Discurso durante a 58ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância da Reunião de Cúpula da América do Sul - Países Árabes, que ocorre em Brasília nos dias 10 e 11 do corrente.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Importância da Reunião de Cúpula da América do Sul - Países Árabes, que ocorre em Brasília nos dias 10 e 11 do corrente.
Aparteantes
Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2005 - Página 13791
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, REUNIÃO, LIDERANÇA, AMERICA DO SUL, PAISES ARABES, BENEFICIO, INTEGRAÇÃO, POVO, DESENVOLVIMENTO, PAIS, AMERICA LATINA, MELHORIA, COMERCIO EXTERIOR, POLITICA EXTERNA, BRASIL.
  • ELOGIO, INICIATIVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), REALIZAÇÃO, REUNIÃO.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não há como deixar de reconhecer a grande importância do encontro que se iniciará amanhã no Brasil. O Itamaraty, que vem atuando com grande destaque e que merece respeito pela capacidade e competência dos seus quadros, realiza uma reunião que, me parece, marcará um fato muito importante no relacionamento internacional dos povos.

Reunir as lideranças da América do Sul com as lideranças do mundo árabe para debater, discutir, conhecer e estudar propostas de ação conjunta para o futuro é algo que não se poderia imaginar e que, no entanto, tem absolutamente tudo para dar certo. Um encontro em que o Brasil terá a capacidade de dialogar com os povos desses dois continentes e de reunir em torno de uma proposta positiva. Não há nada que se possa dizer que o encontro é para se tomar posição de independência com relação aos Estados Unidos ou coisa que o valha. Não há nada que tenha que se imaginar que é algo relacionado a Israel ou coisa que o valha. Não há nada disso. É uma reunião para confraternizar esses povos e buscar, repito, uma agenda positiva, para que se conheçam melhor, para que possam negociar melhor e se integrar melhor.

Nós, brasileiros, não só os brasileiros, os argentinos também e muitos países da América Latina, tenho certeza, muitos e muitos árabes, nesses últimos tempos, vieram para cá. Vieram em busca de oportunidades, chance, conhecimento e entretenimento. E posso dizer que a confraternização existente entre o mundo árabe e o Brasil, sei que o mesmo acontece na Argentina, Colômbia, Uruguai e em vários outros países da América, formando uma integração, uma convivência fraterna que faz com que, por exemplo, a identidade, o intercâmbio, a confraternização entre os brasileiros e os descendentes de árabes aqui no Brasil com os povos que lá estão, seja o mais intenso e o mais profundo.

Por isso, essa reunião não vai encontrar pessoas que possam parecer, pela distância, que são mundos que não se entendem, não se compreendem. Já existe uma imensa perspectiva dentro do Brasil e na América Latina para esse diálogo com o mundo árabe. E creio que fruto da recíproca dos sul-americanos, que têm visitado o mundo árabe, há uma imensa expectativa nesse diálogo. Há muito que nos une. A América do Sul é um continente rico em bens naturais, tem petróleo, tem minério, tem agricultura, um povo ótimo, todas as condições para crescer e progredir. No entanto, é uma zona pobre onde o índice de miseráveis é imenso, onde o seu desenvolvimento está muito aquém daquilo que necessita.

O mundo árabe é conhecido pela riqueza do seu petróleo, pelos bilhões de dólares que rolam em torno do seu petróleo, das guerras que são feitas em torno do seu petróleo, das disputas que são forjadas e das invejas internas por causa do seu petróleo, e por causa disso tem condições imensas de progredir, crescer e se desenvolver, mas, na verdade, não conseguiram esse estágio e são países caracterizados por uma diminuta porção que tem a riqueza detentora do petróleo e do poder e uma imensa maioria que vive num regime de muita injustiça social e muito distante daquilo que se preza para nações que mereçam respeito.

Então são dois continentes que têm condições de crescer, têm riqueza, têm gente, mas são dois continentes que têm miséria, que têm fome e têm injustiça social. Esse intercâmbio se dá no sentido de dialogarmos e de somarmos nossos esforços na busca de valorizar os países em desenvolvimento, de modo que essa aproximação, a chamada globalização, não seja feita somente pelos poderosos, pelos banqueiros, por aqueles que detêm o poder, mas que seja feita também - e esse é um exemplo claro - por aqueles que estão num nível intermediário, por aqueles que estão longe do poder e da força.

Vamos fazer essa globalização - é a proposta do Brasil -, uma globalização do entendimento, do diálogo, do respeito, do conhecimento, do entrelaçamento, favorecendo a ajuda mútua entre os povos.

Concedo o aparte ao Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Nobre Senador Pedro Simon, V. Exª é também descendente dos levantinos. Manifesto minha satisfação de ver que, no Brasil, com dez milhões de descendentes de sírios e libaneses, há um clima de paz completo com outras nacionalidades. Louvo principalmente o espírito do árabe, do sírio, do libanês, pois chegam aqui e, na geração seguinte, estão inteiramente entrosados conosco, já são brasileiros, diferentemente de outras nacionalidades que aqui vivem, mas não se miscigenam nunca. Esses irmãos nossos, depois daquela viagem do Presidente Lula, em que foi feito o convite, estão muito mais entrosados conosco, e o nosso comércio mais do que dobrou. Na sua pessoa, Senador Pedro Simon, saúdo todos esses descendentes, que criam e geram riquezas no Brasil e que são brasileiros na construção de um Brasil maior. Parabéns!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª.

As felicitações, eu as dirijo às cúpulas da América Latina e dos países árabes, que entenderam o fato e lhe deram importância.

É muito raro - não me recordo de um antecedente a curto prazo sem a intermediação da ONU, nem da FAO, nem dos Estados Unidos, nem dos grandes países - um encontro de duas comunidades tão importantes, como a da América do Sul e a do mundo árabe, reunindo-se dessa forma. E, repito, reúnem-se para o diálogo, para o entrosamento, para o entendimento; reúnem-se para, juntas, somar as suas potencialidades e diminuir as suas fraquezas.

O Brasil tem muito a receber do mundo árabe e tem muito a oferecer ao mundo árabe. Um país como a Argentina tem muito a oferecer e muito a receber. Muitos entendem que a nossa América Latina, a nossa América do Sul, é destinada permanentemente a uma posição terciária, como terciária também muitos acham que é a posição destinada à África. No entanto, creio e confio que, no mundo moderno, com os métodos de comunicação de que dispomos, com a liberdade e a valorização da pessoa humana atingindo todos os recantos, haveremos de ver que não será um privilégio apenas das nações ricas e dos homens brancos a oportunidade de ser livre, de ter cultura, de ter capacidade, de ter saber e de progredir.

Este milênio haverá de marcar o desaparecimento dessas cruéis diferenças. Este século haverá de marcar a diferença estrondosa entre uns tão ricos e outros tão pobres. Fico contente com a presença do Presidente argentino a esta reunião, que, hoje, se inicia com um jantar entre o Presidente argentino, o Presidente da Venezuela e o Presidente brasileiro, com o objetivo de se entenderem, definindo caminhos e fórmulas comuns para a reunião que amanhã haveremos de travar. Considero esta a reunião mais importante de todas as que fizemos no Brasil em todos os tempos, a reunião mais corajosa e mais ousada.

Não me passa pela cabeça, como alguns possam estar a imaginar, que seja uma questão de hegemonia, de o Brasil querer ser mais. É uma questão, sim - isso vale como no tempo de Rio Branco - de termos coragem e disposição, o que vai ao encontro do espírito brasileiro, que é um espírito de paz, de respeito e de compreensão. Não estamos buscando a hegemonia, e enganam-se aqueles que pensam assim. O Brasil, ao longo da sua história, já demonstrou querer a igualdade; quer ser gente, mas quer que, ao seu lado, todos sejam iguais.

Não queremos ser um País imenso, forte e rico, cercado de uma América Latina pobre e injustiçada. Queremos que toda a América Latina progrida, que se desenvolva e avance, e nós ao seu lado. Dialogamos com o mundo árabe. Queremos que haja esse diálogo, que, agora, começa entre dois mundos, realmente com força, no que tange às condições materiais, mas sem o respeito da humanidade quanto a seus direitos e a seu futuro.

Esta reunião será um marco, e tenho a convicção de que continuará. Outras haverão de se fazer, pelo que ela significa.

Trago aqui o meu abraço muito fraterno ao Ministro das Relações Exteriores, por quem tenho o maior respeito e a maior consideração. Penso que S. Exª vem agindo com capacidade e competência. Meu abraço ao Itamaraty e minhas felicitações ao Presidente Lula, por ter aceitado uma proposta tão significativa e corajosa com essa.

Muito obrigado,Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2005 - Página 13791