Discurso durante a 40ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à viagem do Presidente Lula a países africanos. (como Líder)

Autor
Demóstenes Torres (PFL - Partido da Frente Liberal/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.:
  • Críticas à viagem do Presidente Lula a países africanos. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2005 - Página 9226
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, VIAGEM, CONTINENTE, AFRICA, PROTESTO, POLITICA EXTERNA, FALTA, DIRETRIZ, TENTATIVA, LIDERANÇA, BRASIL, TERCEIRO MUNDO, NEGOCIAÇÃO, ACORDO, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, REPUDIO, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, DESVIO, RECURSOS, CONTRIBUIÇÃO, INTERVENÇÃO, DOMINIO ECONOMICO.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma idéia fixa pode também ser um disfarce ou um pretexto para algo vergonhoso demais para ser revelado, Saul Bellow.

Semana passada, morreu o escritor Saul Bellow. Prêmio Nobel de Literatura em 1976, o genial autor de O Planeta do Senhor Sammler, sua obra mais conhecida no Brasil, foi um dos maiores críticos do século XX.

Quantas vezes Bellow não enviou libelos contra a mediocridade daqueles tempos modernos, com a transcrição da versão íntima dos personagens derrotados pela perfídia? Ao contrário dos seriados da TV, os protagonistas da literatura de Bellow costumavam ser o lado perdedor da história. Em “A Mágoa Mata Mais”, uma das obras do autor que me referenciaram na década de 1980, o sentimento é mais devastador do que a Aids. Saul Bellow era mordaz, perscrutava a verdade e não deixava por menos todos os conceitos eivados de motivações inconfessáveis. É dele a frase: “A pureza é a camuflagem das variedades mais profundas da criminalidade”.

Naturalmente que no Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não há nada da personalidade complexa dos tipos criados por Bellow, mas com toda certeza o potencial do Primeiro-Mandatário de dar vida ao nada seria material carburante na obra do autor, caso ele tivesse conhecido “O Planeta do Senhor Lula”. Nesta terra de aberrações gritantes, o escritor judeu-canadense, norte-americano de Chicago, encontraria a dissimulação de tal forma ostentada, que nem as trapaças dos seus personagens seriam capazes de superar.

Srªs e Srs. Senadores, a viagem em curso do Presidente Lula à África guarda algo tão injustificável, absurdo e inverossímil que me remete a buscar refúgio em outro escritor norte-americano. Trata-se de Henry Louis Mencken, que assim definiu atitudes como as do Presidente Lula, até agora expostas no passeio pela África Ocidental: “Uma grande parte do altruísmo, mesmo quando perfeitamente honesto, baseia-se no fato de que é desconfortável ver gente infeliz ao nosso redor”.

Eis a síntese da “tropicaliderança” do Brasil no cenário mundial: apoio a governos notadamente corruptos e de viés autoritário; comportamento ora ambíguo ora contaminado em relação a questões estratégicas, como é o caso das Farc; e a disseminação de uma hostilidade pueril aos Estados Unidos nos foros internacionais de segunda classe. Por conta de uma obsessiva e vaidosa pretensão de ter assento no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, o Governo Lula “força a amizade” com países que estão fora do eixo estratégico global. Está tudo certo: é lindo o Presidente Lula receber na África o título “exterminador da fome do futuro”. Que significado tem isso para os nossos 11 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza e os 48% de camaroneses em pior situação?

A suposta vocação de liderança que o Brasil ostenta quando o Presidente é saudado com danças exóticas, cocares e penas na África ou no Caribe é alguma coisa artificial. A vaidade é tamanha - e aí o País paga o preço do inútil - que, para se sentir grande, o Presidente Lula tem de buscar a ovação dos desafortunados mundo afora, ainda que a realização de tal virtude signifique que o Brasil passe a ter uma administração realizada por controle remoto a bordo do Aerolula. O PT inaugurou no País um sistema de administrar a distância. Como a macroeconomia vai bem, o Governo Federal se refugia dos problemas brasileiros, pega o avião, mostra mobilidade e apresenta-se portador de virtudes que ainda não se confirmaram na política brasileira contemporânea. Quando o Presidente Lula vai à África perdoar dívidas e oferecer apoio militar vem a sensação de que o Brasil é um primo mulato, novo-rico e perdulário. Na África, no Oriente Médio e no Caribe, o PT se projeta nas convicções que o Partido um dia seguiu, não servem mais à prática política que imprimiram no Brasil, mas são retoricamente irretocáveis quando postas a serviço da diplomacia pouco pragmática de jogar os pobres contra os ricos.

Srªs e Srs. Senadores, o pior é a escassez de resultados, ou o malogro completo das iniciativas, como já ocorreu com a viagem em curso à África. Só havia um único objetivo realmente estratégico na visita ao continente: o estreitamento das relações comerciais com a Nigéria. O país produtor de petróleo apresentou no ano passado um superávit comercial de US$3 bilhões com o Brasil. Há estimativas de que o déficit comercial brasileiro com os nigerianos poderá chegar a US$5 bilhões em 2005. Antes de embarcar na comitiva, o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan - aliás, uma das poucas reservas de competência do Governo Lula - anunciou que a viagem renderia negócios na ordem de US$1 bilhão.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - V. Exª dispõe de mais um minuto, Senador.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Esta semana, em Abuja, Capital da Nigéria, profunda e justificadamente irritado, o Ministro Furlan resumiu que negociações com os ministros nigerianos resultaram em “blábláblás”. O Ministro do Desenvolvimento brasileiro teve de se contentar em negociar com um substituto do Ministério correspondente e só ouviu restrições à lista de produtos que o Brasil tencionava exportar. Ou seja, foram debalde as tentativas de equilibrar a balança comercial entre os dois países. Mais uma vez, ficou nítida a verdade de que não existe liderança natural na sociedade das nações, como pretende o Presidente Lula.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Peço a V. Exª mais dois minutos, Srª Presidente.

No mesmo sentido, ficou evidente que, assim como é considerada axiomática a vocação do Brasil em ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, na hora de fazer negócio, muda-se de conversa. Eu gostaria de me solidarizar com o Ministro Furlan pelos constrangimentos experimentados nesta malfadada viagem à África.

Srª Presidente, a sensação que fica diante de tanta trapalhada diplomática é de que o objetivo das viagens internacionais do Presidente Lula é de apenas viajar. Aliás, o Governo do PT, de uma forma generalizada, descobriu que voar é a grande quimera do poder. Ainda que o Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu, não veja nada de errado com os gastos expressivos dos integrantes do Governo Lula com viagens, vale ressaltar que custa caro ao contribuinte financiar o dispêndio anual de R$996 milhões com passagens aéreas. A situação fica ainda mais desconfortável quando são contrapostos os investimentos do Governo Federal com a infra-estrutura de transporte.

De acordo com estudos elaborados pelo economista Raul Velloso e encomendados pela Federação Nacional do Transporte (CNT), em 2003, dos R$7,5 bilhões da arrecadação bruta da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), 47% se perderam, R$1,5 bilhão foi direcionado para outros usos via Desvinculação das Receitas da União (DRU) e outros R$ 2 bilhões esterilizados no abatimento da divida do Banco Central. Conforme os dados do economista Raul Velloso, em 2003, o Ministério dos Transportes investiu da Cide uma soma muito parecida com a que “lulanautas” gastaram no balcão das companhias aéreas.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Só para concluir, Srª Presidente...

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Senador Demóstenes Torres, V. Exª já ultrapassou em 4 minutos o tempo. V. Exª tem 30 segundos.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Srª Presidente, peço que me conceda apenas mais 1 minuto e 30 segundos.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Trinta segundos, Sr. Senador.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Segunda-feira, o Jornal Nacional veiculou uma reportagem sobre o destino que o Governo Lula está conferindo aos recursos da Cide. O dinheiro que sai do bolso do contribuinte deveria estar sendo investido na recuperação da malha rodoviária, na construção da Ferrovia Norte-Sul e no melhoramento da capacidade portuária, mas está sendo consumido em eventos, brindes e cafezinho. É voz corrente entre os economistas que os óbices logísticos impedem o Brasil de crescer mais do que as taxas anuais.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Já foram excedidos os 30 segundos, Senador.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Já concluo.

            De forma acelerada, conforme mostrou o Jornal Nacional, o País caminha para o “apagão” rodoviário. Só o Governo Lula não percebe o gargalo da infra-estrutura brasileira, mesmo porque não há crise para quem anda de aeroporto a aeroporto.

            Muito obrigado, Srª Presidente, pela tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2005 - Página 9226