O SR. ROMERO JUCÁ (PMDB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em meados dos anos 90, no epicentro de uma grande crise financeira, houve uma seqüência de ataques especulativos contra as moedas da Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas. Como um efeito dominó, os crashes se estenderam à Coréia do Sul, Hong Kong e, um pouco depois, à Federação Russa. Na última semana de outubro de 1997, as bolsas do mundo inteiro caíram sucessivamente, como a retratar o pânico que tomara conta do mercado mundial de capitais.

Em seguida, começou um ataque especulativo à moeda brasileira, forçando o Governo a promover um forte ajuste: livrou-se, finalmente, do câmbio fixo e passou a adotar a livre flutuação do real, o que na prática significou forte desvalorização da moeda; vendeu parte significativa das reservas cambiais; aumentou em 100% as taxas básicas de juros e, ao cabo, baixou um “pacote” de medidas fiscais objetivando cortar 20 bilhões de reais do déficit público federal.

Em tal cenário, fruto, em boa medida, dos desequilíbrios nas contas nacionais, a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) também sofreu sérios revezes. A partir de janeiro de 1999, com a estabilização econômica, os ativos de grande liquidez recuperaram rapidamente o seu poder atrativo, e um movimento generalizado de compra fez o índice Bovespa disparar.

A crise parecia superada, e o curso habitual dos investimentos e o próprio perfil dos investidores seguiria seu curso se, em 2001, não tivesse sido eleito para a Presidência da Bovespa o Sr. Raymundo Magliano, ele próprio filho de um pioneiro da Bolsa de Valores de São Paulo. Arguto observador da realidade, detentor de sólida formação intelectual, Magliano percebeu a lição que o momento histórico entregava: a Bolsa não poderia mais depender desse tipo de investidor, interessado em realizar ganhos no curto prazo. O interesse, embora legítimo, não contribui para o fortalecimento do mercado de capitais. Era preciso expandir a base de investidores e trabalhar para modificar o seu perfil, tornando-o um investidor ciente de que o mercado de ações também se conforma no longo prazo.

Srªs e Srs. Senadores, trata-se aqui de uma verdadeira mudança de paradigma. Fundada em 23 de agosto de 1890, a Bovespa é uma instituição ao mesmo tempo tradicional e moderna. Ela é considerada o maior centro de negociação com ações da América Latina, e possui uma longa história de serviços prestados ao mercado de capitais e à economia brasileira. Apesar de seus 114 anos, a Bovespa tem sabido renovar-se e trilhar caminhos singulares, buscando manter a vitalidade e o dinamismo que sempre a caracterizaram.

Embora pesquisas demonstrassem que a percepção da Bovespa pelo público era positiva, o mesmo não se dava em relação a seu objeto, isto é, o negócio com ações. Cerca de 65% dos entrevistados mostraram desconhecer as regras básicas para investimentos, ou não acreditavam que as operações da Bolsa podiam ser acessíveis ao cidadão médio. O projeto de popularização da Bovespa objetivou vencer esse hiato, e completou dois anos em setembro último.

Para comemorar a data, foi lançado o programa Bolsa Aberta, que tem como objetivo levar visitantes para conhecer a sede da Bovespa, situada no Centro Velho da cidade de São Paulo. Nos fins de semana, o público faz uma visita guiada, em grupos de até 50 pessoas, e conhece as dependências, em especial o pregão, o Centro de Memória e a Biblioteca. Também é exibido um filme em terceira dimensão, que explica o funcionamento do mercado.

Este programa vem se juntar a diversos outros que o precederam, como o programa “Bovespa Vai até Você”, lançado em setembro de 2002 para popularizar o Mercado de Ações. A idéia nuclear era divulgar a Bolsa e promover sua abertura para a pessoa comum, o servidor público, a dona de casa, o pequeno comerciante, o operário, enfim, o pequeno investidor, que até então desconhecia essa possibilidade de realizar bons negócios e que poderia vir a assumir o perfil de investidor de longo prazo, como os há nos Estados Unidos e na Europa.

Imbuídas dessa filosofia, as equipes da Bovespa foram a shopping centers, praias, parques, associações recreativas e de lazer, clubes de futebol, empresas, faculdades, escolas, aeroportos, metrôs e até barcas. Enfim, em qualquer lugar em que a entidade pudesse aproximar-se do público que almejava atingir. Algumas dessas ações de divulgação merecem destaque.

A primeira iniciativa do projeto resultou de uma parceria da Bolsa com a Força Sindical, uma das maiores centrais sindicais brasileiras, com cerca de 16 milhões de trabalhadores em sua base, e levou à criação do primeiro clube de investimento de trabalhadores, o Força 1. Estava criado o “Bovespa Vai à Fábrica”. O fato, uma aproximação visível entre o capital e o trabalho, chamou a atenção da imprensa nacional e estrangeira. Posteriormente, em 2003, a Bolsa celebrou parceria semelhante com outra central, a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), e, no início de 2004, com a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Outra grande odisséia se deu com a ida à Serra dos Carajás, localizada no Estado do Pará. Três equipes de promotores de venda, munidos de computador, vídeo e material didático, percorreram 4.700 quilômetros por 35 dias, passando por 6 Estados da Federação e por 3 Regiões, em junho do corrente. O objetivo foi divulgar as possibilidades de investimento em ações entre os funcionários da Vale do Rio do Doce e entre as comunidades locais. A bordo da van carinhosamente apelidada de “Bovmóvel”, a equipe deslocou-se do Rio de Janeiro até Mariana, em Minas Gerais, e daí, seqüencialmente, para Itabira, Belo Horizonte, Governador Valadares e Vitória, já no Espírito Santo. Depois, Rosário do Catete e Aracaju, em Sergipe, São Luís, no Maranhão, e daí, em viagem de trem, para Parauapebas, no Pará, ao pé da vila para funcionários localizada no alto da Serra dos Carajás. Os promotores deslocaram-se até as minas de extração de minério e, na ocasião, ainda houve uma visita a Marabá, situada a 400 quilômetros de Carajás.

A Bolsa tem hoje seis equipes da “Bovespa Vai até Você” que continuam a visitar cidades, universidades, empresas e fábricas em todo o Brasil. Cada equipe é composta por dois promotores. Estes são recrutados entre antigos operadores do mercado que haviam sofrido os efeitos da evolução tecnológica, com o advento do pregão eletrônico e conseqüente diminuição do número de operadores da Bolsa. Depois de capacitados, eles têm a chance de voltar à atividade como professores. No total, hoje há 48 promotores, que ajudam também no atendimento aos visitantes da sede da Bovespa no fim de semana.

Em busca da meta de levar ao conhecimento do público o funcionamento do mercado de capitais, e com base no formato aberto do “Bovespa Vai até Você” e nas experiências acumuladas, foram criados dois programas muito peculiares: “Mulheres em Ação” e “Bovespa Vai aos Municípios”.

Com um ano de existência, o projeto “Mulheres em Ação” atendeu um número considerável de mulheres interessadas em conhecer o mercado de ações. Uma pesquisa realizada à época do lançamento do projeto mostrou que, nos lares, 41% das mulheres são as responsáveis pelas decisões sobre investimentos. Tal dado deu ensejo à iniciativa da Bovespa em desenvolver um projeto exclusivo para o público feminino.

O programa “Bovespa Vai aos Municípios”, por sua vez, foi lançado em setembro de 2003, e conta com a parceria da Associação Paulista de Municípios (APM) e do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam). Até o momento, essas parcerias levaram o Bovmóvel a visitar seis cidades no interior paulista: São José do Rio Preto, Assis, Campos do Jordão, Jaú, Marília e Campinas. Outras visitas estão programadas para 2004.

Recentemente, Sr. Presidente, ainda como parte das comemorações desse amplo projeto de divulgação da Bovespa, foi lançado o livro A Bolsa na Estrada -- a história da campanha para popularizar o mercado de ações, escrito pelo jornalista Oscar Pilagallo, de onde extraímos muitos dados deste pronunciamento. A publicação traz inúmeros casos curiosos, alguns impressionantes, que conferem sabor e leveza ao texto. Mas traz, também, o que verdadeiramente importa, ou seja, os resultados obtidos pelo programa.

Nestes dois anos, a Bovespa já visitou 55 empresas, apresentando o mercado a milhares de brasileiros em todo o País. Só na Vale do Rio Doce foram 17 mil trabalhadores em nove cidades espalhadas do Rio de Janeiro até Carajás. Animados com as visitas, os funcionários se preparam para criar um clube de ações que pode contar com mais de 2 mil investidores. O mesmo ocorre em outras empresas visitadas, como Eletropaulo, com 2.600 funcionários, e Embraer, com 3 mil trabalhadores. Há também o interesse de empresas multinacionais, de capital fechado no Brasil, como Volkswagen e Xerox, que pediram apresentações sobre os fundamentos do mercado para seus funcionários.

Em dois anos, Sr. Presidente, o sucesso do Programa “Bovespa Vai até Você” pode ser assim traduzido:

Quanto às visitas:

- 3 centrais sindicais;

- 55 empresas ou fábricas;

- 466 universidades;

- 22 clubes e academias;

- 21 praias (2 temporadas);

- 2 meses em teatro;

- 9 estações de metrô e barcas;

- 1 mês no Aeroporto de Congonhas (SP);

- 75 dias na cidade turística de Campos do Jordão-SP (2 edições);

- 9 parques;

- 68 feiras ou congressos;

- 6 regiões municipais;

- 3 shopping centers.

Em relação aos resultados obtidos:

- de setembro de 2002 a setembro de 2004, o “Bovespa Vai até Você” atingiu mais de 150 mil pessoas;

- nesse período, chegaram à Bovespa, por meio dos canais de atendimento ao público, cerca de 35 mil ligações e e-mails com solicitação de informações e/ou palestras sobre o programa;

- o número mensal de visitas ao site www.bovespa.com.br saltou de 370 mil para mais de 1 milhão atualmente;

- 540 visitas foram feitas pelos promotores de negócios a grupos interessados em abrir clubes de investimento;

- foram criados 468 clubes de investimento, o que mostra a receptividade da campanha “Bovespa Vai até Você” junto a novos investidores.;

- no total, a Bovespa lista 905 clubes de investimento, que somam um patrimônio líquido estimado de mais de R$5 bilhões e reúnem cerca de 111 mil cotistas, conforme dados consolidados de 31 de agosto de 2004. O total de clubes registrados até setembro deste ano é de 910.

Como se vê, Srªs e Srs. Senadores, os números são eloqüentes. Convém sempre sublinhar que o fortalecimento da Bolsa de Valores, sobretudo nos moldes em que esta expansão foi planejada e vem sendo executada, contribui para consolidar a economia brasileira, formando a poupança interna tão necessária para o projeto de desenvolvimento do País e para limitar os riscos da dependência do capital externo.

Os clubes de investimento formados desde 2002 são um atestado do sucesso da popularização: a participação de investidores pessoas físicas aumentou de 20,5% em 2002 para 27,7% em 2004. A fórmula do clube de investimento é incentivada pela Bovespa porque permite desembolsar quantias mais modestas, o que é consistente com a idéia de democratizar o acesso ao mercado de ações. Além disso, é pedagógico, já que os cotistas podem adquirir mais conhecimentos sobre o funcionamento do mercado. Nas palavras de Magliano: “É importante notar também que esse novo investidor pessoa física é consciente e informado sobre as características próprias do mercado de ações. Numa palavra, ele sabe que se trata de um investimento de risco e que para minimizar esse risco é preciso investir no longo prazo”.

Muito mais haveria para ser dito, Sr. Presidente, inclusive sobre as ações referentes à responsabilidade social que a Bovespa vem desenvolvendo. Por ora, todavia, Srªs e Srs. Senadores, penso que já ficou suficientemente demonstrada a relevância desse processo de democratização empreendido pela Bovespa. Pela atenção de todos, muito obrigado!