Discurso durante a 43ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do quadragésimo quinto aniversário de Brasília.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do quadragésimo quinto aniversário de Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2005 - Página 9918
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), COMENTARIO, HISTORIA, CAPITAL FEDERAL, BENEFICIO, UNIDADE, BRASIL, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO NORTE, REGIÃO CENTRO OESTE, IMPORTANCIA, INTEGRAÇÃO, POPULAÇÃO, EFEITO, MIGRAÇÃO.
  • CONGRATULAÇÕES, JOAQUIM RORIZ, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), CRISTOVAM BUARQUE, PAULO OCTAVIO, SENADOR.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Governador Roriz, demais convidados, meus senhores, as vastidões então despovoadas do Planalto Central brasileiro testemunharam, na segunda metade da década de 1950, uma epopéia de grande magnitude. Uma saga de coragem, determinação, ousadia e trabalho, tão extraordinária que até mesmo nós, brasileiros, temos dificuldade em aprender sua exata dimensão.

Sim, o sonho era antigo. Vinha de há muito sendo acalentado. Integrara o ideário dos conspiradores de Vila Rica. Fora advogado pelo Patriarca da Independência. Consagrara-se como mandamento constitucional em 1891. Motivara trabalhos exploratórios de grande envergadura e seriedade sob a liderança de Luiz Cruls.

Ainda assim, afigurava-se, para muitas pessoas de bom senso, como empreitada temerária, de realização quase impossível.

Afinal, não se tratava do processo de fundar uma provação destinada a amadurecer lenta e naturalmente, até atingir o status de cidade. Tratava-se, isto sim, de construir uma cidade que já nasceria grande; que seria inaugurada apta a desempenhar o papel de Capital de uma Nação de dimensões continentais; que estaria, desde logo, dotada da estrutura necessária para abrigar toda a complexidade da Administração Federal.

E se tratava de fazer tudo isso em meio a um imenso vazio. A gigantesca obra havia de ser erguida numa região de povoamento rarefeito, distante de qualquer grande aglomeração urbana, desprovida de vias de acesso adequadas.

Tentem, Srªs e Srs. Senadores e convidados, divisar a magnitude do desafio a que se propôs o povo brasileiro naquela quadra da nossa História. Falar em saga e em epopéia não significa, de forma alguma, fazer uso de figuras de linguagem. Foi, realmente, uma empreitada de proporções épicas.

E como se saíram os brasileiros no enfrentamento desse monumental desafio? Qual foi o produto daquele esforço notável?

Ele está a nossa volta. É esta cidade de beleza tão extraordinária, de características tão singulares que se transformou, talvez, na única cidade moderna a merecer a inclusão entre os bens patrimoniais da humanidade com tombamento pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Hoje, olhando para trás, é difícil acreditar que a nossa Capital foi erguida em pouco mais de 40 meses.

A respeito das características de Brasília, nada melhor do que recordar as palavras do responsável pelo seu plano urbanístico, que muito bem soube descrever a cidade que idealizou e viu tornar-se realidade.

Falando a respeito do caráter monumental que decidiu dar ao conjunto do seu projeto, Lúcio Costa esclareceu que monumental, no caso, não reflete o sentido de ostentação, mas constitui a expressão consciente do que a cidade vale e significa, “capaz de tornar-se, com o tempo, no centro de Governo e da Administração”, e num “dos mais lúcidos e sensíveis focos de cultura”.

Explicou ele que Brasília, “sendo monumento, é também cômoda, eficiente, acolhedora e íntima. É, ao mesmo tempo, derramada e concisa, bucólica e urbana, lírica e funcional” - são palavras de Lúcio Costa.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a comemoração de cada aniversário de Brasília tem, de fato, de encher de orgulho cada brasileiro. Aqui, neste cerrado, nosso povo deu uma demonstração cabal e irretorquível da sua criatividade, da sua capacidade de trabalho e de realização.

Como logramos essa façanha?

Devemo-la à audácia e ao descortino desse líder extraordinário que foi Juscelino Kubitschek de Oliveira. Devemo-la ao talento, à arte genial e revolucionária de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Devemo-la à determinação, à capacidade empreendedora de Israel Pinheiro. Devemo-la à engenhosidade, à competência de Bernardo Sayão. Devemo-la às valiosas contribuições de tantos outros.

Mas devemos essa conquista notável, sobretudo, aos milhares de operários anônimos que deram seu suor e seu sangue para levantar esta cidade, àqueles que nutriram a esperança, que acreditaram no sonho, que atenderam ao chamado, que intuíram a grandeza do momento histórico e empenharam suas melhores energias na construção da nova Capital do Brasil.

A todos eles, a Bancada do Partido do Movimento Democrático Brasileiro rende suas mais efusivas homenagens. Este líder, porém, deseja consignar uma especial reverência aos pioneiros nordestinos, grande maioria no conjunto dos candangos que ergueram esta cidade - até porque sou nordestino e tenho de fazer esta homenagem justa.

Representando, hoje, quase 30% da população do Distrito Federal, somando um contingente de mais de 500 mil pessoas espalhadas pelo Plano Piloto e por todas as cidades-satélites, os migrantes nordestinos vieram e continuam vindo em busca de uma vida melhor, mantendo-se, contudo, fiéis às suas origens, conservando suas referências culturais, contribuindo, assim, para esse cadinho cem por cento brasileiro que é a nossa Capital.

Ainda não é possível fazer uma avaliação completa, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores e convidados, do impacto da construção desta cidade nos destinos do Brasil, na consolidação da nossa identidade nacional, na definição dos rumos do nosso desenvolvimento.

Não resta dúvida de que a transferência da Capital para o Planalto Central cumpriu a contento os objetivos que a inspiraram de promover a integração nacional, de estimular a ocupação demográfica e o desenvolvimento socioeconômico de regiões até então esquecidas do Norte e do Centro-Oeste.

Mais do que isso, Brasília tornou-se ponto de convergência da nacionalidade. Esta é, com efeito, a Capital de todos os brasileiros. Para cá, afluíram pessoas de todos os quadrantes do Brasil, compondo um caldeirão humano e cultural no qual se misturam influências de todos os Estados da Federação.

Com a consolidação de Brasília, o País ganhou, assim, um novo eixo de unidade, uma nova síntese.

Nossas Capitais anteriores, adequadas aos momentos históricos em que o foram, não tiveram essa característica de cidade habitada, constituída por brasileiros de todas as partes do País.

Desse modo, embora única no seu traçado, nas suas concepções urbanística e arquitetônica, Brasília é vária, é plural na manifestação artística, na cultura popular, na integração de todas as regiões brasileiras.

A cidade, desde seus primórdios, acolheu nossa imensa diversidade, incorporou-a, compôs um rico e colorido mosaico da nacionalidade. Daí vem o calor humano tão característico de Brasília.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores convidados, ao incluir a mudança da Capital como a 31ª proposta do seu “Programa de Metas”, o Presidente Juscelino Kubitschek conseguiu compor uma estratégia harmônica de governo, na medida em que a construção da nova Capital em tudo se identificava com as demais metas, previamente estabelecidas, potencializando o alcance daquelas e por elas sendo, em contrapartida, reforçada.

Com essa estratégia global, o notável estadista buscava a eficiência administrativa, a descentralização, a ocupação das fronteiras continentais, a interiorização do desenvolvimento e a expansão das fronteiras agrícolas nas vastas e férteis áreas de Goiás e do Mato Grosso.

Decorridas quatro décadas e meia, o que se constata é que a expansão projetada superou todas as expectativas, alcançando, hoje, as mais distantes regiões do País. JK sonhou grande. E seu grandioso sonho de integração nacional acabou amplamente vitorioso.

A construção de Brasília e os demais avanços conquistados no governo de Juscelino dizem muito do caráter e da capacidade do nosso povo.

O PMDB, que funda toda a sua ação política numa fé inabalável no povo brasileiro e no imenso potencial de desenvolvimento desta Nação, encontra, na comemoração de mais um aniversário da Capital da Esperança, sobrados motivos para renovar seu otimismo e para expressar seu orgulho pela bravura da nossa gente.

Nesta data, saúdo o Governador Joaquim Roriz. Hoje, pela manhã, em reunião no gabinete do Presidente, eu dizia que o Governador devia fazer uma escola para Prefeitos e Governadores mostrando como se fazem obras e como se trabalha.

Saúdo também os Senadores Paulo Octávio e Cristovam Buarque.

Encerro dizendo: viva Brasília! Viva o Brasil! Viva o povo brasileiro! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/2005 - Página 9918