Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 05/05/2005
Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Elogios ao Ministro da Cultura, Sr. Gilberto Gil. Lamenta o contingenciamento de 53% no Orçamento do Ministério da Cultura.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.
POLITICA CULTURAL.:
- Elogios ao Ministro da Cultura, Sr. Gilberto Gil. Lamenta o contingenciamento de 53% no Orçamento do Ministério da Cultura.
- Publicação
- Publicação no DSF de 06/05/2005 - Página 13429
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.
- Indexação
-
- ELOGIO, GILBERTO GIL, MUSICO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA CULTURA (MINC), CONTRIBUIÇÃO, MUSICA BRASILEIRA, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, PAIS, LEITURA, TEXTO, MUSICA.
- REGISTRO, DIALOGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GILBERTO GIL, MINISTRO DE ESTADO, EXPECTATIVA, AUSENCIA, CORTE, VERBA, MINISTERIO DA CULTURA (MINC).
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Sr. Presidente, Senador Tião Viana, Senadora Heloísa Helena e demais Senadores, ontem fui ao Teatro Nacional de Brasília assistir ao show de Gilberto Gil.
Quero aqui dizer algo do meu sentimento mais profundo: feliz é o Brasil, que tem como Ministro da Cultura Gilberto Gil, um artista simplesmente notável, que tem sido capaz de expressar tão belamente os sentimentos dos brasileiros com extraordinária musicalidade, captando também os sentimentos do mundo com as suas músicas, inclusive na escolha das músicas que resolve cantar, como as de Bob Marley ou John Lennon.
Imagine
Imagine que não houvesse o paraíso,
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós,
Sobre nós apenas o firmamento.
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o dia-a-dia...
Imagine que não existam países,
Não é difícil de fazê-lo.
Nada para matar ou por que morrer,
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz...
Você pode dizer que eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia você se junte a nós
E o mundo, então, será um só
Imagine que não existem posses
Eu me pergunto se você consegue.
Nenhuma necessidade de ganância ou fome,
A fraternidade dos homens.
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo todo.
Você pode dizer que eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia você se junte a nós
E o mundo, então, será um só
Ou as músicas de Chico Buarque, como “A Rita”, falando da mulher:
A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
E o que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
Uma outra música, de sua autoria, que homenageou, como sabe fazer tão lindamente, a mais bela cidade do mundo, assim considerada por tantos, inclusive por nós, brasileiros:
O Rio de Janeiro continua lindo.
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março
Alô, alô, Realengo, aquele abraço!
Alô, torcida do Flamengo, aquele abraço!
Ou músicas do Chico Science, como “Maracatu Atômico”:
O bico do beija-flor, beija-flor, beija-flor
E toda fauna flora grita de amor
Quem segura o porta-estandarte tem a arte
E aqui passa com raça
Eletrônico o maracatu atômico
E a tão bela música:
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Gilberto Gil contou-nos de suas quatro visitas ao Senegal, especialmente à Ilha de Gorée. Contou-nos como ficou emocionado ao ver o porto de onde saíam os negros para serem escravos no Brasil ou nos demais países das Américas, como o Haiti ou os Estados Unidos. Ali, juntamente com Capinan, ele fez uma canção muito bela: “A lua de Gorée”:
A lua que se eleva
Sobre a ilha de Gorée
É a mesma lua que
Sobre todo o mundo se eleva
Mas a lua de Gorée
Tem uma cor profunda
Que não existe
Em outras partes do mundo
É a lua dos escravos
A lua da dor
Mas a pele que se encontra
Sobre os corpos de Gorée
É a mesma pele que cobre
Todos os homens do mundo.
Mas a pele dos escravos
Tem uma dor profunda
Que não existe
Em nenhum outro homem do mundo,
É a pele dos escravos,
Uma bandeira de liberdade.
E esta música muito linda que veio da Jamaica, país de um dos mais belos compositores da história da humanidade, pelo conteúdo de suas canções, Bob Marley, tão querido também do povo da Etiópia, que escolheu cantar “Three Little Birds” - ou Três Pequenos Pássaros:
Não se importe sobre qualquer coisa
Porque cada pequena coisa vai ficar bem
Cantando: “Não se importe sobre qualquer coisa
Porque cada coisa vai ficar bem.
Levante-se esta manhã
E sorria com o nascer do sol
Três pequenos pássaros
Sentados à minha porta
Cantando canções doces
De melodias puras e verdadeiras
Dizendo: “Esta é a minha mensagem para você.”
Há cerca de três semanas estive presente na Catedral da Sé na missa que Dom Cláudio Hummes celebrou em memória da Irmã Dorothy Stang, assassinada há pouco mais de dois meses em Anapu, no Pará. Também estava presente o Ministro Gilberto Gil. Então, Dom Cláudio pediu a ele que cantasse a música da paz. E foi com emoção e profundidade que todas as milhares de pessoas presentes sentiram o apelo pela paz de Gilberto Gil, contido também em tantas outras de suas canções, como “Guerra Santa”:
Ele diz que tem como abrir o portão do céu
Ele promete a salvação
Ele chuta a imagem da Santa, fica louco, pinel
Mas não rasga dinheiro, não.
Ele diz que faz tudo em nome de Deus.
Como um papa da Inquisição
Nem se lembra do horror da Noite de São Bartolomeu.
Não, não se lembra de nada, não.
Não lembra de nada, é louco, mas não rasga dinheiro
Promete a mansão no paraíso, contanto que você pague primeiro.
Que você primeiro pague o dinheiro, dê sua doação
E entre no céu, levado pelo bom ladrão.
Ele pensa que faz do amor sua profissão de fé
Só que faz da fé profissão.
Aliás, em matéria de vender paz, amor e axé
Ele não está sozinho não.
Eu até compreendo salvadores profissionais
Sua feira de ilusões
Só que o bom barraqueiro que quer vender seu peixe em paz
Deixa o outro vender limões.
E as homenagens que, juntamente com o Capinan, desde 1967, Gilberto Gil fez para a América:
Soy loco por ti, América
Yo voy traer una mujer playera
Que su nombre sea Marti
Que su nombre sea Marti
Soy loco por ti de amores
Tenga como colores la espuma blanca de Latinoamérica
Y el cielo como bandera
Y el cielo como bandera.
Sr. Presidente, parabéns à Bahia por ter nos dado Gilberto Gil!
Parabéns ao Brasil por produzir esta pessoa tão especial, amiga de Caetano, de Chico Buarque, de Capinan, de todos aqueles que, juntamente com ele, contribuem de forma muito especial para a cultura do nosso País.
Quero aqui também recordar a admiração que Gilberto Gil tem por Luiz Gonzaga e pelas suas músicas; o seu baião também tem sido muito apreciado em todos os shows do cantor.
Ontem perguntei a ele: “Como foi o diálogo com o Presidente?” O Ministro me respondeu: “Foi positivo. O Presidente compreendeu que um corte de 53% no Orçamento do Ministério da Cultura, que era de R$500 milhões - e que não era tanto - precisa ser de fato descontigenciado”. E a expectativa dele é a de que isso possa ocorrer.
Quero aqui transmitir o quanto avalio como correta a decisão do Presidente Lula por ter escolhido Gilberto Gil como Ministro da Cultura. Por todos os lugares do mundo, ele tem sobrevalorizado a cultura, a música, a canção, o teatro, o drama, a poesia de todos os brasileiros.
Feliz, portanto, é o Brasil por ter um Ministro da Cultura como Gilberto Gil.
Parabéns também à Bahia, Sr.Presidente César Borges.
Obrigado.