindo V. Exª”. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço sinceramente a V. Exª e também, pela tolerância, ao Sr. Presidente.

Encerrando, espero que nesta Convenção o passado do nosso Partido, espiritualmente, esteja presente; que a firmeza, a sobriedade e o pragmatismo do Dr. Tancredo Neves estejam presentes; que o comando, a visão e a convicção nas idéias do Dr. Ulysses Guimarães estejam presentes; que o sonho, a garra, a coragem e a bravura de Teotônio Vilela estejam presentes.

Espero que nós, seus descendentes, ainda que sem as suas qualidades, tenhamos a humildade de dar um passo adiante para que aquilo que o Senador Garibaldi diz ser quase impossível não seja tão difícil e se torne realidade. Que segunda-feira as manchetes dos jornais possam dizer: “Ainda não foi desta vez que o MDB acabou”.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/2004 - Página 41878