Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Deputado Luís Eduardo Magalhães, na data de seu quinquagesimo aniversário.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Deputado Luís Eduardo Magalhães, na data de seu quinquagesimo aniversário.
Aparteantes
Eduardo Azeredo, Eduardo Suplicy, Flexa Ribeiro, José Sarney, João Ribeiro, Patrícia Saboya, Pedro Simon, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2005 - Página 5180
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DA BAHIA (BA), EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, conheci Luís Eduardo Magalhães quando era Deputado Estadual ele e Deputado Federal, eu. Ele presidia, com muito brilho e segurança, a Assembléia Legislativa da Bahia.

Estive lá em missão presidida por um dos maiores brasileiros que já conheci, o ex-Deputado Fernando Santana, baiano, como Luís Eduardo, e figura de imenso valor. Fomos à Assembléia e participamos de ato público pelas eleições diretas em 1984, logo no alvorecer da luta provocada pela apresentação da emenda Dante de Oliveira ao Congresso.

Luís Eduardo mostrou-me, naquele momento - e a partir dali isto não foi desmentido -, todo o brilho da sua perspectiva política, toda a determinação que o movia e toda a seriedade pública de que era dotado. A partir daí, ele passou a ser, para mim, uma bela referência. E não o encontrei com freqüência desde então, até o momento em que retornei ao Congresso Nacional, em 1995, eleito que fui em 1994. Tive a honra, portanto, de ser presidido por Luís Eduardo Magalhães.

Conheci o Líder vibrante do Partido da Frente Liberal -- inteligente, bem articulado, competente, correto, corajoso. E conheci o Presidente enérgico, ao qual muito deve o Brasil quando tivermos de falar e historiar sobre reformas estruturais. Luís Eduardo traçava objetivos e buscava cumpri-los. Era um homem de metas, de sonhos, de realidade e de realizações.

No Parlamento, pude estabelecer com ele uma relação bastante fraternal, uma relação de confiança, até porque era alguém visivelmente merecedor de confiança. Tornei-me seu admirador. Ele se tornou meu amigo. Divergências, algumas poucas; convergências, muitas, quase todas.

Em minha cabeça pairava - não obstante toda a tendência de o PSDB brigar para lançar um candidato à sucessão do Presidente Fernando Henrique, em seu segundo mandato - a possibilidade de fornecermos o vice-presidente de uma chapa eventualmente encabeçada por Luís Eduardo Magalhães. Afinal, ele encarnava como ninguém o projeto de reformas estruturais; encarnava como poucos a idéia de um Brasil moderno e justo, de um Brasil avançado tecnologicamente e socialmente sensível, um Brasil com perspectivas de crescimento econômico e, ao mesmo tempo, de necessária distribuição da riqueza.

Não fosse sua morte tão prematura, cruel e injusta - se é que posso intrometer-me nos desígnios traçados pelo destino -, Luís Eduardo Magalhães poderia muito bem ser hoje Presidente da República. Seria um candidato muito forte, talvez o mais forte de todos, e quem sabe o Brasil pudesse estar singrando águas muito tranqüilas a partir do seu comando, do seu talento e da sua sensibilidade.

Eu estava no Rio de Janeiro quando, no aeroporto, Líder Ney Suassuna, disseram-me que Luís Eduardo tinha sofrido um enfarte de proporções graves. Quando cheguei ao aeroporto de Brasília e religuei o telefone celular, falei com a jornalista Christiane Samarco, do jornal O Estado de S. Paulo, que me disse, bastante sentida, sem que eu perguntasse - ela sabia o que eu queria saber: “Não tem mais jeito, Arthur. Luís Eduardo faleceu”.

Corri para o hospital, participei da dor de sua família, velei seu corpo no Congresso Nacional, fui a Salvador e permaneci em meio àquela multidão imensa até o final de seus funerais, até o momento supremo de seus funerais, que foi seu sepultamento.

Luís Eduardo Magalhães, com 43 anos de idade, alguns mandatos, uma tradição de luta familiar muito grande, significativa, deixou uma herança. Hoje, na Bahia, comemora-se o cinqüentenário de Luís Eduardo Magalhães. No Congresso, estamos também celebrando, sim, e não lamentando, o cinqüentenário desse grande brasileiro. Luís Eduardo ficou para sempre; imortalizou-se. Luís Eduardo passa a ser um patrimônio da nossa vida pública e do nosso exemplo de ética, de seriedade e de crença no Brasil.

Srª Presidente, o ex-Presidente da Câmara dos Deputados, ex-Deputado Federal, ex-Deputado Estadual, ex-Presidente da Assembléia Legislativa da Bahia, ex-candidato a Governador da Bahia, que, pelas pesquisas, seria amplamente vitorioso, ex-possível candidato a Presidente da República, com amplíssimas chances de vitória, era um homem simples, um jovem de bem, que tinha apego a sua palavra. Se algo marcava na relação de Luís Eduardo com seus liderados, adversários e amigos, era precisamente o fato de que, se ele empenhava a palavra, ninguém tinha de se preocupar com o cumprimento dessa palavra empenhada, porque ele a cumpria.

Portanto, Luís Eduardo deixou muitas saudades. Na Bahia, eu senti a grandiosidade do alcance do seu nome. Percebi duas coisas, uma delas na própria pele. O carro que servia a mim e aos Parlamentares que estavam comigo desapareceu no meio da multidão. Nós ficamos perdidos e fomos quase pisoteados pela multidão.

Ao mesmo tempo, Luís Eduardo Magalhães, no seu último momento, no seu caixão, recebeu a visita de adversários figadais de seu pai, o bravo Senador Antonio Carlos Magalhães. Ele recebeu a visita de adversários e até de inimigos do Senador Antonio Carlos Magalhães -- todos admiradores e nenhum inimigo de Luís Eduardo.

Já concedo um aparte ao Presidente do meu Partido, Senador Eduardo Azeredo.

Certa vez, o Senador Antonio Carlos Magalhães a mim me disse: “Arthur, o Luís Eduardo consegue ter todos os meus amigos e nenhum dos meus inimigos!” E acrescentei que o mais bonito nisso era ele conseguir ter nenhum de seus inimigos, todos os seus amigos e não ser nem um pouco desprovido de combatividade. Se havia alguém combativo, era o Luís Eduardo; se havia alguém corajoso, era o Luís Eduardo; se havia alguém opinioso, era o Luís Eduardo; se havia alguém que não recuava diante de ameaças, era o Luís Eduardo; se havia alguém que ia às lutas, assumindo a sua própria face, correndo seus próprios riscos com muita coragem, com muito destemor, era precisamente Luís Eduardo Magalhães.

Então, vejam que belo espécime de homem público perdeu o Brasil e que bela figura ganhou a nossa história! Ele conseguia ser combativo e opinioso. Conseguia entrar em todas as bolas divididas de uma vida pública, que é cheia de homens que fazem falso sucesso, simplesmente não entrando em bola dividida alguma. Ele conseguia ter todos os amigos de seu pai, nenhum dos inimigos de seu pai e trafegar pela vida pública com o brilho que faz dele o alvo desta homenagem, que - percebo - vai durar pela vida inteira do nosso Parlamento. Tornou-se um dos nossos grandes vultos. Homenageamos o Barão do Rio Branco. Homenageamos Afonso Arinos. Homenageamos Carlos Lacerda. Homenageamos e homenagearemos Luís Eduardo Magalhães.

Concedo um aparte ao Senador Eduardo Azeredo, Presidente do PSDB.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª enumera muito bem as qualidades de Luís Eduardo Magalhães, ex-Deputado e ex-Presidente da Câmara. Como Líder do nosso Partido, o PSDB, V. Exª presta esta devida homenagem, à qual me somo. Luís Eduardo foi, sem dúvida alguma, um Parlamentar de grande talento. No período em que esteve dirigindo a Câmara, o fez com muito brilhantismo, e tinha exatamente esta característica da facilidade do diálogo -- com seus opositores, companheiros e aliados. É o testemunho que posso trazer da convivência que tive com ele. Foi exatamente esse testemunho, de quem sempre esteve atento aos interesses maiores do País. Associo-me, portanto, à sua homenagem, a homenagem a que todos nós, do nosso Partido, prestamos à memória de Luís Eduardo Magalhães.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Eduardo Azeredo. É precisamente esse o sentimento que tenho sobre Luís Eduardo.

Digo a V. Exª que - aliás, eu o faço repetindo passagem anterior desta fala - todas as vezes que me defrontei com a palavra dele empenhada em algum assunto, pura e simplesmente tirava da cabeça aquele assunto. Digo: isso vai ser cumprido de qualquer jeito. Era do seu caráter, era do seu senso de responsabilidade.

Alguém pode ter caráter e pode não ter senso de responsabilidade. Alguém pode ter senso de responsabilidade e não ter caráter.

Alguém poder ter senso de responsabilidade e caráter ao mesmo tempo. Isso faz do homem público uma figura quase ideal. Esse homem público passa a ser quase uma figura ideal.

Sempre cito uma passagem de São Tomás de Aquino, que serve muito bem para certas figuras da nossa vida pública e serve de alerta para quem nela entra. São Tomás de Aquino diz que certas qualidades, Senador Luiz Otávio, quando postas a serviço de vícios, tornam-se defeitos hiperbolizados. As qualidades postas a serviço de virtudes tornam-se qualidades imbatíveis.

Cito exemplos corriqueiros. São Tomás de Aquino não desceu aos exemplos corriqueiros e prosaicos que aqui transmito aos meus Colegas.

Acordar cedo é uma grande qualidade. Acordar cedo para planejar um assalto a um banco é um defeito hiperbólico; trabalhar muito, trabalhar com afinco, em si, é um momento de qualidade, Senador Flexa Ribeiro, mas trabalhar muito para planejar assalto a cofre público é um defeito terrível; acordar cedo para espancar por mais tempo a mulher é um defeito horroroso; acordar cedo para brigar nos bares é um defeito horroroso. Ou seja, a qualidade de acordar cedo deve ser posta a favor da virtude, a favor de se fazer coisas corretas em benefício do País, da nossa comunidade, das pessoas próximas de nós. Enfim, acordar cedo, trabalhar, perseverar, isso tudo, se posto a serviço de boas intenções, resume a qualidade verdadeira, Senadora Patrícia Saboya. A qualidade não deve ser posta a serviço de vícios.

Vejo Luís Eduardo como alguém, Presidente Sarney, que colocava a qualidade a serviço da virtude. Era honrado, íntegro, inteiro, honesto, efetivamente uma boa pessoa, efetivamente uma figura que tinha trânsito em todo o plenário da Câmara dos Deputados e era queridíssimo também pelos senadores do País.

Nem por isso, Luís Eduardo deixava, em cada momento, de pontuar com clareza a sua posição, ele não pecava por se omitir, ele expressava claramente a sua opinião, concordassem ou não com ela. Além disso, estava pronto para, na melhor dialética, aprender com as outras pessoas e chegar a conclusões. Ele não fazia o jogo do “simpaticão” profissional, o jogo do falso hábil, daquele que pensa ser hábil porque simplesmente concorda com todo mundo e termina desacreditado perante todos. Ele colocava claramente a sua opinião, e aqueles que dele discordavam o respeitavam, gostavam da figura humana, admiravam a figura pública que ele era.

Concedo um aparte ao Presidente José Sarney com muita honra.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Senador Arthur Virgílio, peço licença a V. Exª para inserir no seu discurso...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - A honra é toda minha, Presidente.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - ...o meu testemunho sobre a grande perda que foi para o Brasil a morte de Luís Eduardo. O Senado faz muito bem em relembrá-lo hoje, quando ele completaria 50 anos. Luís Eduardo era um homem de princípios, um homem de convicções, um homem extremamente correto e uma grande esperança - se já não uma certeza na política brasileira. Os romanos representavam a perda de jovens que tinham grande talento e que morriam em pleno brio com uma coluna partida. Quando me lembro de Luís Eduardo, lembro-me que ele foi essa coluna partida, que até hoje miramos sabendo que seria, sem dúvida, uma coluna das mais grandiosas da política brasileira. Muito obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Presidente José Sarney, é uma honra muito grande tê-lo neste modesto discurso que profiro em homenagem a Luís Eduardo Magalhães. Falando em Roma, chego a Grécia e vejo Aquiles em Luís Eduardo: morreu jovem e coberto de muita glória. O Brasil começa, finalmente, a aprender a cultuar os seus valores verdadeiros. Luís Eduardo paira hoje acima de partidos, de ideologias, ele simplesmente morreu e viveu respeitado por todas as correntes legítimas deste País.

Ontem o Líder Aloizio Mercadante me procurou, na tentativa habilidosa de Líder competente que é, de fazer um acordo com a oposição para que fosse votada hoje determinada medida provisória - medida que ainda não está madura para ser apreciada hoje. Eu dizia: “Aloizio, não percamos tempo com isso, porque a sessão de amanhã será sessão do Luís Eduardo Magalhães”. Ele, então, disse-me que uma parte da sessão apenas seria destinada à homenagem a Luís Eduardo Magalhães. Eu disse: “Não, Aloizio, só se a gente não conhecesse a admiração dos nossos colegas por Luís Eduardo Magalhães. Amanhã, quando o primeiro pedir a palavra, os outros senadores todos a pedirão”. Significa dizer que, se a sessão começar às 15h, não terminará antes de não sei que horas da tarde ou do início da noite, porque todos se animarão a dar a sua opinião a respeito de uma figura tão insigne, tão correta e tão preparada para vôos que o destino não lhe permitiu alçar.

Com muita honra e alegria, ouço essa figura pública notável que é o Senador Pedro Simon.

O Sr Pedro Simon (PMDB - RS) - Nada mais justo que V. Exª, como de resto toda a Casa, prestemos nossas homenagens à figura desse homem público que, ainda jovem, tornou-se figura singular na política brasileira. Era impressionante acompanhar o trabalho dele, a sua capacidade de agregar, de unir os extremos, a sua capacidade de fazer amigos. O seu notável pai tem muitas qualidades, mas o que não seria dele se tivesse também as qualidades do filho! Luís Eduardo era realmente aquele jovem que tinha tudo para crescer, menos a vaidade; tinha tudo para crescer, menos a ambição. O crescimento dele era algo natural. Confesso que tinha um profundo carinho e respeito pela sua figura dele, pela sua forma de ser, pela maneira como tratava os desiguais, pela maneira como tratava o Deputado Valdir Pires - o Deputado Valdir Pires era fã incondicional de Luís Eduardo, tinha admiração por ele. Uma vez perguntei a ele: “Mas, vem cá, como é que ele e o teu pai são desse jeito e você não?” Ele me respondeu: “Meu pai é meu pai, mas eu gosto muito do Deputado Valdir”. Ele era assim. Infelizmente, nós o perdemos muito antes do que imaginávamos. Ele era um homem que, talvez, tivesse mudado os destinos de nossa história. Se o seu nome viesse crescendo e lá pelas tantas ele fosse o homem que unisse PSDB e PFL, talvez o Lula não estivesse aí. Mas Deus escreve o destino de cada um, e estamos nós aqui a prestar uma homenagem muito carinhosa a uma figura carismática como, aliás, é V. Exª, do mesmo estilo, da mesma capacidade e da mesma competência.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Pedro Simon. Toca-me muito sua palavra tão sentida, tão amiga.

V. Exª tem razão. Ainda há pouco havia mencionado algo parecido. Talvez o Presidente da República hoje fosse Luís Eduardo Magalhães, por sua capacidade de agregar, por representar, sem dúvida alguma, a perspectiva da democracia e por ser alguém que transitava com muita facilidade pelos meios políticos, pelos formadores de opinião e que dificilmente não chegaria às camadas populares com chances de êxito.

Sobre filho e pai, a figura polêmica do Senador Antonio Carlos Magalhães, dura e doce; às vezes, ferina; às vezes, meiga. Surpreendi-me com Antonio Carlos algumas vezes. Fui à Bahia para o lançamento do Partido Comunista Brasileiro quando ele veio à legalidade; fui acompanhando os deputados Roberto Freire* e Alberto Goldman*, e lá fizemos um ato público que, na verdade, visava a homenagear Fernando Santana*.

Na época, eu julgava que Fernando Santana fosse um inimigo figadal de Antonio Carlos Magalhães, mas chega um telegrama de Antonio Carlos para Fernando Santana em que se dirige a um “querido amigo”, e Fernando Santana faz uma menção afetuosa a Antonio Carlos, naquele momento. Ou seja, Antonio Carlos, com os seus momentos de arroubo e com os seus momentos de ternura - a imprensa tanto fala dessa dicotomia -, desaguava em Luís Eduardo, que conseguia ter muita dureza quando combatia alguém, mas não tinha inimigo nas hostes dos que ele combatia. Ele agregava o Fernando Santana, que era amigo do seu pai; ele agregava o Valdir Pires, que era inimigo do seu pai; ele agregava figuras como, por exemplo, Domingos Leonelli, que dizia assim: “Sou adversário irretratável do Senador Antonio Carlos Magalhães, mas sou amigo pessoal do Luís Eduardo” - entendiam-se muito bem, e Luís Eduardo tinha nele um bom interlocutor dentro da esquerda do Parlamento. Isso fazia dele alguém que marcava pela facilidade de transitar no meio político. A diferença era essa, ou seja, alguém com tanto trânsito, e esse trânsito nascia precisamente da tolerância, do carisma a que se refere V. Exª, do seu preparo e da sua generosidade, da sua figura de ser humano.

Senador Pedro Simon, é uma boa hora para dizer que, na medida em que vejo o Senado de dentro, sendo Senador há dois anos, passo a ter algumas referências aqui, e V. Exª é alguém que me marca, por algumas definições básicas. Por exemplo: se a questão for ideológica, não sei se votarei automaticamente com V. Exª; mas se a questão for de justiça e de ética, de olhos fechados, se eu chegar atrasado, pergunto a V. Exª se é sim ou não e me arrisco a errar ou acertar com V. Exª, porque tenho absoluta confiança na sua boa-fé. A sua figura me enternece muito, e essa convivência nos aproxima, porque a vida pública é feita de momentos e de pessoas que não podem ser desperdiçadas. Se há pessoas que não quero mais desperdiçar, daqui para frente, na minha vida, uma delas é V. Exª. Da mesma forma gostaria muito de ter Luiz Eduardo ao nosso lado, com a sua capacidade imensa de agregar, com a sua capacidade supina e suprema de formar consenso.

Em outras palavras, é difícil admitirmos que não seja perda não termos Luiz Eduardo conosco. É forçoso reconhecermos, porém, que o Brasil ganha um vulto para sua história, e não meramente para constar dos livros escolares; alguém para servir de exemplo, mostrar que a renovação correta e saudável é possível, que pragmatismo pode se casar com ética, que espírito prático pode se casar com decência, que decência não significa necessariamente imobilismo, que não existe essa coisa do rouba mas faz. É fundamental não roubar e se fazer, ter o sentido da ética, da decência e da competência. E eu via essas qualidades todas presentes numa figura só, no Deputado Luís Eduardo Magalhães. Agradeço a V. Exª pelo aparte.

Concedo um aparte, com muita alegria e com muita honra, à Senadora Patrícia Saboya.

            A Srª Patrícia Saboya Gomes (Bloco/PPS - CE) - Senador Arthur Virgílio, da mesma forma, peço licença para apartear o pronunciamento de V. Exª, feito de forma tão emocionada e certamente com uma saudade muito grande daqueles que foram colegas. Não tive o privilégio e a honra de conviver com Luís Eduardo, mas tive o privilégio, como tantos brasileiros, de admirá-lo por ter a certeza de que aquele homem possuía tantas qualidades. Como V. Exª acabou de citar, ele conseguiu unir em uma só pessoa a determinação, a paixão pela política, a habilidade de conviver com o contraditório e de agregar pessoas com opiniões diferentes. Ele conseguiu, com a sua alegria, unificar os projetos principais, a nossa vontade, os sonhos dos brasileiros de ver um político com tantas qualidades reunidas numa só pessoa. Portanto, quero também unir a minha palavra a de tantos outros que o conheceram nesta Casa, que tiveram a oportunidade, a honra e o privilégio de conviver com uma pessoa tão querida por todos os brasileiros. V. Exª faz do seu pronunciamento a voz de tantos homens e mulheres que depositaram nele suas esperanças e que certamente lamentaram a perda de um político que conseguia se destacar de tantos outros pela forma de ser e pela determinação. Aproveito a oportunidade para mandar um abraço muito carinhoso ao Senador Antonio Carlos Magalhães, pois, assim como todos os brasileiros, presenciei a sua dor e o seu desespero por ter perdido um filho tão querido, que tanto o orgulhava e orgulhava a todos nós, brasileiros. Portanto, parabéns a V. Exª pelo seu pronunciamento. Certamente, onde quer que esteja, Luís Eduardo está vendo as nossas homenagens e a saudade que todos os brasileiros sentem dele.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senadora Patrícia Saboya, V. Exª não é de calibre diferente do de Luís Eduardo. V. Exª chegou a Casa e a todos encantou, sobretudo pelo que tem de beleza interior, pela forma correta de lidar com os problemas e com os seus companheiros. Luís Eduardo perdeu também por não a ter conhecido pessoalmente. Digo ainda que V. Exª, ao se colocar na vida pública como se coloca, é precisamente a renovação dessa esperança que ele tanto significava para todos nós. V. Exª é uma figura leal como adversária, absolutamente perfeita como amiga pessoal, uma Parlamentar que marca, pela sua sensibilidade de mulher, de mãe, de brasileira, de cidadã, um dos mandatos mais notáveis que possam estar sendo arrolados pela análise do povo nesta Casa. Agradeço muito a V. Exª pelo aparte.

É com emoção que me refiro a uma figura tão querida e, ao mesmo tempo, tão relevante para os destinos do País, que não pôde cumprir o inteiro de sua destinação, mas, no que pôde, cumpriu uma destinação muito bonita.

Ouço o aparte do Senador Flexa Ribeiro e, em seguida, o do Senador Eduardo Suplicy, para encerrar meu pronunciamento.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Arthur Virgilio, nosso Líder, o pronunciamento de V. Exª é vibrante, como todos os demais. Como disse a Senadora Patrícia Saboya, não tive a honra de conviver com o Deputado Luís Eduardo Magalhães, mas, devido a minha militância sindical, partilhamos alguns momentos juntos, nos quais pude comprovar tudo aquilo que o nobre Senador expôs aqui: sua competência, sua forma de fazer política com honradez, obstinação e determinação. Tenho absoluta certeza de que o destino reservava um lugar bastante destacado à vida política do Deputado Luís Eduardo Magalhães. Não tenho dúvida de que ele seria o futuro Presidente da República, de que ele participaria, como disse V. Exª, de uma chapa em aliança com o PSDB. Quero fazer minhas as palavras elogiosas de V. Exª ao Deputado Luís Eduardo Magalhães e lamentar a perda prematura de um líder daquela envergadura. Como disse o ex-Presidente José Sarney, é realmente uma pilastra partida que a política brasileira tem a lamentar. Deixo um abraço fraterno ao Senador Antonio Carlos Magalhães. Onde quer que esteja, o Deputado Luís Eduardo estará sempre junto a nós, orientando-nos para que todos nós, Congressistas, possamos fazer o melhor para o nosso País, para que os brasileiros tenham dias melhores pela frente, para que a sociedade brasileira tenha condições de ter uma vida mais justa e mais digna. E a sua liderança, Senador Arthur Virgílio, engrandece-nos. Que o seu discurso vibrante em homenagem ao Deputado Luís Eduardo Magalhães seja aceito como de todos do PSDB.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Flexa Ribeiro.

Lembro-me também do bom humor com que Luís Eduardo encarava a vida. Acabava a jornada de trabalho dura, ele se reunia com os amigos e vivia a sua juventude, a sua alegria, que era imensa.

E na Presidência da Câmara, tinha passagens absolutamente monumentais do ponto de vista do bom humor. Por exemplo, o bravo e respeitado Deputado do Partido Verde, Fernando Gabeira, que foi para o PT e depois retornou para o Partido Verde, diante de uma confusão danada, em que se estava votando uma daquelas reformas, os líderes orientando a sua Bancada - e o Gabeira era líder dele próprio, um brilhante líder de um partido que só tinha infelizmente um Deputado, que era ele e que já valia, pela sua competência, por uma Bancada inteira -, e o Luís Eduardo então perguntou: Deputado Michel Temer, como vota o PMDB? Deputado fulano de tal, como vota o PSDB? Deputado tal, como vota o PFL? Deputado Fernando Gabeira, V. Exª está pronto para dar orientação a sua Bancada?” E a Bancada era apenas o Gabeira. Era um bom humor muito grande. Depois ele me dizia assim: “Olha, Arthur, o Gabeira sozinho vale uma Bancada. Ou seja, eu estava brincando, mas estava também homenageando uma figura que tem valor e respeitabilidade pública.”

Agradeço a V. Exª pelo aparte.

E, agora, Senador Eduardo Suplicy. com muita honra, concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Arthur Virgílio, quero também, em nome do Partido dos Trabalhadores, juntar-me à homenagem que V. Exª e muitos Senadores prestam hoje ao Deputado Luís Eduardo Magalhães, que foi Presidente da Câmara dos Deputados. Registro aqui o respeito com que ele sempre dialogou com pessoas de todos os Partidos. Inclusive, nós, da Oposição, tínhamos com ele uma relação de respeito e amizade. Algumas vezes, visitei-o em seu gabinete. E ele também esteve aqui. Lembro-me de termos dialogado sobre proposições como a de autoria de seu pai, do Fundo de Combate à Pobreza. Naquela ocasião, por volta do ano 2000, funcionava a Comissão de Combate à Pobreza, que era presidida pelo Senador Maguito Vilela e cuja Relatora era a então Senadora Marina Silva. Tive oportunidade de trocar idéias com ele sobre as proposições, quando, inclusive, deu-me muito força para que eu pudesse levar adiante o que depois o Congresso Nacional veio a aprovar. O depoimento que V. Exª dá, sobre a história de Luís Eduardo, é bastante significativo. A minha homenagem é dirigida também ao Senador Antonio Carlos Magalhães, que soube, com tanta altivez, até hoje, usar de toda a energia para mostrar o exemplo de dedicação à vida pública que foi a de Luís Eduardo Magalhães. Meus cumprimentos a V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Eduardo Suplicy. Não tenho nenhuma dúvida de que Luís Eduardo deveria admirar V. Exª, porque V. Exª é de fato um homem público admirável, com a sua seriedade, a sua persistência, o seu vigor cívico, a sua boa-fé, a sua integridade pessoal. Tudo isso faz de V. Exª um homem público de escol, de estirpe a melhor possível.

E a marca de Luís Eduardo era precisamente esta: S. Exª dialogava com o Partido dos Trabalhadores, quando era empedernida Oposição; e dialogava de maneira construtiva e lograva êxitos fantásticos, porque era pura e simplesmente alguém capaz de fazer avançar em pontos de divergência. S. Exª sabia buscar os pontos de convergência, deixando para depois aqueles que eram de divergência mais aguda, e ainda assim estes eram reduzidas ao mínimo que fosse intransponível.

Era esta a sua marca: cheio de amigos por todos os quadrantes, cheio de amigos por todos os lugares, cheio de amigos por todos os Estados, cheios de amigos em todas as Bancadas.

Agradeço a V. Exª pelo aparte. É uma honra muito grande para mim tê-lo nesse discurso.

Concedo um aparte ao Senador João Ribeiro.

O Sr. João Ribeiro (PFL - TO) - Senador Arthur Virgílio, cumprimento V. Exª pela brilhante homenagem que presta a um dos melhores homens públicos da nossa história. Pessoalmente, tive um excelente relacionamento com o Deputado Luís Eduardo Magalhães. Tinha-o como uma figura de homem sério, do político que cumpria a palavra dada, daquele homem da época do “fio de bigode”, como se costumava dizer. Toda vez em que procurava Luís Eduardo Magalhães e fazíamos um trato, comigo ou com a nossa Bancada, S. Exª sempre o honrava. Sempre retornava as ligações telefônicas. Não bastasse isso, o meu Estado, o Tocantins, prestou a ele uma homenagem, colocando seu nome em uma usina hidrelétrica, depois do seu falecimento. Essa foi uma homenagem que prestamos ao Brasil. Realmente, Luís Eduardo Magalhães, como foi aqui dito por todos os oradores e por V. Exª, tinha trânsito em todos os Partidos políticos, na Esquerda, na Direita, no Centro. Era, enfim, um homem de qualidades invejáveis. Portanto, sem querer tomar muito o seu tempo, cumprimento V. Exª, deixando registrado que eu tinha muito carinho, respeito e admiração pelo nosso querido Luís Eduardo Magalhães, que estaria completando hoje 50 anos de idade. Que Deus o tenha num bom lugar! Parabéns pelo discurso.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço a V. Exª, Senador João Ribeiro, pelo aparte e digo-lhe da honra que tive em acompanhar o Presidente Fernando Henrique e o Governador Siqueira Campos em inspeção de obras da usina hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães - homenagem mais do que justa e uma obra pujante, que muda a face econômica no futuro de médio prazo do Estado portentosamente viável do Tocantins.

Tive ocasião de ver isso de perto e lembro-me de tempos de trabalho, de construção, de muita dedicação e, portanto, mais essa lembrança que V. Exª me traz só acrescenta neste discurso.

Concedo um aparte ao Senador Romeu Tuma, com muita alegria.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Arthur Virgílio, já fiz hoje um aparte a um membro do meu Partido, Senador José Jorge, para participar desta homenagem. Mas quero também cumprimentar V. Exª. A suavidade com que, hoje, V. Exª se manifesta dessa tribuna - e concentrou praticamente a manifestação da grande maioria deste Plenário - dá-nos uma impressão espiritual diferente de V. Exª. Quando está na tribuna em momentos de discussão, de agressividade nos debates, V. Exª se exalta, cresce na sua fala. Hoje, a suavidade e o equilíbrio são permanentes. Então, essa espiritualidade que toma conta de V. Exª me faz sentir que o espírito de Luís Eduardo está entre nós. Gostaria que V. Exª sentisse de perto todo esse carinho e essa expectativa, porque não sairei daqui enquanto V. Exª não deixar a tribuna.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço a V. Exª, Senador Romeu Tuma, querido e antigo amigo, com serviços de enorme monta prestados a este País. E dou uma explicação, do amigo e do companheiro: alguns momentos sugerem mesmo a exaltação, a indignação, pois é impossível se perceber o malbaratamento de recursos públicos e não ficar indignado. Ao mesmo tempo, não caberia abordar este tema, que é tão tocante a todos nós, tão lamentável pela perda e tão grandioso pelo exemplo, pela figura histórica que se firma, no mesmo tom. Talvez tivesse que ser mesmo este.

Fico feliz de saber da sua ternura por ele e por mim - aliás, por mim já demonstrada em momento duro em uma determinada época da minha vida pública, quando V. Exª pôde mostrar a mim toda a sua coragem e determinação.

Agradeço a V. Exª pelo aparte e digo que é com muita ternura que me refiro ao falecido e saudoso Luiz Eduardo Magalhães.

Sr. Presidente, encerro, referindo-me a Castro Alves, que morreu aos 24 anos de idade e que fez da sua poesia um exemplo eletrizante e sofrido de uma vida que ia do brilhante ao trágico e do trágico ao brilhante, com uma separação muito tênue entre uns momentos e outros.

Luiz Eduardo também fez da sua curta existência - deixou-nos aos 43 anos de idade - um exemplo de poesia, sim, porque ali temos o romântico, a figura do jovem abrindo caminhos em busca de um País mais justo; temos o drama, a tragédia, a morte prematura de alguém tão saudável, alguém com expectativa de ir tão longe na sua carreira tão vitoriosa; temos, sem dúvida alguma, na poesia, as horas de júbilo, as horas em que sua vida colecionava vitórias.

Mas me dá a impressão muito clara de que, se um viveu uma tragédia, o outro também viveu uma tragédia; se um viveu pouco tempo, mas com muita intensidade, o outro viveu pouco tempo, mas com muita intensidade; se um fez da sua poesia um caminho para uma vida entre trágica e bonita, o outro fez da sua vida pública uma poesia igualmente trágica no fim, mas bonita e brilhante pelos exemplos que nos deixou.

Portanto, é com muito sentimento que, em nome do meu Partido, o PSDB - depois de ouvirmos o Senador Tasso Jereissati, antes de ouvirmos o Senador Sérgio Guerra, antes de ouvirmos tantos Senadores nossos; depois dos apartes do Senador Flecha Ribeiro e do Senador Eduardo Azeredo -, e falando oficialmente como Líder do Partido, digo que, sem dúvida alguma, temos saudade por um lado e, por outro, o dever de acompanhar e seguir exemplos como o de Luís Eduardo Magalhães, que não passou por esta vida em vão. Ele passou por esta vida para que nós, na esteira do seu sonho, aprendêssemos também construir a realidade de um País justo socialmente, pujante economicamente, avançado tecnologicamente e sensível, como sensível era a alma bonita daquele baiano tão querido, Deputado e Presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães.

Era o que tinha a dizer. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2005 - Página 5180