Discurso durante a 23ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Propostas para o aproveitamento da água no semi-árido nordestino.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Propostas para o aproveitamento da água no semi-árido nordestino.
Aparteantes
Heráclito Fortes, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/2005 - Página 5390
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), NOCIVIDADE, EFEITO, SECA, REGIÃO NORDESTE.
  • DEFESA, REATIVAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), ATENDIMENTO, DIFICULDADE, REGIÃO NORDESTE.
  • COMENTARIO, PROPOSTA, APROVEITAMENTO, AGUA, REGIÃO SEMI ARIDA, REGIÃO NORDESTE.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, meu caro companheiro Mão Santa, por essas palavras. Fico sensibilizado e agradecido ao mesmo tempo.

Quando aqui cheguei, o nobre Senador Heráclito Fortes tratava de uma estrada de ferro, a Transnordestina, que nos beneficia a todos. E todos nós, da Bancada do Piauí, devemos lutar por ela, pois beneficia o nosso Estado e, ao mesmo tempo, Pernambuco, Ceará, e, é evidente, toda a região do semi-árido.

Por falar em semi-árido, abri o Correio Braziliense de hoje e li no caderno Brasil, página 13, reportagem com o título: “A miséria de sempre”. Entre muitas considerações da Unicef, aparece a imagem terrível da seca, com ossos de animais mortos e uma referência ao futuro sombrio das crianças. Mais de 10% das crianças da região apresentam quadro de desnutrição aguda. E a matéria faz referência aos vários programas de assistência à saúde.

Prendo-me aqui ao seguinte fato: o que faz com que os bois morram e as crianças estejam subnutridas é a falta de água. Não se produz nada sem água, não se planta sem água. Pode até não ter adubo, pode até haver pouca semente, mas, sem água, não há nada. Como chove irregularmente, em determinados lugares até menos do que o irregular, disse uma vez e repito: é necessário que a Comissão criada no Senado Federal - a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo - coloque o assunto em debate.

Já existe a Sudene. Quando falo na Sudene, eu me lembro muito bem do irmão do Senador que preside esta sessão. O irmão de V. Exª, Senador Mão Santa, Paulo de Tarso, é um dos grandes técnicos da Sudene, conhece o órgão como a palma da mão. Não sei por que não se reedita a Sudene. Ao invés de criarmos uma comissão, por que não se põe a Sudene para funcionar? Esse órgão tem todos os estudos e, mais do que todos os estudos, tem toda a ciência do que fazer no semi-árido, porque tem mais de 30 anos de existência.

Então, deveríamos juntar esforços no sentido de reeditar a Sudene invés de criar uma comissão, que vai começar levantando dados já existentes nos arquivos da Sudene. A melhor coisa seria reeditá-la.

Sendo assim, meu caro Senador Mão Santa, Senador Heráclito Fortes e todos aqueles companheiros do Nordeste, vamos formar aqui um mutirão em favor do reerguimento da Sudene para que ela volte a funcionar. Numa situação como a de agora, a Sudene tinha um fundo de atendimento para calamidades: secas, inundações.

E, agora, cria-se uma comissão que vai recomeçar a estudar as calamidades. Nem sei quem são os membros; mas respeito quantos tenham sido convidados. Não faço parte dela, porém, conheço bem, como o nosso companheiro Mão Santa, ex-governador, o drama da seca. E o remédio não é tão complicado como parece. Lembrei aqui que os riachos secos são uma solução, uma delas. Por quê? Porque quando está chovendo o riacho tem água - e são milhares de riachos secos no semi-árido. Quando acaba a chuva, eles ficam secos, mas a água está dentro do riacho, seguramente está dentro.

Alguma manobra de engenharia, um pouco de criatividade e se consegue segurar a água dos riachos. Os riachos são reservatórios, como não? Querem ver? O riacho começa numa depressão, já disse aqui e vou repetir. Ele começa em algum lugar numa depressão do terreno, talvez tenha 2km de largura por 1km, ou 2km de extensão, e a água que cai ali vai-se juntando, forma um filete e dali nasce um riacho. Se eu barrar o começo desse riacho, barrar bem no leito dele com uma barragem simples, como quem faz o aterro de uma estrada, só que vou pegar os dois pontos mais altos desses 2km da depressão. Quando eu pegar a cota desse ponto, à direita e à esquerda, sei a altura da barragem que vai passar dentro do pequeno riacho. E aí sabem o que acontece, senhores? A água cai nessa bacia, que eu chamaria barragem de cabeceira. A idéia não é minha, mas de um gênio, de um engenheiro, o Gontijo, a quem tive a felicidade de ouvir e de receber um livro, que me informava sobre tudo isso.

O volume de água é tão grande que é acumulado nos riachos secos. E como os riachos secos percorrem todo o semi-árido, acabam desembocando em algum rio, no mar, sem que tenha tirado algum proveito de suas águas. Mas eu barrar o começo e o final dele. No fim, eu já não barro na superfície, eu abro um buraco de dois metros e meio, em toda a largura do riacho, coloco uma manta plástica e, a partir daí, os filetes que estão secando o riacho em direção ao mar, embaixo da terra, a 1,5 metro de profundidade, ficam retidos na barragem subterrânea, lá no final. Assim, a grande barragem da cabeceira acumula a água que vai para dentro do riacho.

Senhores, isso é uma revolução. Por que não fazer um protótipo?

Eu gostaria de fazer parte dessa Comissão, para propor que barremos um riacho seco. Ainda dá tempo; está chovendo e o riacho está cheio d’água. Fazer essa barragem é simples. Quando secar, ficam milhões de metros cúbicos de água acumulados em cada riacho. Se eu colocar aquele poço amazonas, de roda, de concreto, a uma profundidade de dois metros, poderei buscar água.

Um riacho de 20 quilômetros de extensão acumula milhões de metros cúbicos. Então, se colocarmos um poço cacimbão a cada 300 metros, no leito do riacho, onde tem areia, com energia solar, que tem demais lá - tem muito sol - poderemos encher uma caixa d’água de 15.000 litros diariamente. E os lavradores poderão plantar feijão, regando à mão, como fazem os chineses. Qual é a dificuldade de regar um hectare? Uma família inteira, com as mangueiras na mão, terá feijão, terá mamona, terá comida.

Concedo um aparte ao Senador Heráclito Fortes e, em seguida, ao Senador Mão Santa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Alberto Silva, parabenizo V. Exª pelo pronunciamento, sempre embasado do profundo conhecimento técnico que carrega por toda a vida. Aliás, congratulo V. Exª pela intervenção que fez na Comissão de Serviços de Infra-Estrutura quando da oitiva dos Diretores da ANA (Agência Nacional de Águas), que lá foram se submeter a uma sabatina. A TV Senado hoje nos dá essa possibilidade de ter de imediato a repercussão da fala. Tenho recebido por parte de vários amigos, de várias pessoas com quem tenho me encontrado, felicitações pela maneira segura e firme com que V. Exª expôs a questão da transposição do São Francisco, não de maneira emocional, mas de maneira eminentemente técnica. Eu queria lembrá-lo, já que estamos nessa busca de água e da sustentação da água no solo, que V. Exª tem um projeto que a tecnocracia brasileira ainda hoje vem emperrando e não permitiu a realização, que é a barragem sobre o rio Poti, na região de Castelo. Aquela barragem é uma redenção para aquela região.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Com certeza.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Aquela barragem tem a sua bacia natural...

O SR. PRESIDENTE (Leomar Quintanilha. PMDB - TO) - Senador Heráclito Fortes, permita interromper V. Exª para lembrar ao orador que ele dispõe de mais cinco minutos.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Obrigado.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª conhece, o seu barreamento será feito entre cânions. Então, além de barata, atingirá uma região extremamente necessitada, possibilitando, inclusive, a instalação ali de vários projetos agrícolas. Esse projeto foi idealizado no Governo de V. Exª.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Projetado.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Projetado, idealizado, discutido; já atravessou aí mais três Governos; o Senador Mão Santa lutou para dar conseqüência, o próprio Senador Freitas Neto*, que lhe sucedeu, tentou, mas está emperrado na burocracia. É a hora, Senador, de se juntar isso. Parabenizo V. Exª exatamente por trazer esse problema nesta manhã de sexta-feira ao Senado da República. Parabéns a V. Exª.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Muito obrigado, Senador.

Concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Alberto Silva, atentamente o País e eu estamos ouvindo V. Exª. Eu me lembrava que a história se repete. Senador Heráclito, os militares de então foram até Cícero, ele Senador. Militares fortes, lutadores, cheios de músculos. Conversando com Cícero, eles perguntaram o que seria progredir na vida. Cícero disse-lhes: meus jovens, eu não tenho mais músculos, mas já os tive, porque fui comandante militar vitorioso. Mas agora estou servindo melhor a Roma pela minha experiência, fazendo leis boas e justas. Bastaria citar, Senador Leomar Quintanilha, mens sana in corpore sano, as Catilinarias.

            Eu queria dizer neste momento que a história se repete. Onde está o nosso Partido? Onde estão os aliados do Governo que não vão até V. Exª, como os comandantes militares foram a Cícero, para se aconselharem? V. Exª é que deveria ser auscultado para indicar os Ministros do PMDB. Ai, sim, nós acreditaríamos neste Governo e na Pátria.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Muito obrigado a V. Exª.

Sr. Presidente, concluo fazendo um apelo para os companheiros da Casa no sentido de que lutemos para que a Sudene volte a ser o que foi, o que deve ser para o semi-árido nordestino. Vamos montar aqui um esquema de aproveitamento da água, porque a água cai no semi-árido e uma parte dela se infiltra no chão, outra parte evapora e outra fica dentro dos riachos. Se nós fizermos esse trabalho de barramento da cabeceira do riacho e, no fim do riacho, a vinte quilômetros, fizermos uma barragem submersa que não é uma barragem submersa, mas uma cava no chão com uma manta plástica de dois metros e meio de profundidade, a água que está por baixo do rio não passa mais, fica presa dentro do rio. A que evaporou, evaporou; a que escorreu, escorreu. Mas a que fica presa tem milhões de metros cúbicos. Basta colocar um sistema de energia solar, repito, e um pequeno sistema de tubos plásticos em pequeno número, e cada hectare pode segurar duas famílias.

Eu fiz um cálculo. Em vinte quilômetros de um riacho seco posso colocar duas mil famílias. Como existem mais de mil riachos secos somente no meu Estado, se colocarmos duas mil famílias em mil riachos secos, teremos gente à vontade sem mais passar fome, produzindo comida às margens de um riacho seco que de seco tem apenas o nome, pois a água está dentro. É uma idéia que, espero, podemos concretizar ao mesmo tempo em que vamos lutar pela Transnordestina e pela nossa Câmara de Gestão, para acabar com essa história de tapa-buraco. Vamos fazer estrada e não tapar buraco.

Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/2005 - Página 5390