Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Realização da vigésima primeira edição da Semana Teotônio Vilela, em Maceió/AL.

Autor
Teotonio Vilela Filho (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: Teotonio Brandão Vilela Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Realização da vigésima primeira edição da Semana Teotônio Vilela, em Maceió/AL.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2004 - Página 43759
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, SEMANA, HOMENAGEM POSTUMA, TEOTONIO VILELA (AL), EX SENADOR, PARTICIPAÇÃO, HISTORIA, POLITICA, LUTA, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO NORDESTE.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, maceió assistiu, no último dia 3 de dezembro, à abertura da 21ª edição da Semana Teotônio Vilela, com atividades e informações sobre a vida, os sonhos e ideais do velho Menestrel das Alagoas. A Semana, este ano, conta com duas marcas especiais: a reedição do livro "Presença do Nordeste", com discursos do velho Teotônio proferidos há mais de 30 anos; e a exposição "Imagens Diretas-Já!", com fotos e painéis sobre o golpe militar de 64, a campanha da anistia e a das Diretas.

A exposição é extremamente feliz em contar 40 anos de nossa história recente a partir de três personagens que marcaram o Brasil: Teotônio Vilela, e sua luta heróica pela anistia; Ulysses, e sua pregação incansável pelas diretas; e Tancredo Neves, artífice da transição negociada entre a ditadura e a democracia, que morreu sem tomar posse na Presidência.

Essas conquistas, Sr. Presidente, hoje parecem tão distantes, que tenho encontrado jovens surpresos ao saberem que essas lutas custaram muito trabalho, perseguições, prisões, perdas de emprego e até de vidas humanas. Felizmente parecem problemas remotos. Sinal de que o Brasil avançou muito.

Alguns dos painéis da exposição revelam cenas de apenas 21 anos, mas parecem expressar a antigüidade de séculos, tão diferente o Brasil que retrata.

O líder sindical que o velho Teotônio Vilela visitava na prisão é hoje Presidente da República. O amigo sociólogo, também cassado, ocupou o Planalto por oito anos e foi, em décadas, o primeiro civil a passar a faixa presidencial para seu sucessor também eleito democraticamente. Foi a transição mais transparente de que se tem notícia em nossa história.

O Estado brasileiro indenizou ex-presos políticos e seus familiares. São cada vez mais remotos os vestígios da ditadura. Raros os brasileiros com menos de 30 anos que conseguem identificar a foto do jornalista Wladimir Herzog morto na própria prisão. Muitos menos entendem a comoção nacional diante da tortura documentada e do assassinato de Estado contra um cidadão que se entregara às 8 horas da manhã na sede do Doi-Codi e à tarde já estava morto. Doi-Codi? O que isso significa mesmo? Que bom que ninguém precise mais se preocupar com a ante-sala do inferno.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em pouco mais de 20 anos, o Brasil saiu de uma anistia consentida para uma Constituinte com marcas tão visíveis de cidadania que nem seus equívocos conseguiram ofuscar. Tem eleições regulares e democráticas em todos os níveis, as instituições funcionam exemplarmente.

O sentimento do inegável avanço institucional do País, nos últimos 20 anos, é verdadeiro, mas não pode ser único. Nessa mesma Semana Teotônio Vilela, montada por Janice Vilela, com o talento de organização que só os grandes executivos exibem, e um comovente carinho de filha, a reedição de "Presença do Nordeste" leva mais a pensar no presente que refletir sobre um passado remoto. Se tirar nomes e datas, seus discursos sobre o Nordeste permanecem cruelmente atuais. O que não está igual está pior, em termos de distribuição de renda e da distância que nos separa do Sudeste e do Sul.

É impressionante, Sr. Presidente, como o Brasil avançou e mudou institucionalmente nesses 20 anos. Mas é doloroso e cruel constatar como fracassou no resgate de sua dívida social: a renda se concentra cada vez mais e cada vez mais o Nordeste pobre se distancia do Brasil desenvolvido do Sul e Sudeste.

A Exposição montada na Semana Teotônio Vilela nos impõem essa constatação: as imagens institucionais têm pouco mais de 20 anos, mas parecem que têm séculos. A denúncia sobre a miséria e a tragédia social do Nordeste já tem quase meio século, mas parece de hoje. Há muito a fazermos pelo Brasil. Há muito a fazermos pelo Nordeste.

Era o que eu tinha a dizer!

Obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2004 - Página 43759