O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Renan Calheiros, autoridades presentes - a quem peço permissão para não citar nomes, porque poderia esquecer alguns, o que, mesmo involuntariamente, seria imperdoável -, Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação, sou um representante do Piauí.

Caro Senador Antonio Carlos Magalhães, realmente, entendi que há dois PMDBs: o do Renan, governista, e o meu, do velho que está encantado no fundo do mar. Mas ele colocou o Senador Renan Calheiros como Presidente.

Cícero disse: “Nunca fale depois de um grande orador”. O mais extraordinário orador, José Agripino, coloca-me nesta dificuldade. Mas Shakespeare disse que não há bem nem mal. O que vale é nossa análise, o nosso pensamento.

Quero citar algo que tem muito a ver com o homenageado. Sêneca disse: “Eu não sou de uma pequena cidade” - porque ele não era de Atenas nem de Esparta, Senador Antonio Carlos Magalhães -, “mas da minha cidade”. Ouvi o Presidente Sarney aqui dizendo que a pátria dele começa onde começa o chão dele, no pinheiro do Maranhão. O meu chão é o Piauí, e Roberto Marinho tem muito a ver com esse sentimento. Então, faço minhas as palavras proferidas aqui.

Sobre Roberto Marinho, o criador e a criatura, já se escreveu muito e vai-se escrever mais. Vai ser explorado quase como Cristo, vasculhado e dissecado. Então, faço minhas as palavras que foram proferidas aqui.

Deus e o povo permitiram-me governar o Estado do Piauí. Em homenagem ao maranhense Edson Vidigal, cito Padre Antonio Vieira, que disse que um bem nunca vem só. Houve determinados encontros. Dois estão gravados em minha vida, um deles com o Papa João XXIII. Quis Deus que eu e minha esposa, Adalgisa, fôssemos convidados pela Igreja para sermos abençoados por Sua Santidade. Estavam também presentes o então Governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo e o Sr. Rubem Ricupero. Aquela era uma figura tão extraordinária, que disse: “Sr. Governador do Piauí, acabei de transferir o Arcepisbo do Piauí, D. José Frei Falcão, para Brasília.” Eu disse: “Olha, esse negócio de mão santa não existe, mas sou filho de mãe santa”. A Editora Vozes quis publicar um livro de minha mãe, e foi Dom José Freire Falcão quem deu a ordem. Ela pertencia à Ordem Terceira Franciscana do Brasil.

O outro encontro foi com Roberto Marinho. Pensei em ir atrás daquele outro papa, pois já tinha ido ao encontro do Papa de Deus, e consegui. De repente, estava lá no edifício da Globo, por duas horas, com um assessor dele e um médico companheiro da família, conversando com aquela figura que todo o Brasil e o mundo conhecem, com quem vocês tiveram até mais contato. Outro dia, foi publicado um livro no qual Antonio Carlos Magalhães dizia que era irmão camarada dele. Só a música de Roberto Carlos interpretava os sentimentos dos dois. Eu senti aquilo. Mas, representando o povo do Piauí, terra querida, filha do sol do equador, que, nas lutas, nos combates, na independência, é a primeira que chega, levei a ele, talvez por ter sido abençoado pelo Papa, inspirado pelo divino Espírito Santo, a comenda do Piauí, Grã-Cruz Renascença. Aliás, o Presidente Renan também a recebeu quando Ministro.

Durante a conversa, ele foi à janela e disse: “Governador, fico aqui até as 4 horas, quando os passarinhos cantam na natureza, e tudo”. Eu disse: “Dr. Roberto, eu sou do Piauí, eu vim foi pedir mesmo. Deus foi muito bom para o Piauí. Nós temos um Delta”. Evidentemente, ele era um homem ilustrado e sabia disso. Não vou dizer aqui. Delta é a letra grega, e nós não sabemos grego, mas isso não interessa. Mas o rio Parnaíba não se lança burramente, isoladamente. Ele se abre, lembrando a letra grega delta.

Senador Antonio Carlos Magalhães, não sabemos grego também, e ele se abre assim como uma mão, se abre em cinco o rio. É uma mão com certeza santa, Renan, que forma 78 ilhas. Dois terços são do Maranhão, mas um terço é do Piauí. E a mais bela foi a que fez nascer Evandro Lins e Silva, único que se iguala a Rui Barbosa - João Paulo dos Reis Velloso.

Mas isso não é divulgado. Lá posso dizer, como o poeta - lembrando Ciro Gomes: verdes mares bravios, brancas dunas, rios que nos abraçam, o Piauí tem seis lagoas, a melhor gente do mundo. Então, eu queria essa ajuda.

Dr. João Roberto, a gratidão é a mãe de todas as virtudes - aprendi no colo de minha mãe. A gratidão está no coração de homens e mulheres agradecidas. Então vim agradecer. Eu governava o Piauí há pouco tempo, 20 ou 30 dias, fiz o pedido, e chegou aquela equipe ímpar, tal qual a seleção canarinho de Garrincha, Didi e outros - existe a seleção brasileira de futebol e a seleção da comunicação -, no Piauí, e fizeram o mais belo documentário. E tal para minha felicidade, há poucos dias, no noticiário último da Globo, lá estava o delta, aquele espaço da natureza. Então, vim trazer a gratidão do povo do Piauí àquele que mostrou para o mundo a maior beleza que Deus fez.

Só existem três deltas no mundo, Senador Alvaro Dias. Há o da Argentina, mas é mar aberto. Albano Franco, Pelé, Xuxa e Fernando Henrique Cardoso conhecem o delta. Outro dia estava lá o Fittipaldi - eu governava o Piauí. E todas essas pessoas buscam conhecer o local, atraídas pelo documentário. Então, essa é a nossa gratidão.

Queria dizer que entendo das coisas. Entendo que há símbolos e que estes se comunicam. A cruz, por exemplo, todos entendem. A nossa Pátria tem símbolos, como a bandeira, em que está escrito “Ordem e Progresso”. Cito também o nosso escudo, representando a República, o governo do povo pelo povo; o Cristo Redentor; Brasília e, dentro dela, Juscelino, símbolo político. E a Rede Globo é hoje símbolo do Brasil.

João Roberto, agora quero lhe pedir algo, que já pedi a seu pai. Tenho um neto que é bacaninha, não dá para ser artista, mas é bonito o danado. Quanto a esse negócio de estudar, ele não gosta, não é bom mesmo. E eu queria saber o significado. O essencial é invisível aos olhos; quem vê bem vê o coração. Senador Antonio Carlos Magalhães, estudar dá trabalho. Eu até o trouxe, e a avó Adalgisa cuidando. E ele me disse: “Vovô, quero conhecer os estúdios da Rede Globo”. Então, falei: “Passa na escola, porque tu estás indo devagar na Matemática, que eu vou falar com o dono, com os filhos.”

Senador Antonio Carlos Magalhães, quando cheguei, meu neto disse: “Já tirei oito! Já tirei nove!” Esse é o encanto! O pedido foi conhecer, e isso despertou a persuasão, a motivação para o estudo.

E quero fazer a minha observação. Por isso bato aqui e digo: sou orgulhoso de ter sido prefeitinho.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Mão Santa...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª foi prefeitão de Teresina. Ninguém foi melhor do que você. Estou falando em prefeitinho.

Como sabe o Senador Heráclito Fortes, naquele tempo a transmissão da Rede Globo vinha de Teresina e era um sistema complicado. Certa vez, tive que colocar um engenheiro, porque seria transmitido um jogo de futebol, e, se não chegasse o sinal da Globo, eu perderia os homens; se a novela não estivesse no ar, perderíamos as mulheres.

Então, prefeito que não coloca a Globo já está despachado na eleição. Mas afirmo a V. Exªs que a paz, neste País injusto, nessa barbárie - disse Norberto Bobbio que “o mínimo que se tem que exigir de um governo é a segurança, a vida, a liberdade e a propriedade” -, é levada pela Globo, porque leva também o prazer aos povos, a felicidade, o entretenimento, a alegria. Como na oração de São Francisco, o santo - e também me chamo Francisco: “Aonde houver tristeza que eu leve a alegria”. Essa paz, essa alegria que vivemos no Brasil devemos à Globo.

Ouço o Senador do Paraná, Alvaro Dias. Não posso esquecer-me do Paraná. Viemos do Piauí e agora vamos para o Paraná.

Concedo um aparte ao Senador Alvaro Dias.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - É apenas uma pincelada paranaense nessa pintura do Piauí. Atendendo ao apelo do Presidente, Senador Renan Calheiros, retiro minha inscrição e reduzo meu pronunciamento a este aparte que farei ao Senador Mão Santa. Em nome do Paraná, homenageio a Rede Globo, essa poderosa organização que possui eficiente rede de televisão em meu Estado, dirigida pelo competente Dr. Francisco Cunha Pereira. Destaco o fato de que a emissora é vanguarda da televisão mundial, referência de qualidade internacional, mas destaco, sobretudo, seu compromisso com a educação e com a solidariedade. Citarei apenas dois exemplos, para não tomar o tempo de V. Exª: o programa Sítio do Picapau Amarelo, que recebeu o Prêmio Unesco; e o programa Criança Esperança, que recebeu o Prêmio Unicef. Destaco esse compromisso com a educação, com a solidariedade humana e com a responsabilidade. O Dr. João Roberto sabe que a Globo tem um poder devastador. Se desejar, elege; caso pretenda o contrário, derrota. Mas não o faz. Com o senso da indispensável responsabilidade, estabelece o necessário equilíbrio democrático, possibilitando às forças democráticas agir em função daquilo que é correto em matéria de comunicação; com os benefícios da comunicação sem se estabelecer, obviamente, o desequilíbrio, o que seria um desastre para o regime democrático. Portanto, essa responsabilidade na direção da força devastadora que possui uma poderosa rede de televisão deve, neste momento da homenagem, ser um destaque especial da nossa parte. Muito obrigado, Senador Mão Santa, pelo tempo que me oferece do seu discurso.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço, incorporo e peço permissão para registrá-lo como se fosse um aparte da Boca Maldita do Paraná; é uma entidade libertária democrática deste Brasil.

Com a permissão do Presidente, não poderia deixar de conceder um aparte àquele que tão próximo está de Rui Barbosa, Senador Amir Lando.

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Senador Mão Santa, V. Exª, mais uma vez, com brilho, nós dá a todos uma lição de conhecimento e de engajamento, sobretudo no que diz respeito à cultura nordestina e nacional. Quanto à Rede Globo, não poderia deixar de associar-me, em nome do Estado de Rondônia, a ela, que para nós, na Amazônia, confunde-se com o próprio País, enquanto fator de soberania, enquanto fator de disseminação da cultura nacional. Nós, lá dos confins, dos páramos remotos de vasta solidão, encontramos na “Voz do Brasil” e no “Jornal Nacional”, sobretudo, um símbolo da unidade nacional. Aí a integração acontece instantaneamente, porque nós sabemos que, nesta aldeia global, lembrando MacLuhan, a mensagem é o meio - e a televisão é um meio de comunicação em tempo integral - em que podemos sentir a presença nacional lá, onde a solidão, onde o isolamento muitas vezes perde o sentido da integração. Por isso, parabenizamos a “Rede Globo” por essa função social, por essa função, como eu disse, de afirmação da soberania nacional, de disseminação, como eu falei, da cultura, da nossa vasta cultura, da nossa literatura, e por fazer deste País um só sentir, um só coração, um só pulsar. Esta é a grandeza de uma rede que tem a amplitude do Brasil. É por isso que nós, da Amazônia, queremos, mais uma vez, dizer a todo o Brasil que a Rede Globo jamais faltou às causas nacionais. Poderia eu aqui citar o engajamento que houve na CPI do PC, quando eu, Relator, tive a oportunidade de conviver mais proximamente da “Rede Globo”. Em outros tantos momentos ela sempre esteve presente, como nas “Diretas Já”, quando acompanhei, pelo Brasil, as grandes mobilizações populares. O Brasil e a “Rede Globo” têm algo em comum: a grandeza das aspirações do povo brasileiro, o sentido da unidade, o sentido, sobretudo, da afirmação da soberania e da grandeza do povo brasileiro. Parabéns! Quero comunicar, neste momento, que, quando fui Deputado Estadual por Rondônia, propus um título de cidadão honorário ao Dr. Roberto Marinho, que até hoje não o recebeu. Isso poderia acontecer em breve por meio dos representantes daquela emissora. Quero, neste momento, salientar que propus o título exatamente pela função importante que teve a “Rede Globo” na criação e na instalação daquele novo Estado de Rondônia. Foi muito importante sua participação. Enfim, a Rede Globo torna o Brasil pequeno e visível a todos pela grandeza e pela qualidade dos seus programas, porque o Brasil é isso. A “Rede Globo” tem parte na construção de todos nós, de todos os brasileiros, sobretudo da Amazônia. Parabéns à “Rede Globo” e a V. Exª, nobre Senador Mão Santa, que mais uma vez nos brinda com o brilho de vosso discurso!

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - O aparte de V. Exª ao nosso pronunciamento é tão forte quanto uma novela das vinte horas. Assim, incorporo-o ao meu discurso.

Sr. Presidente, não abro mão de conceder o aparte ao irmão do Piauí, o “prefeitão”, Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Meu caro Senador Mão Santa, agradeço a V. Exª a oportunidade, pois não poderia deixar de dar o meu testemunho da ligação que o Piauí tem, historicamente, com a “Rede Globo”. A TV Clube do Piauí, sua afiliada, está no bloco das quatro ou cinco primeiras emissoras que participaram da primeira nacionalização do canal da Globo, no Rio de Janeiro, espalhando-se pelo Brasil inteiro. Naquela época, um capítulo dos enlatados das novelas, de que hoje pouco se fala, chegava dois ou três dias após ter ido ao ar no Rio de Janeiro. Vivemos um episódio interessante, do qual o Ministro Vidigal é testemunha, pois foi um dos beneficiados. Na Copa do Mundo de 70, por causa de um financiamento pessoal que o Dr. Roberto Marinho concedeu à televisão do Piauí, foi possível que lá fosse instalada, de maneira rápida, a antena que recebia o canal por satélite, chegando a transmissão antes no Piauí do que no Maranhão. Os maranhenses, inclusive os de Caxias, cidade maranhense mais próxima de Teresina, e até os de São Luís, acorriam todos para Teresina. O teresinense, como boas-vindas, de brincadeira, colocou na entrada da cidade uma faixa com os dizeres: “Bem-vindo a Guadalajara”. Essa parceria, portanto, é antiga. O segundo testemunho que quero dar, Dr. João Roberto, é sobre a força que a “Rede Globo” alcançou pelo mundo. No ano de 1985, fui à China com o Dr. Ulysses Guimarães, à época Vice-Presidente da República, em visita àquele país. Acompanhavam-nos, naquela delegação, o Dr. Afrânio Nabuco, diretor da “Rede Globo” em Brasília, e o jornalista Jorge Basto Moreno, entre outros jornalistas da comitiva. No terceiro dia de visita, o Dr. Ulysses irritou-se com um fato e pediu ao então Embaixador Ítalo Zappa que modificasse as apresentações, pois, após serem apresentadas as autoridades, ao ser apresentado o Afrânio Nabuco como diretor da “Rede Globo”, todos queriam saber da novela Escrava Isaura, que era transmitida naquele país. O Dr. Ulysses pediu ao Embaixador Ítalo Zappa que omitisse a função do Afrânio, porque, do contrário, não discutiríamos as relações entre os dois países. Vejam o que era a fascinação que os chineses tinham, àquela época, pela novela Escrava Isaura, chamada por eles, carinhosamente, de Ninu Isola. Essa é a saga, a história da “Rede Globo”. Fico muito feliz em poder estar participando desta sessão solene, com a presença do Ministro Ciro Gomes e de várias autoridades, ao lado de duas figuras que ajudam muito e contribuem para o relacionamento que a Globo tem com o Congresso Nacional: o Toninho Drummond, uma figura adorável, e o nosso Evandro Guimarães, um dos responsáveis por essa aliança que a TV Clube tem com a “Rede Globo” de Televisão. Parabéns a todos e até os oitenta anos!

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Renan Calheiros, agora estou satisfeito, porque completou a parte do Piauí com a participação do extraordinário Senador Heráclito Fortes.

Apenas lembro que o Papa aqui citado, em sua primeira viagem ao Brasil, passou primeiramente por Teresina, e o Maranhão também foi se abençoar no nosso Piauí.

Senador Pedro Simon, quem mais se aproxima de Cristo é São Francisco, e é V. Exª quem mais se aproxima de São Francisco, o santo.

            Então, encerro com esse entendimento bíblico, Senador Pedro Simon. O mundo é assim mesmo, é complicado. Cristo, andando por ele, uma vez viu jogarem pedra numa mulher que diziam ter praticado adultério. Ele então disse a todos que atirasse a primeira pedra aquele que não tivesse pecado. E eu digo que lance a primeira crítica à Globo, uma bênção de Deus - comunicação é coisa de Deus -, aquele brasileiro ou brasileira que não tiver usufruído de momentos de instrução, lazer e felicidade vindos daquela que é uma bênção de Deus no nosso País, a “Rede Globo”. Essas são as palavras do Piauí! (Palmas.)