Discurso durante a 31ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre o pontificado do Papa João Paulo II.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reflexão sobre o pontificado do Papa João Paulo II.
Publicação
Publicação no DSF de 02/04/2005 - Página 7324
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, PAPA, ELOGIO, VIDA, HISTORIA, LIDER, IGREJA CATOLICA, SOLIDARIEDADE, RECUPERAÇÃO, SAUDE.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço a gentileza de V. Exª, Sr. Presidente, que é uma figura hoje, graças à TV Senado, conhecida no Brasil inteiro. No Rio Grande do Sul, muitos companheiros me perguntam que tal é o Mão Santa. Dizem que V. Exª capta o sentimento popular, que fala o que o povo sente e diz o que o povo gostaria de ouvir. Respondo que o Mão Santa é uma das criaturas mais dignas, corretas e honestas que conheço. E perguntam: “Por que Mão Santa?”. Mão Santa porque, antes de ser político, ele era médico, um médico tão extraordinário, tão competente, tão caritativo, cujas cirurgias salvaram tanta gente, que a população do Piauí lhe deu o nome de Mão Santa, que leva até hoje.

Sr. Presidente, vim aqui para continuar o discurso de ontem, pois não tive condição de, em dez minutos, fazer uma análise completa do Movimento de 1964. Antes, porém, de tentar fazer qualquer discurso, tenho que manifestar a angústia que trago no peito com as notícias que vêm de Roma. Na verdade, a última informação que recebi, antes de subir à tribuna, foi de que o cardeal encarregado de anunciar ao mundo a morte do Papa - que isto não aconteça - já estaria no Vaticano e de que as condições de Sua Santidade são realmente muito graves.

O Papa João Paulo II escreveu seu nome na história do nosso País, na história de muitos países, na história da humanidade. Um homem simples, não-italiano, vindo do mundo comunista, chegou ao Vaticano e estabeleceu o seu estilo de governar, o seu estilo de orientar a sua Igreja, o seu estilo de falar, não apenas aos seus fiéis católicos, mas aos seus irmãos do mundo inteiro, uma linguagem de paz, uma linguagem de respeito. Foi às Nações Unidas, falou à ONU, falou ao mundo inteiro, disse que somos todos irmãos e que, como irmãos, devemos nos dar as mãos, que as grandes nações têm a obrigação de olhar para os que mais precisam, que os bens que temos na Terra são bens que Deus colocou à disposição de toda a humanidade e que sobre eles há uma hipoteca divina. Podemos usá-los, sim, podemos buscá-los para o nosso bem, podemos crescer, podemos desenvolver, mas não podemos fazer isso à custa da fome, da miséria dos outros.

Falou o Papa, e foi a primeira pessoa, a primeira autoridade que falou assim, e hoje já são muitos os que o repetem. Falou da obrigatoriedade das grandes nações, de as nações ricas se comprometerem com o problema da miséria, com o problema da fome, com o problema da injustiça social. Chamou ele a atenção para o absurdo de, em uma época de paz como a que estamos vivendo, terminada a Guerra Fria, gastar-se em armamentos. E aquilo que se gasta em armamentos seria mais do que suficiente para resolver o problema da fome no mundo. A grande verdade é que parece que os homens se esqueceram de Deus, parece que se esqueceram de olhar para os lados. A vida é tão agitada! É tão difícil para alguém da classe média e da classe pobre, com dignidade, que tem trabalho, ir à luta para se manter, para sobreviver, que às vezes não temos tempo de olhar para o lado, não temos tempo de ver que somos irmãos e que esta é uma caminhada que temos que fazer juntos para que tenhamos êxito.

Foi neste mundo cruel e injusto que João Paulo II desenvolveu o mais longo período de um Papa, que, com bondade, com amor e com fé, governou para todos. Ele foi a Israel, foi ao Oriente Médio e apelou pela paz, que parece estar chegando agora. Falou aos árabes, aos católicos, aos maronitas, aos muçulmanos e aos irmãos israelitas, pedindo que Jerusalém fosse considerada uma cidade internacional, que Israel fosse respeitado em seu direito de liberdade e de soberania pelos países árabes, e que os palestinos também tivessem direito à sua pátria.

O Papa esteve no Brasil. É impressionante como o Rio Grande do Sul se apaixonou por Sua Santidade, que tomou chimarrão, colocou um pala de gaúcho e disse: “Tchê, o Papa é gaúcho.” E os gaúchos enlouqueceram. É a figura mais marcante na história do Rio Grande do Sul.

Lembro-me também de sua visita à Esplanada dos Ministérios. Lembro-me de quando, Governador do Rio Grande do Sul, tive a emoção maior da minha vida. O Arcebispo Dom Cláudio convidou-me a acompanhá-lo em sua ida a Roma a fim de trazer a estátua de Nossa Senhora Mãe de Deus, que o Papa doava a Porto Alegre, para ser colocada no Santuário da Madre de Deus.

Sou muito sincero, não porque sou católico ou porque sou cristão, mas a fisionomia do Papa, a maneira de falar, a bondade de expressar, no momento em que benzeu aquela estátua, que a entregou, ele se lembrou: “Olha, o Papa é gaúcho, não se esqueçam!”.

E falando com outras pessoas que tiveram a oportunidade de ter uma audiência pessoal com o Papa, todos dizem realmente isso: “Ele tem os dons do Espírito Santo em si”. Ele é uma figura que está vivendo uma vida já espiritualizada. E é bom para quem sofre, é bom para quem tem uma dor, uma tristeza, uma mágoa, olhar o sofrimento do Papa. Um homem atleta, acostumado a nadar, esportista, um homem de uma saúde espetacular, que sofreu um atentado, e fez questão, depois, de visitar na cadeia quem cometeu o atentado, e de perdoar. Nunca mais foi o mesmo. Sua saúde foi decaindo, decaindo...

Ele poderia renunciar - há, dentro da Igreja, a perspectiva de uma renúncia -, mas responde que sua obrigação é, enquanto agüentar, ficar.

E é então que nós nos perguntamos: “Se Deus existe, se Ele é bom e se existe para fazer o bem, por que uma pessoa como Sua Santidade o Papa vive tremendo sofrimento, de tanto tempo?”. É que temos que entender que nosso Deus nos reserva, efetivamente, uma vida além desta. E, muitas vezes, a vida, o sacrifício, a dor e o sofrimento são para que mais puros, mais transparentes na beleza e no brilho que transferem para fora, essas pessoas cheguem logo do lado de Deus.

Eu, que sou franciscano, sempre me comovo ao ver a vida de São Francisco, porque foi uma vida em que ele pedia para sofrer. Pediu as chagas de Cristo, e teve as chagas. E parecia que, por mais que sofresse, mais queria sofrer para ser digno de imitar a vontade de Cristo.

Acho difícil encontrar alguém que tenha alcançado tamanha unanimidade como Sua Santidade, o Papa. Podem os muçulmanos, os turcos, os árabes, os judeus, os israelitas e os maronitas estar em guerra total, mas duvido que alguém tenha uma palavra contra o Papa. Pode o Governo americano ter restrições aqui e acolá, mas duvido que alguém tenha uma palavra que não seja de respeito ao Papa. Ricos e pobres, brancos ou negros, jovens ou velhos, aprendemos a conviver até com a imagem do Papa na cadeira de rodas, movendo-se dificilmente, mas falando. Falou o quanto pôde, inclusive entubado, falou até o momento em que a voz não saiu. Sua Santidade fez um gesto, e o povo que estava na praça sentiu o que o Papa queria dizer. E compreendeu.

Rezo para que Deus olhe para o nosso Papa, embora não saiba se tenho o direito de pedir para que o Papa continue no seu martírio. Deus é profético, poderia reduzir o sofrimento dele e dar a ele mais algum tempo de vida, porque o Papa não morre, o Papa não nos deixaria numa hora boa. Nunca o mundo precisou tanto de uma palavra de paz, de amor, de credibilidade, de firmeza como tem sido a palavra do nosso querido Papa.

Que bom, eu que passarei esta semana aqui em Brasília rezando, se segunda-feira eu puder dizer: o Papa se recuperou, o Papa melhorou. Deus assim quis. Mas seja o que for, o Papa fez por merecer a santidade aqui na Terra. Fez por merecer o respeito aqui na Terra, porque ter a autoridade, o poder, a credibilidade, a respeitabilidade do mundo e tudo isso não o abalar, e deixá-lo com a mesma simplicidade, fazer com que entendesse e desse prioridade ao que é importante... Nunca o Papa disse que havia algo mais importante do que resolver o problema das crianças que estavam morrendo de fome. Nunca o Papa achou que havia algo mais importante do que os países que vivem na fome e na miséria. Saber se conservar, saber ser o mesmo sempre, do início ao fim, essa é a missão de um grande homem, que está conosco não sei até quando, que estará conosco em pensamento pela vida afora.

Eu fico por aqui, Sr. Presidente. Não estou em condições de falar sobre 1964. Eu levo o meu abraço muito afetivo e também as nossas orações a Sua Santidade. E tenho certeza de que falo em nome de todo o Senado.

Ontem, V. Exª disse, desta tribuna, que se leva um minuto para rezar o Pai-Nosso. Que todos nós possamos, neste minuto, rezar um Pai-Nosso pela vida, pelo descanso e pela paz do nosso Papa.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. REGINALDO DUARTE (PSDB - CE) - Sr. Presidente...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Convidamos o Senador Pedro Simon a rezar o Pai-Nosso, da tribuna. Nós o acompanharemos, de pé.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Rezemos o Pai-Nosso:

Pai-nosso, que estais no céu,

santificado seja o Vosso nome,

venha a nós o Vosso reino,

seja feita a Vossa vontade

assim na Terra como no céu.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje,

perdoai as nossas ofensas,

assim como nós perdoamos aqueles que nos tem ofendido.

Não nos deixeis cair em tentação,

mas livrai-nos do mal.

Amém.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eu relembraria que o Piauí é abençoado, Senadora Heloísa Helena, pois, quando o Papa lá esteve, eu era Governador e fui convidado pela Igreja a receber em nome dos piauienses a benção papal. Acompanhava-nos o hoje Senador Eduardo Azeredo; naquela época, Governador do Estado de Minas Gerais.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/04/2005 - Página 7324