Discurso durante a 29ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a matérias publicadas pela mídia, recentemente, sobre a reforma ministerial.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXECUTIVO.:
  • Comentários a matérias publicadas pela mídia, recentemente, sobre a reforma ministerial.
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2005 - Página 7009
Assunto
Outros > EXECUTIVO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, INCOERENCIA, GOVERNO, REFORMULAÇÃO, MINISTERIO.
  • QUESTIONAMENTO, AUTORIDADE, COMPETENCIA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, REFORMULAÇÃO, MINISTERIO, ATENDIMENTO, INTERESSE, POLITICA PARTIDARIA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no recente episódio da pretensa reforma ministerial, o Presidente Lula subverteu os ensinamentos de Maquiavel. O bem, ensinou o filósofo italiano, se faz aos poucos; o mal, de uma vez. Seria demais, porém, esperar que o presidente da República tivesse lido “O Príncipe”, ele que dizem ser avesso a leituras.

E como nada lê, o presidente semeou o mal, em conta-gotas, na malograda tentativa de reformular seu Ministério. Por seis meses, fritou o deixou que fritassem vários ministros. Ao final, passou a guilhotina apenas pela cabeça de nosso colega Amir Lando, que com brilhante folha de serviços prestados à Nação, não merecia esse tratamento indigno.

            Os outros, os que estavam publicamente demitidos, como é que ficam? Eles obviamente não se iludem. Sabem, como todo mundo sabe, que estão com a cabeça cortada. Só não caíram agora, como o próprio Lula disse, pelo chamado efeito Severino. O presidente da Câmara lançou um desafio ao presidente da República e Lula ficou sem saber como sair do imbróglio que armou em torno da tão anunciada reforma ministerial, utilizou-o como pretexto para tomar fôlego. Paralisou tudo e tudo foi para o beleléu. Por algum tempo. Ninguém sabe.

Enquanto esse tempo não passa, alguns Ministérios estão com ministros sem cabeça. São fantasmas, sem autoridade, sem sequer auto-estima. Sua competência foi posta em xeque publicamente. Os funcionários, que sabem estar o chefe de saída, talvez já nem os respeitem. É possível que até os homens do cafezinho, como jocosamente se diz, estejam passando ao largo dos gabinetes.

Se o Ministério já não era bom, não funcionava bem, e essa deveria ser a razão para o presidente da República buscar novos nomes, mais talentosos, mais capazes, que dirá agora, quando está mortalmente ferido, com ministros ressentidos pela fritura a que foram, por meses, submetidos perante toda a Nação?

O grande vexame em que se transformou toda essa soberba virou também assunto para chacota nacional. A colunista Eliane Cantanhede, da Folha de S.Paulo, diz que foi o Ministro Dirceu quem articulou toda a não-reforma. E levou de cambulhada o próprio Lula.

O Presidente, que comprovadamente não leva jeito de administrador, mostrou que nem também sabe se conduzir com a autoridade que seria de se esperar de um governante.

O que ele fez foi tratar mal, muito mal, todas essas pessoas com acenos tíbios, afinal reduzidos a uma mazorca de bom tamanho. Lula fez tudo que não devia fazer. E apequenou-se, numa mini-reforma que, como diz o título de reportagem da revista IstoÉ, não passou de uma reforma que pariu um sapo.

O sapo, ele que o engula. Afinal, ao vencedor, as batatas.

As contribuições dessa grande atrapalhação para o anedotário nacional estão registradas na reportagem da IstoÉ. A revista não poderia escapar do uso das palavras e frases que mais se familiarizam com esse espetáculo de breguesse. E aponta, desde logo, quem foi para o brejo: Severino Cavalcanti, José Dirceu, José Sarney, João Paulo Cunha e Roseana Sarney.

Pode parecer incrível, mas está nas páginas da revista, com toda a boa técnica jornalística. É o relato do que houve depois que disse em Curitiba o Presidente da Câmara, no desafio a Lula: ou nomeia o Ciro ou espere para ver.

Segundo a IstoÉ, Lula, dando uma de menino pirracento, chamou Severino para conversar no Palácio do Planalto:

Você disse isso, Severino?

Disse, Presidente, disse mesmo; mas não quis botar faca no seu pescoço. Mas se o Senhor não nomear o Ciro ministro, eu vou chamar os meus 300 meninos e vou derrubar a MP 232.

Severino ficou a ver navios. Mas a MP acabou no lixo.

O baixo nível não pára aí. À noite - ainda segundo a Revista, Lula, numa conversa com o presidente do PTB, Deputado Roberto Jefferson, disse-lhe:

Jefferson, dá uma porrada no Severino.

Jefferson não deu.

            Segue o enterro. No dia seguinte, como narra a revista, Lula desabafou:

Não posso aceitar a pressão de ninguém. Se eu ceder, acabou o Governo.

Governo fraquinho está aí!

Além da IstoÉ, também a Revista Época abre espaço para a triste história dessa reforma do tipo batalha do Itararé, a batalha que não houve. A matéria traz inclusive uma ilustração dessas muito usadas em joguinhos de pique-esconde. O jogo da não-reforma começa com a Senadora Roseana Sarney: O Planalto sondou Roseana Sarney para seis Ministérios. Ela topou sair do PFL, mas, no final, poucos foram tão maltratados por Lula quanto ela.

            De vaga em vaga, o jogo da velha contempla Ciro, Olívio Dutra, Aldo Rebelo e termina com Severino. Na última casa, sugere: Pode haver vaga no Ministério das Comunicações. Jogue de novo!

O título da reportagem da Época é Naufrágio em Brasília. E faz lembrar o comandante do navio que, em meio a uma tempestade em alto mar, permanecia a bombordo, ignorando o que a tripulação fazia a estibordo. Naufrágio certo.

Solicito que as matérias das revistas mencionadas integrem este pronunciamento e assim passem a constar dos Anais do Senado.

Era o que eu tinha a dizer.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Revista Época, pgs.29, 30, 31, 32.”

“Revista Istoé, pgs. 24, 25, 26, 27.”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2005 - Página 7009