Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Protesto contra os transtornos sofridos pela população de Brasília, por ocasião do evento Cúpula América do Sul - Países Árabes.

Autor
Valmir Amaral (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Protesto contra os transtornos sofridos pela população de Brasília, por ocasião do evento Cúpula América do Sul - Países Árabes.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2005 - Página 14554
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, IMIGRAÇÃO, PAISES ARABES, DESTINO, BRASIL.
  • IMPORTANCIA, REALIZAÇÃO, ENCONTRO, CHEFE DE ESTADO, AMERICA DO SUL, PAISES ARABES, ELOGIO, POLITICA EXTERNA, LIDERANÇA, BRASIL.
  • CRITICA, DESPREPARO, AUTORIDADE, ORGANIZAÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA, ENCONTRO, AMBITO INTERNACIONAL, DESRESPEITO, CIRCULAÇÃO, AUTOMOVEL, SENADOR, AUTORITARISMO, OFENSA, SOBERANIA, PREJUIZO, CIDADÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. VALMIR AMARAL (PMDB - DF. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, Brasília foi palco de uma das mais importantes reuniões de Chefes de Estado.

           A Cúpula América do Sul - Países Árabes é, sem dúvida alguma, um dos eventos mais esperados na Capital da República.

           O Brasil é um dos países mais procurados pelos Árabes. Isto se deve ao nosso clima, ao nosso povo, sabidamente um dos mais receptivos do planeta e, principalmente, pela possibilidade de levarem uma vida tranqüila para si e seus filhos.

           Os estrangeiros que escolhem o Brasil para viver e trabalhar sempre tem uma boa acolhida e podem viver em absoluta paz, assim como qualquer outro cidadão, independente de sua etnia, religião, etc. Tanto que a maioria acaba criando laços fortes conosco e adotam como sua segunda pátria, isto vale para alemães, italianos, japoneses, angolanos, chineses, coreanos, norte-americanos, argentinos, australianos, árabes, israelenses, enfim, de qualquer lugar do mundo. Adotam até o estilo brasileiro de viver, que é o de respeito mútuo, de paz, de confraternização. Aqui nós vemos, na mesma rua ou bairro, vizinhos que, em qualquer outro lugar do mundo, seria impensável, pelas circunstâncias culturais, ou mesmo de constante guerra ou guerrilha. E, afirmo, se respeitam.

           Portanto, ainda que com algumas ausências sentidas, não de países, mas de autoridades, esta cúpula é inegavelmente um grande momento para a política internacional adotada pelo governo, no sentido de colocar nosso país, também, como gerador de discussões de importância mundial. As ausências, obviamente, se devem ao total desconhecimento da importância da oportunidade, até por que alguns dos que não vieram ao encontro perderam uma grande chance de conhecerem a terra onde vivem muitos de seus patrícios.

           A cúpula foi um momento propício à discussão de vários temas e de nos conhecermos melhor. Os faltosos sentirão, no futuro, o grande erro histórico de não terem vindo.

           Lembro-me de uma grande empresa de máquinas de escrever cuja diretoria, na década de 70, não avaliou corretamente a hipótese de transformarem seu pátio industrial em uma fábrica de computadores, adequando-a aos rumos irreversíveis do desenvolvimento tecnológico, assim fizeram por acreditarem que tais equipamentos não seriam melhores do que uma boa máquina de escrever elétrica. Deu no que deu. Hoje, em Guarulhos, no Estado de São Paulo, há um shopping, onde era essa fábrica. Fechou por perderem a oportunidade de acompanhar, no momento certo, a nova realidade que batia à porta.

           O Futuro dirá sobre os frutos da cúpula.

           Mas, há um detalhe do qual quero falar. Quero dizer da falta de habilidade das autoridades incumbidas da organização do evento, principalmente no quesito segurança, pois um evento como esse deve ter em suas prioridades, sem dúvida alguma, a preservação da vida e da integridade física das autoridades convidadas.

           Mas, em hipótese alguma, essa deve ser maior do que às autoridades constituídas. Ora, os senadores são, em sua vida particular, um cidadão com as mesmas responsabilidades e deveres inerentes a qualquer outro. Nem mais, nem menos. Porém, quando investidos do mandato e no exercício dele, representam um Estado da Federação, uma parcela da União, são na senatoria a demonstração inequívoca da existência da nossa autonomia.

           Somos senadores em virtude do Estado Democrático de Direito, da democracia, da vontade popular, e não podemos ser tratados como fomos.

           Imaginem, Srªs. Senadoras, Srs. Senadores, Sr. Presidente, que os carros oficiais, eu digo oficiais e não os nossos de uso particular, digo daqueles que são fornecidos por esta Casa para nossos deslocamentos, foram impedidos de trafegar em determinados momentos, estes variáveis de minutos a horas, em lugares os mais comuns de Brasília.

           Um absurdo!!! Nem na época mais repressora do regime militar isso aconteceu. Considero uma atitude equivocada e que não pode ser repetida.

           É um atentado à soberania, uma ação repressiva à atividade parlamentar à qual credito ser muito séria. Assim aconteceu com o carro que uso, que foi impedido de fazer trajetos os mais corriqueiros, mesmo sendo identificado como carro de Senador da República. Ora, nenhuma autoridade estrangeira é mais que qualquer cidadão brasileiro ou autoridade nacional.

           Fica, aqui, o meu protesto contra a forma ignorante e inadequada imposta à população de Brasília, em virtude da permanência, em nossa cidade, de autoridades estrangeiras às quais temos a grande honra e orgulho de recebê-las, mas que, em virtude do despreparo e da forma bruta e arrogante dos irresponsáveis que cuidaram da segurança, não poderia deixar de manifestar-me em defesa de nossa liberdade e nosso bem-estar. Espero que da próxima vez eles tenham o cuidado de inserir no “rol” de autoridades dignas de proteção, também as autoridades brasileiras constituídas.

           E, principalmente, pensem primeiramente no brasiliense, pois a atitude correta, nestes casos, é: “Como vamos cuidar das autoridades estrangeiras, perturbando o mínimo possível os moradores.” E não a que parece ter sido usada “Vamos proteger essas autoridades acima de qualquer coisa.”

           É o mínimo, não precisavam fazer comboio de motocicletas, carros, batedores com sirene e pararem o transito todo de Brasília, para passar um único carro. Eu vi isso na Ponte Costa e Silva. Os carros ficaram parados, em todos as vias, mais de 20 minutos e, incrédulos, vimos um único carro chapa azul, com um batedor, passar tranqüilamente, enquanto todos os que estavam parados buzinavam e vaiavam.

           Ora, precisamos ter em mente que, em sentido amplo, não somos um País pequeno. Há muito tempo atrás, aliás bem antes de ser descoberto, lá no Tratado de Tordesilhas já surgíamos como futura potência mundial. É nosso destino, eu penso assim. Por isso, peço que tais atitudes sejam revistas nas próximas vezes, senão Brasília será a cidade que mais humilhará o brasileiro, pois fazer um cidadão ficar parado por 20 minutos para outro passar, seja qual for a importância institucional do beneficiado, é no mínimo uma falta de respeito com o contribuinte. Afinal, quem paga a conta é o povo brasileiro e quem sofre a agressão é o povo de Brasília.

           Chegamos ao absurdo de decretarmos ponto facultativo. Temos que nos dar o devido respeito.

           Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/2005 - Página 14554