Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Deputado Luís Eduardo Magalhães, na data de seu quinquagésimo aniversário.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Deputado Luís Eduardo Magalhães, na data de seu quinquagésimo aniversário.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2005 - Página 5171
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, ELOGIO, EFICACIA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, VIDA PUBLICA.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) -Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, bem podem avaliar V. Exªs as emoções que sinto neste instante. Eu deveria aguardar todo este expediente para agradecer, no final, aos meus queridos colegas as homenagens que estão prestando, quando Luís Eduardo completaria 50 anos de idade.

Entretanto, na Bahia, deverá se realizar, às 18h30, uma missa, seguida de um concerto com as músicas que Luís Eduardo admirava, o que me obriga a ficar com os meus conterrâneos e a abraçá-los no dia de hoje.

Já participei de uma sessão na Câmara dos Deputados e agora estou aqui, e V. Exª, Sr. Presidente, pode bem sentir as emoções que tomam conta do meu coração.

Tinha em Luís Eduardo, eu diria, juntamente com a Bahia, a razão da minha vida. Entendíamo-nos numa perfeição total. Falávamos, mesmo que no estrangeiro ele estivesse, pelo menos duas vezes por dia. Essa identidade, eu diria, era completa. Entre pai e filho há sempre uma área de respeito mútuo, que sempre houve entre nós, mas isso não abalava de modo algum a íntima, filial e fraterna amizade. Por isso, sofri mais do que qualquer pai poderia sofrer.

Em 1989, tive um infarto e passei 40 dias no Incor. Luís Eduardo não se afastou um minuto do meu leito, até que eu saísse de lá em condições melhores. E, pelo destino, que nos marca com esse 21 de abril - foi Tiradentes, no passado, Tancredo e Luís Eduardo, mais recentemente -, naquele dia, só pude estar na porta da sala de operações quatro horas, quando ele ficara comigo 40 dias. Foi algo fulminante, talvez levado pelas emoções que ele viveu na Casa que presidiu de modo exemplar.

Ajudou as reformas políticas divergentes. Muitos divergiam, mas ele foi o braço direito do Presidente Fernando Henrique Cardoso para realizá-las. Realizou essas reformas e serviu ao seu Partido, ao nosso Partido, como Líder, por muito tempo, sempre, sempre, com desvelo e correção absolutos. Mas algo que considero maior em Luís Eduardo como legislador era o amor ao Legislativo e à Casa que ele presidia. Luís Eduardo enfrentava tudo, mas prestigiava o Legislativo. Obrigava, muitas vezes, porque ele era um cumpridor da palavra, o Presidente a cumprir a palavra empenhada com seus companheiros. Essa foi uma característica que marcou a vida de Luís Eduardo: defender o Legislativo a qualquer custo. E tenho certeza de que V. Exª, Presidente Renan Calheiros, também o fará. Mesmo sendo da base aliada, V. Exª terá esta Casa acima de qualquer compromisso político. Assim procedi quando fui Presidente: coloquei os interesses do País acima das ideologias. Por isso, também convivi muito bem com as oposições de então.

Luís Eduardo foi um transformador, foi um conciliador e, ao mesmo tempo, alguém extremamente elegante no porte e no trato. Para todos os companheiros ele tinha uma palavra de carinho. Aqui há tantos amigos dele, que não desejo citá-los. Citarei apenas o Senador Albano Franco, que nos visita hoje. Ao citá-lo, menciono a todos. Luís Eduardo fez amigos porque defendeu o Legislativo. Fez amigos porque soube, em todos os momentos, defender a Casa que presidia. O Presidente Fernando Henrique Cardoso convidou-o para ser Ministro. E ele disse: “Não desejo, Presidente, ser Ministro. Só desejo ver meu pai Presidente do Senado.” Daí por que também devo a ele esse posto que alcancei.

Luís Eduardo chegou ao Senado - Mário Covas disse isso muito bem em um discurso, em São Paulo - como o filho de Antonio Carlos. Com o tempo, o Senador Antonio Carlos Magalhães era o pai de Luís Eduardo. As coisas mudaram totalmente, tal a atuação e a grandeza de seus procedimentos.

Fez uma vida pública, no seu Estado, exemplar. Foi Presidente da Assembléia Legislativa bem moço. Foi Presidente da Câmara dos Deputados também ainda bem moço. E com 43 anos faleceu.

Meu sofrimento, nessa época, muitos dos colegas aqui viam. Desse lugar em que V. Exª se encontra hoje, Senador Renan Calheiros, quase todos os dias, tinha de me ausentar por causa das emoções. E não tenho acanhamento em dizer que chorava copiosamente. Carreiro e Cláudia, que aqui estão, viram bem esse momentos tão difíceis.

Encontrei no Senado, a verdade é essa, o grande lenitivo, o bálsamo para a minha dor. Por isso tenho tanto amor a esta Casa. Amo esta Casa. Se procedo de uma forma ou de outra, tudo é passageiro diante do amor que tenho pelo Legislativo, pelo Senado Federal. Se pecados cometi, todos já foram absolvidos, na medida do meu amor e da defesa que faço de todos os Srs. Senadores, sejam eles meus amigos ou não. Existem, nesta Casa, as personalidades mais diferentes, mas prezo a todas, principalmente quando vejo que elas se unem para homenagear o filho querido que foi um homem público exemplar. Seria Governador da Bahia - as pesquisas o colocavam em ponto maravilhoso - e talvez disputasse, quem sabe, a presidência da República. O destino não quis.

O Cardeal Eugênio Sales deslocou-se do Rio para a Bahia para me dar uma palavra de consolo. E ele me disse: “Você não pode estar assim. Quantos viveram quase cem anos e fizeram tão pouco. Luís Eduardo viveu 43 e fez tanto pelo País e pela Bahia.” Realmente foram palavras que ficaram em minha memória e que acalentaram bastante o meu sofrimento.

Certamente, neste instante, falarão muitos dos seus amigos até bem queridos, aqueles que lutaram com ele. Hoje mesmo, devo dizer, recebi uma carta do Senador Tasso Jereissati que me emocionou muito. E por tudo isso, eu não poderia sair daqui hoje sem dar uma palavra de agradecimento a todos. Todos, sem exceção, mas principalmente a V. Exª, Sr. Presidente, de quem muito espero e de quem o Brasil tanto espera imparcialidade de procedimento, na certeza de que V. Exª, como Luís Eduardo, honrará o Legislativo brasileiro.

Portanto, neste instante, em que eu poderia falar sobre tantas realizações, tantas reformas que Luís Eduardo fez, prefiro não falar. Prefiro apenas dizer: muito obrigado a vocês. Que Deus os ajude como vocês têm me ajudado.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2005 - Página 5171