Fala da Presidência durante a 10ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória do ex-Ministro Celso Furtado, falecido em 20 de novembro de 2004.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória do ex-Ministro Celso Furtado, falecido em 20 de novembro de 2004.
Publicação
Publicação no DSF de 03/03/2005 - Página 3907
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CELSO FURTADO, EX MINISTRO DE ESTADO, ECONOMISTA, PROFESSOR, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, DEMOCRACIA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.

Declaro aberta a sessão especial do Senado Federal que, em atendimento aos Requerimentos nºs 1.457, 1.456, 1.458, 1.461, de 2004, dos nobres Senadores Sérgio Guerra, Aloizio Mercadante, Pedro Simon, Arthur Virgílio e outros Srs. Senadores, destina-se a reverenciar a memória do ex-Ministro Celso Furtado, falecido em 20 de novembro de 2004.

Srªs e Srs. Senadores, o Senado se curva hoje ante a memória de um dos mais pranteados brasileiros, menos para deplorar sua ausência do que para lembrar e louvar sua inestimável contribuição ao País, que ele tanto honrou e ao qual serviu com zelo, inteligência, devotamento e dignidade.

A personalidade de Celso Monteiro Furtado, a quem tributamos a homenagem desta Casa, transcende a dimensão de sua vida para se projetar na história de nosso País, de que ele se tornou não apenas protagonista, mas, sobretudo, personagem, símbolo e exemplo.

É símbolo do intelectual engajado, consagrado pela genialidade de seu pensamento e pela audácia de suas admiradas e originais concepções.

Foi protagonista do processo político. Ilustrou a vida pública como intelectual, como homem público duas vezes Ministro, como profissional e como pensador. Sua obra é das mais fecundas do último século.

Foi personagem de uma era a que dedicou o melhor do seu talento, de suas preocupações e também de seus sonhos.

Foi exemplo de cidadão, de professor e de líder. Empolgou, pregou e lutou por um mundo mais justo, em que sempre acreditou, e pelos ideais, a que nunca renunciou. Quem percorreu os caminhos que ele trilhou pode compreender a dimensão de sua formação de humanista.

Fez seus estudos básicos na capital paraibana e os completou no Recife. Graduou-se em Direito no Rio de Janeiro e, convocado, provou a amargura do maior conflito do século como integrante da Força Expedicionária Brasileira.

Finda a Segunda Guerra Mundial, voltou à Europa para doutorar-se na Universidade de Paris. Regressou ao Brasil e ingressou no serviço público do Estado do Rio de Janeiro, para aceitar, em 1948, o cargo de economista na nascente CEPAL, berço de original pensamento latino-americano que ele tanto influenciou.

Foi, no entanto, na Inglaterra, de tão antigas e tão ilustres tradições, que concluiu sua obra prima, Formação Econômica do Brasil, livro considerado, mais que um clássico, um dos dez mais importantes do Século XX em nosso País.

Amadurecido, ilustrado e já dono de enorme erudição, estava pronto para começar sua brilhante trajetória de homem público. Foi Diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e, no Grupo de Trabalho do Desenvolvimento do Nordeste, redigiu o famoso relatório que fez a consciência nacional despertar para a importância do Nordeste, com a criação da Sudene, de que foi Superintendente nos Governos dos Presidentes Juscelino, Jânio e João Goulart.

Numa das fases mais críticas do regime restaurado em 1945, tornou-se Ministro Extraordinário do Planejamento, cargo no qual redigiu o pouco lembrado Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social para o triênio 1963/1965.

Não é um plano econômico, Srªs e Srs. Senadores. É o breviário de um estadista, a diretriz para superar uma era de incertezas e um programa de Estado para restaurar as imemoriais injustiças do País.

Punido pelo golpe militar de 1964, com os direitos políticos suspensos, amargou, como tantos outros brasileiros de sua geração, as dores do exílio. Convidado pela já então famosa Universidade de Paris, a Panthéon Sorbonne, por duas décadas predicou como professor de Desenvolvimento Econômico, disciplina em que se tornou uma referência internacional em todo o mundo acadêmico.

Celso Furtado emprestou o brilho de seu prestígio e o reconhecimento de sua contribuição à ciência econômica a uma especialidade que dominou o pensamento e as aspirações de milhões de cidadãos em todo o mundo: a Ciência do Desenvolvimento.

Ministro da Cultura no Governo do Presidente José Sarney, aí encerrou sua trajetória política, mas não sua atividade intelectual. Suas preocupações de pensador e de um dos epígonos da Ciência Econômica em uma era a que nunca faltou o brilho de suas profundas reflexões de verdadeiro humanista.

Em 1977, a homenagem consagradora com que a Academia Brasileira de Letras o elegeu como um tributo a um dos mais importantes intelectuais do País, autor de mais de meia centena de livros, de milhares de artigos e uma das mais originais contribuições no campo do desenvolvimento econômico e da justiça social.

Não desejo privar V. Exªs do prazer de ouvir os demais oradores, que, investidos da mais alta delegação do povo brasileiro nesta que é das mais antigas instituições do País, prestarão suas homenagens a Celso Furtado Monteiro, o cidadão, o professor, o político, o intelectual, o profissional que, por sua vida reta, exemplar e admirável, se tornou também uma instituição do nosso povo, de nossa Pátria, de nossa cultura e de nossa civilização.

Bem haja para sempre o seu nome!

Bem haja a sua memória e que todos nos lembremos de sua glória!

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/03/2005 - Página 3907