Discurso durante a 45ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com as notícias de que cheques sem fundo batem todos os recordes em março.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL.:
  • Preocupação com as notícias de que cheques sem fundo batem todos os recordes em março.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2005 - Página 10103
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • GRAVIDADE, AUMENTO, CHEQUE, AUSENCIA, FUNDOS, EFEITO, REDUÇÃO, RENDA, BRASILEIROS, REGISTRO, DADOS, CONTRADIÇÃO, PROPAGANDA, GOVERNO, CRESCIMENTO ECONOMICO.
  • REGISTRO, VISITA, ORADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), RECLAMAÇÃO, PREJUIZO, PRODUTOR, AGROPECUARIA.
  • ANALISE, ECONOMIA NACIONAL, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aconteceu o que eu mais temia. Senador Pedro Simon, como Parlamentar de Oposição, venho há bastante tempo tecendo comentários, exercendo a crítica legítima, cobrando uma postura mais pragmática do Governo no que diz respeito à renda, ao emprego e à retomada do crescimento. Quantas vezes falei da perversa taxa de juros!

Hoje, está divulgada na grande imprensa e deverá constar dos jornais de amanhã a ponta do iceberg.É a seguinte a manchete das “Últimas Notícias” do site da UOL: “Cheques sem fundos batem todos os recordes em março, diz Serasa”.

Senador Alvaro Dias, o cidadão que compra deixa de pagar porque quer, porque é caloteiro ou porque não pode pagar? Deixa de pagar porque não pode pagar.

O que está acontecendo, Senador Jonas Pinheiro? A renda do brasileiro, ao longo desses últimos 24 meses, não cresceu. O emprego, na minha opinião, dentro de uma bolha, cresceu; a atividade industrial, de três meses para cá, vem caindo; a renda, igualmente; o emprego, idem. O inevitável aconteceu. As pessoas foram iludidas pelos fogos de artifício soltados pelo Governo, que apregoou - índice divulgado em dezembro - crescimento do PIB de 5,2%. Disseram que o País estava explodindo e que o nível de emprego iria crescer. Com os financiamentos de 12, 24 e 36 meses, as pessoas se animaram a comprar. A renda não cresceu, o emprego caiu, e as pessoas caíram na realidade: não estão podendo pagar o que compraram.

Senador Efraim Morais, os dados, perversos e altamente preocupantes, são os seguintes: em março de 2005, de cada mil cheques processados, 20,8 não foram honrados. Em março, foram processados 170 milhões de cheques, e 3,5 milhões deles foram devolvidos - um recorde desde que o índice do Serasa foi criado. Foram assinados 3,5 milhões de cheques por 3,5 milhões de brasileiros que compraram de boa-fé, que compraram porque acharam que poderiam pagar e que estão agora no Serasa como inadimplentes e caloteiros.

O que, na minha opinião, aconteceu? Contração de renda familiar, desemprego por dois meses seguidos e uma renda que não cresce. E o Governo Lula apregoa 5,2% de crescimento! O Presidente da República, como um grande animador de auditório, prega que 2005 e 2006 serão anos de bonança, que é céu de brigadeiro, que tudo vai muito bem!

Senador Jonas Pinheiro, não foi o que vi e ouvi em seu Mato Grosso agora. Estive no eldorado brasileiro: Mato Grosso do Sul e seu Mato Grosso. Tive oportunidade de, neste fim de semana, andar pelo interior, ver as pastagens maravilhosas, ver os rebanhos nelore e conversar com proprietários, pequenos e grandes. A conversa é uma só: o dinheiro que ganharam em 2004 com a soja e com o milho, em razão de uma conjuntura internacional compradora, morreu; o lucro de 2004 é coisa do passado. Pegaram mercado mundial comprador, altos preços das commodities e custo de produção compatível com o preço de venda. Animados pela expectativa criada pelo próprio Governo, o governo do espetáculo do crescimento, da promessa de crescimento do PIB de cinco, seis, sete ou oito pontos percentuais, plantaram para colher em 2005. Houve até seca! Compraram insumo a dólar de R$3,20 e vão vender a produção com dólar de R$2,55 a R$2,60.

O que eles me disseram, Sr. Presidente, é que estão no prejuízo real. Alguns, os poderosos, estão vendendo tratores de esteiras, tratores de pneus, e os que tinham avião os estão vendendo para pagar as contas. Do pequeno com quem conversei, perto do Município de Bonito, no aeroporto perto do hotel onde fiquei, ouvi que tudo o que ele iria apurar, como plantador de milho, não dava para pagar a conta do banco.

A perspectiva para 2005 e 2006 não é boa. E aí entra o meu temor. Estamos vivendo um governo de marketing, de propaganda, de criação de expectativas fantasiosas, mas no qual as pessoas confiam. Sr. Presidente Eduardo Siqueira Campos, quem é que não confia na palavra de Presidente da República? Quem é que, morando no interior do Tocantins de V. Exª ou no interior do meu Rio Grande do Norte, não acredita na palavra de esperança do Presidente da República, do grande animador de auditório? É claro que nela acreditam. E, acreditando, compram, fazem carnê, porque esperam que o País vai crescer, que o emprego para eles vai existir, que a renda deles vai crescer, que o que eles plantarem o terreno vai produzir e vão ter a quem vender. E compram, e compram, e aí aparecem os cheques sem fundo, que são a minha preocupação. Os cheques sem fundo são a ponta do iceberg.

Está na hora de a equipe econômica do Presidente da República dizer: “Vamos ter parcimônia; vamos acabar com o governo espetáculo; vamos acabar com a pregação de uma esperança que não vai acontecer; vamos viver a realidade ou vamos mudar a postura e fazer o que deve ser feito”. E o que deve ser feito não é o que está sendo feito em matéria de criação de mercado e de expectativa nova de produção.

Está na hora de o Governo acabar com o tipo de viagens que vem fazendo. O Presidente deveria ter ido para as exéquias de Sua Santidade, mas não deveria ter voltado pela África, em uma viagem espetáculo, criticada pelo próprio Ministro do Desenvolvimento. O que foi o Presidente fazer em Guiné-Bissau? O que foi fazer na Nigéria? Lá, nem reunião de trabalho houve. Para que a criação desse espetáculo do resgate do Presidente da República do Equador?

O que o Presidente precisa, Senador Efraim Morais, é fazer viagens bem programadas para vender o Brasil nos Estados Unidos, que compram do Brasil 1,3% de suas importações. O Governo precisa ir à União Européia discutir a não-taxação, por exemplo, da banana importada do Brasil que, de repente, vai para 230 euros por tonelada. É isso o que o Governo tem de fazer. É preciso acabar com o governo espetáculo, com a criação de expectativa, que leva a esta coisa preocupante e que significa a ponta do iceberg: o recorde de cheques sem fundo que aconteceu no Governo Lula, cheques de cidadãos brasileiros de boa-fé que acharam que podiam comprar porque poderiam pagar, mas acordaram com a dura realidade de não poder pagar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2005 - Página 10103