Pronunciamento de Aloizio Mercadante em 04/05/2005
Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Tréplica ao pronunciamento do Senador Arthur Virgílio. (como Líder)
- Autor
- Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Tréplica ao pronunciamento do Senador Arthur Virgílio. (como Líder)
- Publicação
- Publicação no DSF de 13/05/2005 - Página 14576
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
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- REITERAÇÃO, DADOS, SUPERIORIDADE, GASTOS PUBLICOS, PESSOAL, PERIODO, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), CUSTO, TERCEIRIZAÇÃO, MEDIA, TAXAS, JUROS, PREJUIZO, DIVIDA, ESTADOS, MUNICIPIOS, BANCO ESTADUAL, FALTA, RESPONSABILIDADE, GESTÃO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), POLITICA CAMBIAL, REDUÇÃO, EXPORTAÇÃO.
- REITERAÇÃO, DADOS, AUSENCIA, AUMENTO, TRIBUTAÇÃO, COMPARAÇÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, PROCESSO, PRIVATIZAÇÃO.
- ESCLARECIMENTOS, EVOLUÇÃO, POLITICA SOCIAL, UNIFICAÇÃO, PROGRAMA, CADASTRO, BOLSA FAMILIA.
O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Como Líder. Com revisão do orador.) - Acho que o debate democrático é sempre o melhor caminho para que possamos esclarecer os fatos e as diversas interpretações da história recente do Brasil.
Vamos discutir alguns pontos que são indispensáveis. Primeiro, fico contente que a Oposição reconheça que os dados são inquestionáveis e que o nosso Governo não aumentou os gastos com pessoal. Ao contrário, a folha de pagamento da União é menor hoje do que era em 2002.
Assim sendo, e para que não haja qualquer dúvida, quando o PSDB e o PFL governavam o Brasil, em 1995, o total de gastos com pessoal era R$79,6 bilhões; os gastos com pessoal terceirizado - e aí vou responder ao nobre Líder - era de R$5,4 bilhões; em 2002, o gasto com pessoal era de R$94,945 bilhões e o gasto com pessoal terceirizado era de R$14,3 bilhões, e os ativos praticamente se mantiveram com os mesmos valores ao longo dos oito anos. O que cresceu no governo anterior foi a terceirização, em termos de pessoal. Agora, a folha cresceu expressivamente e foi para R$94,900 bilhões. O nosso Governo reduziu a folha de pagamentos em 2003. Ela cresceu em 2004, mas continua abaixo de 2002.
Segunda questão: argumentou-se que os bancos estaduais estavam todos em dificuldades. Alguns, é verdade, pela irresponsabilidade administrativa do passado, as operações ARO (Antecipação de Receitas Orçamentárias) e outras. Outros bancos estaduais sobreviveram, bem como aqueles que sobreviveram por falta de controle, houve também uma imensa dificuldade pela política de juros de 1994 a 1998, especialmente. O que a Oposição não consegue responder é se a média da taxa de juros real foi ou não 22% ao ano, de 1995 a 1998. Foi de 22% real a taxa de juros da economia, e isso comprometeu o endividamento dos Estados, dos Municípios e da União.
O componente fundamental do endividamento foi a irresponsabilidade da gestão do Banco Central no período do Sr. Gustavo Franco, que manteve uma âncora cambial, apreciou o câmbio e comprometeu as exportações do País. Perdemos quatro anos e meio de história econômica, com baixo crescimento. Deixamos de exportar.
Está aí o resultado no Brasil: ontem, chegamos a US$104 bilhões de exportações e a US$37 bilhões de saldo comercial. Quando o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu o governo, o saldo comercial era de US$10,5 bilhões. Quatro anos depois, havia um déficit de US$8,5 bilhões. Além de arrebentar as contas externas, impôs-se uma política de juros altos que levou a essa situação.
Quanto ao mais importante, que é o debate sobre carga tributária, o governo anterior vendeu a mineração, boa parte do setor energético, parte do setor financeiro, o setor petroquímico, o setor siderúrgico e todo o setor de telecomunicações. Com todas essas privatizações, a carga tributária ainda aumentou. Mencionando somente 1997, 11,68% do PIB era a carga tributária do Governo Federal em 1997 e, em 2002, ela foi para 16,34% do PIB.
- Sei que é difícil ouvir os dados, que falam por si só; o Líder da Oposição fica nervoso. Vou repeti-los para que possam ser bem compreendidos.
A carga tributária do Governo Federal subiu de 11,68% do PIB para 16,34% do PIB. A nossa carga tributária em nenhum momento passou de 16,2% do PIB em 2004 e, em 2005, está em 16,04%. Estamos abaixo do que herdamos de carga tributária, sem vender nenhum patrimônio. E o mais importante é que a dívida pública, que cresceu de forma exponencial no governo anterior, não só não cresceu, como caiu. Então, sem privatizar, sem aumentar a carga tributária, estamos reduzindo o estoque de dívida pública no seu percentual, em relação ao PIB.
A relação dívida/PIB caiu. Isso significa responsabilidade fiscal. Significa, portanto, compromisso com o futuro. Significa um esforço fiscal brutal que este Governo fez e está fazendo, em todos os níveis, em todos os Governos dessa sociedade, para manter o equilíbrio das contas públicas nessa trajetória de redução da relação dívida/PIB, que é o principal indicador da saúde financeira do Governo, da saúde financeira do Estado brasileiro.
Ora, se melhoramos a relação dívida/PIB, estaremos melhorando, no futuro, a capacidade de investimento, de gasto e, principalmente, a redução sustentável da taxa de juros. Este é o grande esforço fiscal que o Governo e o País estão fazendo.
Entretanto, em meio a esse grande esforço fiscal, é muito importante entender a necessidade de investimento nas políticas sociais. A Oposição continua atacando as políticas que representam compromisso dessa sociedade de promover a inclusão social. No governo anterior havia a bolsa-escola, o vale-gás, a bolsa-alimentação, cadastros diferenciados sem compatibilização alguma entre eles que levavam ao desperdício de recursos públicos. Integramos programas, construímos um único cadastro e estamos construindo indicadores de qualidade do gasto.
Transferir recursos para o combate à pobreza é fundamental para uma sociedade mais generosa, mais civilizada, mais equânime.
Por último, apesar de todo o esforço fiscal que fizemos, a capacidade de investimento do País continua muito fragilizada. Por isso, o objetivo do projeto de Parceria Público-Privada é atrair o investimento privado, complementar com o investimento público e permitir que a infra-estrutura do País continue.
Sr. Presidente, termino o meu pronunciamento, fazendo uma homenagem ao meu companheiro de tantas lutas, o Senador Arthur Virgílio. Creio que as desculpas são sempre bem-vindas. No entanto, quem deve uma verdadeira desculpa a esta Nação sobre responsabilidade fiscal são vocês. Com esse endividamento, com a venda de 76% do patrimônio, com o aumento da carga tributária, penso que devem vir a esta Casa com humildade e dizer: “Erramos na política de câmbio, erramos na política de juros, deixamos uma herança fiscal absolutamente perversa e de difícil administração e, portanto, pedimos desculpas à Nação”. Seria muito bem recebido, em homenagem a esses cinco anos da Lei de Responsabilidade Fiscal, esse pedido generoso, cordato e necessário à sociedade brasileira.