Pronunciamento de Lúcia Vânia em 06/04/2005
Discurso durante a 34ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Considerações sobre o pontificado do Papa João Paulo II. Declaração de solidariedade ao Senador Geraldo Mesquita Júnior.
- Autor
- Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
- Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
HOMENAGEM.:
- Considerações sobre o pontificado do Papa João Paulo II. Declaração de solidariedade ao Senador Geraldo Mesquita Júnior.
- Publicação
- Publicação no DSF de 07/04/2005 - Página 7796
- Assunto
- Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. HOMENAGEM.
- Indexação
-
- SOLIDARIEDADE, GERALDO MESQUITA JUNIOR, SENADOR, ELOGIO, IDONEIDADE, DEFESA, INTERESSE PUBLICO.
- HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO PAULO II, PAPA, IGREJA CATOLICA, ELOGIO, DEFESA, PAZ, LIDERANÇA, AMBITO INTERNACIONAL.
A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de iniciar as minhas palavras, eu gostaria de hipotecar a minha solidariedade e o meu apoio ao Senador Geraldo Mesquita, por este momento que vive S. Exª.
Sou testemunha, Senador, da sua honestidade, da sua ética, e parece incrível que uma pessoa como V. Exª, que nesta Casa sempre defendeu os seus princípios, sempre defendeu o interesse público, colocando-o acima de qualquer coisa, seja objeto desse tipo de denúncia.
Então, aceite a minha solidariedade, o meu apoio e a crença de que a verdade vencerá. Pode ter certeza de que V. Exª tem, nesta Casa, muitos amigos, que aprenderam, ao longo do tempo, a respeitá-lo, acreditando que a sua trajetória e os seus princípios são exemplos que dignificam não apenas o Senado da Republica, mas o Congresso Nacional.
O mundo parou nesses últimos dias para acompanhar a agonia e a morte de Sua Santidade o Papa João Paulo II. Fomos todos expectadores de seu sofrimento durante meses, para resistir à doença que o consumia rapidamente.
João Paulo II não foi um exemplo somente para os milhões de seguidores da religião católica. Ele foi um exemplo para a humanidade, tão esquecida de valores, como o amor, a humildade, a fé e a coragem.
Foi o primeiro Papa não italiano nos últimos 455 anos da Igreja Católica, e o primeiro prelado de um país comunista a ser escolhido Sumo Pontífice.
O Papa da Paz poderia ter restringido o seu pontificado aos limites da Igreja Católica. Mas esse foi um Papa que a História registrará tanto pelas posições políticas quanto pela bondade e humildade.
Sua imagem de dor e sofrimento na janela de seu apartamento na Praça de São Pedro, em Roma, foi o símbolo supremo do sacrifício cristão, reconhecido até mesmo por aqueles que criticaram suas posições conservadoras na Igreja Católica.
João de Deus, como ficou conhecido entre os brasileiros, foi um homem simples do povo. Soube desde cedo o significado das perdas de um ente querido, pois perdeu a mãe ainda menino. Nada disso, no entanto, quebrantou-lhe a fé e a coragem. Ao contrário.
Por mais de uma vez, João de Deus pediu perdão pelos erros cometidos pela Igreja Católica. Um dos exemplos mais marcantes foi o perdão que ele pediu ao povo judeu pelas perseguições sofridas.
João Paulo fez questão de opinar sobre temas os mais diversos, como as ditaduras espalhadas pelo mundo, a fome e a pobreza; seu papel foi marcante a favor da queda do Muro de Berlim e pelo desmantelamento do mundo comunista.
Começou uma luta de palavras pelo mundo contra o tráfico de drogas, a lavagem de lucros ilícitos, a corrupção em qualquer ambiente, o terror da violência, a corrida armamentista, a discriminação racial, as desigualdades entre os grupos sociais e a destruição irracional da natureza.
A veemência com que se manifestou contra a guerra liderada pelos Estados Unidos na invasão do Iraque comprovou que esse Papa não se deixaria intimidar.
Mais uma vez pediu à comunidade internacional que ajudasse a construir um Iraque democrático, afirmando que “a guerra não resolve os conflitos entre os povos”.
Suas posições conservadoras, por outro lado, angariaram muitos críticos.
Foi um líder controverso em relação a temas considerados essenciais para a vida moderna. Condenou o aborto, o uso de métodos anticoncepcionais, os métodos de fertilização in vitro, as mães de aluguel, o casamento entre homossexuais e a eutanásia.
Os críticos sempre afirmaram que a posição da Igreja Católica favorecia o crescimento da Aids, o aumento da pobreza e do homossexualismo.
Mas também foi um defensor dos jovens, a quem considerava como “sentinelas do futuro”.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se avaliarmos bem as posições de João Paulo II, conseguiremos entender e até mesmo aceitar o que seus críticos chamam de conservadorismo.
Lutamos por um mundo mais moderno e queremos sua evolução. As pesquisas com as células-tronco são um exemplo. Quantas pessoas em todo o mundo delas se beneficiarão?
Mas, ao mesmo tempo, pergunto aos Srs. Senadores: que mundo queremos para nossos filhos?
Um mundo onde a corrupção seja a voz maior?
Um mundo onde não haja mais respeito pelos valores morais, pela dignidade do ser humano?
Era um mundo com esses valores que o Papa tanto defendia e que também devemos defender.
Nesta sexta-feira, quando o mundo estará em silêncio para o último adeus ao Papa João Paulo II, o Brasil mostrará que, acima das divergências políticas, está a união em nome de um povo ordeiro e cristão que chora a morte de um grande líder.
Muito obrigada, Sr. Presidente.