Discurso durante a 24ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Protesta contra falta de cestas básicas e carros-pipa para o Estado de Alagoas.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Protesta contra falta de cestas básicas e carros-pipa para o Estado de Alagoas.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2005 - Página 5581
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, CALAMIDADE PUBLICA, SECA, AUSENCIA, MEDIDA DE EMERGENCIA, DISTRIBUIÇÃO, AGUA, ALIMENTOS.
  • REGISTRO, VISITA, REGIÃO ARIDA, ESTADO DE ALAGOAS (AL), COMISSÃO, CONGRESSISTA, PREFEITO, VEREADOR, GRAVIDADE, MISERIA, POPULAÇÃO, REITERAÇÃO, PEDIDO, LIBERAÇÃO, RECURSOS.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-Sol - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fico com vontade de rir porque quando se abre a sessão aqui no Senado, Senador Geraldo Mesquita, Senador Mão Santa, abre-se com os dizeres “Sob a proteção de Deus”. Com certeza Deus abençoa muito o nosso País. Quanto a isso não tenho dúvida. O problema é a elite política e econômica cínica, dissimulada e carcomida que não ajuda muito Deus lá em cima. E a turma do demônio, então, essa é poderosíssima! Enriquece que é uma coisa absolutamente impressionante pela impunidade aqui definida pelos homens.

Senador José Eduardo Siqueira Campos, os sertanejos do Nordeste e, de forma muito especial, os sertanejos de Alagoas, estavam esperando muito a chuva no dia de São José, como sabe V. Exª, no dia 19 de março. É evidente que os governos irresponsáveis sempre tentam atribuir aos santos no céu a responsabilidade de resolver os problemas aqui na terra. Lembro, com clareza, o que fazia Fernando Henrique: atribuía a São Pedro a crise energética porque chuva não mandou... E agora os sertanejos do Nordeste, especialmente os do sertão de Alagoas, como chuva não veio, mais uma vez se encontram diante de uma situação de dor e miserabilidade crescentes e de forma inimaginável.

Tive a oportunidade de participar, Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Senadores, de uma comissão formada pelos três Senadores por Alagoas que, evidente, não estavam no sertão de Alagoas para conhecer o problema de lá, porque já o conhecem e têm obrigação de fazê-lo - todos nós. A comissão foi, muito mais por um ato simbólico, para analisar a gravíssima situação do sertão alagoano. Essa comissão foi composta não apenas por mim, que sou tratada como inimiga do Palácio do Planalto, mas pelos dois outros Senadores, dezenas de Prefeitos, Deputados e Vereadores. E, além das tais lideranças políticas, estavam lá milhares de pessoas pobres, submetidas, todos os dias, ao constrangimento de ter na mão um candeeiro ou uma lata velha, seca, vazia, porque água não há no sertão.

Senador Geraldo Mesquita, lembro-me do olhar dos pobres da região que nossa comissão visitou. Era um olhar que oscilava entre a surpresa de ver aquela multidão de lideranças pelo sertão seco, pobre, marginalizado, e a esperança. Acreditavam que aquela visita de pessoas supostamente tão importantes traria alguma providência emergencial. A própria regulamentação fala em estado de emergência, mas deveria falar em estado de calamidade. Estivemos lá, fizemos uma visita, e discutimos alternativas extremamente importantes.

Para surpresa de todos nós, Senador Mão Santa, nem sequer as migalhas que o estado de emergência garante, as migalhas dos carros-pipas e das cestas básicas - que muitas vezes servem para que as tais lideranças políticas ludibriem a população pobre cadastrando sua corriola e deixando para trás os outros, igualmente pobres -, nem essas foram liberadas. Imaginem as obras necessárias, as obras de infra-estrutura, as obras para recuperação de barreiras, de barragens que foram destruídas pelas chuvas de alguns meses, a liberação de recursos para a construção de novas adutoras, para a reconstrução de outras adutoras! Absolutamente nada foi liberado. É por isso que fico extremamente solidária ao pronunciamento de V. Exª que aqui mostrou de forma comprometida e competente a situação financeira do Brasil. Infelizmente vivemos num País onde é tudo para os banqueiros, os sofisticados parasitas sem pátria que, em conluio com os gigolôs do Fundo Monetário Internacional, tomam para si mais da metade da riqueza nacional; e os sertanejos de Alagoas e do Nordeste nem sequer as migalhas dos carros-pipas e das cestas básicas puderam ter, se apropriar, não como sinônimo de riqueza, mas simplesmente para minimizar a sua dor, o seu sofrimento.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mais uma vez faço aqui um apelo para a liberação dos recursos tão necessários diante de uma crise gravíssima por que passa o sertão de Alagoas, por que passa o Nordeste de forma geral.

É só, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2005 - Página 5581