Discurso durante a 57ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Ética do Ministro José Dirceu e do Presidente Lula. Premência na liberação de recursos para o Estado de Alagoas, destinados a minimizar as conseqüências das chuvas naquela região.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Ética do Ministro José Dirceu e do Presidente Lula. Premência na liberação de recursos para o Estado de Alagoas, destinados a minimizar as conseqüências das chuvas naquela região.
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2005 - Página 13647
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, DIVERGENCIA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ESPECIFICAÇÃO, FALTA, DEFESA, ATUAÇÃO, JOSE DIRCEU, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL.
  • PROTESTO, GOVERNO, ABANDONO, ESTADO DE ALAGOAS (AL), AUSENCIA, LIBERAÇÃO, OBRAS, INFRAESTRUTURA, GRAVIDADE, ESTADO DE EMERGENCIA, CALAMIDADE PUBLICA, SECA, INUNDAÇÃO, FALTA, RECEBIMENTO, ASSISTENCIA SOCIAL.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, agradeço aos Senadores Heráclito Fortes e Pedro Simon que, embora estejam devidamente inscritos, permitiram-me falar agora. Gostaria muito de compartilhar com eles as lições extremamente importantes que serão dadas neste dia, mas, infelizmente, terei de viajar agora, a fim de chegar mais rapidamente à minha querida Alagoas para resolver alguns problemas.

Em primeiro lugar, gostaria de fazer uma observação a respeito daquilo que tanto o Senador Heráclito Fortes como o Senador Arthur Virgílio falavam esta manhã, ou seja, sobre a convocação do Ministro José Dirceu - V. Exª também falava disso Senador Alvaro Dias.

A cada dia, fico me perguntando como não consegui desvendar determinados mistérios da alma humana quando eu militava no PT. Talvez a paixão tenha sido tanta que foi capaz de cegar, de forma que não conseguimos identificar não o significado da personalidade de um ou outro militante ou dirigente do PT, mas como existe uma gigantesca competição interna, onde a vaidade e o veneno são tão grandes que fico sem conseguir compreender ao certo.

Por várias vezes, digo ao Senador Arthur Virgílio: “Fico impressionada como ninguém do PT defende o Ministro José Dirceu”. Às vezes, as defesas que são feitas são tão protocolares que chegam a ser absolutamente ridículas. Não gosto dele nem ele de mim, embora eu saiba que quem manda realmente no País é o Ministro Lula, é o Presidente Lula - não é ato falho, porque é ele quem manda mesmo. E sei exatamente como ele se comporta. É aquela velha política, o velho estratagema do “mel na boca e biles no coração”. Ri na sua frente e manda alguém lhe esfaquear pelas costas. Esse tipo eu sei. Sei, também, que é ele quem delega determinados poderes, até pelo comportamento mais firme, mais intolerante do Ministro José Dirceu, para prestar determinados serviços. Mas eu fico impressionada como é que deixam, nesta Casa, bater como batem no mais importante e mais preparado quadro partidário do PT, que é o Ministro José Dirceu - o mais preparado para o bem e para o mal, para o muito mal também. E o PT, de forma cínica e dissimulada, quando vai defender, faz simplesmente uma defesa protocolar - talvez seja inveja de alguns de seus pares, ou muita vaidade também, ou muito veneno.

Que eu bata no Ministro José Dirceu ou que o Senador Arthur Virgílio, ou qualquer outro, até se entende, mas isso realmente é algo impressionante para mostrar, para se imaginar o que eles são capazes de fazer comigo, com V. Exª ou com qualquer um outro. Imaginem o que eles são capazes de fazer para aniquilar, para liquidar qualquer uma pessoa que tenha coragem, que não se curve, que não se ajoelhe diante deles! Se eles deixam que seja feito isso com o mais importante quadro do partido deles, imaginem o que eles são capazes de fazer com qualquer um de nós.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de fazer, mais uma vez, um apelo, um comentário, com um misto de tristeza e de indignação, sobre o que está acontecendo na minha querida Alagoas.

Já tive oportunidade - e o Senador Heráclito Fortes sabe disso -, centenas vezes nesta Casa, de cobrar ações do Governo no sentido de que sejam liberadas as chamadas obras de infra-estrutura, que vai desde o abastecimento de água aos projetos de irrigação, ao saneamento básico, aos investimentos na educação, na saúde, na segurança pública. Sei que existem personalidades importantes que estão inclusive na base de bajulação do Governo Lula, usufruindo cargos, prestígios, lambuzando-se do banquete farto do poder, mas fico cada vez triste e indignada com o descaso do Governo Federal para com Alagoas. Sei que tem descaso com o Rio Grande do Sul, tem descaso com a Paraíba, com o Piauí, com o Paraná, sei que tem um descaso com o povo brasileiro de uma forma geral, mas fico impressionada com o fato de o Governo Lula não disponibilizar absolutamente nada para o Estado de Alagoas nos momentos mais difíceis, mesmo com os estados de emergência ou de calamidade decretados.

Desde agosto do ano passado que um terço dos Municípios alagoanos tentam conseguir o chamado Decreto do Estado de Emergência. Só conseguiram agora quando já está passando a validade. O Governo Federal não disponibilizou um único centavo nem para minimizar os problemas da seca, nem da cheia. É uma coisa impraticável! Os Municípios que têm vivenciado uma seca muito grande no Estado de Alagoas continuam a vivenciá-la sem terem direito sequer às migalhas dos carros-pipa e das cestas básicas para minimizar a sua dor, o seu sofrimento.

Anteontem choveu muito - e o Serviço de Meteorologia já o vinha anunciando que nas regiões onde há alguns poucos rios, como o rio São Francisco, o rio Mundaú - e ontem duas crianças foram arrastadas pelas enchentes e milhares de pessoas estão desabrigadas. Em algumas cidades, mais de 90% das casas foram invadidas pela água. E o Governo Federal não faz nada? Entendo que o Governo Lula quer continuar a política de encher a pança dos banqueiros, adora ser elogiado pelos parasitas sem pátria do capital financeiro ou pelos gigolôs do Fundo Monetário Internacional. Sei que essas pessoas vaidosas, seduzidas pelo banquete do poder se inebriam com isso, mas, agora, há que se ter respeito.

Sei que a situação de dor, sofrimento e miséria ocorre no Brasil todo, não na carcomida e cínica elite política e econômica, mas com as pessoas simples, pobres, nas favelas das grandes cidades ou jogadas pelo interior dos Estados deste País. Todavia, não é possível isso que está acontecendo com o Estado de Alagoas! São milhares de pessoas submetidas à dor e ao sofrimento por uma seca implacável, e o Governo Federal não libera nem migalhas de carro-pipa e cesta básica. De outro lado, as cidades que tiveram problemas em função de enchentes, de chuvas, essas cidades estão completamente alagadas, as famílias desabrigadas e crianças sendo arrastadas pelas águas.

Fica aqui mais uma vez o meu protesto, a minha indignação e o apelo ao Governo Federal no sentido de que tenha um pouco de vergonha, de sensibilidade, de amor no coração e disponibilize os recursos que são necessários. Luto por Alagoas, mas luto do mesmo jeito pelas famílias pobres espalhadas pelo nosso Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2005 - Página 13647