Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia Nacional do Livro Infantil e Dia de Monteiro Lobato.

Autor
Valmir Amaral (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Comemoração do Dia Nacional do Livro Infantil e Dia de Monteiro Lobato.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2005 - Página 9877
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, LIVRO, CRIANÇA, DIA, MONTEIRO LOBATO (SP), ESCRITOR, ELOGIO, NACIONALISMO, ATUAÇÃO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), AUTORIA, REPRESENTANTE, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO), BRASIL, IMPORTANCIA, INCENTIVO, LEITURA, REGISTRO, DADOS, ANALFABETISMO, GRAVIDADE, DEFICIENCIA, EDUCAÇÃO, EFEITO, DESIGUALDADE SOCIAL.

O SR. VALMIR AMARAL (PMDB - DF. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o dia 18 de abril marca dois momentos significativos de nosso calendário cívico, a saber: o Dia Nacional do Livro Infantil e o Dia de Monteiro Lobato, nascido em 18 de abril de 1882. Monteiro Lobato foi, certamente, um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX em razão de sua série de livros infanto-juvenis “O Sítio do Pica-pau Amarelo”.

Esses dois eventos coincidiram com a publicação de artigo no jornal Correio Braziliense, de 10 de abril último, intitulado “Viva(mos) a leitura!”, escrito pelo Sr. Jorge Werthein, representante, no Brasil, da Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Gostaria, pois, de iniciar este pronunciamento com algumas digressões sobre o artigo do Sr. Jorge Werthein.

A leitura desse artigo e a proximidade do dia 18 de abril vieram a ajudar a minha reflexão sobre alguns temas que me são caros, como a importância da educação para o desenvolvimento nacional.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de acordo com as estatísticas compiladas pelo Sr. Jorge Werthein, 9% de nossa população com mais de 15 anos é analfabeta absoluta, ou seja, é completamente incapaz de ler ou de escrever. Além disso, 66% de nossa população com mais de 15 anos se enquadra na categoria de analfabeto funcional, ou seja, sequer domina os rudimentos mais básicos da escrita e da leitura. Em outras palavras, lê, mas não entende o que lê.

Em suma, em termos práticos, apenas 25% de nossa população com mais de 15 anos de idade sabe ler e escrever. Esse percentual não explica, obviamente, por si só, a situação de exclusão social existente em nosso País. No entanto, ajuda a compreender o grave quadro de desigualdade social.

A leitura, isto é, a capacidade de obter conhecimento e de comunicar-se com o legado intelectual acumulado pela humanidade, é fator determinante na melhoria das condições sociais de um indivíduo. Não é por acaso que quanto mais anos de estudo uma pessoa tem, maiores tendem a ser os seus rendimentos mensais.

Os males do analfabetismo adulto se originam da educação básica deficiente, da falta de bibliotecas públicas na maioria de nossas cidades e da falta de incentivo para que crianças e adolescentes leiam. Em suma, crianças que não lêem muito provavelmente se tornarão adultos que não lêem.

Feita essa digressão, que me parece importante no momento em que comemoramos o Dia Nacional do Livro Infantil, gostaria de discorrer sobre a obra e a vida de Monteiro Lobato.

Monteiro Lobato foi um inovador, um revolucionário, mesmo para os padrões de hoje. Além de ser brilhante escritor, Lobato foi editor, proprietário de editoras de livros e defensor de diversas causas em favor do povo brasileiro e do progresso do Brasil.

No final dos anos 20, por exemplo, Lobato foi ardoroso defensor da produção de ferro em nosso País, chegando, inclusive, a escrever um livro sobre o tema e a investir em uma empresa destinada à exploração e à manufatura do ferro. Isso, vejam bem, muito antes de Volta Redonda e da Companhia Siderúrgica Nacional.

Nos anos seguintes, em meados da década de 30, torna-se defensor da exploração de petróleo em nosso País. É de 1936 o seu famoso livro “O Escândalo do Petróleo”, obra que busca despertar a consciência de nosso povo para a necessidade de exploração desse produto por empresas nacionais. Novamente, Lobato agiu muito antes da criação da Petrobras, no início da década de 1950.

Apesar, é claro, da importância dessas iniciativas para o progresso do Brasil, gostaria de falar um pouco mais sobre o Lobato escritor, especialmente sobre o escritor que se dedicou à literatura infantil. Sua já citada série de livros sobre o Sítio do Pica-pau Amarelo foi, e ainda é, um dos grandes sucessos editoriais e literários do Brasil.

Reproduzo, aqui, as palavras do crítico literário Cassiano Nunes: “(...) um dos traços mais visíveis a garantir o êxito da obra é o imediatismo da narração. Tudo é descrito vivamente e de modo rápido. No Sítio do Pica-pau Amarelo, não existe diferença entre realidade e fantasia. A obra infantil de Lobato caracteriza-se pela vontade de libertação. Moralismo convencional e sugestões religiosas foram aí abolidos. Lobato, antes de mais nada, louva a vida. Seus livros acreditam na inteligência das crianças.”

Nos livros infantis de Lobato, encontramos expressos todos os ideais do autor. Em primeiro lugar, a escrita sedutora, agradável, capaz de atrair e de formar um público leitor. Em segundo lugar, os livros são meio em que Monteiro Lobato exprime os seus projetos para o Brasil. Como vimos, o escritor paulista foi um inovador, um homem décadas à frente de seu tempo, ao fundar editoras, ao criar mecanismos inovadores da venda de livros e defender projetos como a alfabetização, o saneamento básico, a industrialização e a exploração do petróleo.

Muitas vezes, os projetos de Lobato pareceram ingenuidades ou loucuras. Nunca foram. Monteiro Lobato foi, na verdade, um homem com energia e força criativa capazes de enfrentar as dificuldades econômicas, o provincianismo, a estreiteza mental, bem como políticos desinteressados de nossa gente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aproveitei o transcurso do Dia Nacional do Livro Infantil e o Dia de Monteiro Lobato para tratar de alguns temas que são caros para todos nós, Senadores. Apesar das diferenças de idéias e de ideais existentes entre nós, tenho a firme convicção de que todos partilhamos de um mesmo princípio: querer o melhor para o Brasil. Monteiro Lobato é talvez o exemplo perfeito de que, por maiores que sejam os obstáculos, jamais se pode desistir da luta.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2005 - Página 9877