Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração pelo aniversário de 456 anos da cidade de Salvador-BA.

Autor
César Borges (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Comemoração pelo aniversário de 456 anos da cidade de Salvador-BA.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2005 - Página 6732
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, SALVADOR (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), REGISTRO, HISTORIA, PERIODO, COLONIZAÇÃO, IMPERIO, REPUBLICA, ELOGIO, GESTÃO, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX PREFEITO, EX GOVERNADOR, MODERNIZAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, SANEAMENTO BASICO, RECUPERAÇÃO, PATRIMONIO HISTORICO.
  • REIVINDICAÇÃO, CONCLUSÃO, OBRA PUBLICA, METRO, MUNICIPIO, SALVADOR (BA), ESTADO DA BAHIA (BA).

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero registrar, nesta tarde, a passagem de mais um aniversário da capital do meu Estado, Salvador, hoje a terceira maior cidade do País, com dois milhões e seiscentos mil habitantes. Salvador foi fundada por Tomé de Souza para ser a capital do Império colonial português. Localizada em um sítio de inigualável situação geográfica, Salvador, por mais de 200 anos, foi a capital do nosso País, o grande entreposto comercial de toda a América do Sul que deu apoio ao desenvolvimento de toda a América do Sul e às conquistas portuguesas e espanholas.

Salvador nasceu, como todos sabemos, da decisão portuguesa para que o empreendimento colonizador pudesse se efetivar no País.

Quando Tomé de Souza aportou na baía de Todos os Santos, trazia um desenho urbanístico básico da cidade, que vinha inclusive com o seu nome - Cidade de Salvador - e seu brasão - a pomba que volta à arca de Noé -, escolhidos previamente pelos portugueses.

A sua riqueza cultural se manifestou desde então. A cidade conheceu os sermões do Padre Vieira, um dos maiores pensadores da língua portuguesa de todos os tempos, que fez o noviciado no Colégio dos Jesuítas.

Vieira pregava nos púlpitos enquanto nas ruas o maior poeta barroco, o chamado “boca do inferno”, Gregório de Matos, satirizava os maus costumes - desde aquela época, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores - públicos e privados.

Durante boa parte do século XVIII, a capital da Bahia permaneceu a mais rica e mais populosa cidade do império português, depois de Lisboa, superando inclusive Coimbra e o Porto.

Vejam como Salvador estava inserida na história mundial. Por lá passou Charles Darwin, segundo o qual Salvador trazia consigo a sensação que ele jamais imaginaria experimentar outra vez, tão grande era o prazer de estar naquela cidade.

Relatos de inúmeros viajantes descrevem, em termos grandiosos, essa cidade, que nos seus aspectos mais singulares - Cidade Alta, Cidade Baixa, igrejas, fortes - estava completamente estruturada e assim permanece até hoje, como se aquele viajante do século XVIII falasse em nossos dias.

Salvador também tinha àquela época a maior concentração negra fora da África, numa transplantação sem igual no mundo, o que fez Mãe Aninha, fundadora do Ilé Axé Opô Afonjá, nos batizar como a Roma Negra.

Estava, então, formada a cidade que conhecemos hoje. Ela vem exatamente desse passado. Esse desenho humano e arquitetônico se cristalizou em um longo ciclo de isolamento, iniciado aos poucos com a mudança da capital colonial para o Rio de Janeiro e perdurou até o século XX. Há quem afirme, como o festejado antropólogo baiano Antonio Risério, que foi o isolamento de Salvador, após deixar de ser a capital do País, que plasmou o que chamamos de baianidade. O que aconteceu é que o espaço geográfico, isolado de outras influências, trouxe para Salvador esse caldo cultural que lhe é peculiar e o sedimentou como um traço fundamental e particular de toda a comunidade. A descoberta do petróleo no recôncavo baiano fez, na década de 50, Salvador acordar desse longo sono. Foi um despertar ruidoso, acelerado, capaz de implantar o equivalente a seis novas cidades nos últimos cinqüenta anos, a partir de planos urbanísticos traçados ainda na primeira metade do século XX pelo engenheiro Mário Leal Filho. Nesse período Salvador teve o maior crescimento demográfico de todas as capitais brasileiras com conseqüências que afetam sua população até hoje, em termos de infra-estrutura urbana, de emprego e de inclusão nos serviços públicos.

Enquanto na primeira metade do século XX Salvador era a capital com as menores taxas anuais de crescimento populacional - 0,2% entre os anos 20 e 40 -, a partir dos anos 50 a situação se inverteu e a cidade alcançou taxa de até 4,6%. Em 1950, tinha 400 mil habitantes, hoje tem 2.600 milhões.

Coube a um jovem prefeito, quando a expansão da economia e da população estrangulava o sistema viário da cidade, comandar a modernização de Salvador. Aquele jovem prefeito, o atual Senador Antonio Carlos Magalhães, fez uma administração que marcou época e permitiu à cidade voltar a respirar e a pulsar.

Especialistas em planejamento urbano deram seu testemunho sobre o que viram ocorrer em Salvador. Disseram que em março de 1967, o novo prefeito de Salvador tinha prometido uma revolução na gestão do Município; cumpriu com a palavra, pois seu governo não foi marcado por uma evolução ou mesmo por uma transformação rápida, mas, sim, por um verdadeiro quebra física e psicológica com o passado.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o mais interessante é que coube àquele mesmo prefeito, aí já Governador do Estado de terceiro mandato, resgatar o passado e realizar a monumental recuperação do que hoje conhecemos como o maior conjunto colonial do mundo, que é o nacional e internacionalmente conhecido Pelourinho. Preparada para o futuro, Salvador ali se reconciliava com suas tradições.

Claro que esse crescimento espetacular gerou desajustes; desajustes esses que os baianos vão consertando pouco a pouco. Graças ao programa Bahia Azul, por exemplo, o maior programa de saneamento ambiental do País, Salvador deixou de ser, na década de 90, a maior cidade da América Latina sem saneamento para hoje alcançar uma cobertura que a coloca entre as primeiras em saneamento básico, lado a lado com as capitais mais desenvolvidas deste País, as capitais do Sul.

No setor de transporte público, entretanto, a cidade ainda carece de muitas intervenções. É a única grande capital que não conta com um transporte de massa. Conseguimos financiamento do Banco Mundial para iniciar a obra do metrô, mas, infelizmente, o Governo Federal, na atual gestão do Partido dos Trabalhadores, praticamente suspendeu os repasses de sua contrapartida, e hoje a construção se encontra praticamente paralisada.

O que queremos, quando se comemora mais este aniversário da cidade, é a reativação plena da implantação do metrô. Seria um grande presente que o Presidente Lula, que teve uma votação muito expressiva em Salvador, poderia dar ao cidadão soteropolitano. Esse seria o melhor presente, sem sombra de dúvida, que a cidade de Salvador desejaria ganhar: o Presidente poderia garantir a conclusão dessa obra ainda no seu Governo. E há tempo, Sr. Presidente, há tempo, se houver vontade política e compromisso do atual Governo com a capital que apoiou o Presidente Lula com o maior percentual, para sua eleição, entre as capitais brasileiras.

E esse, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é o presente que a cidade tanto merece. Infelizmente, entretanto, parece que não vai ganhar, porque os interesses do Governo não são esses. Neste momento, quando Salvador comemora mais um ano de aniversário, o Presidente está na Venezuela. Foi falado que Sua Excelência poderia estar visitando Salvador e anunciando obras para essa capital, que é a terceira maior cidade do País, levando recursos para a conclusão do metrô, mas Sua Excelência está na Venezuela e, na verdade, fica com esse débito imenso com a população da capital do meu Estado. Essa, infelizmente, é a realidade, mas tenho certeza de que Salvador, com a bravura do seu povo, com o empenho, com a determinação e união de todos para construírem uma sociedade mais justa, poderá resolver seus graves problemas de desigualdades sociais e de ocupação desordenada do solo urbano e avançar na construção de uma sociedade melhor para todos os habitantes daquela cidade.

Mas nem por isso, Sr. Presidente, deixamos de dar um grande abraço e desejar um futuro bem melhor para a nossa capital.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2005 - Página 6732