Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Consternação com a situação atual da saúde pública na cidade do Rio de Janeiro.

Autor
Marcelo Crivella (PL - Partido Liberal/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Consternação com a situação atual da saúde pública na cidade do Rio de Janeiro.
Aparteantes
Sérgio Cabral.
Publicação
Publicação no DSF de 03/03/2005 - Página 4023
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • PROTESTO, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, SAUDE PUBLICA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SOLICITAÇÃO, VERBA, AQUISIÇÃO, MATERIAL HOSPITALAR, INVESTIMENTO, OBRA PUBLICA, HOSPITAL.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, AUTORIDADE, AUSENCIA, SOLUÇÃO, PRECARIEDADE, SAUDE PUBLICA.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Mais uma vez, venho à tribuna deste plenário para reclamar do caos em que se encontra a saúde pública no Rio de Janeiro, mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro.

Foi com muita esperança que assistimos à vinda do Sr. Secretário de Saúde do Município do Rio de Janeiro e seus técnicos para se reunirem com os técnicos, assessores do Ministro Humberto Costa aqui em Brasília, no Ministério da Saúde. Lá no Rio de Janeiro, um caos total: hospitais fechando a emergência; hospitais psiquiátricos fechando as portas e não socorrendo pessoas em crise trazidas pelo Corpo de Bombeiros, e a família sem saber a quem recorrer por total falência do poder do Estado. Há inclusive casos de médicos realizarem cirurgias graves, como câncer de esôfago, sem sequer um capote esterilizado, conforme o depoimento de uma médica do Hospital Cardoso Filho, em Jacarepaguá.

O estado da saúde no Rio de Janeiro é caótico nas unidades municipais, estaduais e federais. O Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Niterói, nem sequer tem elevador para que as pessoas possam se dirigir a um andar onde haja um centro cirúrgico; não digo nem os visitantes, acompanhantes, familiares, mas o enfermo, aquele que foi ferido, por exemplo, por uma bala perdida - que infelizmente, hoje, com a violência nas grandes cidades, está cada vez mais comum -, que, muitas vezes, têm que se arrastar escada acima, às vezes para o terceiro, para o quarto ou quinto andar, porque os quatro elevadores não funcionam, e não funcionam há muito tempo. E não é mais questão de manutenção, são peças antigas, velhas, que precisam ser substituídas.

Vimos à tribuna do Senado, ligamos para o Ministro, pedimos verba, mas a solução não sai.

Hoje, segundo matéria publicada no jornal O Globo, aquela reunião auspiciosa que nos dava alguma esperança encaminha-se mal. Segundo a notícia, o prefeito chamou o ministro de mentiroso, desacatou a autoridade. O ministro, por sua vez, por meio de seus assessores, chamou o prefeito de incompetente. Assim, não encontramos uma solução.

Ora, meu Deus, não é a política a arte de encontrar a via pacífica para a solução das controvérsias? Não foi para isso que o povo brasileiro nos elegeu e paga nossos salários sem um dia sequer de atraso? Por que autoridades tão importantes do meu País, premidas pelo sofrimento de uma multidão de pessoas que não têm um lugar para receber tratamento, agem dessa forma?

Sr. Presidente, um pai com seu filho no colo, na fila de um hospital, jamais vai perdoar o prefeito, o ministro ou seja lá quem for, por não encontrar remédio, médico e tratamento para a sua família.

Mais uma vez, venho a esta tribuna clamar pelo espírito público no momento de uma negociação tão importante para termos mais verbas para reformarmos nossos hospitais, para colocarmos equipamentos para funcionar, para construirmos mais centros cirúrgicos, para darmos remédios, capotes limpos, esterilizados, para que os médicos possam realizar cirurgias. Os hospitais funcionam em estado de guerra, e esbarramos em autoridades se ofendendo, aparecendo em manchetes de jornal, complicando uma situação que já é tão difícil.

O Sr. Sérgio Cabral (PMDB - RJ) - Senador Marcelo Crivella, V. Exª me permite um aparte?

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Ouço V. Exª, com muita honra.

            O Sr. Sérgio Cabral (PMDB - RJ) - Felicito-o por trazer esse assunto triste, mas de grande importância para todo o Estado do Rio de Janeiro, não só para a capital. V. Exª tem razão, há xingamento, de um lado, do Governo Federal, do Ministro da Saúde e de seus tecnocratas e, do outro lado, do Prefeito, de seu Secretário de Saúde e de seus auxiliares, numa agressão mútua. Enquanto isso, os hospitais da prefeitura, que já foram referência não só no Estado mas em todo o País, passam por um situação dramática. Um hospital como o Souza Aguiar, que recebe milhares de pessoas por dia, enfrenta dificuldades para realizar cirurgias e o setor de emergência tem problemas graves. O hospital Miguel Couto, referência em toda a América Latina, enfrenta problemas sérios. E estou citando apenas os hospitais tradicionais da cidade. Portanto, não é o caso específico dos hospitais federais que foram municipalizados, com a mudança da Capital em 1960. O processo de transferência se deu de maneira lenta, somente no início deste século acelerou-se, quando foram entregues para o Município os hospitais da Lagoa e de Ipanema, que estavam indo muito bem. É verdade que o Governo Federal tem sido padrasto com o Rio de Janeiro, mas não se justifica a péssima situação da rede pública de saúde do Município. E essa situação não se restringe apenas aos hospitais federais que foram municipalizados. Os postos de saúde da Prefeitura mal atendem à população, apesar de fazerem um trabalho preliminar primário fundamental. Funcionam de 8 horas às 17 horas, quando deveriam funcionar 24 horas, porque doença não tem hora para aparecer.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Sérgio Cabral (PMDB - RJ) - Já estou terminando o aparte, Sr. Presidente. Evitaria a demanda exagerada nas emergências dos hospitais onde se atendem criança com mal-estar, idoso com mal-estar, baleado, enfartado, e o médico tem que fazer a chamada “escolha de Sofia”. Não adianta a Prefeitura do Rio de Janeiro reconhecer que a saúde vai mal. Há que se fazer algo. E não é de hoje, não é de ontem...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Sérgio Cabral (PMDB - RJ) - ... há muito que a Prefeitura não tem dado conta da demanda na saúde pública do Município. Parabéns a V. Exª por trazer ao Plenário do Senado Federal um assunto tão importante.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Muito obrigado, Senador Sérgio Cabral. Sei que V. Exª sente a mesma dor que eu. Fomos eleitos por um povo tão generoso, que nos confiou um mandato com milhões de votos, e aqui expressamos a angústia das nossas crianças, dos pais, das mães, principalmente das famílias mais humildes, que não conseguem uma vaga no hospital público. Dói muito para quem é carioca e ama aquela cidade ver os hospitais quebrados, os vidros sujos, as filas enormes.

Muitas vezes nos sentimos impotentes porque, quando conseguimos uma reunião entre as autoridades do Município e as autoridades federais, dá nisto: ofensas e xingamentos. No entanto, a política é o âmago da via pacífica para a solução das controvérsias.

Sr. Presidente, vou concluir meu pronunciamento, mas antes quero fazer um apelo dramático às autoridades do Ministério da Saúde e da Prefeitura. Hoje, o jornal O Globo publica uma matéria que causa vergonha às autoridades, pois afirma que não se encontra a solução porque aqueles que participam da reunião falam de maneira teórica, têm plano de saúde, não tem filho na fila de hospital, nunca tiveram, pois são autoridades. E, na verdade, são pagos por pessoas que estão na fila e têm filho sofrendo.

Faço este apelo, Sr. Presidente, com espírito público, na certeza de que encontraremos uma solução esta semana. Ao sair daqui, vou ao Ministério e falarei com o Ministro. Se não há interlocutores com urbanidade e espírito público para entender a gravidade do problema, até me ofereço para ser esse intermediário.

Mas o importante é que tenhamos a solução, que as dívidas sejam equacionadas, que as pequenas empresas que prestam serviço de segurança ou fornecem alimentação possam receber seu pagamento e que tenhamos de volta os hospitais da rede pública do Rio de Janeiro.

Muito obrigado, Sr Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/03/2005 - Página 4023