Pronunciamento de Renan Calheiros em 20/12/2004
Discurso durante a 3ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Transcurso de um ano de vigência do Estatuto do Desarmamento. (como Líder)
- Autor
- Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
- Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SEGURANÇA PUBLICA.:
- Transcurso de um ano de vigência do Estatuto do Desarmamento. (como Líder)
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/12/2004 - Página 44069
- Assunto
- Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
- Indexação
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- COMENTARIO, LEGISLAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REDUÇÃO, CRIME, ARMA DE FOGO.
- ELOGIO, ESTATUTO, DESARMAMENTO, EFICACIA, REDUÇÃO, HOMICIDIO, ARMA DE FOGO, APRESENTAÇÃO, DADOS.
- ANUNCIO, REALIZAÇÃO, REFERENDO, PROIBIÇÃO, VENDA, ARMA DE FOGO, MUNIÇÃO, DEFESA, IMPORTANCIA, CONSULTA, POPULAÇÃO.
- REGISTRO, SOLICITAÇÃO, INCLUSÃO, ORÇAMENTO, UNIÃO FEDERAL, RECURSOS, REALIZAÇÃO, REFERENDO.
- AGRADECIMENTO, PARTICIPAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), LUTA, COMBATE, VIOLENCIA.
O SR RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o exemplo vem de um dos países que mais têm problemas com armas no mundo.
O Estado de Maine, nos Estados Unidos, está lançando uma campanha para diminuir os crimes com armas de fogo, principalmente os relacionados à violência doméstica.
A lei federal norte-americana proíbe pessoas acusadas de cometer crimes dentro de casa de possuir armas. Violar essa proibição pode dar cadeia. O nível de violência armada no Maine - um dos Estados com a legislação anti-armas mais avançada daquele país - é um dos menores, ficando atrás somente de Vermont e Dacota do Norte.
Enquanto isso, Sr. Presidente, aqui no Brasil, registramos a grata noticia de que, com quase um ano de vigência, o Estatuto do Desarmamento reduziu o número de homicídios por armas de fogo, no Estado de São Paulo, em 18%, entre janeiro e setembro deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com levantamento do Ministério da Justiça, isso representa 2.630 mortes a menos. Entre janeiro e setembro, foram registrados 6.855 homicídios, contra 9.485 de 2003. Na região metropolitana de Curitiba - reflete a pesquisa - o número de homicídios caiu em 27%.
Depois que aprovamos no Senado, em 2003, o Estatuto do Desarmamento, já foram recolhidas mais de 200 mil armas. No Estado de São Paulo foi batido o recorde, 53.880 armas apreendidas. Depois, o cidadão fluminense fez sua parte, entregando 23.832 armas; os gaúchos, 14.518 armas, e assim por diante.
Os números são animadores, uma vez que a campanha pelo desarmamento está longe de terminar, porque no dia 2 de outubro do ano que vem, o povo responderá, num referendo, se a venda de armas deve ou não ser proibida em nosso País. Apesar de previsto desde a Constituição de 1988, o instituto do referendo nunca foi usado. Essa é, portanto, uma excelente oportunidade para aperfeiçoarmos os instrumentos de consulta popular.
No Brasil, ouvimos muito pouco a população. Temos de consultar as pessoas sobre tudo o que pode mudar a vida delas e sobre o que é polêmico para entidades representativas, como a Igreja, os sindicatos, as federações. Há na Câmara e no Senado um movimento para ouvir a sociedade sobre outros temas - todos válidos e atuais, como a pena de morte, a união de pessoas do mesmo sexo, o aborto e outros.
São assuntos, Sr. Presidente, que mexem com paixões, convicções pessoais, religiosas e até políticas. Por isso, não podem ser tratados no atacado. Devem ser avaliados pelas pessoas separadamente, em consultas exclusivas. Como estamos para realizar nossa primeira experiência com o referendo, temos de nos dedicar a uma consulta única, que envolva um só tema, para não confundir a população, principalmente as pessoas que têm menos acesso à informação e aos meios de formação da opinião pública.
O referendo sobre a proibição da venda de armas e munições no Brasil é uma experiência pioneira em todo o mundo. Não podemos desperdiçar essa chance de aprender com a consulta popular e de torná-la um modelo para as outras consultas.
Já pedi ao Relator-Geral do Orçamento de 2005, o Senador Romero Jucá, que inclua os recursos para a realização do referendo: algo em torno de R$300 milhões - bem menos que os R$400 milhões que o Governo gastou para socorrer vítimas da violência urbana no ano passado.
Sempre que sou chamado a falar sobre o assunto, procuro lembrar o quanto as armas de fogo são nocivas à nossa sociedade, sobretudo aos mais jovens. Dados recentes do Ministério da Saúde mostram que os homicídios dobraram nos últimos 23 anos e responderam por 40,3% das mortes no ano passado. Isso significa que, para cada dez homicídios registrados pelo SUS, sete foram por arma de fogo. A conseqüência dessa tragédia é o aumento das despesas com internações, que levaram o Governo a gastar R$397 milhões, somente no período entre janeiro e setembro deste ano.
A todo momento me chegam dados, oficiais ou não, sobre crimes provocados por armas de fogo. Asseguro que muitos casos são de cortar o coração. Por isso, neste momento em que os números apontam para a redução desses crimes, não se pode deixar de comemorar. Muito ainda haveremos de fazer, mas afirmo com toda a convicção que a aprovação do Estatuto do Desarmamento e a campanha pelo recolhimento de armas de fogo são um sucesso.
Tem sido fundamental a luta das organizações não-governamentais como a Viva Rio; o Instituto Sou da Paz, de São Paulo; e a Convive, de Brasília. Seus dirigentes, incansáveis batalhadores, são exemplos, para todos nós, da força da sociedade organizada e de que é possível mudar a realidade com pequenos e singelos gestos. Com eles, estamos no caminho da construção de um País mais humano e menos violento.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.