Pronunciamento de Lúcia Vânia em 05/04/2005
Discurso durante a 33ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Considerações sobre o Mal de Chagas.
- Autor
- Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
- Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SAUDE.
POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
- Considerações sobre o Mal de Chagas.
- Publicação
- Publicação no DSF de 06/04/2005 - Página 7460
- Assunto
- Outros > SAUDE. POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
- Indexação
-
- ANALISE, SITUAÇÃO, INCIDENCIA, EFEITO, DOENÇA DE CHAGAS, REGISTRO, PESQUISA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), OBJETIVO, ERRADICAÇÃO, TRANSMISSÃO, DOENÇA GRAVE, PARTICIPAÇÃO, CIENTISTA, NACIONALIDADE BRASILEIRA, PROJETO.
- IMPORTANCIA, APROVAÇÃO, SENADO, LEGISLAÇÃO, SEGURANÇA, BIOTECNOLOGIA, GARANTIA, PESQUISA, EMBRIÃO, BENEFICIO, TRATAMENTO, DOENÇA GRAVE, ESPECIFICAÇÃO, DOENÇA DE CHAGAS.
- COMENTARIO, APROVAÇÃO, SENADO, LEGISLAÇÃO, INOVAÇÃO, TECNOLOGIA, BENEFICIO, INVESTIMENTO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, EMPRESA.
A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nas últimas semanas o Brasil voltou a falar em uma doença que mata, por ano, mais de 33 mil pessoas e que tem 6 milhões de casos de brasileiros infectados. É o Mal de Chagas, considerada pelos especialistas como uma doença negligenciada pelas autoridades apesar de todo seu impacto na saúde pública.
Todo esse interesse surgiu devido à morte de três pessoas e à contaminação de outras 21 pelo protozoário Tripanozoma cruzi, em decorrência da ingestão de caldo de cana no Estado de Santa Catarina, no mês passado. O tripanozoma teria sido triturado junto com a cana que é o elemento produtor do caldo.
No Amapá, 29 pessoas também contraíram a doença este ano, sendo que 26 foram contaminadas depois de ingerir suco de açaí. Surtos parecidos já ocorreram no Rio Grande do Sul e na Paraíba. O contágio por alimentos é raro, mas agora os pesquisadores começam a se voltar também para esta forma de infestação.
Em sua forma grave que pode durar de 10 a 15 anos, o paciente pode ficar incapacitado para o trabalho, inclusive aposentando-se mais cedo, apesar de estar numa idade ainda considerada produtiva.
Há, no entanto, uma notícia que pode trazer esperança aos milhões de pacientes do Mal de Chagas e aos abnegados pesquisadores brasileiros, que há tantos anos se dedicam a encontrar maneiras de combater o mosquito transmissor da doença.
Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos aprovaram projeto de pesquisa com o genoma do “barbeiro”, o Rhodnius prolixus. Mais da metade dos cientistas envolvidos no projeto é de brasileiros.
Integram o projeto, no Brasil, cientistas do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ e da Fundação Oswaldo Cruz. Eles contam com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj)
O mal de Chagas é causado pelo protozoário Tripanozoma cruzi , e seu transmissor é o barbeiro. O projeto financiado pelos Estados Unidos tem por objetivo descobrir como impedir o barbeiro de transmitir o protozoário.
O presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica e pesquisador do Laboratório de Biologia Molecular e Celular de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcelo Morales, afirma que a presença do Brasil no projeto é fundamental.
O cientista, que é um dos coordenadores do projeto genoma do barbeiro no Brasil, explica que nosso país detém excelentes conhecimentos no assunto.
Não é para menos. O Brasil dedica-se à pesquisa da doença há décadas. O Mal de Chagas foi descoberto em 1909 pelo médico sanitarista brasileiro Carlos Chagas e daí para cá as pesquisas não pararam mais.
A notícia sobre o financiamento deste projeto não poderia chegar em melhor hora. Ela confirma os avanços do Brasil na área de pesquisa, ganhando visibilidade, excelência internacional e, o que é mais importante, aumentando o número de pesquisadores de uma forma nunca antes conseguida.
A este fortalecimento da pesquisa nacional, o Parlamento brasileiro não poderia deixar de mostrar-se sensível.
O Senado Federal aprovou no ano passado e a Câmara dos Deputados confirmou, há poucos dias, a Lei de Biossegurança, garantindo a pesquisa com as células-tronco embrionárias sob determinadas condições.
Foi uma sábia decisão tomada pelos parlamentares do Congresso Nacional, que demonstraram sua sensibilidade frente ao clamor de pacientes e familiares de portadores de inúmeras doenças que poderão se beneficiar das pesquisas a serem realizadas daqui para frente.
O Mal de Chagas é uma delas.
Em novembro de 2004, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, em Salvador, apresentaram resultado positivo de experiências com células-tronco em pessoas com Mal de Chagas.
A experiência foi realizada em um paciente com sérios problemas cardíacos devido ao Mal de Chagas.
Os médicos retiraram 50 mililitros da medula óssea do paciente, purificaram durante uma hora e injetaram 240 milhões de células-tronco em três artérias para revestir seu coração.
Os resultados foram além do previsto: o paciente, que não conseguia mais respirar direito porque o coração perdera a capacidade de bombear sangue, já conseguia subir escadas, pegar peso e respirar normalmente.
Este é apenas um exemplo dos caminhos que se abrem para as pesquisas médicas no Brasil com a aprovação do projeto de Lei da Biossegurança.
Projetos como este que envolveu as células-tronco para tratar um coração lesionado pelo Mal de Chagas e o do genoma do barbeiro, financiado por um instituto norte-americano, mostram que o Brasil tem nomes mais do que capacitados para estar na linha de frente de grandes pesquisas nacionais e internacionais.
É preciso, agora, garantir oportunidades para esse capital humano tão precioso.
A ciência brasileira tem inúmeras vertentes que precisam de incentivo para prosseguir nesta caminhada rumo à excelência de seus trabalhos científicos.
Desde 1990, triplicou o número de cientistas nas instituições de pesquisa, segundo dados do CNPq, passando de 20 mil para 60 mil, sem contar aqueles que atuam em empresas privadas, cerca de 30 mil.
Também dobrou o percentual de artigos assinados por brasileiros em revistas internacionais indexadas e quintuplicou o total de novos doutores formados anualmente no país.
O Brasil é líder na América Latina em publicação de artigos científicos, e um dos 20 países do mundo com mais de 10 mil artigos por ano publicados em revistas indexadas.
No final do ano passado, o Senado Federal aprovou a Lei de Inovação Tecnológica. Ao sancioná-la, o presidente da República garantiu que o Brasil seria outro dali para frente, e que inovação seria a palavra-chave dos nossos tempos.
Ao mesmo tempo, o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, afirmou que a nova Lei vai servir de estímulo ao setor produtivo, promovendo o aumento dos investimentos em ciência e tecnologia por parte das empresas.
Segundo o ministro, as instituições públicas respondem, hoje, por mais de 60% dos dispêndios nacionais em pesquisa de novas tecnologias. Cerca de 73% dos cientistas atuam em instituições públicas e apenas 11% nas empresas privadas. O ministro garantiu que a Lei de Inovação veio para mudar esse quadro e incentivar a emancipação tecnológica do país.
Queremos acreditar nas palavras do presidente e do ministro. O Brasil precisa de mais empresas de base tecnológica, mais investimento privado na pós-graduação e maior aproximação entre as universidades e as indústrias.
Mas certamente isso tudo só será possível com estabilidade, crescimento consistente, geração de empregos e consolidação da economia.
Obrigada.