Discurso durante a 10ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória do ex-Ministro Celso Furtado, falecido em 20 de novembro de 2004.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.:
  • Homenagem a memória do ex-Ministro Celso Furtado, falecido em 20 de novembro de 2004.
Publicação
Publicação no DSF de 03/03/2005 - Página 3920
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REGISTRO, PRESENÇA, PLENARIO, EX PRESIDENTE, EMBAIXADOR, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, CELSO FURTADO, ECONOMISTA, ELOGIO, LUTA, ERRADICAÇÃO, POBREZA, INJUSTIÇA, COMENTARIO, CASSAÇÃO, DIREITOS POLITICOS, GOLPE DE ESTADO, GOVERNO, REGIME MILITAR.
  • LEITURA, CARTA, HOMENAGEM POSTUMA, CELSO FURTADO, EX MINISTRO DE ESTADO, AUTORIA, PERSONAGEM ILUSTRE, ECONOMISTA, SOLIDARIEDADE, FAMILIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • REGISTRO, CONVITE, AUTORIA, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, PARTICIPAÇÃO, PRESIDENTE, SENADO, REUNIÃO, AUTORIDADE, PAIS, AMERICA LATINA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DISCURSO, POSSE, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente Senador Alberto Silva, Senadores Mão Santa, Arthur Virgílio, Ney Suassuna, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, registro a presença, em plenário, do ex-Presidente da Colômbia Ernesto Samper Pizano, eleito democraticamente, que presidiu aquele País em todo o período de 1994 a 1998. S. Exª está acompanhado da Embaixadora da Colômbia no Brasil, Claudia Rodríguez Castellanos. Conforme disse o ex-Presidente Ernesto, ele também é um grande admirador e seguidor da obra do economista Celso Furtado, que hoje estamos homenageando.

Para mim, estudante de Economia, hoje economista, tive em Celso Furtado um dos maiores exemplos de minha vida no mais amplo sentido, sobretudo por causa do seu objetivo de estudar em profundidade o Brasil, de procurar compreender as razões de disparidades tão grandes, tanto do ponto de vista regional quanto pessoal, de buscar sempre saber por que razão isso ocorre, se temos um País com extraordinário potencial de crescimento, muitas vezes com taxas de crescimento bastante acentuadas. Ele sempre procurava enfatizar que nós precisamos saber como vamos efetivamente criar condições de maior justiça e igualdade e como poderemos erradicar a pobreza absoluta e fazer com que todos no Brasil tenham direito à cidadania.

O economista Celso Furtado teve a oportunidade de ser ouvido pela comissão mista do Senado e da Câmara que estudava medidas para combater a pobreza. Ele ainda estava com problemas de saúde e não podia se locomover até Brasília. Por isso, a Comissão presidida pelo Senador Maguito Vilela, cuja Relatora era a então Senadora Marina Silva, foi à sua residência. Ali ouvimos um testemunho, por aproximadamente quatro ou cinco horas, de extraordinária qualidade. Ele falou da importância de se dar atenção aos meios de erradicar a pobreza e sobretudo de prover a educação para todos no Brasil e a oportunidade de habitação. Disse também que não se deveria permitir, de maneira alguma, que em algum lugar do País houvesse pessoas em condições de fome, de subnutrição e que todos os esforços deveriam ser efetivados para que esses problemas fossem adequadamente enfrentados.

Além disso, o professor Celso Furtado sempre teve uma extraordinária vontade de ver o Brasil com democracia, com liberdade, com respeito pelas instituições. Ele foi atingido também pelo Golpe Militar de 1964, porque o regime de então, não compreendendo toda a sua contribuição, resolveu cassar os seus direitos - ou porque avaliava que as suas idéias eram próprias, mas perigosas para os que detinham o poder na época. Em verdade, ele sofreu; foi ao exílio e ali, na universidade, muitos anos trabalhando com Raul Prebisch, no Chile, e depois trabalhando na Universidade de Sorbonne, em Paris, tornou-se um professor emérito e reconhecido no mundo inteiro. Ele também conviveu com o Prêmio Nobel de Economia Amartya Sen, assim como outros, na Universidade de Cambridge.

Mais uma vez, gostaria de reproduzir a carta que o professor Amartya Sen enviou-me logo depois que lhe comuniquei que Celso Furtado havia falecido em dezembro passado.

Passo a lê-la, Sr. Presidente:

Querido Eduardo, muito obrigado por sua carta com a terrível notícia. Ficarei muito grato se você, por favor, transmitir meu mais profundo sentimento de pesar e solidariedade à viúva de Celso Furtado, Rosa.

Fiquei assoberbado pela triste notícia da morte de Celso Furtado. Ele era um economista visionário, um pensador líder e um maravilhoso ser humano. Quando o conheci, primeiramente nos anos 60, em Cambridge, Inglaterra, fiquei tremendamente impressionado tanto por suas percepções profundas, como por seu forte senso de humanidade e calor. Muito embora tenhamos mantido contato somente de uma maneira bastante longínqua através das últimas décadas, ele sempre esteve em meus pensamentos. Penso nele hoje com um profundo senso de tragédia, mas também com orgulho de ter conhecido um homem de tamanha grandiosidade, que fez tanto por seu país, por sua profissão e pelo mundo.

Em sua exposição a nós, da Comissão Mista de Orçamento do Senado Federal, Celso furtado falava do seu Livro O Longo Amanhecer, em que havia uma resenha sobre a Ética e a Economia, escrita por Amartya Sem. Esse fato demonstra sua interação com Amartya Sen, sobretudo sobre como é que um economista precisa ter sempre em mente a ética como uma de suas preocupações, a busca da verdade, a busca de instrumentos que possibilitem a solidariedade, a liberdade, a maior igualdade.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, antes de terminar, dou notícia do convite que o ex-Presidente Ernesto Samper, da Colômbia, acaba de fazer ao nosso Presidente Renan Calheiros para uma reunião a ser realizada em Bogotá, em setembro próximo, da qual participarão inúmeros políticos e pessoas de destaque na vida latino-americana, assim como pessoas de destaque político na Europa. Também foi convidado o Presidente do Uruguai que assumiu ontem.

Concluindo, Sr. Presidente, afirmo que certamente Celso Furtado hoje se sentiria muito contente por saber que Tabaré Vázquez foi empossado ontem no Uruguai, tendo dito palavras que eram muito queridas a todo o ideário de Celso Furtado. Ou seja, o que podemos perceber é que a obra de Celso Furtado, pela América Latina toda, vai conduzindo pessoas que, aos poucos, chegam ao comando do poder. E aqui cito as palavras ditas ontem por Tabaré Vázquez: “Inspiram-nos e impulsionam-nos os princípios de liberdade, solidariedade e igualdade de oportunidades para todos os uruguaios, tão presentes no ideário de nosso pai Artigas e ainda hoje tão plenamente vigentes.”

Sr. Presidente, peço que seja transcrito este discurso também como uma homenagem a Celso Furtado, inclusive ressaltando que, em um dos pontos de seu discurso, Tabaré Vázquez, de forma muito enfática, diz:

Isto nós já dissemos muitas vezes e o dizemos agora mais uma vez: o governo que hoje assume quer mais e melhor Mercosul. Um Mercosul ampliado, redimensionado e fortalecido, que será por sua vez uma plataforma mais sólida para conseguir maior inserção internacional, tanto do bloco em si como de todo os seus integrantes.

Acredito que aqui ele estava se referindo à Colômbia, do Presidente Alberto Samper.

Sr. Presidente, peço a transcrição do pronunciamento do Presidente Tabaré Vázquez, homenageando-o por ter assumido ontem a presidência do Uruguai.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido de acordo com o art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/03/2005 - Página 3920