O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil é uma grande Nação. Nenhum de nós duvida disso, e todos nós nos orgulhamos do nosso País.

Entretanto, os próprios brasileiros se esforçam continuamente para colocá-lo entre os países mais incapazes, mais atrasados, em vez de orgulhar-se da terra onde nasceram e onde vivem.

Causa espanto que pessoas nascidas em outros países mais desenvolvidos, tanto do ponto de vista econômico quanto do social, precisem apontar as nossas qualidades.

Estou-me referindo a uma mensagem que está circulando pela rede de computadores e que devia encher nossos corações de brio e de orgulho. Essa mensagem foi escrita por uma holandesa que diz conhecer bastante o Brasil e começa com os seguintes dizeres: “Os brasileiros acham que o mundo todo presta, menos o Brasil. Realmente, parece que é um vício falar mal do Brasil. Todo lugar tem seus pontos positivos e negativos, mas, no exterior, eles maximizam os positivos, enquanto no Brasil se maximizam os negativos”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, creio que essa mensagem é uma espécie de “puxão de orelhas” que estamos a merecer, para que aprendamos a falar das inúmeras qualidades que tem o País em que nascemos e em que vivemos.

O primeiro ponto que a holandesa cita a favor dos brasileiros são as eleições, cujos resultados, aqui, são revelados em pouquíssimo tempo, comparando-se com a Holanda, onde nada é automatizado, segundo a missivista. As eleições em meio eletrônico garantem a lisura dos resultados e a imunidade a fraudes.

Sabemos que as eleições são o esteio da democracia. O sistema brasileiro nos dá muita confiança de que a vontade do cidadão será realmente respeitada. Ponto a favor do Brasil. Estamos à frente de vários países do Primeiro Mundo.

Outro aspecto destacado pela mensagem, que constitui vantagem incomparável para o Brasil, é o sistema telefônico - olhem bem. Aqui, o serviço, mesmo ainda não sendo o ideal, apresenta forte concorrência entre suas prestadoras, infundindo nos usuários a confiança no bom atendimento por parte das companhias. Diz a missivista que, na Holanda, existe apenas e tão-somente uma companhia telefônica. Se o usuário reclamar do serviço, corre o risco de ter o telefone temporariamente desconectado.

A seguir, a responsável pela mensagem em comento passa a listar uma série de exemplos sobre higiene no comércio, o que, pelo visto, nos transforma em campeões nesse quesito. Diz ela que, nos Estados Unidos e na Europa, de modo geral, ninguém tem o hábito de enrolar o sanduíche num guardanapo ou de lavar as mãos antes de comer. Nas padarias, nas feiras e nos açougues, os atendentes recebem o dinheiro e, com a mesma mão suja, entregam o pão e a carne. Em Londres, existe um lugar famosíssimo que vende batatas fritas enroladas em folhas de jornal e que tem filas na porta - segundo a própria articulista, não são palavras minhas. Não é que o Brasil se transformou num dos melhores exemplos para o mundo, porquanto se fiscalizam, com o maior rigor possível - variando em termos de região, logicamente -, as condições de higiene do local e do serviço nos estabelecimentos que comercializam itens de alimentação!

Outro aspecto mencionado é o mau humor dos garçons de Paris, a meca da gastronomia. Afirma a autora da referida mensagem que qualquer garçom de botequim brasileiro poderia ir à capital da França dar aulas de como conquistar o cliente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a diferença é que o povo brasileiro precisa aprender a valorizar o grandioso País onde tivemos a felicidade de nascer. Aliás, hoje há até uma campanha do Governo Lula para aumentar a auto-estima do brasileiro.

É curioso observar que em todo filme norte-americano a bandeira dos Estados Unidos se faz presente de modo ostensivo, principalmente nos momentos em que mais afetam a sensibilidade das pessoas.

Nós, brasileiros, apenas de algum tempo para cá, começamos a mostrar a nossa bandeira. Mas isso ainda está muito restrito aos eventos esportivos, principalmente àqueles esportes em que nos vimos destacando e quando o evento tem relação com a representação nacional, o que é muito pouco ainda.

Quanto à questão da língua, apesar de os brasileiros fazerem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, os produtores de softwares, de informática, por exemplo, já reconhecem que é necessário utilizar uma opção chamada “português do Brasil”. Isso também nos distingue.

Há ainda questões culturais a serem resolvidas. O Brasil possui uma diversidade cultural riquíssima, não valorizada pela população em geral, mas que começa a chamar a atenção dos mais esclarecidos. Aliás, nesse aspecto, cabe lembrar que o próprio Heitor Villa-Lobos viajava pelos confins pátrios em busca de inspiração valiosa nos temas populares. Sabemos que se trata do mais respeitado compositor brasileiro no exterior.

Só o que acabo de relatar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já deveria ser suficiente para encher de orgulho até o mais humilde dos brasileiros, mas ainda há muito mais, segundo a própria mensagem em que me baseio.

O texto traz em seguida dados da Antropos Consulting que exporei em breves palavras.

O Brasil serve de exemplo para o mundo pelo sucesso que vem obtendo no combate à Aids e a outras doenças sexualmente transmissíveis. É uma luta em que devemos reconhecer que há uma participação fundamental do Governo e que a política de saúde adotada para esse fim vem demonstrando eficácia indiscutível.

No universo científico, o Brasil também marca presença, pois é o único País do Hemisfério Sul a participar do Projeto Genoma, que busca descobrir os mecanismos da genética. Os resultados das pesquisas relacionadas a esse projeto podem significar a cura de várias doenças que afligem os seres humanos, entre outras coisas.

Quanto ao nosso principal cartão de visitas no exterior, a cidade do Rio de Janeiro, apesar de todos os problemas de segurança que lhe são atribuídos e que constatamos no dia-a-dia, numa pesquisa envolvendo 50 grandes cidades de diversos países, foi considerada a cidade mais solidária. Essa é uma qualidade, Sr. Presidente, que contrasta demais com a sua fama de cidade violenta.

O Brasil, Srªs e Srs. Senadores, é considerado um país em desenvolvimento. Apesar dessa situação, 40% dos internautas latino-americanos vivem aqui.

No que diz respeito à educação, devemos orgulhar-nos de que cerca de 98% das crianças na faixa etária dos 7 aos 14 anos freqüentam a escola.

Quanto a um ícone dos tempos modernos, que traz conforto e agilidade aos cidadãos no mundo atual, a pesquisa da Antropos Consulting informa que o mercado de telefones celulares do Brasil é o segundo maior do mundo. São 650 mil novas habilitações a cada mês. Considerando-se os telefones fixos, o Brasil ocupa a quinta posição no mundo em número de linhas instaladas.

Temos uma indústria pujante. São quase duas dezenas de fábricas de automóveis, liderando um setor complexo que envolve toda uma cadeia de produção de componentes. Além disso, 6.890 empresas brasileiras possuem certificação de qualidade ISO-9000, o maior número entre os países em desenvolvimento. Basta dizer que, no México, são apenas 300 e, na Argentina, 265 empresas.

Ainda em aspectos que podem servir como diferencial de padrão de vida, a empresa responsável pela pesquisa aponta o Brasil como o segundo maior mercado de helicópteros executivos.

Mas o item que mais deve inflar o ego dos brasileiros entre os apresentados pela empresa, a meu ver, é a informatização do processo eleitoral.

Já nas eleições de 2000, o sistema eleitoral estava informatizado em todas as regiões deste nosso imenso País. Os resultados podiam ser apresentados em menos de 24 horas depois do início das apurações. Esse modelo chamou a atenção, inclusive, da maior potência mundial, os Estados Unidos, que passaram uma imagem de ineficiência em seu sistema eleitoral, já que suas eleições de 2000 tiveram a apuração refeita duas vezes, colocando em xeque a credibilidade do processo.

Mas isso ainda não é tudo, Srªs e Srs. Senadores.

O Brasil é reconhecido há anos como o detentor do sistema bancário mais moderno do planeta. Na publicidade, são incontáveis os prêmios já concedidos a criações brasileiras, colocando nossos profissionais, de forma incontestável, entre os melhores da área publicitária e de marketing do mundo. E, apesar da enorme diferença de renda que separa o Brasil em ricos e pobres, uma parcela muito grande da população encontra disposição para dedicar parte significativa de seu tempo aos trabalhos voluntários, incluindo aí toda a gama de atuações no terceiro setor.

Esse é o povo brasileiro, hospitaleiro e cordial, que se esforça para falar a língua dos turistas, gesticula e não mede esforços para bem atendê-los.

Esse é, também, o povo irreverente, que consegue achar motivo de riso nas próprias desgraças, e que, apesar da vida difícil, consegue disfarçar suas atribulações e, ainda, promover um dos espetáculos mais admirados no mundo inteiro: os desfiles das escolas de samba no período de Carnaval.

Outro fato que a autora da mensagem menciona como exemplo que o Brasil dá para o mundo, apesar de todas as mazelas que o atingem, é a punição aplicada a vários políticos, o que raramente ocorre nos países ditos civilizados.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se me dispusesse a apresentar aqui todas as grandezas e qualidades deste “gigante pela própria natureza”, como diz o hino pátrio, levaria horas, ou talvez dias, de discurso ininterrupto.

Mas minha intenção, neste momento, é chamar a atenção para algumas dessas qualidades e admoestar aqueles que fazem todo o possível para menosprezar e criticar sem razão esta terra abençoada.

Que os brasileiros continuem, sim, com suas características de povo hospitaleiro e alegre, mas que valorizem, cada dia mais, as grandezas que esta terra lhes oferece, orgulhando-se dos símbolos nacionais e aproveitando cada oportunidade para divulgá-los.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.