Pronunciamento de Alvaro Dias em 18/03/2005
Discurso durante a 23ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Registro de matérias publicadas na imprensa a respeito do PT e das Forças Revolucionárias da Colômbia.
- Autor
- Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
- Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
- Registro de matérias publicadas na imprensa a respeito do PT e das Forças Revolucionárias da Colômbia.
- Publicação
- Publicação no DSF de 19/03/2005 - Página 5400
- Assunto
- Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, POSIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, GRUPO, GUERRILHA, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA.
O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em julho de 1990, o PT criou o Fórum de São Paulo para congregar grupos da esquerda latino-americana. Entre eles, estão as Farc. O próprio Presidente Lula se orgulhava do feito. A revista Primeira Leitura, em sua edição na internet, tem publicado textos sobre o fórum e sobre a relutância do PT em admitir as Forças Revolucionárias da Colômbia como terroristas desde dezembro de 2002, antes mesmo de Lula tomar posse.
O PT e o governo Lula negam as denúncias e até mesmo as relações com as Farc, mas não explicam e não provam nada. Esquecem que chegaram ao absurdo de oferecer o Brasil como território neutro para que o governo colombiano se encontrasse com representantes dos narcoguerrilheiros, como se fossem grupos de igual legitimidade.
Isso é muito grave e precisa ser investigado. O governo Lula já tem escândalos suficientes, escândalos inexplicados, já é a rotina, mas a incoerência não tem limite.
Concluindo, Sr. Presidente, requeiro que os artigos acima citados sejam considerados como parte integrante deste pronunciamento, para que passem a constar dos Anais do Senado Federal.
Era o que eu tinha a dizer.
*************************************************************************
DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ALVARO DIAS. EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)
*************************************************************************
Matérias referidas:
“Príncipe moderno e antigo;”
“19/02/2002, “A análise de Lula é uma tolice”;
“23/01/2003, “Marco Aurélio erra outra vez”;
“24/02/2003, “Um desastre internacional”;
“07/05/2003, “Onde as Farc e o PT se encontram”;
“25/08/2003, “As Farc e o PT, ligações perigosas”;
“23/09/2003, “Lula, Bush, Fidel e as Farc... Façamos as nossas escolhas”;
“27/10/2003, “A História Mal Contada do Fórum São Paulo”;
“02/12/2004, “Integra de um discurso de Lula”.
O Estado de S. Paulo, 11/08/2004
Príncipe moderno e antigo
Ipojuca Pontes
Estrategistas do PT fecham o cerco e preparam o terreno para estabelecer as bases práticas da "transição para o socialismo" no espaço nacional. Eles querem que o segundo mandato de Lula, se possível seis meses antes das eleições presidenciais, já encontre a máquina regulada para o exercício do poder institucionalizado dentro dos moldes de uma república popular. Assim, nos últimos meses, por meio de palestras e debates de propostas "transformadoras" efetivadas em reuniões fechadas, ideólogos do petismo situados no governo laboram com afinco para a urgente criação de conselhos, associações e organismos empenhados no "controle do imaginário da nação". Esperam, com eles, objetivar a sustentação de sólida plataforma para o encaminhamento das reformas "moral" (cultural) e "intelectual" (ideológica) da sociedade, a partir das quais seria desfechada a transição ("superação") do Estado burguês para o Estado-classe.
Propostas de projetos como as que resultariam na criação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual) e do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo), que estão sendo encaminhadas ao Congresso Nacional depois de devidamente analisados pela Casa Civil, evidenciam o desejo do governo Lula de ensejar a orientação, a disciplina e a fiscalização dos instrumentos de controle psicossocial, já que detém em grande parte o domínio dos instrumentos políticos e econômicos que conduzem o país. No fundo, são propostas que possibilitam a consolidação do partido-Estado, definido pelo teórico comunista Antonio Gramsci como o "Príncipe Moderno" - tornando-se este, por sua vez, responsável pela afirmação de uma nova ordem social totalizadora.
Com efeito, o próprio Gramsci assim explica o partido-Estado em suas "Notas sobre Maquiavel, a política e o Estado moderno" ("Note sul Machiavelli, sula política e sullo stato moderno" - Istituto Gramsci, 1961): "O moderno Príncipe (partido hegemônico), desenvolve-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que o seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o poder ou para opor-se a ele. O príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume".
No encadeamento da lógica do Príncipe Moderno (como realça, por linhas paralelas, o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, no paper "Subdesenvolvimento e Cultura"), em que se toma a parte pelo todo, o partido-Estado, operacionalizado por conselhos e organismos participativos, apresenta-se como o detentor do poder, da lei e da verdade (conhecimento) para conduzir a sociedade, denegando o adverso (o Outro) como representante demoníaco da democracia burguesa ou do inimigo externo (imperialismo) - o velho bode expiatório capaz de inspirar a unidade e o ódio das massas.
De fato, no arrazoado do partido hegemônico, em que se explora sem peias o mito de uma possível identidade sem divisões, voltada para a "construção da grandeza nacional", o povo distingue-se identificado com o proletariado (a classe trabalhadora), o proletariado com o partido de classe, o partido de classe com a executiva (direção) do partido, e a executiva do partido, por sua vez, com o líder carismático - pois no topo da pirâmide projetada pelo Príncipe Moderno prevalecerá sempre a figura e a vontade do líder, seja ele Stalin, Mussolini, Hitler, Fidel ou mesmo Lula.
Pelo menos na teoria, o Príncipe moderno imaginado por Gramsci viria para se contrapor ao Príncipe de Machiavel, ideário do Estado monárquico que preservava os privilégios das classes superiores sobre a burguesia emergente, o proletariado e as massas do campo. No entanto, moderno ou antigo, na ordem prática das coisas tanto os apaniguados do Príncipe de Maquiavel quanto os de Gramsci, jamais deixaram de abocanhar o produto do suor das massas trabalhadoras, como bem evidenciam a boa vida levada pelas Nomenklaturas da extinta URSS e de Cuba, o parasitismo remunerado dos "senõritos" no México do partido único (o PRI - Partido Revolucionário Institucional") e, no plano local, a existência da privilegiada "casta de serviço" alimentada pela ditadura "revolucionária" do General Geisel e ampliada de forma perversa pela criação e fortalecimento de centenas de estatais, entre elas a Embrafilme, a exaurir o esforço da cadeia produtiva nacional.
É no mínimo urgente que a sociedade e o Congresso Nacional se ponham em alerta quando às pretensões do governo de criar, pela estratégia de aprovação pelo voto, as bases de um Estado totalitário. E é bom não acreditar na oposição das corporações e das elites que vivem das benesses do Estado. Elas, a despeito de tudo, terminam por conviver com os arreganhos do totalitarismo desde que não se toque em seus privilégios. Basta olhar o mundo do Príncipe - antigo ou moderno.