Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a escolha do sucessor de João Paulo II, o Papa Bento XVI.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Considerações sobre a escolha do sucessor de João Paulo II, o Papa Bento XVI.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2005 - Página 9752
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, ESCOLHA, BENTO XVI, PAPA, ELOGIO, VIDA, ATUAÇÃO, IGREJA CATOLICA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, DIFUSÃO, CRENÇA RELIGIOSA, MUNDO.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejo, neste instante, fazer breve registro do regozijo que pervaga a comunidade católica do mundo todo e - por que não dizer - a comunidade internacional.

Ao tomar conhecimento da escolha do novo Papa, que terá a difícil e complexa missão de suceder ao predecessor João Paulo II, que durante quase 27 anos, cumpriu a elevada tarefa de Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana; ao celebrar a escolha do Cardeal Joseph Ratzinger como Papa Bento XVI, eu gostaria de salientar duas qualidades que a meu ver ornam o seu caráter e a sua densa formação religiosa. Em primeiro lugar, o fato de ser um teólogo na plena acepção do termo. E não é por outra razão que a ele, na Santa Sé, cumpria chefiar a Secretaria de Estado para os Assuntos da Fé. Isto é, um decastéreo extremamente caracterizador de alguém conhecedor em profundidade da teologia, e conseqüentemente capaz de interpretar adequadamente a mensagem que Cristo nos deixou há mais de dois mil anos; ou seja, quando o eterno entrou no tempo por meio do rosto de Jesus, cujo acontecimento foi de significativa e transcendente expressão para o mundo todo.

Eu diria que o Papa Bento XVI é antes de tudo alguém que vai ocupar a cadeira petrina sendo um teólogo, capaz de continuar a fazer, como seus predecessores, a transmitir o tesouro da fé que Cristo deixou não somente nos seus Evangelhos, mas também pelo enriquecimento que, ao longo do tempo, a Igreja foi obtendo pela manifestação de seus santos e mártires que constituem a patrística e também pela doutrina social da Igreja, extremamente densa e rica, que teve em Leão XIII um dos seus principais formuladores com a encíclica, em fins do século XIX, intitulada Rerum Novarum.

O outro fato que eu gostaria de destacar na figura do Cardeal Ratzinger é ele ser uma pessoa extremamente humilde, isto é, ao tempo que é um grande pensador, um grande intelectual que fala mais de dez idiomas, um grande teólogo, ele é também uma pessoa muito humilde. E isso ficou comprovado no instante em que, ao ser aclamado Papa, haver declarado que seria um humilde trabalhador da videira de Cristo, isto é, um continuador da obra de Cristo, que pregou a simplicidade, a pobreza, o despojamento dos bens materiais, a vida em comunhão. Tal me faz lembrar a observação de Dominique Bertrand, buscando interpretar Santo Inácio de Loyola, afirmou “subir é descer”. Vale dizer que a melhor forma de a pessoa se afirmar é pela humildade, pela simplicidade e, sobretudo, pela capacidade de amar o outro e, conseqüentemente, de conviver com o outro, inclusive com o diferente.

É de se prever que o Papa Bento XVI terá dois grandes desafios: o primeiro é continuar o trabalho notável desenvolvido por João Paulo II, posto que, como Papa peregrino, conseguiu levar a sua mensagem a todo o mundo. Mais do que isso, João Paulo II teve a preocupação de desenvolver o diálogo inter-religioso. Foi o primeiro Papa a visitar uma sinagoga e, conseqüentemente, a estar com os judeus, com os rabinos; foi o primeiro Papa a visitar uma mesquita, convivendo com os muçulmanos, portanto; desejou ir à Rússia para interagir com a Igreja Ortodoxa Russa. Isso não foi possível, não pela sua falta de vontade, mas por dificuldades que enfrentou em função de momentos tensos que a Rússia viveu nos últimos anos.

Além de buscar o diálogo inter-religioso, procurou fazer a enculturação da fé, fazer com que os ensinamentos de Cristo fossem pregados de acordo com as diferentes comunidades que caracterizam o mundo dos nossos tempos. Foi também alguém que defendeu e realizou o convívio ecumênico.

Daí por que não tenho dúvida em afirmar que o Papa Bento XVI vai cumprir essa tarefa, dando continuidade ao que desejava João Paulo II.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Mas ele terá uma outra tarefa, não menos simples, que é a de viver num mundo em transformação e buscar iluminar com a luz do Evangelho todo o povo de Deus. Certamente ele terá êxito, porque não lhe faltam condições intelectuais, nem as condições de teólogo e de grande pensador. Ele, inclusive, foi um auxiliar do Papa João Paulo II na formulação de encíclicas como, por exemplo, fides et ratio - fé e razão - dilucidando temas complexos como o aparente conflito que existe entre ciência e fé. 

Sr. Presidente, entre esses desafios estão os ligados às questões políticas nos albores do século XXI, do terceiro milênio da era cristã. A busca da paz, em que o Papa João Paulo II foi inexcedível, inclusive na questão do Iraque, ou no arbitramento do conflito do Canal de Beagle entre a Argentina e o Chile, no qual o Cardeal Antonio Samoré obteve entendimento evitando o apelo às armas. Ele terá de continuar o convívio com outras confissões religiosas e finalmente com as questões que estão sendo suscitadas pelo progresso da ciência e da tecnologia.

A esse respeito o Papa João Paulo II, na Academia de Ciência da Áustria, se não me engano, num de seus inspirados pronunciamentos, fez questão de lembrar que a toda ciência deve corresponder uma consciência, a toda técnica deve corresponder uma ética, porque devemos, cada vez mais, ter consciência de que há o primado do homem sobre a natureza e de Deus sobre o homem.

Concluindo minhas palavras, Sr. Presidente, - penso interpretar o sentimento do Senado Federal -, faço essa manifestação ainda colhido pela surpresa do anúncio do novo Papa, que naturalmente representou um consenso, posto eleito nos primeiros dias do conclave. Ao tempo em que expressamos o sentimento de júbilo pela escolha do novo Papa, desejo ao Sumo Pontífice votos de pleno êxito na sua difícil e sáfara função. Certamente, toda a Igreja, a partir do Colégio de Cadeais, isto é, de toda a hierarquia da Igreja - aí expressando o sentimento de todos os fiéis -, não tenho dúvida em reafirmar que o Papa...

(Interrupção do som.)

            O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - ... terá condições de contar com o apoio de todos para que bem possa cumprir a sua missão.

            Como o Brasil é uma comunidade, em sua maioria, católica, acredito que aqui não faltará todo o apoio para que Sua Santidade possa cumprir plenamente a grande missão que lhe foi confiada. Pois a Igreja Católica Apostólica Romana tem no seu magistério o objetivo central de transmitir a mensagem de salvação que Cristo nos trouxe e preconiza a construção de uma sociedade justiça, pacífica e que viva em liberdade e em paz, num mundo socialmente mais justo.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Agradeço a V. Exª o tempo que me concedeu.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2005 - Página 9752