Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 40 anos de atividade da Rede Globo de televisão.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 40 anos de atividade da Rede Globo de televisão.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2005 - Página 13023
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, LEGISLATIVO.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REGISTRO, DADOS, HISTORIA, ATUAÇÃO, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES, INICIATIVA, ROBERTO MARINHO, EMPRESARIO, JORNALISTA, TECNOLOGIA, PROGRAMAÇÃO, ELOGIO, JORNALISMO, DIVULGAÇÃO, CULTURA, INTEGRAÇÃO, TERRITORIO NACIONAL, COLABORAÇÃO, CAMPANHA, CONSCIENTIZAÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, primeiramente, quero agradecer a V. Exª por ter aquiescido bem como por ter subscrito, juntamente com quase todos os outros Srs. Senadores, o requerimento para a realização desta tão importante sessão, acrescida, ainda agora, pela lembrança do Senador Renan Calheiros sobre a coincidência com a data de nascimento do Parlamento. Eu diria uma feliz coincidência. Provavelmente, a força espiritual do Dr. Roberto Marinho foi responsável por essa coincidência, pois era importante para ele e para o País a democracia e um Parlamento fortalecido como o nosso.

Saudamos o Dr. João Roberto; o Dr. Edson Vidigal, representante do Judiciário brasileiro, amigo desta Casa, que tantos benefícios tem trazido com as suas vibrantes colocações na Presidência do Superior Tribunal de Justiça; o Ministro das Comunicações Eunício de Oliveira, nosso amigo; o Ministro Ciro Gomes, que, por tantas vezes estivemos juntos quando do exercício da governança; bem como o meu querido amigo Efraim Morais, 1º Secretário desta Casa, na pessoa de quem saúdo os demais Senadores presentes e todas as pessoas que aqui se encontram e não são poucas.

Sr. Presidente, já andaram me perguntando quanto tempo ficarei na tribuna. Eu diria que, depois da exposição de V. Exª sobre a história da Rede Globo, eu teria pouco a acrescentar, mas como fizemos uma pesquisa e produzimos um documento, vou me permitir lê-lo.

Às 11 horas do dia 26 de abril de 1965, entrava no ar aquele que viria a se tornar um dos maiores e mais importantes grupos de comunicação que temos em nosso País, a TV Globo. Naquele instante, começava uma vitoriosa saga envolvendo ousadia tecnológica, pioneirismo e destemor criativo, que transformaria nossa identidade cultural de maneira definitiva.

Fruto do arrojo e da visão privilegiada do jornalista Roberto Marinho, de saudosa memória para todos nós, a TV Globo surgiu vocacionada para a grandiosidade, investindo sempre em alta tecnologia e no potencial criativo do povo brasileiro, como V. Exª descreveu.

Tudo começou quando, às vésperas do seu 60º aniversário, no começo da década de 60, o Dr. Roberto Marinho resolveu procurar parceiros internacionais para criar uma emissora de televisão brasileira que se diferenciasse pela tecnologia de ponta e por uma programação de alta qualidade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não podemos nos sentir velhos, porque o Dr. Roberto Marinho investiu num projeto como esse aos sessenta anos. Somos crianças ainda. Acho que ele deu um exemplo de grandiosidade e de coragem, durante vários anos, quando esteve dirigindo esse importante setor da imprensa brasileira.

Herdeiro e diretor-geral do jornal vespertino O Globo, o Dr. Roberto Marinho era um inovador nato, curioso por profissão e empreendedor por vocação. Não fugia de desafios. Sabia que a nossa cultura riquíssima e o imenso potencial econômico do País demandavam uma indústria de comunicação mais ágil e eficiente.

O Dr. Roberto provou que, mais uma vez, estava certo. Apostando em jovens talentos e dando-lhes autonomia para criar e inovar, acabou gerando um colosso chamado Rede Globo de Televisão, que revolucionou o nosso modo de comunicar.

No início, era apenas o canal 4 do Rio de Janeiro, cuja sede funcionava em um pequeno prédio no Jardim Botânico. Depois, pouco a pouco, foram-se incorporando emissoras de São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Brasília e tantas outras capitais - não posso me esquecer da Bahia, Senador Antonio Carlos Magalhães, que teve uma convivência bem próxima com o Dr. Roberto -, até se formar a Rede Globo e chegar aos números espetaculares de hoje.

Atualmente, Sr. Presidente, a Rede Globo de Televisão cobre praticamente todo o território nacional. Cerca de 99,84% dos Municípios brasileiros recebem o seu sinal e podem acompanhar as notícias do Jornal Nacional e os capítulos de sua novela preferida. Todos os dias saio correndo daqui para ver a minha novela. Não posso perder um capítulo, porque é a única distração que tenho em Brasília. E a minha mulher fica sossegada porque sabe que estou vendo as novelas da TV Globo. Ela telefona na hora certa, Senador Tasso, para saber se estou realmente acompanhando o capítulo. A minha sogra me pergunta sobre os capítulos e, quando não posso ver a novela, ela assiste e trocamos idéias sobre o que aconteceu naquele dia. É um importante programa para divulgação da cultura nacional.

Dr. João Roberto, viajei pelo mundo como membro da Interpol e, nos vários países em que chegava, vi novelas brasileiras faladas em chinês, em russo, em alemão, e tomava um susto porque conhecia a novela, mas não conseguia decifrar o que falavam.

A qualidade que a TV Globo conseguiu nas suas produções de novelas atingiu o ápice e é considerada, hoje, no mundo, a principal indústria de novelas, que são também exportadas, Sr. Ministro da Comunicação.

São 118 emissoras geradoras ou afiliadas que garantem uma audiência média de mais de 63% dos televisores ligados no horário nobre e uma participação, no mercado publicitário, de mais de 70%. Somente no ano passado, Senador Antonio Carlos, seu faturamento obteve um crescimento de 25%.

O pioneirismo sempre foi a marca característica da Rede Globo. Em 1969, foi responsável pela primeira transmissão em cadeia nacional, com a estréia do Jornal Nacional. Em 1970, transmitiu ao vivo, pela primeira vez, a Copa do Mundo de Futebol. Em 1972, realizou a pioneira transmissão em cores no Brasil, direto da Festa da Uva, em Caxias do Sul.

Srªs e Srs. Senadores, a Rede Globo de Televisão sempre se fez presente nos momentos históricos dos últimos 40 anos. E não apenas como mera espectadora, mas participando e influindo nos rumos do nosso País. Sua preocupação social sempre se mostrou evidente e onipresente.

Quem não se lembra da campanha pelos desabrigados na grande enchente de 1966 no Rio de Janeiro? Ou das campanhas pela doação de órgãos na novela “Laços de Família”, e contra o uso de drogas em “O Clone”? Para a Rede Globo, nunca bastou entreter ou informar, mas também contribuir para o melhoramento e o engrandecimento da nossa sociedade.

Entre os diversos projetos sociais apoiados e desenvolvidos pela empresa, podemos o “Criança Esperança” que arrecada fundos para o Unicef, o “Ação Global”, que oferece serviços essenciais à cidadania em comunidades carentes, e o “Globo Serviço”, com peças e campanhas para a conscientização da população sobre temas importantes de saúde e educação.

Sua ligação com o País vai muito além da exploração comercial da comunicação. O forjamento de uma indústria cultural, genuinamente nacional, com elevado e reconhecido padrão de qualidade, é o legado de anos e anos de intensa atividade criadora.

Em 2004, entre shows, teledramaturgia, programas humorísticos e transmissões de eventos, foram produzidas mais de 4.000 horas de programação exclusivamente nacional. Isso equivale a mais de 2.000 longas-metragens! Mais de 4.000 funcionários, entre autores, diretores, atores, produtores, cenógrafos e técnicos, são envolvidos diretamente na criação dos programas que vão ao ar. Portanto, meus nobres colegas, podemos dizer que temos a nossa própria Hollywood, ou talvez melhor ainda.

Em seu horário nobre, 98% da programação transmitida é de produção nacional. Enquanto, em outros países, a saída fácil por parte das redes de televisão é a compra dos chamados “enlatados” norte-americanos, a TV Globo sempre fez questão de mostrar e retratar o brasileiro comum, fazendo-o reconhecer sua própria identidade nos personagens e assuntos abordados.

Nesse sentido, o gênero do folhetim televisivo talvez tenha sido a sua principal marca e vedete. Inteiramente reformuladas por um novo padrão de criação, as novelas televisivas produzidas pela Rede Globo alcançaram status e reconhecimento como produto de alta qualidade em todo planeta.

O grau em que as novelas brasileiras se incorporaram à cultura de alguns países surpreende a qualquer um que viaje ao exterior. Trata-se realmente de um verdadeiro fenômeno. Em Cuba, por exemplo, após o estrondoso sucesso da novela “Vale Tudo”, o governo local passou a designar oficialmente os pequenos restaurantes privados como “Paladar”, tal e qual o nome do restaurante de propriedade da personagem de Regina Duarte.

E o que dizer da mundialmente conhecida “Escrava Isaura”, sucesso de público nos países do Oriente? Esse folhetim transformou a atriz Lucélia Santos em celebridade na China e na Rússia, como V. Exª se referiu, Sr. Presidente. Em Portugal, as novelas brasileiras ocupam uma faixa nobre em boa parte dos canais abertos, alterando até a rotina diária das pessoas.

Srªs e Srs. Senadores, os grandes mestres da literatura brasileira também tiveram as suas principais obras adaptadas... não vou ler, para não ser repetitivo, pois V. Exª já se referiu a isso, Sr. Presidente. Provavelmente fizemos as mesmas pesquisas sobre a história da Globo.

Mas eu não poderia deixar de lembrar José Bonifácio de Oliveira, o Boni, tão amigo, com quem tantas vezes estive; Walter Clark; Mauro Salles, Armando Nogueira, Hans Donner; Daniel Filho; Guel Arraes e tantos outros, que se ocuparam em produzir o melhor para a televisão brasileira.

O humor também sempre teve o seu espaço cativo na programação da Globo. Pela freqüência da emissora, artistas de grande talento como Chico Anysio, Jô Soares, Renato Aragão, Agildo Ribeiro, Regina Casé e outros, trouxeram, e continuam trazendo, alegria à descontração à dureza do nosso cotidiano.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o “Jornal Nacional”, transmitido em cadeia nacional pela Rede Globo, desde 1969, já se tornou uma referência obrigatória em nosso dia-a-dia. Quem nunca marcou compromisso para depois do “Jornal Nacional” ou interrompeu os seus afazeres para dar uma espiada nas manchetes do dia, anunciada pela voz imponente de Cid Moreira ou de William Bonner?

Como já disse Luís Fernando Veríssimo, “o Jornal Nacional é onde se encontra o Brasil e o Brasil se encontra”. Se determinada notícia ou reportagem é veiculada no “Jornal Nacional”, a repercussão é imediata e grandiosa, pautando até mesmo as atividades desta Casa.

Diariamente, os seus correspondentes, espalhados pelo mundo, nos dão notícia de cena internacional sob a singular perspectiva brasileira, inserindo a visão nacional diante da conjuntura global. Foi assim que pudemos acompanhar, por intermédio de repórteres brasileiros, fatos como a Queda do Muro de Berlim ou o ocaso do Império soviético, o surgimento da União Européia, a guerra do Iraque e muitos outros acontecimentos históricos.

Por meio de matérias realizadas pela premiada equipe da Central Globo de Jornalismo, podemos sentir o drama dos flagelados da seca do Nordeste, a gravidade da situação das queimadas e desmatamentos na Mata Atlântica e Amazônia, o pesadelo da indústria do crime no Rio de Janeiro. Temos conhecimento, inclusive, de vários casos criminosos que foram denunciados e desbaratados graças a algumas destemidas reportagens investigativas, empreendidas pela Rede Globo de Televisão, que retornou ao passado para rever e recuperar a história de grandes crimes praticados no País.

Como conseqüência lógica desse engajamento na solução dos grandes problemas nacionais e dessa preocupação constante com o fortalecimento da nossa cultura, a Rede Globo colecionou, ao longo desses 40 anos, diversos prêmios e condecorações. Entre muitos, podemos citar o Emmy - Oscar da televisão americana - ganho pela tocante minissérie “Morte e Vida Severina”, baseada na obra de João Cabral de Melo Neto, e o Prêmio Unesco de melhor programa infantil, concedido ao “Sítio do Pica-Pau amarelo”, formidável adaptação da famosa obra de Monteiro Lobato.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, demais autoridades, o ano de 1995 é de especial lembrança para a história da Rede Globo de Televisão. No bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, era inaugurada a nova sede da Central Globo de Produções - o Projac.

Trata-se do maior centro de produção para a televisão na América Latina. São três núcleos e cidades cenográficas, dez estúdios, vinte e seis ilhas de edição, seis ilhas de sonorização, fábricas de cenário e efeitos especiais e um gigantesco acervo de figurinos, além de escritórios administrativos e completa infra-estrutura de serviços.

Ocupando uma área total de 1,3 milhão metros quadrados, o Projac é o símbolo maior da pujança e do arrojo empresarial da Rede Globo. Concebido com o claro intento de incorporar à televisão a lógica do processo de produção dos grandes estúdios de cinema, sua materialização consolidou a posição da Globo no mercado internacional de produtos televisivos.

Para o futuro, Sr. Presidente, o céu é o limite, e a TV parece não ser o bastante para as produções da Globo. Recentemente, apostando alto no cinema nacional, foi criada sua divisão cinematográfica: a Globo Filmes. Diversas películas já foram realizadas e distribuídas pela empresa, algumas - eu diria todas - com grande sucesso de público e crítica.

E, assim, a Globo, dirigida hoje pelo Dr. Roberto Irineu Marinho, Presidente das Organizações Globo; pelo Dr. João Roberto Marinho, Vice-Presidente de Relações Institucionais, que aqui se faz presente; e pelo Dr. José Roberto Marinho, Vice-Presidente de Responsabilidade Social e Presidente da Fundação Roberto Marinho, segue a sua trajetória de sucesso e inovação.

Dr. João, gostaria de relembrar alguns episódios que me remetem a uma profunda emoção neste momento. Algumas vezes, nós, políticos, temos algumas aflições na vida, inclusive em nossa profissão de Delegado de Polícia, meu querido Juiz. Mas sempre tive o carinho do Dr. Roberto Marinho. Mesmo quando para ele eu ligava a fim de conversar sobre determinado assunto, ele me convidava para um almoço. A sua lucidez, a sua visão e as importantes argumentações que fazia, Senadores Antonio Carlos Magalhães e José Sarney - que também por muito tempo conviveu com Roberto Marinho -, transmitiam-nos uma tranqüilidade espiritual e a certeza de que não erraríamos na nossa decisão, tendo em vista a sua posição e inteligência.

Desculpem-me a emoção. Mas é a saudade de um grande brasileiro, que deixou marcas em nossa alma, que deixou algo de importante para contar na História deste Brasil.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2005 - Página 13023