Discurso durante a 61ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Protesto contra contratação do arquiteto Rui Otake, pelo governo do Estado do Piauí, para revitalização da capital do estado, Teresina.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Protesto contra contratação do arquiteto Rui Otake, pelo governo do Estado do Piauí, para revitalização da capital do estado, Teresina.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 17/05/2005 - Página 14787
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, INJUSTIÇA, DESIGUALDADE REGIONAL, BRASIL, PREJUIZO, REGIÃO NORDESTE, CRITICA, INEFICACIA, ATUAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE).
  • APRESENTAÇÃO, BALANÇO, ATUAÇÃO, ORADOR, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • PROTESTO, POSSIBILIDADE, CONTRATAÇÃO, ARQUITETO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RESTAURAÇÃO, CENTRO CULTURAL, MUNICIPIO, TERESINA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana; Srªs e Srs. Senadores; brasileiras e brasileiros que aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado; Senador Marco Maciel - que já foi Presidente deste País oitenta vezes; por oitenta vezes, assumiu substituindo o Presidente da República; já governou mais tempo do que o Presidente Jânio Quadros; e tempo bom; não foi simplesmente Presidente, foi extraordinário Presidente -, o que me traz aqui são as raízes. Sou do Piauí, sou do Nordeste. Entre 1978 e 1982, eu era Deputado Estadual. Era também Deputado Estadual um que foi Senador, João Lobo, inteligente, porque saiu da Assembléia para ser Senador. Pois bem, disse João Lobo naquela época, em 1980: temos dois brasis, o Brasil do Sul e o do Norte e Nordeste; lá eles ganham o dobro da gente.

Atentai bem, Tião Viana, saia daqui para ensinar o Lula, o núcleo duro: no Nordeste, Marco Maciel, Senador Papaléo, temos dois nordestes: o rico - naquele tempo só eram Pernambuco e Bahia, mas outros se desenvolveram - e os pobres - Piauí, Maranhão e Paraíba. E nós do Piauí ganhamos a metade do Nordeste rico. Quer dizer, o maior é quatro vezes maior do que o menor - e o Lula lá, feito barata tonta, voando na Argélia, lá na África, não sei o quê. Mas o Juscelino também aqui colocou lá no Sul e no Sudeste complexo industrial - carro não tinha, avião está aí -, Brasília aqui para integrar o Brasil, e a Sudene para tirar essa diferença. Sudam. É uma lástima ter de dizer, Senador Marco Maciel: hoje, 2004, quer dizer, era quatro vezes o maior do menor; hoje não: é 8,6. O IBGE diz que a maior renda per capita é esta ilha da fantasia, Brasília, e a menor é a do Maranhão - eu, quando governei, tive a felicidade de dar um pulo que fez o Piauí passar do Maranhão. É 8,6, então aumentou. É uma desobediência à Constituição, está escrito, por isso que Ulysses a beijou. Rasgaram a Constituição! Desobedecer é rasgar a bandeira! Ulysses é quem diz que um dos deveres do Governo é diminuir essa desigualdade. Está no livro de Deus, Senador Heráclito Fortes - e Deus é tão bravo, piauiense.

E nós vamos chegando naquele negócio. Começou, Heráclito: a casa dividida é facilmente derrubada. Então, não pode haver uns muito ricos e outros muito pobres. Foi o que Abraham Lincoln disse: “Este país não pode ser metade livre e metade escravo”. Então, nós temos de ter essa igualdade. A Sudene está aí: enterrada. O Presidente está aí: nordestino que sofreu umas lavagens cerebrais em São Paulo, e dos banqueiros. Esqueceu, está lá... Na Sudene, ele deveria chegar e, inspirado em Cristo - Cristo disse: “Levanta-te, Lázaro” -, dizer: “Levanta-te, Sudene; vá diminuir essas desigualdades”. Mas está aí...

Senador Heráclito Fortes, nós fomos prefeitinho. Marco Maciel, V. Exª se lembra do Deputado Pinheiro Machado, pelo Piauí? Fui companheiro dele de Rotary Clube na minha cidade. E aquele homem, que foi Deputado Federal, disse o seguinte, em um discurso de Rotary: “Compre no comércio local, ajude o comércio local”. E eu fui prefeito, Papaléo, como você: prefeitinho. Do núcleo duro, só esse Palocci que foi. Por isso que, em terra de cego, quem tem um olho é rei. Os outros não têm a mínima noção. Essa é a verdade, Senador Tião Viana. “Em verdade, em verdade, vos digo...”, dizia Cristo. Adotei essa postura. Tudo eu comprava quando era prefeito na minha cidade, tudo, tudo, também para as obras. A cidade teve um surto de desenvolvimento. Saí candidato a Governador e tive nessa cidade - contra o Governo Federal, contra o Governo do Estado e contra o Prefeito - 93,84% dos votos. Fui ser Governador do Estado. Por dois anos, tive o mesmo procedimento.

O Senador Heráclito Fortes sabe. Quando da primeira estrada que construí, a empresa era de fora. Perguntei: como ela chegou até aqui? Disseram-me: “ Fui buscá-la.” Então afirmei: pois você vai sair agora. Troquei. Fortaleci todas. Seis empresas faziam asfalto, no fim do Governo. Uma veio lá de Parnaíba, e a maledicência dizia que eu era sócio. Não, eu só estimulei.

O Piauí cresceu. No meu Governo, teve 7,8% de desenvolvimento em cada mês. Sempre cresceu mais do que o Nordeste, do que o Brasil.

Senador Heráclito Fortes, sei que o papo com Marco Maciel é muito importante; todos nós queremos nos aproximar, nos aconselhar. No entanto, os dados de 2004 estão aqui. Diminuíram. Os sem-terra estão com a razão.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - No Brasil, em 1950, a metade morava na zona rural. Hoje, são 15%. Por que estão saindo? Porque não têm apoio, não têm estímulo, não têm terra. São os sem-terras que hoje são os desempregados das grandes cidades. Isso aí é para resolver. Mas nós vamos chegar lá. Então, quero dizer que eu aprendi com esses homens a aproveitar as obras, como V. Exª, e vou lhe dar o exemplo. Quis Deus que V. Exª... Este Heráclito é danado. Foi Prefeito de Teresina; eu, de Parnaíba. Ele fez uma ponte. Como é o nome da ponte?

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Conhecida como ponte do Poty.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ponte do Poty. Aí ele fez em Teresina, eu Prefeito de Parnaíba. Ele fez em 100 dias. Carnaval, festa, Heráclito estava mais importante do que o rei Momo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Porque tinham prometido há mais de 100 anos, não é, Mão Santa?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Há 100 anos, e ele fez em 100 dias. Aí eu entrei Governador. Atentai bem, Marco Maciel. Aí Deus me ajudou, porque ele é até mais preparado que eu, mais competente, aquele negócio, mas é porque Deus me ajudou, quando eu vi, eu era Governador. Mas eu, entrando e vendo, era uma disputa salutar, pelo engrandecimento do Piauí, eu tinha que dar um impacto. E naquele tempo havia um ARO, sabe o que é, Senador Tião Viana? O núcleo duro está pensando que é negócio de bicicleta. Não é, não. É Antecipação de Receita Orçamentária. O Prefeito podia tirar, hipotecando a receita. E o Fernando Henrique Cardoso, com o seu Governo, o Ministério da Fazenda, mandou cancelar. Mas enquanto vai a burocracia, fui lá e tirei 5 milhões - naquele tempo era dólar, era junto - e avisei o Presidente: Fernando Henrique - bebendo whisky no Planalto -, eu quero lhe avisar que eu já tirei, antes de a lei chegar ao Piauí, eu já tirei cinco bilhões. Naquele tempo, era dólar, era igual. Olha, Fernando Henrique, dizem que você é ateu, não acredita em Deus, mas eu acredito. Eu aprendi com o filho Dele - bebendo whisky ali no Palácio -, grande orador, Cristo, que fez o Pai Nosso em um minuto e que nos disse: Bem-aventurados os que tem fome. Mas não é por isso que seguimos cristãos, mas sim porque ele fez obras. Ele fez obras. Fez cego ver, aleijado andar, tirou o demônio dos endemoniados, limpou os leprosos, multiplicou os pães e os peixes. É preciso fazer obras. E eu tirei e vou fazer.

Nesse intuito, Senador Heráclito, e você me ajudou, eu fui ao Lourival Parente, que é um grande construtor e disse a ele: meu amigo, esse tal de Heráclito fez uma ponte aqui em cem dias. Eu pago, está aqui - estava com o dinheiro, tinha tirado da ARO -, mas eu quero em noventa; se não for, eu não pago.

Eles acharam que eu era meio doido, e fizeram em 87 dias. Mas fiz uma exigência, Marco Maciel, queria construtores e engenheiros do Piauí, construtora do Piauí, operários do Piauí, para dar o exemplo, para motivar, para acreditar, para dar o impacto. E levei o Fernando Henrique, ele não me deu dinheiro nenhum na ponte, para inaugurar, para ver, como São Tomé.

Mas quero sua ajuda, Heráclito, eu fui ao Piauí e recebi uma queixa. Muito bem, Teresina terá novo centro de convenções e deve ter. Foi inaugurado por Dirceu Arcoverde, um Senador que morreu aqui, tombou nesta tribuna. Fui à inauguração, quando houve um Congresso Brasileiro de Cirurgiões. Depois eu ampliei salas, modernizei, botei o turismo lá dentro, e cresceu, o que é justo, e queremos, desejamos. Mas está aqui. Atentai, Heráclito, defendei. O arquiteto Rui Otake, filho da consagrada artista plástica Tomie Otake, e Michael Liederes, de São Paulo. Olha lá! Do Piauí? De São Paulo. Viu, Heráclito Fortes? E eles estão denunciando aqui. Tudo feito, vão encaminhar, para ganhar a licitação. Tem projeto, tem não sei o quê.

Eu quero dizer o que penso. O Piauí tem uma ciência médica das mais avançadas. Lá se realizam transplantes cardíacos.

Mas eu quero contar um fato. Marco Maciel era Governador de Estado, e um dos partidos que me apoiavam era o PMN. Chegou um Presidente, eu tive de recebê-lo, ele acompanhado da esposa. Heráclito, ele disse: “Governador, como são bonitos os edifícios de Teresina. Eu quero dizer que são belos, que são encantadores. Chamaram-me a atenção”. E chamam mesmo.

Então, aqui eu quero dar a minha solidariedade aos grandes arquitetos de lá, de renome nacional e internacional, que não são considerados, sim desprezados: Gustavo Almeida, Adriano Melo, Júlio Medeiros, Gerson Castelo Branco, João Alberto, Lavínia Nery, Ana Márcia, Yamara Santos, Odineia Sicuia, Socorro Neiva, Ângela Braz, José Sales. Todos decepcionados.

Eu acho que o progresso se faz de dentro para fora.

Ouço o Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Caro Senador Mão Santa, quero dizer a V. Exª, em primeiro lugar, que a minha conversa paralela com o Senador Marco Maciel era apenas para elogiar a sinceridade com que V. Exª estava transmitindo as dificuldades que enfrentou como Governador do Piauí, e eu sou testemunha. Louvo a tentativa desesperada que V. Exª fez, como eu também fiz, de prestigiar a prata da casa. Muitas vezes, a concorrência pública foge de nossas mãos, e vem uma grande empresa e tira um pedaço daquilo que deveria ser, naturalmente, de uma construtora local. Mas o homem público tem o dever e a obrigação de lutar para que isso não aconteça, porque não existe mal maior, pelo menos em Estado pequeno como o nosso, do que essas grandes empresas chegarem lá de pára-quedas e assumirem as grandes obras. Aumentam o custo, não respeitam o prazo. É a arrogância que se impõe ao administrador. Essa denúncia que V. Exª faz com relação a esse novo centro de convenções é absurda. V. Exª, no seu pronunciamento, citou a Construtora Lourival Parente - e lá são várias, mas só para exemplificar -, que fez estádio de futebol no Brasil inteiro. Fez o estádio de Uberlândia, fez o estádio de Teresina, fez o estádio de São Luís, fez a recuperação do Teatro Arthur de Azevedo, em São Luís. Ora, não precisamos importar modelo, principalmente sem concorrência. Daqui a pouco, Senador Tião Viana, vão usar o que a 8.666 permite, com a justificativa de especialidade. Respeito muito o Sr. Rui Otake. Não conheço nenhum centro de convenções no Brasil feito por ele. Mesmo que tivesse feito, isso mereceria pelo menos concurso, mereceria pelo menos a participação dos arquitetos piauienses e a possibilidade de eles, cada dia mais, manifestarem seu valor. Louvo V. Exª por essa iniciativa. Não vamos calar diante disso, não. Quero me juntar a V. Exª e ao Senador Alberto Silva, que é engenheiro, para protestar contra esse tipo de coisa. É um absurdo que um ex-sindicalista, como o Governador Wellington Dias, homem que sempre defendeu categorias e seus direitos, passe por cima disso tudo. Em nome de quê? Ninguém sabe.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, incorporo ao meu pronunciamento o aparte de V. Exª, que conhece bem o problema. V. Exª foi um dos mais extraordinários prefeitos de Teresina. Ontem, eu fazia cooper com Adalgisa na Avenida Castelo Branco e vi que aquela calçada que tem seu símbolo está toda acabada. Agradeço a V. Exª pela sombra daqueles bambus belos que plantou.

São essas as nossas reivindicações da nossa experiência de prefeitinho, de Governador do Estado do Piauí. Senador Heráclito Fortes, felizmente, todos os índices estão decaindo no Nordeste, em particular no Piauí.

Então, essas nossas palavras são de apelo e, sobretudo, de apoio e aplauso aos arquitetos do Piauí que constroem Teresina, uma das capitais mais modernas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/05/2005 - Página 14787