Discurso durante a 44ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Suspensão, pela Rússia, do embargo à importação de carne brasileira, bovina e suína, proveniente dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Autor
Valmir Amaral (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PECUARIA.:
  • Suspensão, pela Rússia, do embargo à importação de carne brasileira, bovina e suína, proveniente dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2005 - Página 10037
Assunto
Outros > PECUARIA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, DECISÃO, PAIS ESTRANGEIRO, RUSSIA, SUSPENSÃO, VETO (VET), IMPORTAÇÃO, CARNE BOVINA, SUINO, PROCEDENCIA, ESTADOS, BRASIL.
  • REGISTRO, CRESCIMENTO, REFORÇO, SETOR, PECUARIA, BRASIL, PERIODO, IMPEDIMENTO, EXPORTAÇÃO, GADO.

o sr. valmir amaraL (PMDB - DF. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, recebemos, logo na primeira semana do mês de março, a boa notícia de que a Rússia suspendeu o embargo à importação de carne brasileira, tanto bovina quanto suína, proveniente dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás, que vêm agora se juntar a Santa Catarina, único Estado reconhecido internacionalmente como livre de febre aftosa, sem vacinação. Todos esses agora são reconhecidos pelo Governo russo como livres da febre aftosa. Os russos exigem apenas que duas providências sejam cumpridas. Com relação à carne suína, que seja observada uma maturação de 24 horas. Quanto à carne bovina, que haja a identificação do animal.

Essa decisão coroa os esforços do Governo Federal e dos pecuaristas para suspender o veto russo, decretado inicialmente em junho do ano passado, após a detecção de um foco de febre aftosa no Município de Monte Alegre, no Pará, e reforçado em setembro, com o surgimento de um novo foco no Amazonas. A proibição de exportação para a Rússia ainda atinge hoje Estados próximos à região amazônica, como o Tocantins e o Mato Grosso, e isso deve ainda perdurar. De todo modo, é já uma importante vitória que outros membros da Federação tenham conseguido comprovar a sanidade de seus rebanhos e tenham retomado suas vendas para o importante mercado russo.

De fato, a dura decisão russa, no ano passado, de fechar seu mercado às carnes brasileiras foi exagerada, como desde cedo insistiram o Governo e os pecuaristas. As regiões nas quais foram detectados os focos de febre aftosa não são regiões exportadoras. Ainda assim, movidos também, senão principalmente, por razões políticas, que envolvem as negociações para a entrada da Rússia na Organização Mundial de Comércio, os russos suspenderam suas importações.

Isso foi, Sr. Presidente, sem dúvida nenhuma, um golpe importante para nossos pecuaristas. O mercado russo é um mercado significativo para o Brasil. A Rússia representa 12% das nossas exportações de carne bovina e é um dos maiores consumidores da carne suína produzida no Brasil. Estima-se que, com o embargo, nossos produtores deixaram de exportar US$4 milhões por dia, além de enfrentarem uma queda generalizada no preço de seus produtos, especialmente da carne suína.

A própria Rússia, no entanto, prejudicou-se também, e dificilmente poderia manter sua suspensão por muito mais tempo. O Brasil é, hoje, o principal exportador de carnes para os russos. Exportamos 35% da carne bovina consumida na Rússia e 74% da carne suína. Na verdade, com os problemas sanitários, especialmente a chamada doença da “vaca louca”, que afetaram diversos países com tradição na exportação de carnes, o Brasil tornou-se um parceiro especialmente importante não apenas para a Rússia, no que diz respeito ao abastecimento do mercado mundial de carnes.

O Brasil tem, hoje, o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 182 milhões de cabeças de gado. Exporta para mais de 100 países, já sendo o maior exportador mundial de carnes. E uma de nossas maiores vantagens competitivas é, justamente, que aqui criamos o chamado “boi verde”, que se alimenta de forma mais natural, evitando as doenças de que são mais suscetíveis os animais criados em confinamento, submetidos a uma alimentação artificial, com base em rações. Foi esse um dos fatores que nos permitiu ocupar os espaços abertos, à medida que tradicionais exportadores se retiravam do mercado em função do espalhamento da doença da “vaca louca”.

De resto, Sr. Presidente, esse episódio do embargo russo, se, por um lado, provocou efeitos negativos evidentes, serviu, por outro, para demonstrar cabalmente a força da pecuária nacional. Mesmo com a suspensão das exportações para a Rússia, que, como eu disse, é um parceiro comercial dos mais importantes para a pecuária de nosso País, os embarques de carne geraram, em 2004, uma receita de quase US$6 bilhões, um total 42% maior do que o de 2003. Hoje, assumimos a liderança mundial na exportação de carne bovina, em termos de volume, e de carne de frango, tanto em volume quanto em receita.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por trás da decisão russa de suspender as importações de carne brasileira, como sugeri antes, estão motivações variadas. Do ponto de vista técnico, o Brasil já tinha todas as condições, logo quando foi anunciado o embargo, de desfazer todas as dúvidas e afastar todos os receios. A decisão demorou a ser revista, mas, felizmente, tanto para os produtores brasileiros, quanto para o mercado russo, prevaleceu o bom senso, e hoje a proibição foi praticamente levantada.

Sejam quais forem, no entanto, os motivos e as razões que provocaram o embargo, ficam algumas lições inequívocas para nós, brasileiros. À primeira já fiz referência acima: trata-se da força e da importância que adquiriu o setor pecuário, crescendo de forma expressiva mesmo diante dessa contrariedade, que não foi pequena.

A segunda lição que deveríamos aprender com todo esse episódio é cuidar, minuciosa e incansavelmente, de manter o padrão de sanidade de nossos rebanhos. No competitivo mundo do comércio exterior, qualquer detalhe pode ser usado com a finalidade de anular nossas vantagens. Não nos podemos dar ao luxo de proporcionar oportunidades para que algum país aja contra nossos interesses.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/2005 - Página 10037