Discurso durante a 38ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a viagem do Presidente Lula ao funeral do Papa João Paulo II.

Autor
Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA NACIONAL.:
  • Considerações sobre a viagem do Presidente Lula ao funeral do Papa João Paulo II.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 13/04/2005 - Página 8794
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA NACIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, DELEGAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FUNERAL, PAPA, HOMENAGEM POSTUMA, ANALISE, LIDERANÇA, AMBITO INTERNACIONAL.
  • ELOGIO, ENCONTRO, DELEGAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, OPORTUNIDADE, VIAGEM, DIALOGO, PRESIDENTE, PODERES CONSTITUCIONAIS.
  • CONCLAMAÇÃO, CLASSE POLITICA, GOVERNO, OPOSIÇÃO, BUSCA, ENTENDIMENTO, BENEFICIO, INTERESSE NACIONAL, DEMOCRACIA.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu queria agradecer à Mesa pela atenção e dizer às Srªs Senadoras e aos Srs. Senadores, em primeiro lugar, da honra que tive em participar da delegação que o Presidente Lula constituiu para a cerimônia do funeral do Papa João Paulo II. Do meu ponto de vista, foi uma experiência única, não só pela liturgia, pelo rito, pela representatividade, mas porque sentíamos naquela praça a presença de uma parte muito importante da história, particularmente da história do mundo ocidental cristão.

João Paulo II foi Papa por 26 anos. Só nas cerimônias que o Vaticano procedia para atender a convidados, ele recebeu 16,5 milhões de pessoas. Percorreu 125 países, alguns, como é o caso do Brasil, por quatro vezes. Seguramente é, na história, a personalidade que mais viu e mais foi vista pelos seres humanos nesses grandes eventos de massa que foi a sua peregrinação pelo mundo. Se marcou do ponto de vista espiritual aquela cerimônia - e do meu ponto de vista me marcou definitivamente -, marcou também pela amplitude da representação das nações naquela missa. Estavam ali os principais chefes de Estado. Estava o Presidente Bush, acompanhado de seu pai, ex-Presidente Bush, e do ex-Presidente Clinton; estava o Primeiro-Ministro da Alemanha, Gerhard Schroeder; estava Tony Blair, Primeiro-Ministro da Inglaterra; estava o Presidente Chirac, da França; estavam quase todos os chefes de Estado da América Latina. Estava lá também uma representação parlamentar de alto nível. Estivemos com o Senador Ted Kennedy, dos Estados Unidos; com o Senador John Kerry, que disputou a Presidência com o Presidente Bush, entre tantas outras personalidades.

A representação do Brasil expressava a Nação: o Presidente da República, acompanhado da sua esposa, D. Marisa, do Ministro das Relações Exteriores, e, como convidados, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-Presidente José Sarney e o ex-Presidente Itamar Franco, hoje Embaixador do Brasil na Itália.

O encontro desses três ex-chefes de Estado com o atual chefe de Estado, num clima de respeito, de despojamento, de grandeza, de espírito público que cada um deles, a seu modo, expressou nessa atitude, é um gesto que engrandece o Brasil como Nação cujo processo de democratização permite hoje essa convivência respeitosa e plural. Engrandece porque algumas nações desenvolvidas que têm um largo passado democrático também estavam lá, representadas por ex-chefes de Estado e atuais chefes de Estado.

A viagem que fizemos permitiu um diálogo bastante produtivo e construtivo com o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-Presidente José Sarney, o Presidente Lula, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Nelson Jobim, grande jurista, o Presidente do Senado Federal, Senador Renan Calheiros, e o Deputado Severino Cavalcanti, Presidente da Câmara dos Deputados, num ambiente em que todas as representações dos três Poderes, os ex-presidentes da República e o Presidente da República estavam juntos, nesse momento que marca a história, eu diria, de forma definitiva.

Naquela praça, com uma multidão imensa, havia muitos jovens - uma coisa que chama a atenção é a participação muito intensa da juventude. Sentíamos o profundo sentimento de respeito e de gratidão, de reconhecimento pela história, sobretudo pela dedicação, pelo martírio no final de vida, do Papa João Paulo II.

Quero dizer a este Senado o quanto me senti honrado de estar presente nesse momento da história e, particularmente, o quanto me senti honrado de ser brasileiro e de o Brasil ter estado lá, com sua representação de Estado dos três Poderes, nessa convivência democrática respeitosa que demonstra o quanto avançamos no processo democrático.

Vi o Presidente Jacques Chirac na saída do evento. Quando ele nos encontrou, estavam os três ex-Presidentes e o Presidente da República, e ele disse que na França isso não seria possível. O mesmo sentimento teve o ex-Primeiro Ministro de Portugal, hoje Presidente da União Européia, Durão Barroso, expressando - também estivemos, no final da cerimônia, juntos - sentimento de admiração pelo fato de os ex-Presidentes estarem juntos nessa cerimônia com o Presidente da República.

Chamo a atenção para esse episódio, porque acho que ele esteve presente na transição democrática do Brasil. Esteve presente agora, neste momento maior, neste momento marcante, neste momento em que a humanidade, sobretudo essa imensa Nação cristã, despede-se de João Paulo II. Mas quero chamar a atenção, porque penso que devíamos olhar esse gesto e possibilidade como sinal também de que nós, Governo e Oposição, precisamos conversar mais no País, precisamos dialogar mais. Precisamos marcar as nossas diferenças por aquilo que realmente é programático, é ideológico não apenas nesta Casa. Chamo a atenção, porque vejo em assembléias legislativas, em câmaras municipais hoje um clima de tensionamento exacerbado, um clima de constrangimento, às vezes, ao Executivo, e de um tensionamento desproposital. E quem perde com isso é o povo, é a cidade, é o Estado.

Portanto, a Oposição deve sim, na sua condição de Oposição, ser firme na fiscalização, na crítica, mas sobretudo na apresentação de alternativas, para que, juntos, possamos resolver os problemas maiores da sociedade.

Acredito que este momento de reflexão, de convivência democrática e plural, foi um momento que espero venha inspirar os homens públicos deste País a refletirem um pouco mais sobre nossas atitudes e pensarem com grandeza e com espírito público o sentido da nossa vida, o sentido do nosso mandato, o sentido da responsabilidade que temos com a Nação.

O diálogo, a convivência respeitosa, a construção de alternativas é seguramente o melhor caminho que este País tem, não apenas para demonstrar ao mundo, mas sobretudo para registrar na história que neste momento fomos capazes de deixar as diferenças - porque elas existem, fazem parte da vida democrática -, o embate, a disputa, e aderir ao despojamento no sentido de construir o bem comum, de aprofundar as reformas de que o País necessita e impulsionar o Estado brasileiro, usando os poucos recursos públicos que temos para investir e fazer políticas sociais, para responder aos grandes anseios e às grandes demandas do nosso povo.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite, Senador Aloizio Mercadante, um breve aparte? (Assentimento do orador.) Quero cumprimentar V. Exª e reforçar que considero o convite formulado pelo Presidente Lula ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, ao ex-Presidente e Senador José Sarney, bem como aos chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário, um dos pontos altos da viagem. E V. Exª faz bem em assinalar que o espírito que testemunhou do diálogo do Presidente, nessa homenagem ao Papa João Paulo II, com opositores dele, como Fernando Henrique Cardoso e outros, o próprio Presidente Severino Cavalcanti, da Câmara dos Deputados, que é ora base aliada, ora opositor - como acabou na prática o sendo -, na verdade constitui um sinal daquilo que deveria estar mais e mais presidindo as nossas ações, inclusive aqui no Senado Federal. Então, penso que a proposição de V. Exª é no sentido construtivo para todos os 81 Senadores. Obrigado.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP) - Senador Eduardo Suplicy, a viagem foi longa, nós pudemos conversar. Também havia o espírito ecumênico, várias denominações religiosas ajudaram a construir esse sentimento.

Depois fiquei dois dias na Embaixada do Vaticano com os ex-Presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney. O ambiente de reflexão, de discussão e de troca de idéias foi muito construtivo. A uma certa hora, no avião, eu disse que só esperava que aquele avião conseguisse inspirar o aeroporto, ou seja, aquilo que construímos: o diálogo, a convivência e o espírito público pudessem também sensibilizar a Nação.

Por isso, resolvi subir à tribuna para chamar a atenção para esse fato histórico e relevante, que só traz orgulho a nossa Nação e ao nosso povo pela qualidade da representação que tínhamos no funeral do Papa João Paulo II. Sobretudo, para chamar a atenção deste Plenário para que possamos, inspirados neste momento, buscar o diálogo, a compreensão, o espírito público e o respeito à diferença na construção de soluções criativas e propositivas ao nosso País e ao nosso povo.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/04/2005 - Página 8794