Discurso durante a 45ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Dificuldades enfrentadas por setores do agronegócio.

Autor
Jonas Pinheiro (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Jonas Pinheiro da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Dificuldades enfrentadas por setores do agronegócio.
Aparteantes
José Agripino, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2005 - Página 10111
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • APREENSÃO, RECESSÃO, AGRICULTURA, AGROINDUSTRIA, EXPORTAÇÃO, REGISTRO, DADOS, REDUÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, FEIRA, MUNICIPIO, RONDONOPOLIS (MT), ESTADO DE MATO GROSSO (MT).
  • COMENTARIO, REUNIÃO, EMPRESARIO, ANALISE, PREJUIZO, EXPORTAÇÃO, REDUÇÃO, VALOR, DOLAR, AUMENTO, JUROS, PROBLEMA, PRAGA, SECA, INFERIORIDADE, PRODUTIVIDADE.
  • SOLICITAÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, AUXILIO, AGRICULTOR.
  • SAUDAÇÃO, SUPERIORIDADE, COMERCIALIZAÇÃO, GADO, LEILÃO, MUNICIPIO, AGUA BOA (MT), ESTADO DE MATO GROSSO (MT).

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago a esta tribuna um assunto que vimos tratando seguidamente e, infelizmente, com informações que prevíamos há algum tempo.

Refiro-me ao agronegócio brasileiro. Aquele que foi, nos últimos 10 anos, o grande estímulo da economia do Brasil, hoje passa por situações desagradáveis. Quero dar um exemplo do que está acontecendo.

O termômetro dessa situação se fez notar em Rondonópolis. Este ano, foi realizado, naquela cidade, mais um Agrishow Cerrado, o segundo maior do Brasil. O resultado do agronegócio brasileiro era positivo até no ano passado. Porém, este ano, Sr. Presidente, passou a ser negativo.

Senador José Agripino, V. Exª se referiu aqui a esse assunto e quero confirmar o que V. Exª ouviu nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. No Agrishow Cerrado do ano passado, em Rondonópolis, houve a comercialização de R$1,3 bilhão. Este ano, a comercialização não passou de R$250 milhões. Corajosamente, o agronegócio, por meio de seus representantes - seja da Abimaq, seja da Fundação Mato Grosso, seja do Governo do Estado do Mato Grosso - realizou a feira sabendo do problema que ia enfrentar. Entretanto, dele não fugiram.

Senador José Agripino, já é histórico: no Agrishow Cerrado, em Rondonópolis, toda vez que se vendia um avião agrícola soltavam foguete. Ano passado, soltaram oitenta e quatro foguetes; este ano, soltaram apenas quatro foguetes! Ano passado, venderam oitenta colheitadeiras; este ano, venderam menos de dez. E não é para menos que isso tenha acontecido. Todos nós já conhecíamos a situação.

Sr. Presidente, no terceiro dia do Agrishow Cerrado, fomos à casa do Dr. Gilberto, da Girassol, que é o meu primeiro suplente de Senador, tomar café com os representantes da Abimaq. Lá estavam representantes de três empresas: a Tatu, a Jacto e a Jumil. Eles me contaram que, no primeiro dia do Agrishow deste ano, receberam apenas 15% dos pedidos em relação ao primeiro dia do Agrishow anterior e, no segundo dia, apenas 12%. E aí esses homens, ligados à indústria, diziam que o Governo Federal está enganado em querer argumentar que é por causa da exportação que o Brasil está indo bem, porque a exportação seria o termômetro da saúde econômica do Brasil.

Argumentei a respeito disso com esses senhores da indústria e eles foram claros: estamos exportando com prejuízos enormes, estamos produzindo e exportando para não fecharmos as nossas indústrias, na esperança de uma recuperação no próximo ano.

Srs. Senadores, sabíamos da queda da renda - porque o preço dos produtos estava muito mal - e também da queda do dólar, que, naquela época, estava cotado a R$2,80, e hoje está entre R$2,50 e R$2,60. Todos sabemos que a queda do dólar é um fator que está causando todo esse prejuízo para o Brasil. Porém, o aumento do custo também é um dos responsáveis pela atual situação do agronegócio. A safra que ainda estamos colhendo foi produzida com insumos, máquinas e equipamentos comprados com o dólar cotado a R$3,20. E - pasmem! - estamos vendendo esse produto, resultado desses insumos e equipamentos comprados com o dólar no valor de R$3,20, entre R$2,50 e R$2,80.

O constante aumento dos juros... Não há produto do agronegócio que sustente o aumento de juros. E ainda, por azar, estamos aí, Srs. Senadores, com o problema da ferrugem na soja. Há dois anos, aplicava-se uma vez o fungicida para a ferrugem; ano passado, aplicaram-se duas vezes e este ano, aplicaram-se de três a quatro vezes. Cada aplicação corresponde a três sacos de soja. Ora, quem aplicou quatro vezes, só para combater a ferrugem, gastou, da sua produção, doze sacos de soja. Por fim, tanto o sul como o centro-oeste do País - e V. Exª, Senador Agripino, foi testemunha da drástica situação de Mato Grosso do Sul - sofreram com a seca. Em decorrência disso, a produtividade no sul do País caiu em 70%. Também no centro-oeste, houve uma queda vertiginosa em função da ferrugem e da seca. Em áreas em que normalmente se produzem de 50 a 60 sacos de soja por hectare, foram produzidos, neste ano, de 30 a 35 sacos de soja por hectare.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL - MT) - Sim, pois não. Meu Deus! Se todas essas conseqüências fizeram cair a renda do produtor, como sustentar o agronegócio agora?

Por isso, faço esse alerta.

Concedo o aparte ao eminente Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Jonas Pinheiro, V. Exª não perde o cacoete de ser a voz do agricultor. Faz um pronunciamento que toda esta Casa deveria estar ouvindo, que o Brasil todo deveria estar ouvindo. Senador Jonas Pinheiro, por indicação dos companheiros do PFL, exerço a Liderança do Partido no Senado. O PFL faz Oposição, e minha obrigação é fiscalizar, cobrar, denunciar, fazer pronunciamentos ácidos, para que a opinião da Oposição, que é construtiva, seja ouvida. Tenho feito até denúncias aqui, Srª Presidente Serys Slhessarenko. As pessoas até poderiam dizer depois do que falei: “Essa é a palavra da Oposição, do Senador José Agripino, que é useiro e vezeiro em contestar o Governo”. Mas, Senador Jonas Pinheiro, V. Exª, homem moderado e equilibrado, com muito mais abrangência, disse o que eu disse em poucas palavras há uma hora, com o sentimento de estar expressando a dor da agricultura e do agricultor no Brasil, tanto que, no seu pronunciamento agora, já enveredou pela ferrugem, pela linguagem técnica. Já entrou pela dificuldade decorrente da praga, porque não perde o cacoete de falar como agricultor, o que dá credibilidade dobrada à sua palavra e à sua opinião. Disse V. Exª: 84 foguetes no ano passado; quatro foguetinhos agora, porque só quatro aviões foram vendidos no agrishow deste ano. As colheitadeiras foram 10 a zero. É o que estamos ouvindo. Há pouco, falei sobre a ponta do iceberg, a quantidade de títulos ou de cheques devolvidos, cheques sem fundo devolvidos pela sociedade como um todo. O setor econômico mais próspero deste País é o agronegócio. V. Exª fala com extrema propriedade, mostra dados extremamente contundente e atuais, fala dos dados do agrishow que acabou de acontecer em Rondonópolis e mostra o retrato real do desestímulo à agricultura, que é o setor mais fulgurante da economia brasileira e que está passando por um mau pedaço. O que mais me preocupa, Senador Jonas Pinheiro, é que a agricultura brasileira - e a agricultura é uma vocação do Brasil, principalmente do seu Centro-Oeste - não pode receber estímulos de fogos de artifício, estímulos irreais. A agricultura brasileira precisa receber das autoridades, do Presidente da República, um estímulo real. Não pode correr risco baseado em input político. Já chega o risco da ferrugem! Já chega o risco da seca! Já chega o risco inerente à própria atividade agrícola para sofrer o risco do input político, da motivação política! “Plante, que você vai ganhar! Plante, que o PIB vai crescer 5,2% de novo ou 5,5%!”, diz o Presidente da República. Tem de haver parcimônia, e os dados que V. Exª aponta são um alerta ao País. A conjuntura internacional não é mais a mesma. O dólar não vale mais R$3,60, R$3,50, R$3,40, R$3,20 ou R$3,00. Vale R$2,55. Quem plantou está no prejuízo, e não pode mais presidente da República estimular plantio para que as pessoas plantem - os desavisados, os pequenos, os menos informados - e quebrem, como vi pessoas prestes a quebrar no Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso. Por isso, é importante o alerta de V. Exª, com a propriedade e o conhecimento de causa que tem, para que possamos desempenhar a boa Oposição, o alerta construtivo, para evitar o pior, para evitar que, em função do mau conselho, em função do conselho baseado nos fogos de artifício e do marketing inconseqüente, pessoas venham a passar necessidade e famílias venham entrar em desespero. Parabéns a V. Exª!

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL - MT) - Muito obrigado, eminente Senador José Agripino, Líder do PFL, que conheceu essa situação no Centro-Oeste brasileiro. Eu não podia deixar de revelar essas informações como de fato são.

Em 1995, em função dos planos econômicos, inclusive do Plano Real, chegamos ao fundo do poço. Naquela época, Srªs e Srs. Senadores, o produtor brasileiro era considerado caloteiro e mau pagador. Porém, com muito esforço desta Casa, conseguimos negociar a dívida desses produtores, por intermédio do processo de securitização, de Pesa, do Pronaf, do Procera, do Funcafé, da recuperação das cooperativas, dos fundos constitucionais - FNE, FNO, FCO.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Jonas Pinheiro, permita-me V. Exª um aparte?

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL - MT) - Senador Mão Santa, concederei o aparte a V. Exª logo após concluir este pensamento.

Essa situação da renegociação de dívida é que incorporou novamente o agronegócio no processo de crescimento deste País. E a agricultura veio a ser o que ainda era até o ano passado. Os produtores deixaram de ser caloteiros, a sociedade reconheceu isso e passou a chamar o agricultor de herói nacional.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL - MT) - Pois bem, é esse herói nacional que hoje está a pedir, eminente Presidente, o apoio do Governo, para que se forme uma ponte entre 2004 e 2006. Não queremos mais do que isso. Esperamos que, em 2006, com os estoques de produtos das commodities diminuídos no mundo, aumente-se o preço, porque o produtor brasileiro é competente da porteira para dentro, como todos falam, e o nosso problema está exatamente da porteira da fora.

Srª. Presidente, seria demais conceder o aparte ao eminente Senador Mão Santa? O meu discurso tem muita coisa a ver com o discurso que S. Exª fez.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Há oradores inscritos, e V. Exª já passou oito minutos.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Serei breve, contando com a generosidade de V. Exª, que é uma mulher do Mato Grosso. Ninguém melhor do que V. Exª, Senador Jonas Pinheiro, para retratar as dificuldades da agricultura no momento. Mas quero dar somente uma colaboração. Lembro-me de quando eu era Deputado estadual em 1980 e, depois, Governador e Senador. Quero dar o testemunho, pois chego às fazendolas, e estão todos mais empobrecidos. Sou recepcionado por eles, e não falta mais calor humano - sou até Senador agora, mais que Deputado estadual -, mas estão empobrecidos: os pratos, as cadeiras, o campo. O Governo está matando a galinha dos ovos de ouro. Vou dar um exemplo. Um quadro vale por dez mil palavras. O leite está valendo menos que a água. Compre um litro de leite e uma água mineral Perrier! Então é isso, esse desestímulo. O Governo não entende que tem produção e capacidade de produção. Estão matando a galinha dos ovos de ouro! Quem sempre sustentou o País foi a agricultura.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL - MT) - Srª Presidente, vou concluir falando em nosso nome, em nome de V. Exª, como Senadora do Estado do Mato Grosso, eleita pela classe produtora do nosso Estado, e também por mim.

Houve outro evento em Mato Grosso: em Água Boa, pela quinta vez, foi realizado o maior leilão de gado do mundo. Este ano, na Estância Bahia, do nosso companheiro e amigo Maurício Cardoso Tonha, “Maurição”, Prefeito de Água Boa, foi realizado um grande leilão. Foram vendidos 20.323 animais. Não importa o preço. É necessário vendê-los, porque o pasto vai secar. Eles precisam colocá-los à venda.

Srª. Presidente, em sete horas, venderam-se 20.323 cabeças, no valor de R$7,823 milhões de reais, entre machos e fêmeas. Essa é a força do agronegócio, que, mesmo em desvantagem econômica, enfrenta as dificuldades.

Parabéns, portanto, à Estância Bahia e ao Maurício Tonhá por mais uma vez enfrentarem as dificuldades e, pela quinta vez, fazerem o maior leilão do mundo.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2005 - Página 10111