Pronunciamento de Heloísa Helena em 20/04/2005
Discurso durante a 43ª Sessão Especial, no Senado Federal
Comemoração do quadragésimo quinto aniversário de Brasília.
- Autor
- Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
- Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Comemoração do quadragésimo quinto aniversário de Brasília.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/04/2005 - Página 9923
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), COMENTARIO, DIVERSIDADE, POPULAÇÃO, EXISTENCIA, MISERIA, PROSTITUIÇÃO, AGRADECIMENTO, POVO, RECEPÇÃO, ORADOR.
A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Primeiramente, parabenizo o Senador Paulo Octávio pela iniciativa, saúdo todas as autoridades presentes e abraço todos os convidados.
Como ponto preliminar, quero deixar claro que não falarei sobre a Brasília dividida politicamente pelas paixões de quem ama Roriz ou de quem ama Cristovam. Não é sobre essa Brasília que eu vou falar.
Falarei sobre a Brasília que me acolheu, como uma mãe amorosa e generosa que acolhe sua filha querida. É dessa Brasília que eu quero falar e a essa Brasília que eu quero também homenagear: a Brasília das Cristinas, e das Marias, e das Joanas, e das Joaquinas... A Brasília em que vivencio, meu querido Senador Cristovam, o mesmo tempo que vivenciei de vida política na minha querida Alagoas. Lá, foram dois anos como Vice-Prefeita e mais quatro anos como Deputada estadual, portanto, seis anos. Aqui em Brasília também já são seis anos de mandato.
Brasília é uma cidade que, ao chegarmos, nos deixa até meio atemorizados diante do que ela representou: da brilhante ousadia de JK, da beleza revolucionária e arquitetônica de Oscar Niemayer, de um maravilhoso urbanismo humanista de Lúcio Costa.
Foi nesta cidade, que ao mesmo tempo nos surpreende e também nos acolhe, que vivenciei as minhas maiores dores, quer no âmbito da política, quer no pessoal, como mãe. Foi nesta cidade que vi meus filhos crescerem, eles que aqui chegaram tão pequenos... Trazemos os filhos para cá porque Brasília funciona como a segunda casa de todas as personalidades políticas do Congresso Nacional. Foi aqui, em Brasília, que vi a generosidade das correntes de orações que foram feitas por evangélicos, por católicos e até pelo meu querido Senador Lauro Campo, que era ateu, mas rezou pela recuperação do meu filho quando ele foi atropelado numa de suas ruas. A Brasília que me viu chorar e talvez sentir a minha maior dor politicamente quando fui expulsa do Partido que dediquei os melhores anos da minha vida para ajudar a construir.(Palmas.) A Brasília na qual vemos de tudo; do mesmo jeito que em Alagoas, em São Paulo ou no Rio de Janeiro, vemos o abismo existente entre ricos e pobres. Talvez em Brasília vejamos mais porque aqui é o coração do poder político do Brasil.
Vivi a Brasília das ruas, da meninada nos sinais, do trabalhador e da trabalhadora que está lá vendendo o seu paninho de chão que dizem: “E aí, Heloísa, já vai para a luta?”; do motorista de ônibus, do taxista, das pessoas pobres; a Brasília que vivenciamos mais de perto. Por isso, muitas pessoas dizem: “Maldita Brasília do Congresso Nacional!” Porque é a Brasília bendita pelo seu povo e a Brasília maldita pela elite política e econômica tão cínica, tão incompetente e tão incapaz. (Palmas.) E aí vamos vivenciando essa dualidade de Brasília.
É por isso, Christina, que uma das mais brilhantes escritoras que este País já teve, Clarice Lispector, dizia que os ratos de Brasília se alimentam de carne humana. O pior é que é verdade. É aqui também que a população brasileira fica vendo a delinqüência protegida, quando é a do rico, e a delinqüência enfrentada com ferocidade, quando é do filho do pobre, do filho da pobreza. (Palmas.)
Por isso que Brasília mexe com o coração de todo mundo.
Certa vez, no programa do Jô Soares, ele me perguntou: “Como vai Brasília?” Aí eu disse: “A terra dos corações de pedra?” E aí recebi cartas de muitas pessoas de Brasília que diziam: “Ah! Heloísa, não diga que Brasília é a terra dos corações de pedra”. Mas eu estava me dirigindo, de fato, ao poder político que aqui está representado.
É a Brasília da rodoviária. A Brasília da dor, da humilhação, do açoite à pobreza, das mesmas vicissitudes que lá, na minha querida Alagoas, vivenciamos, mesmo estando tão perto do poder político. Ali, na rodoviária de Brasília, onde, à tardinha, vê-se a menininha que vende o corpo por um prato de comida e o menininho que fuma o crack, na marginalidade, nas drogas, como último refúgio. É esta Brasília que mexe com os nossos corações tendo em vista o profundo abismo e as gigantescas contradições. Também desta Brasília eu não poderia deixar de falar. Falam dela como se fossem só as belezas arquitetônicas e as forças importantes politicamente; não vemos a sua alma, a essência desta cidade tão querida por todos nós, que é a nossa Brasília.
A minha declaração de amor a esta cidade, à nossa segunda casa, à cidade que me abraçou e me acolheu também como filha querida, que tem o cinismo da proteção aos delinqüentes ricos, mas também tem muita gente querendo fazer o melhor para que Brasília ajude na construção de um País, não a serviço de encher a pança dos banqueiros, mas capaz de encher o prato, a vida, a dignidade da grande maioria do povo brasileiro.
Que Brasília pressione também o seu poder político para que possamos ser parte nessa tarefa maravilhosa de fazer deste País maravilhoso, que é o Brasil, uma Pátria verdadeira, que ainda não é, pode ser para uma minoria, mas não é a Pátria querida, amada, materna para a grande maioria da população brasileira. (Palmas.)
Neste dia de hoje, parabéns a nossa Brasília! Que neste dia, nós, também ao abraçar e parabenizar Brasília, sejamos capazes de, humildemente, porque ninguém é dono da verdade, reconhecer os problemas, as contradições, os abismos gigantescos que aqui são montados entre ricos e pobres para que possamos fazer essa declaração de amor a esta terra, a nossa Brasília, que é a nossa segunda casa.
Parabéns a todos que estão aqui há muito mais tempo do que eu e a certeza de que, quando aqui não mais estiver, vou ter muita saudade e vou levar Brasília e seu povo permanentemente no meu coração. (Palmas.)