Discurso durante a 40ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro de voto de pesar pelo falecimento do Papa João Paulo II.

Autor
César Borges (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro de voto de pesar pelo falecimento do Papa João Paulo II.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2005 - Página 9333
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO PAULO II, PAPA, IGREJA CATOLICA, ELOGIO, DEFESA, PAZ.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ocupo a tribuna nesta data para fazer aqui um registro emocionado e sincero em razão do meu profundo pesar pelo falecimento do grande homem Karol Wojtyla, Sua Santidade o Papa João Paulo II.

            Diante da comoção de milhões de pessoas, o mundo perdeu, na tarde do último dia 2 de abril, o Sumo Pontífice da Igreja Católica. Ele faleceu aos 84 anos, após sofrer problemas de saúde que se transformaram num verdadeiro drama, acompanhado por católicos e não-católicos de todas as nacionalidades.

Karol Josef Wojtyla nasceu na aldeia de Wadowice, perto de Cracóvia, na Polônia, em 18 de maio de 1920. Aos nove anos, perdeu a mãe devido a complicações no parto de sua irmã natimorta. Aos vinte, perdeu o pai, durante a Segunda Guerra Mundial. Ainda jovem, perdeu também o irmão mais novo. Mas estes problemas não seriam capazes de abater Karol Wojtyla na construção de sua belíssima trajetória de vida.

Sua adolescência foi marcada pelo contato próximo com a comunidade judaica da Cracóvia. Foi ator, atleta e operário antes de optar pela carreira religiosa, aos 22 anos, quando ingressou para o departamento teológico da universidade na qual, posteriormente, ministrou aulas de Ética, após ser ordenado Sacerdote da Igreja Católica.

Alçou o posto de Cardeal 19 anos depois, por designação do Papa Paulo VI. Em 1978, após a morte de Paulo VI, foi eleito para o papado o Cardeal Albino Luciani, que se tornou o papa João Paulo I. Um mês após a nomeação, João Paulo I veio a falecer, cedendo o lugar para Wojtyla. Em 22 de outubro de 1978, Wojtyla foi nomeado Sumo Pontífice, sob o nome de João Paulo II.

A trajetória do papa João Paulo II foi marcada por uma forte atuação política, sempre presente em momentos importantes na história mundial recente, pela participação em eventos ecumênicos e pelas inúmeras viagens pelo mundo, que lhe renderam o título de “O Papa peregrino”.

O Papa João Paulo II esteve em Salvador na primeira e na última viagens ao País, e nunca fez questão de esconder seu carinho especial pelo povo brasileiro e - que me perdoem os nobres colegas de outros estados - pelo povo baiano.

E é esta a lembrança que devemos guardar de João Paulo II: a de um grande estadista da paz, que levou ao mundo uma mensagem pelo fim da segregação, pela união dos desiguais em busca de um bem maior e universal, pelo respeito às diferenças, pelo fim dos conflitos movidos por interesses menores.

O Papa João Paulo II, mesmo sem o porte atlético que possuía na época em que praticava esportes com freqüência, mesmo debilitado pelos problemas de saúde, quase sem conseguir levantar a cabeça para olhar o povo que o escutava como que a uma entidade divina, continuou a arrastar multidões por onde passava até o final de sua vida.

Cada discurso do Papa consistia uma verdadeira aula de vida, respeito ao próximo e humildade. Suas mensagens, adaptadas com propriedade aos diferentes públicos e diferentes culturas dos mais diversos países pelos quais passou, ecoam até hoje nas mentes daqueles que puderam ouvi-lo.

O Papa não se contentava em ser mero visitante com uma pregação retilínea. Sua fala se adequava ao público que iria ouvi-la, suas palavras faziam de Sua Santidade um nativo daquela terra. O Papa demonstrava, além do conhecimento litúrgico, um saber histórico privilegiadíssimo, além do esperado, mesmo para um cidadão do mundo como era João Paulo II. Seu conhecimento e interesse sobre a nossa História ficam claros no trecho que trago a esta tribuna, parte de uma verdadeira aula de cultura brasileira que pudemos receber, por ocasião da sua visita a Salvador.

"Pisando este solo, tenho viva consciência de um encontro marcado com as nascentes puras do Brasil. No litoral baiano desembarcaram os descobridores. Não muito longe daqui, a voz, embargada de emoção, de Frei Henrique de Coimbra pronunciou, pela primeira vez na terra apenas descoberta, as palavras da consagração. Aqui foi criada a primeira Diocese brasileira. Esta cidade foi a primeira Capital da Pátria, quando esta nasceu para a Independência. Creio que dizer, sem desdouro para as outras regiões do País, que aqui tocamos com as mãos a brasilidade no que lhe é mais essencial. Por todos estes títulos quero, nesta oportunidade, saudar cordialmente o povo desta cidade e de todo o Estado."

E João Paulo II nunca se furtou em saber como agradar o coração de seus fiéis. Afirmou, em 1997 que "Se Deus é brasileiro, o Papa é carioca", em discurso no II Congresso Teológico Pastoral, no Riocentro. "Em Porto Alegre, dizem que é gaúcho, na Bahia, também (que ele é baiano)", completou.

Em Salvador, participou de encontro com a também saudosa Irmã Dulce, que fazia um belíssimo trabalho de filantropia. São pessoas como Irmã Dulce e João Paulo II que nos reservam o direito de alimentar a esperança de um mundo melhor. Parece escrita sob medida para João de Deus esta passagem da Bíblia:

João 1:6 - “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo.”

E esta luz nos deixou no último 2 de abril, com a esperança de que tenhamos uma sociedade melhor, mais humana e igualitária. Encerro este pronunciamento transcrevendo as palavras que João Paulo II utilizou para despedir-se do povo brasileiro em uma de suas visitas ao País:

"Eu disse que era hora de dizer adeus. Mas não: digo-vos até breve. E pensando bem, digo: até logo."

Que este até logo não apague a chama que o Papa acendeu no coração de todos nós. Desejo do fundo do coração que Sua Santidade esteja no conforto da companhia divina, partilhando seu desejo por uma humanidade melhor com todos os irmãos que choram sua ausência.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2005 - Página 9333