Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pela morte do Papa João Paulo II.

Autor
Augusto Botelho (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Pesar pela morte do Papa João Paulo II.
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/2005 - Página 8167
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO PAULO II, PAPA, IGREJA CATOLICA, ELOGIO, DEFESA, PAZ, LIDERANÇA, AMBITO INTERNACIONAL.

O SR. AUGUSTO BOTELHO (PDT - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Sumo Padre, o Condutor da Igreja Católica, o Líder da Cristandade que exerceu vigorosa influência nos rumos dos homens e mulheres contemporâneos, o Pregador da paz e do amor fraterno, vem de nos deixar.

Deixa-nos após um longo calvário, no qual se portou com não menos bravura do que a revelada em todo o seu pontificado.

Sr. Presidente, fascinante é a personalidade deste homem que de nós se despede, imortalizado na história como o Papa João Paulo II. Nascido em 1920, em uma Polônia já conturbada por conflitos políticos, Karol Wojtyla teve que enfrentar, ao ser deflagrada a 2ª Guerra Mundial, as agruras da vida sob um país invasor, esteado no mais odioso regime político que jamais houve.

Mas diante da barbárie nazista, o jovem Wojtyla não esmoreceu. Teve que abandonar a universidade e trabalhar como operário, para evitar a deportação para a Alemanha. Certo de sua vocação sacerdotal, passou a freqüentar, em 1942, um seminário clandestino, proibida que estava, pelos nazistas, a formação de novos padres. Como nos tempos em que os cristãos eram perseguidos pelos Imperadores romanos, a fé manteve-se viva nas catacumbas modernas.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a situação não ficou mais fácil para os católicos quando se instalou o regime satélite da União Soviética na Polônia. A grandiosa idéia do socialismo era, então, amesquinhada e sufocada pelo autoritarismo burocrático. Entre outras ações inadmissíveis, os dirigentes stalinistas queriam, a todo custo, restringir, na impossibilidade de suprimi-la, a inabalável fé católica do povo polonês.

Trilhando naturalmente, ao sabor de sua personalidade marcante, cada etapa da vida eclesiástica, Karol Wojtyla torna-se Arcebispo de Cracóvia em 1964 e Cardeal em 1967. Sua atuação firme pela liberdade de prática religiosa e pela autonomia da sociedade civil foi muito importante para viabilizar a organização independente dos trabalhadores no sindicato Solidariedade, no início dos anos 1970.

Em outubro de 1978, após o brevíssimo pontificado de João Paulo I, o mundo é surpreendido pela eleição de um Papa polonês, o primeiro não italiano depois de 4 séculos. Em homenagem a seu antecessor, ele também adota o nome de João Paulo. Sob a égide desses dois grandes apóstolos - São João, o amoroso místico, São Paulo, o incansável pregador -, o Papa João Paulo II renovou profundamente a Igreja em seus 26 anos de comando.

Não lhe faltavam o carisma, a firmeza e o vigor necessários para assumir a missão de representar, em pessoa, a mensagem cristã de amor, paz e entendimento. Fazia-no por sua imagem, levada instantaneamente a todo o planeta pelos modernos meios de comunicação; fazia-no por sua presença física em 129 países dos seis continentes, visitados em 102 viagens.

No Brasil, maior país católico do mundo, o Santo Padre esteve por quatro vezes, abençoando nosso chão e trazendo, sempre, profunda emoção a nosso povo.

Momentos marcantes de sua trajetória, no Vaticano e em tantos outros lugares, foram muitos. Um dos mais dramáticos, com certeza, foi o atentado a bala cometido contra a sua pessoa, em 1981. Com sua vida salva por mais de uma intervenção médica, João Paulo II surpreende ao levar, dois anos depois, o seu perdão ao autor do atentado.

Sr. Presidente, Srªs e srs. Senadores, a vocação do Santo Padre para o perdão e a reconciliação mostrou-se não só aí, mas em todos os instantes de seu pontificado. Foram marcantes seus esforços para a aproximação e o entendimento com os seguidores de outras religiões. Com os praticantes do Judaísmo, não apenas foi muito frutífera a aproximação, como, em um gesto inédito, o Papa pediu perdão pelos erros históricos da Igreja contra eles.

Mas se o Papa fez efetivamente história, uma nova história, talvez sua atuação mais decisiva tenha se voltado para sua terra de nascimento, ao apoiar o Solidariedade, sindicato cujos líderes oposicionistas foram presos pelo regime ditatorial. Em 1989, o polonês é o primeiro de uma série de governos comunistas a cair, como em um castelo de cartas, na Europa Oriental, mudando a face política do globo.

É bom que se frise, no entanto, que João Paulo II não se deixou seduzir pelos fáceis encantos de um Capitalismo essencialmente consumista, que esquecia os deveres de solidariedade para com os pobres e oprimidos. Já em 1991, a encíclica Centesimus annus fustigava o Liberalismo triunfante, sem fé e sem compromisso social. A essa se seguiu a encíclica Splendor Veritatis, com a qual o Papa alertava o mundo para a crescente incapacidade de distinguir o bem do mal, em um mundo marcado pelas incertezas e pela falta de referências morais.

Sr. Presidente, não podemos deixar de ressaltar, tampouco, seus ingentes e constantes esforços pela paz mundial e contra a guerra; infelizmente, nem sempre bem sucedidos, tamanha é a interminável insânia dos seres humanos, que não aprendem a se ver como irmãos, independente de nação e de etnia, do credo político ou religioso.

Sr. Presidente, Srªs e srs. Senadores, como o católico praticante que sou, lamentei consternado o padecimento do Papa e sua morte. Não tenho dúvida, entretanto, que a obra por ele deixada permanece sólida e inatacável. Ressalto, entre seus grandiosos feitos, o permanente resgate dos valores morais, tão esquecidos ou vilipendiados nos dias correntes. Foram esses valores, cristãos, que conduziram João Paulo II em todos os seus atos no percurso terreno.

Sabemos que a morte é o destino que aguarda toda humana existência; como cristãos, entendemos esse momento como passagem para a vida eterna, onde a glória de Deus se revela aos que suportaram sofrimentos sem perder a fé; aos que praticaram, onde quer que estivessem, o bem.

Esteja em paz o Santo Padre João Paulo II - e que os homens e mulheres não esqueçam suas realizações e seus ensinamentos, essenciais para o mundo contemporâneo.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/2005 - Página 8167