Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 40 anos de atividade da Rede Globo de televisão.

Autor
Hélio Costa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: Hélio Calixto da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 40 anos de atividade da Rede Globo de televisão.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2005 - Página 13029
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMENTARIO, DESENVOLVIMENTO, TECNOLOGIA, JORNALISMO, AMBITO INTERNACIONAL, ELOGIO, PADRÃO DE QUALIDADE.

O SR. HÉLIO COSTA (PMDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Efraim Morais, meu caro João Roberto, representando a Rede Globo de Televisão, Ministros Ciro Gomes e Eunício Oliveira, Ministro Presidente Edson Vidigal, Srªs e Srs. Senadores, Srs. convidados, por mais que eu queira esconder os meus cabelos meio brancos, confesso que participo, nesta tarde, desta homenagem aos 40 anos da Rede Globo numa posição muito privilegiada, porque sou testemunha ocular.

A testemunha ocular é um instrumento jornalístico. O jornalista, na realidade, é um observador privilegiado da história que acontece no dia-a-dia. Foi o que aconteceu nesses 33 anos dos 40 da Rede Globo de Televisão. Por mais de 20 anos, tive a oportunidade de acompanhar o trabalho extraordinário iniciado pelo talento e pela vocação de Roberto Marinho e, depois, continuado pelos seus filhos - João Roberto, Roberto Irineu e José Roberto.

Sou da época da TV Globo em que as reportagens internacionais eram feitas com a câmera de filmar muda e um gravador de som. Depois, passávamos horas tentando juntar o movimento da boca com a fala que saía na fita de áudio, que se chamava sincronia.

Depois vieram as câmeras com filetezinho de gravação, como se fosse uma fita cassete. Mais tarde eu mesmo ajudei a introduzir, apresentando um momento de emoção durante uma entrevista do presidente da Sony aos jornalistas em Nova Iorque, o novo instrumento de comunicação da televisão mundial, que era o sistema eletrônico portátil. E ao apresentar aquela entrevista que tinha sido dada pelo presidente da Sony, no mesmo dia, a Rede Globo nos autorizou a comprar três desses novos equipamentos, mostrando o seu interesse pela tecnologia, pelo futuro que se apresentava naquele momento por meio de uma nova maneira de se fazer comunicação, de se fazer televisão.

E muita gente pergunta por que houve tanto interesse da Rede Globo em uma montagem internacional de jornalismo, que cresceu a tal ponto, num determinado momento, que em Nova Iorque tínhamos trinta e seis funcionários, quatro repórteres, oito produtores e quatro cinegrafistas - 24 horas por dia de operação via satélite. Sobretudo, a preocupação que tinha a Rede Globo de poder mostrar a notícia. Não podendo mostrar aqui em determinado momento, por força de um regime militar que impunha a censura, ela mostrava lá fora.

Quando eu visitava universidades americanas como convidado a fazer palestras sobre a comunicação no Brasil, eu era perguntado por que o interesse de uma TV brasileira, de uma rede brasileira, em ter uma estrutura tão grande nos Estados Unidos, que depois foi se espalhando pela Europa, com um birô em Paris e depois em Londres, e assim em outras partes do mundo. Eu gostava de contar, João Roberto, a história que me diziam, na década de 60, naquela velha disputa de Guerra Fria, entre os Estados Unidos e a União Soviética, quando um jornalista americano conversando com um jornalista russo dizia para ele o que era o sentimento de democracia e liberdade que existia nos Estados Unidos, ele dizia: “Olhe, eu, aqui, posso pegar um caixote, colocá-lo defronte da Casa Branca e falar o que eu quiser de Lyndon Johnson, Presidente dos Estados Unidos, que ninguém me prende”. E a resposta veio em seguida do seu colega russo: “Pois em Moscou também podemos fazer a mesma coisa. Posso colocar um caixote na frente do Kremlin, falar o que eu quiser do Lyndon Johnson e ninguém me prende”.

Quer dizer, a situação era mais ou menos a que vivíamos no Brasil. Não podíamos falar daqui, falávamos de lá. Até mesmo num momento muito importante e histórico, quando passamos horas mostrando a Convenção do Partido Democrático e depois a do Partido Republicano e as pessoas perguntavam para que duas ou três horas de transmissão ao vivo da convenção de um Partido americano. E nós dizíamos: para aprender a fazer. É importante que o povo veja como funciona a democracia, é importante que as pessoas vejam como o povo vive quando está num regime aberto, em que posso dizer o que quero.

E hoje, junto com esta data tão importante que escolhemos para homenagear a Rede Globo, também é o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, que o Dr. Roberto Marinho, que o jornalismo da TV Globo, que os seus filhos, os profissionais da Rede Globo sempre souberam preservar: a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa.

Sinto-me extremamente à vontade, meu caro João Roberto, de participar deste momento tão importante para a Rede Globo nas comemorações dos seus 40 anos. Na verdade, no dia em que nós co-assinamos esse requerimento do Senador Tuma, viajei em seguida e acabei não me inscrevendo para falar nesta tarde. Graças à generosidade e à atenção do Senador Valdir Raupp que estou aqui a contar um pouco da história que ajudei, durante 23 anos, a fazer na Rede Globo de Televisão.

Vejo que a figura especial de Roberto Marinho tem semelhantes na comunicação internacional. Talvez a ele só se assemelhem figuras como William Paley, que criou a CBS americana, ou Sarnoff, que criou a NBC, também dos Estados Unidos.

A grande honra que sempre tivemos ao correr o mundo - e passamos por 72 países, em quatro continentes, representando esta empresa que é o orgulho de todo o brasileiro, especialmente lá fora -, era dizer que sabemos fazer televisão. Temos uma televisão que tem o mesmo nível da TV americana; melhor em determinados momentos.

Temos uma TV que é muito superior à televisão européia em vários países. Decididamente, não temos competição em nenhum outro lugar do mundo. Nossa televisão é do nível mais alto que existe do profissionalismo da TV universal, porque homens como Paley, Sarnoff e Roberto Marinho souberam fazer as estruturas fundamentais que dão capacidade ao profissional de poder trabalhar.

Qual era a diferença entre a Rede Globo e as outras emissoras? A rede Globo tinha pessoal, equipamento, talento e qualidade. Nas outras faltava sempre alguma coisa desse tripé. Se havia talento, não havia equipamento. Se havia equipamento, não havia recursos. E por aí se perdiam, às vezes, oportunidades extraordinárias.

A verdade é que, durante muitos anos, convivemos com essa extraordinária família que produz ainda hoje, possivelmente, o maior número de horas de programas de televisão para consumo interno. A TV Globo está hoje classificada - não sei se já foi dito isso aqui, meu caro João Roberto - como a mais importante produtora de televisão para o consumo próprio, o que significa dizer que a produção anual da Rede Globo corresponde a 2.200 filmes de longa metragem por ano. Tudo o que se produz na Globo hoje, com talento e equipamento próprios, de dentro da própria empresa, equivale a 2.200 filmes de longa metragem.

Isso é o testemunho da qualidade e da competência que hoje chega a 30 milhões de seres humanos fora do Brasil. O que se faz aqui chega a mais de 30 milhões de pessoas em vários países do mundo. Esse é um cartão de visitas extraordinário para o nosso País, ao lado do nosso futebol, das nossas cores e da nossa música. A Rede Globo é um cartão de visitas.

Tive a honra de participar desse processo com alguns dos profissionais que marcaram certamente a história da televisão brasileira e que precisam ser lembrados aqui neste momento, como José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que foi fundamental na estruturação do padrão globo de televisão. Certamente não posso me esquecer de Walter Clark, que era uma juventude empolgada com a televisão, nem de Joe Wallach, um americano simples e brilhante que contribuiu muitíssimo para o começo da estrutura econômica da Rede Globo. Não posso deixar de lembrar o meu amigo José Itamar de Freitas, um dos maiores gênios da televisão brasileira, que fez a concepção do programa “Fantástico”, que, por mais de vinte anos - já não faço mais as contas -, desde 1972, empolga as noites de domingo de todos os brasileiros. É indiscutível, é notável, como dura um programa bem feito na televisão brasileira. Raros programas no mundo inteiro têm a duração do “Fantástico” da Rede Globo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. convidados, talvez tenha me enganado uma única vez com o prestígio da Rede Globo no exterior, nas muitas, inúmeras viagens que fiz pelo mundo inteiro. Isso ocorreu, meu caro João Roberto, no Japão, onde fui fazer uma entrevista com o general, comandante-em-chefe das forças de segurança do Japão. O Japão não tem Exército, mas somente forças de segurança. Por força do Tratado de Paz, após a Segunda Guerra Mundial, o Japão só tem direito a uma espécie de milícia, uma polícia. Fui entrevistar esse general-comandante. No dia da entrevista, quando cheguei, encontrei-me na ante-sala com o mais importante jornalista da televisão americana, Dan Rather, que, até recentemente, era o âncora do mais importante jornal da rede de televisão CBS.

De repente, vem a secretária do general dizer ao Dan Rather que o general não iria conceder-lhe a entrevista. Ele levantou muito aborrecido; saiu realmente em condições de dizer algum impropério. Fiquei, então, esperando a minha vez de ser mandado embora. Para minha surpresa, volta a secretária e diz: “O senhor pode entrar, colocar o seu equipamento no local, que o general vai conceder-lhe a entrevista”.

Quando o meu entrevistado entrou, eu, já com as câmaras rodando, fiz a seguinte colocação para ele: “General, perguntar não ofende. Vim aqui para perguntar, mas, antes de tudo, queria saber como o senhor disse não para o maior e mais importante jornalista da TV americana e disse sim para esse modesto repórter da TV brasileira”. Ao que ele me respondeu: “Meu tio mora em São Paulo. Eu quero que ele me veja na TV Globo”. E eu já imaginando que era o prestígio da empresa e do repórter que tinha movido aquele general a conceder essa entrevista, e ele disse: “Meu tio mora lá. Ele vai me ver na TV Globo”.

Encerrarei, Sr. Presidente, dizendo o quanto me orgulho da história que você, João, seu pai, seus irmãos ajudaram a fazer, ajudaram a construir. Tenho muito orgulho de dizer que ajudei a construir um pouquinho dessa história.

Para nós, é extremamente importante que o Brasil tenha um sistema de comunicação profissional, competente, capaz, que se iguala a qualquer empresa de comunicação do mundo. Não existe, em lugar nenhum deste Planeta, emissora ou rede de televisão alguma com mais ou melhores condições técnicas, de pessoal e de talento do que tem a nossa Rede Globo de Televisão.

Finalmente, quero dizer que não é por isso que estou aqui. Não basta colocar a cara na telinha da Globo para ser eleito Deputado nem Senador. Na verdade, estou aqui com 3,5 milhões de votos dos mineiros, que sabem da preocupação que todos temos com as questões nacionais e com a questão estadual. Em nome desses mineiros, venho dar parabéns à Rede Globo pelos seus 40 anos. Parabéns a você - transmita aos seus irmãos e em memória do seu pai - pelo trabalho extraordinário feito nesses 40 anos. Espero que possamos nos ver por aí nos próximos 40.

Quando comecei na Rede Globo, o lema era o seguinte: “O que é bom está na Globo”. Penso que foi por isso que fui correndo para lá. Na época era esse o lema. Espero que possamos nos ver por aí nos próximos anos.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2005 - Página 13029