Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a reportagem de capa da revista Veja, desta semana, que faz denúncias sobre o dinheiro enviado pelas FARCs - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em doação a campanha do Partido dos Trabalhadores. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA NACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Preocupação com a reportagem de capa da revista Veja, desta semana, que faz denúncias sobre o dinheiro enviado pelas FARCs - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em doação a campanha do Partido dos Trabalhadores. (como Líder)
Aparteantes
Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2005 - Página 5165
Assunto
Outros > SEGURANÇA NACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • APREENSÃO, DENUNCIA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), IRREGULARIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, RECURSOS, ORIGEM, TERRORISMO, VINCULAÇÃO, TRAFICO INTERNACIONAL, DROGA, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, NECESSIDADE, INVESTIGAÇÃO, BENEFICIO, SOBERANIA NACIONAL, COMBATE, ATUAÇÃO, CRIMINOSO, ESTRANGEIRO, BRASIL.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, AGENCIA BRASILEIRA DE INTELIGENCIA (ABIN), OMISSÃO, INVESTIGAÇÃO, EXPECTATIVA, PRESENÇA, PRESIDENTE, ESCLARECIMENTOS, COMISSÃO, SENADO.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assomo a esta tribuna para manifestar a minha preocupação - certamente também a de muitos milhões de brasileiros, pelo menos os mais bem informados, - com a reportagem de capa da revista Veja desta semana.

Não quero dar nenhuma conotação partidária a este meu pronunciamento. Não atacarei o Governo nem o PT. Tenho certeza de que a direção do PT, Senador Tião Viana, como V. Exª, José Genoíno, José Dirceu e o Presidente da República não aceitariam nem admitiriam a hipótese de aceitar dinheiro das FARCs ou de qualquer outra organização. V. Exªs não podem responder pelo que fazem alguns militantes do seu Partido. Mas, Sr. Presidente, não podemos ficar tranqüilos com a desenvoltura com que as FARCs agem no Brasil. Há três razões para nós nos preocuparmos com essa organização.

Em primeiro lugar, pelo fato de ser estrangeira, obviamente não tem nada a que ver conosco. Segundo lugar, Sr. Presidente, é uma organização que mantém uma luta armada não contra uma ditadura, mas contra uma das melhores e mais antigas democracias da América do Sul, que é a Colômbia. Esse país tem instituições tão sólidas, Senador Tião Viana, que, em quarenta anos de luta armada no país não foi interrompido o processo democrático. As FARCs não querem se constituir em um partido e teimam em manter um movimento armado contra o Governo legitimamente eleito da Colômbia. Terceiro e pior, Sr. Presidente, as Farc, há muito, deixaram de ser um movimento político. As Farc são uma organização criminosa, vivem do narcotráfico.

Boato? Difamação de adversário?

Sr. Presidente, há dois anos, Fernando Beira-Mar, foragido da Justiça brasileira, homiziou-se na Colômbia, foi abrigar-se sob o manto protetor das Farc, porque com elas ele mantinha um intercâmbio de troca de armas e de drogas. As Farc não apenas negociam e traficam com drogas, Senador Romeu Tuma, como V. Exª bem sabe. Elas matam, praticam terrorismo e seqüestram.

Sr. Presidente, há três anos, uma colega nossa da Colômbia, Senadora Ingrid Betancourt, está sob prisão das Farc. E nunca vi ninguém - desculpe-me a franqueza, Senadora Heloísa Helena -, uma Senadora qualquer, assomar a esta tribuna para pedir a intercessão do Governo brasileiro, de organizações de esquerda amigas, para que essa senhora fosse liberta. Estão lá o marido e os filhos em desespero há três anos. Não sei qual é o estado emocional e psicológico dessa senhora respeitabilíssima, ilustre candidata à Presidência da República por um partido ambientalista. Ela está seqüestrada há três anos, e ninguém protesta nem se solidariza, Senador Romeu Tuma. E essa organização criminosa - repito - deixou de ser política.

Há um representante delas aqui no Brasil, Sr. Presidente, que age com a maior desenvoltura. Um Líder do Governo afirmou - veja a gravidade do que vou dizer - que os documentos são falsos, Senador Romeu Tuma, e que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) não investigou as Farc. Então, eu pergunto: O que faz a Abin? O representante de uma organização criminosa estrangeira, aqui sediado, reúne-se com políticos brasileiros para oferecer ou não dinheiro, e a Abin não acompanha, não toma conhecimento? Para que serve a Abin?

Estou muito preocupado. Na capital da República, nas barbas, a dois quilômetros do Palácio do Planalto, a Abin não sabe? É mais grave ainda, Senador Antero de Barros. E isso aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso. Não estou condenando o Governo, mas a Abin, como instituição. Quero saber por que as Farc têm um representante no Brasil e por que esses representantes não são monitorados religiosamente.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª dispõe de mais dois minutos, Senador.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Eu temo. O Amazonas tem uma fronteira de mais de mil quilômetros com a Colômbia, Sr. Presidente, vasta fronteira semi-abandonada, a não ser pela presença das Forças Armadas. Uma população paupérrima, miserável, que está exposta aos narcotraficantes. Imagino se as Farc começam a subornar, financiar candidatos à prefeitura, à Câmara Municipal ou ao governo do Estado do Amazonas, o que é que vai acontecer com o meu Estado?

Senador Romeu Tuma, só disponho de um minuto, mas lhe cedo com muito prazer.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Jefferson Peres, eu não deveria nem interromper o discurso de V. Exª, que está perfeito. Mas as Farc apenas estão praticando o crime como meio de sobrevivência hoje, porque o auxílio que recebiam está morto. Então, praticam crimes, tráfico de drogas e trocam proteção por drogas. E o que aconteceu quando a Abin recebeu a informação? Pode ter deixado de investigar, mas a informação deve ter chegado. Agora, receber o informe e dizer que é falso é um risco que, realmente, a Comissão Especial tem que esclarecer.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - O General Presidente da Abin tem que vir ao Senado Federal, não para se reunir no gabinete, mas no seio de uma Comissão, em sessão secreta, mas ele deve explicações à Nação.

Estou preocupado com a ação das Farc no Brasil, Sr. Presidente, e milhões de brasileiros também estão.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2005 - Página 5165