Discurso durante a 44ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lançamento do P-Sol no Estado do Acre. Considerações sobre reportagem do Programa "Fantástico" da Rede Globo de Televisão, sobre nepotismo por parte de S.Exa.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Lançamento do P-Sol no Estado do Acre. Considerações sobre reportagem do Programa "Fantástico" da Rede Globo de Televisão, sobre nepotismo por parte de S.Exa.
Aparteantes
Augusto Botelho.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2005 - Página 10027
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REGISTRO, LANÇAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), ESTADO DO ACRE (AC).
  • CONTESTAÇÃO, PROGRAMA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ACUSAÇÃO, ORADOR, NEPOTISMO.
  • COMENTARIO, DIVERSIDADE, TENTATIVA, DIFAMAÇÃO, CARREIRA, ORADOR.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há dias, anunciei, desta mesma tribuna, que lá na minha terra eu, a Senadora Heloísa Helena, o Deputado Babá e a Deputada Luciana iríamos dar o pontapé inicial, ou seja, fazer o lançamento do P-Sol no Acre. Solicitamos espaço público para a realização do evento e este foi negado. Mesmo assim, tivemos a gentileza e a simpatia do SESC na minha terra, e aqui agradeço, sensibilizado, o apoio que tivemos daquela instituição. E realizamos o ato.

Os funcionários públicos, e tenho depoimentos nesse sentido, foram admoestados para que não comparecessem ao evento. Coisa inacreditável, em se tratando de século XXI, em plena democracia brasileira.

Em suma, fizemos o lançamento do P-Sol. Estamos lá na maior alegria; com todo o policiamento e patrulhamento ideológico que nos cercou, fizemos o ato com o comparecimento de muita gente. Foi um ato bonito, agradável, democrático, próprio daqueles que trabalham pela construção de um País justo e democrático.

Na véspera, Sr. Presidente, o programa “Fantástico”, da Rede Globo, mais uma vez abordou uma questão que me diz respeito. E mais uma vez agradeço a imprensa do meu País que me dá a oportunidade de voltar a este assunto. Eu, que não tenho televisão, não tenho rádio, não tenho jornal, tenho esta tribuna aqui e dela vou fazer uso, não para me defender, pois não tenho a consciência pesada para estar aqui me defendendo, mas para prestar informações. Mais uma vez, a imprensa nacional e, dessa feita, o programa “Fantástico”, da Rede Globo, não vi, mas me relataram com detalhes, o fato de que fui novamente exposto à mídia nacional, à população brasileira, como o campeão do nepotismo no Congresso Nacional.

Longe de mim estar aqui criticando a imprensa brasileira ou retificando informações. O ideal teria sido que o “Fantástico” colocasse todos os aspectos que envolveram a questão. E aqui eu o faço, já que o programa não o fez. Aqui não cabe crítica, pois a imprensa está no seu dever de prestar as informações que lhe chegam, mas eu me dou o direito de complementar essas informações. Já disse e repito quantas vezes sejam necessárias que a composição do meu gabinete tinha, sim, pessoas do meu círculo de parentesco, duas ou três pessoas que tinham parentesco direto comigo; e as demais não tinham. Posso comprovar isso com documentos. Agora, é aquela história: fui carimbado e, como carimbado, não adianta: o que eu disser aqui não terá relevância, não terá repercussão.

Tomei uma decisão e isso não foi informado pelo programa “Fantástico” - poderia ter sido porque esclareceria à opinião pública brasileira completamente -, tomei a decisão de exonerar todos aqueles que têm grau de parentesco comigo e também aqueles que não têm para me sentir à vontade e de me voltar para esse problema, para talvez dar uma contribuição para o deslinde dessa questão tão tormentosa para a população brasileira.

Estou me voltando para essa questão com a maior e absoluta atenção. O mesmo o fez, por exemplo, o Senador Tião Viana, Vice-Presidente desta Casa que, no início do seu mandato aqui no Senado empregou pessoas de seu círculo de parentesco. Contudo, refletindo sobre a questão e voltando-se com mais atenção para ela, hoje apresenta uma proposição legislativa em torno da qual todos nós debateremos, discutiremos e nos empenharemos, tenho certeza, para que ela seja aprovada. Com a proposição do Senador Tião Viana, que evoluiu, assim como eu próprio, ele, que estava em uma situação parecida com a que eu mesmo vivenciei, S. Exª evoluiu para uma reflexão mais aprofundada e teve a disposição de prestar aqui uma colaboração expressiva para o deslinde definitivo dessa questão.

Eu quero deixar absolutamente claro para as pessoas que assistiram ao programa da Rede Globo, o “Fantástico” - um bom programa, por sinal, é um programa consagrado pela população brasileira -, não faço críticas ao programa, mas o ideal teria sido que algumas outras informações fossem prestadas no sentido de esclarecer completamente a opinião pública brasileira. Sinto que já identifiquei a origem da prestação de informações à imprensa, que cumpre o seu dever, o seu papel de informar. A origem disso tudo é muito clara. Já disse e repito: a origem disso tudo são pessoas que querem me tirar do debate político, que querem me intimidar e que tentam me desmoralizar. Não vão conseguir, Senador Efraim Morais. Posso ter cometido um engano, um erro, mas sou uma pessoa honesta, séria. Jamais pretendi me locupletar com recursos públicos, aqui ou em qualquer lugar onde estive.

Estou sendo alvo de uma tentativa de linchamento político. É verdade, mas não pela imprensa, que cumpre o seu papel de informar. A origem desse linchamento político é clara, é óbvia, e eu gostaria que a população ficasse atenta. Não sou dedo-duro, delator, mas gostaria de fazer um paralelo. Há casos de parlamentares do Congresso Nacional que reconheceram, como foi noticiado no Estadão, por exemplo, ter em seu gabinete dois filhos. O assunto não teve qualquer repercussão na imprensa nacional. Por que o fato colou em mim? Por que essa tentativa de me expor continuamente na mídia, na imprensa nacional?

Vou contar um fato que contei na minha terra no lançamento do P-Sol. Quando votei contra aquela medida provisória, Senador Efraim Morais, da qual V. Exª se lembra, de triste edição, que estabelecia um ridículo aumento para o salário mínimo, confessei desta mesma tribuna que eu havia chegado a este Congresso com o coração cheio de alegria por ter ajudado a eleger o Presidente Lula, mas, naquele momento, eu sentia vergonha, o meu coração começava a ser ocupado por um sentimento de vergonha.

Dias depois, um companheiro desta Casa esteve com o Presidente Lula e, segundo me disse, o Presidente havia dito a ele que tinha ido ao Acre pedir voto para mim, ajudara a me eleger e eu o tratava dessa maneira com ingratidão. Eu pediria ao nosso ilustre companheiro Senador, se tiver a oportunidade de estar com o Presidente Lula, que dissesse a ele que o Presidente foi à minha terra pedir voto para mim, sim, e sou absolutamente grato. Mas antes disso eu já pedia voto para ele havia dezesseis anos, Senador Efraim.

O mesmo acontece no meu Estado, Senador Augusto Botelho. Estou sendo alvo de censura por grande parte da imprensa do meu Estado, estou sendo objeto de um linchamento público no meu Estado, porque me dei o direito de divergir. Fui eleito dentro do contexto da Frente Popular, que se desviou completamente dos seus propósitos e objetivos originais, e me dei ao direito de divergir. Por essa razão, estou sendo chamado de traidor e de ingrato no meu Estado.

Tenho dito que o povo acreano e o povo brasileiro, muito em breve, dirão quem traiu quem, clara e sonoramente. Não visto essa carapuça, Senador Efraim. Tenho certeza absoluta de que eu passaria um tormentoso momento neste Congresso Nacional de qualquer forma, Senador Augusto Botelho. Eu estou passando momentos difíceis no Congresso Nacional por assumir posições claras, sem jamais ofender ninguém. Mas passo momentos difíceis nesta Casa desde que aqui cheguei. Estou sendo cobrado de um mandato que atribuem à Frente Popular. De fato, ele foi construído no contexto da Frente Popular, mas as faturas que se colocaram à minha frente eram impagáveis, Senador Efraim Morais.

Eu obedeci a minha consciência e tenho passado maus momentos no Congresso Nacional por isso. Mas tenho certeza de que estaria também passando maus momentos aqui se eu tivesse cedido às pressões e tivesse, aí sim, traído a minha consciência e o povo acreano, votando aqui contra a minha consciência, contra o desejo do povo acreano e do povo brasileiro, em medidas cruéis como um reajuste pífio do salário mínimo, como uma Lei de Falência que pune o trabalhador brasileiro, como uma medida que blinda um Presidente de Banco Central que está sendo hoje investigado pelo Ministério Público por transferência irregular de recursos, por crime eleitoral e por várias outras acusações...

(interrupção do som.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Eu estaria, aí sim, Senador Augusto Botelho, da mesma forma vivendo momentos tormentosos aqui, talvez com vergonha de olhar no seu olho, Senador Augusto Botelho, porque estaria traindo a minha consciência.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Senador Geraldo Mesquita, para regularizar o tempo, V. Exª ainda dispõe de cinco minutos da prorrogação.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Agradeço a deferência, Sr. Presidente.

Eu estaria, Senador Augusto Botelho, do mesmo jeito, passando momentos difíceis nesta Casa, porque estaria andando pelos corredores com vergonha de estar aqui e de encarar meus companheiros e a população do meu Estado, por ter traído seu interesse, por ter, aí sim, cedido às pressões e votado em matérias que não interessam nem ao povo acreano, nem ao povo brasileiro, como está sendo exaustivamente comprovado nesta Casa.

Então, estou ferindo este assunto mais uma vez e - espero - pela última vez, pois não pretendo voltar a abordá-lo. Trato novamente do assunto porque aconteceu, mais uma vez, um fato relevante: um grande órgão de imprensa deste País divulgou novamente uma informação, talvez só pela metade. Não revelou o fato de que, para me voltar com mais atenção a esse assunto, fiz uma limpa no meu gabinete, exonerando aquelas pessoas que realmente tinham vínculo de parentesco comigo - penitenciei-me por isso - e também aquelas que não tinham vínculo nenhum, Senador Augusto Botelho. E estou me voltando ao assunto com absoluta atenção, visando contribuir para o seu deslinde no Congresso Nacional, assim - repito - como tem feito o próprio Vice-Presidente desta Casa, Senador Tião Viana, que, no início do mandato, coincidentemente - vejam como são as coisas na vida -, também empregou pessoas do seu círculo de amizade. Em algum momento, S. Exª refletiu, deve ter concluído que aquele não era o procedimento ideal e hoje apresenta ao Congresso Nacional uma proposta. Eu, o Senador Augusto Botelho e - tenho certeza - o Senador Efraim Morais e toda esta Casa vamos cerrar fileiras com o Senador Tião Viana no sentido de aprová-la, porque traz uma contribuição expressiva para a solução definitiva da questão dos cargos de confiança não só no Parlamento como de resto no serviço público brasileiro.

Para finalizar, agradeço sensibilizado às centenas de pessoas que compareceram ao ato de lançamento do P-Sol em meu Estado. Quero dizer aos meus ouvintes que estou solidariamente, fraternalmente, ao lado da Senadora Heloísa Helena, uma grande mulher, uma grande Parlamentar, uma pessoa que vai dar ainda uma contribuição mais expressiva a este País.

Agradeço também ao Deputado Babá e à Deputada Luciana Genro, que, apesar de terem uma agenda pesadíssima, gentilmente se deslocaram ao Acre e cumpriram lá uma tarefa importante para a militância do P-Sol naquele Estado. Quero agradecer aqui a disposição que esses Parlamentares tiveram ao me acompanhar e dizer que estamos envolvidos na construção de um partido democrático-socialista que, tenho certeza, dará uma contribuição expressiva para a construção e o aperfeiçoamento da democracia brasileira.

Ouço com prazer o Senador Augusto Botelho.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Senador Geraldo Mesquita, pedi um aparte só para deixar aqui bem claro ao povo acreano que tenho visto as suas posições nesta Casa e em momento algum V. Exª votou qualquer matéria que aumentasse imposto ou que fosse contra o trabalhador. Inclusive, os três Senadores que estamos presentes neste momento votamos a favor de um salário mínimo maior, que depois caiu na Câmara dos Deputados. E gostaria de dizer a V. Exª que também não possuo emissora de televisão, nem de rádio, não tenho nada, porque com o salário de parlamentar não é possível comprar isso. Eu tenho um pouco de dúvida em relação a essas pessoas. Sou apenas um médico do interior, então não tenho indústria, supermercado, shopping center etc. Por isso, penso que não vamos nunca ter isso. V. Exª se parece comigo no posicionamento de que chegamos aqui pelos pequenos e vamos sempre ficar ao lado deles, defendendo-os. Muito obrigado.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Agradeço a sua intervenção, Senador Augusto Botelho. V. Exª é uma pessoa simples, do povo. Eu me considero assim também e me sinto honrado com a sua companhia neste Parlamento e com a sua intervenção neste momento.

Encerro, Sr. Presidente, agradecendo a sua gentileza pela prorrogação do tempo para permitir que o Senador Augusto Botelho também faça uso da palavra.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/2005 - Página 10027