O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há quarenta anos, no dia 26 de abril de 1965, iniciavam-se as transmissões do Canal 4 do Rio de Janeiro, mais conhecido por todos como Rede Globo de Televisão. Era o primeiro capítulo da mais bem-sucedida história da televisão brasileira.

Chegar ao topo não foi, evidentemente, tarefa fácil. Das muitas emissoras de televisão existentes na década de sessenta, poucas sobreviveram até o início do século XXI. Basta lembrar de alguns gigantes que ficaram pelo caminho, caso da TV Tupi e da TV Excelsior.

A Rede Globo sobreviveu e cresceu graças a uma visão empresarial inovadora e corajosa.

Em primeiro lugar, desde os seus primórdios, buscou expandir suas atividades por todo o Brasil. No início dos anos setenta, já estava presente nas capitais e nas principais cidades do interior. Poucos anos depois, o seu sinal cobria todo o País. A Rede Globo, ao olharmos retrospectivamente, foi fundamental para integrar todo o território brasileiro.

Se me permitem uma rápida digressão; é a partir dessas transmissões em âmbito nacional que as diversas regiões do Brasil, antes isoladas, passam a se ver como parte de um todo, de uma unidade, em que existem, é claro, diferenças, mas, em que todos podemos nos ver, finalmente, como integrantes de uma nação. Nós, amazônidas, não podemos deixar de sinceramente agradecer à Rede Globo por nos tornar mais brasileiros.

Em segundo lugar, a Globo foi inovadora na medida em que criou um padrão de qualidade para a televisão. Até o seu surgimento, esse ramo de atividade era marcado pelo amadorismo, pela precariedade dos programas e pouca qualidade técnica. A Rede Globo provocou mudanças autenticamente revolucionárias. Em 1966, transmitia ao vivo a Copa do Mundo da Inglaterra. Em 1968, via satélite, o brasileiro via o lançamento da espaçonave Apolo IX. Em 1969, tinham início as atividades do Jornal Nacional. Em 1972, as primeiras transmissões coloridas. Em 1975, a estréia de uma programação nacional e o uso do satélite Intelsat para comunicação em tempo real dentro do País.

Em terceiro lugar, a Rede Globo buscou, desde seus primórdios, produzir programas próprios, sem depender, como até então era comum, das produções feitas pelo mercado publicitário.

A Globo transformou ou criou conceitos. O caso mais conhecido é o das novelas. Até então eram meras cópias do que era feito pelo mercado latino-americano. A Rede Globo investiu em produções que retratavam o nosso povo, a nossa realidade e os nossos problemas. Não foi por acaso que novelas como “Irmãos Coragem” ou “Selva de Pedra” atingiram índices de audiência próximos dos 100%.

A experiência adquirida com as novelas permitiu que a empresa oferecesse novos produtos com o mesmo padrão de qualidade. Exemplo são os programas de auditório, humorísticos, minisséries, transmissões esportivas, especiais de fim de ano, shows diversos e o sempre esperado espetáculo do Sambódromo.

Em suma, em um mercado que fora marcado pelo amadorismo e pelo improviso, a Rede Globo representou uma autêntica revolução, marcada pela qualidade técnica, artística e jornalística, que a transformou, em poucos anos, na principal emissora do País e em um dos maiores grupos televisivos do planeta.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao lado de suas atividades empresariais, a Rede Globo desenvolveu inúmeros projetos sociais. Muito antes de se falar em boa governança corporativa, a Globo já se mostrava comprometida com o desenvolvimento de ações destinadas a melhorar as condições de vida de nossa população mais carente.

Uma das iniciativas mais importantes para a população é a campanha “Criança Esperança”. Ao longo de 16 anos, arrecadou mais de cem milhões de reais para o Unicef aplicar no Brasil. Graças a isso, milhares de crianças, em todo o País, tiveram profundas melhorias na qualidade de vida.

Outra iniciativa importante é a Ação Global, levada a cabo em parceria com o Sesi. Nesse esforço, voluntários se dedicam a oferecer documentos, como carteira de identidade ou título de eleitor, bem como assistência médica ou jurídica, para pessoas de comunidades carentes em todo o território nacional.

Outra atividade de imenso valor é o Globo Serviço, isto é, campanhas publicitárias que visam a esclarecer a população a respeito de questões como segurança no trânsito, vacinação, violência familiar e amamentação no seio. Significativo, ainda, a respeito desse tipo de serviço, é o fato de a Rede Globo ter sido a primeira empresa a divulgar uma campanha pública contra a Aids.

A Rede Globo, além dessas iniciativas próprias, abre espaço em sua programação para campanhas de terceiros que venham a ajudar hospitais, bancos de sangue, creches e organizações que prestam socorro às populações carentes.

Sei que o tempo que possuo é breve, mas não poderia deixar de dedicar algumas palavras a um dos mais notáveis empresários brasileiros do século XX. É impossível falar de Rede Globo sem mencionar o Dr. Roberto Marinho. Luiz Eduardo Borgeth, em seu livro Quem e como fizemos a TV Globo, descreve o fundador da empresa com as seguintes palavras: “Educadíssimo, gentilíssimo, amável, afável, como patrão e como pessoa, Roberto Marinho nunca foi visto ou ouvido levantando a voz, destratando um empregado, sendo grosseiro com quem quer que fosse ou enxertando em seu vocabulário enxuto palavras ou expressões vulgares”.

Foi esse homem brilhante, educado, perspicaz e sábio que soube se cercar dos melhores e, assim, construiu uma empresa não apenas bem-sucedida no seu ramo de negócios, mas que pode se orgulhar de ter ajudado a construir muito do que existe de bom no Brasil moderno.

É importante lembrar, também, os executivos, produtores, jornalistas, atores e muitos outros tipos de profissionais que ajudaram a erguer a Rede Globo. Graças a eles, a empresa é sólida e representa dignamente o que há de melhor em nossa gente.

Para concluir, faço os mais sinceros votos para que os próximos quarenta anos da Rede Globo sejam tão profícuos e tão bem-sucedidos quanto essas primeiras quatro décadas de sua existência.

Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado.