Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Tributo à memória do ex-Presidente Artur Bernardes, por ocasião das comemorações dos 50 anos de sua morte.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Tributo à memória do ex-Presidente Artur Bernardes, por ocasião das comemorações dos 50 anos de sua morte.
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/2005 - Página 8150
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, MORTE, ARTHUR BERNARDES, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, ATUAÇÃO, HISTORIA, BRASIL.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há 50 anos, no dia 23 de março de 1955, falecia, na cidade do Rio de Janeiro, o Presidente Artur da Silva Bernardes.

Interpretando o sentimento do povo mineiro, que tenho a honra de representar nesta Casa, venho trazer este tributo, uma justa homenagem, in memorian, àquele mineiro ilustre que doou, por inteiro, sua vida à política de nosso País.

Assim, ao recordar hoje a figura do Presidente Artur Bernardes, resgato-a de volta da história, relembrando os traços e feitos mais característicos de sua audaz personalidade, como líder da nossa Minas Gerais.

Político admirado e respeitado por muitos, foi, como não poderia deixar de ser, repudiado por outros, porque mantinha firme sua liderança nas flutuações incertas das marés políticas, como aquelas vividas por nosso País à época da República Velha.

Bernardes governou o Brasil em estado de sítio permanente. Efervescências políticas, revoltas e conturbações sociais não lhe faltaram no exercício de seu mandato, exigindo-lhe ações severas e corajosas. Episódios como o Levante do Forte de Copacabana, a primeira ação do movimento tenentista, a Coluna Prestes, movimento revolucionário que percorreu o País sem ter sido derrotado pelo governo, uma guerra civil no Rio Grande do Sul e em São Paulo, com forte inspiração política, tudo determinava ao Presidente da República a decretação, quase constante, do estado de sítio e a reforma do texto da Constituição, fazendo-a autorizativa de medidas de exceção, fortalecedoras do Poder Executivo central.

Com seu temperamento controlado, no entanto, dissimulava seus temores e sentimentos, permitindo-se ajustar às marchas e contramarchas da política na busca das soluções adequadas às sucessivas crises que afloraram durante seu período de governo. Cultivava, assim, a virtude da paciência, aquela mesma que os chineses consideram a maior das virtudes humanas.

A trajetória de vida de Artur Bernardes foi a de um homem gasto no atrito de suas próprias lutas. Incompreendido, muitas vezes precisava ser absolutista e autocrata. Controvertidamente, encontrava nos embates políticos a unidade do sentimento nacional. Com grande bravura e lealdade a seus próprios princípios, cultivava seus ideais.

Amalgamou, assim, aquele homem de bem as condições para o País atravessar uma fase de transição de dias conturbados para dias com horizontes mais democráticos.

Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Senadores, vejo-me, hoje, tentando entender a figura emblemática daquele político dos altiplanos mineiros. E, ao fazê-lo, chego a conjecturar sobre a amarga ironia do destino, ao concluir que os homens não conduzem os acontecimentos. São, isso sim, conduzidos por eles. Assim foi com o Presidente Bernardes. Num retrato sem retoque, com sua intransigente fidelidade aos seus princípios filosóficos de vida e sua práxis política, Artur Bernardes teve que se impor ao País para governá-lo em graves momentos de sua história. Não existia, nos quadros republicanos da época, nenhum outro político que reunisse a energia e a habilidade apropriadas e ajustadas para dar governabilidade ao País.

            Ao Presidente da República era preciso ousar, e Bernardes ousava. Era preciso se impor, e Bernardes se impunha. Tudo porque era preciso liderar, e Bernardes liderava. Às vezes, com insolência e intransigência, outras vezes, com o que os mineiros chamam mão de ferro. Artur Bernardes sabia liderar e governar até com mão de ferro.

De Artur Bernardes, deve-se lembrar do Partido Republicano Mineiro, o PRM, do qual foi o seu mais notável líder. No âmbito desse histórico partido, exerceu sua liderança em Minas Gerais, chegando por meio dele à Presidência do Estado, entre 1918 e 1922. Sucessor do PRM, o influente Partido Republicano, o PR, transformou-o, também, em seu principal líder.

Guarda o repositório da política nacional uma decisiva e empolgante participação desse partido, extinto por ato discriminatório no primeiro governo do período militar, após décadas de relevantes serviços prestados à democracia, a Minas Gerais e ao País. Era composto por um grupo notável e valoroso de políticos peerristas mineiros e brasileiros.

Em Artur Bernardes, sobressaía a inteligência e a sensibilidade com que entendia e interpretava os vetores das forças políticas vigentes de sua época, obtendo, não raras vezes, uma força resultante de composições que acabava por garantir governabilidade ao País. A era conhecida como República Velha, período no qual governou o Brasil, de 1922 a 1936, coincidiu com a fase crepuscular da política do café com leite, em que o poder central se alternava entre Minas Gerais e São Paulo. Era a época do prestígio dos coronéis do interior, figuras estelares, injustiçadas, muitas vezes, sob a perspectiva da história, mas que sustentavam a base da pirâmide do poder nacional. Essa foi a época em que Bernardes presidiu o País. A época do Brasil rural. Do Brasil das cidades do interior. Do Brasil que amadurecia, amanhecendo para se tornar o País dos nossos dias, livre, soberano e desenvolvido. Foi nesse período, repito, de grandes incertezas, que Artur Bernardes firmou sua liderança política, criando condições para a superação das crises e convulsões sociopolíticas, constantes em seu governo.

Termino, Sr. Presidente, lembrando que Artur Bernardes foi um grande homem nos grandes dias da República Velha. Sua história de vida se confunde com a história do Brasil desse período. Foi um homem amalgamado, forjado em época bastante conturbada da política nacional.

Herdeiro de tradicional estirpe de políticos mineiros, ele trazia no sangue a marca dos Bernardes, da próspera cidade de Viçosa. Teve na vida, como ficou provado, uma grande paixão, a política, exercida na sua força mais espetacular de representar e governar o povo.

Evoquei, por isso, em nome de Minas Gerais, a figura impávida do Presidente Bernardes para, post mortem, oferecer-lhe esta homenagem do Senado Federal.

Esse mineiro fez de sua vida um templo de dignidade, moralidade e combatividade nacionalista. Esse mineiro ajudou, enfim, a escrever uma importante página da História do Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/2005 - Página 8150